Palhaço Poeta : JANELAS DE CAROLINA.

14-12-2019
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    Sempre que passo lá está ela me olhando. E não importa se estou saindo ou chegando. Basta o zumbido da porta da garagem pra ela correr e, de esguelha, ficar me espiando. Sim, correr, porque ninguém acotovela em parapeito de janela o dia inteiro, não é mesmo? O bom é que pessoa nenhuma jamais me questionou quanto ao número de vezes que eu a cumprimentei. Que tivesse sorrido ou simplesmente olhado pra ela porque se o fizesse eu corava na hora. Eu jamais, nunca, em tempo algum me dignei a fazê-lo. Mas por que, e o que me custava um gesto desses, mesmo que suas aparições não fossem eventuais?, me pergunto. Pois é. Ontem, ao cruzar com a turma de doutorando num andar abaixo do meu, dei com a mãe e o pai da minha vizinha adentrando a filha ao salão. Ué, pelo que me lembro não convidei ninguém da rua à minha formatura, e novamente a vergonha se apossou de mim ao me lembrar que ali, no segundo andar daquele prédio rolava a festa de doutorado de uma humilde princesa que diariamente se acotovela na janela pra ver o  seu súdito, porém arrogante bacharel, passar.

    Sempre que passo lá está ela me olhando. E não importa se estou saindo ou chegando. Basta o zumbido da porta da garagem pra ela correr e, de esguelha, ficar me espiando. Sim, correr, porque ninguém acotovela em parapeito de janela o dia inteiro, não é mesmo? O bom é que pessoa nenhuma jamais me questionou quanto ao número de vezes que eu a cumprimentei. Que tivesse sorrido ou simplesmente olhado pra ela porque se o fizesse eu corava na hora. Eu jamais, nunca, em tempo algum me dignei a fazê-lo. Mas por que, e o que me custava um gesto desses, mesmo que suas aparições não fossem eventuais?, me pergunto. Pois é. Ontem, ao cruzar com a turma de doutorando num andar abaixo do meu, dei com a mãe e o pai da minha vizinha adentrando a filha ao salão. Ué, pelo que me lembro não convidei ninguém da rua à minha formatura, e novamente a vergonha se apossou de mim ao me lembrar que ali, no segundo andar daquele prédio rolava a festa de doutorado de uma humilde princesa que diariamente se acotovela na janela pra ver o  seu súdito, porém arrogante bacharel, passar.

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