picosderoseirabrava: Dia de enorme pressão

01-04-2020
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A informação era de que se
tratava de uma intervenção delicada e demorada. Marcada para logo de manhã.

O telefone retinia de chamadas e
mensagens a querer saber, a desejar tudo a correr bem, se precisares de alguma
coisa, é só dizeres… Só simpatias, só sinais de amizade, de grande amizade.

O médico há de dizer-te alguma
coisa – avisou-me ele.  Mas a tarde
alongou-se sem que tivesse concentração para me ocupar com coisa alguma. O telefone
tocava «então já se sabe alguma coisa?»

 Às cinco da tarde, «vamos contactar o
hospital», mas que não, que ainda estava no bloco. Nem a garrafa de gás butano
conseguimos que se ligasse ao aquecedor daquela divisão. (Será que as coisas
inanimadas absorvem a nossa inquietação? Lembrei o dia da primeira eleição de
Soares para Presidente contra Freitas do Amaral que tinha a vitória como certa –
para grande raiva minha – e tudo correu mal nesta casa, até a máquina de lavar
roupa recusou trabalhar – e sem avaria!)

Lá para as seis e meia, «já saiu
do bloco, mas ainda não subiu. Vou ligar ao recobro.» «Não, esses casos vão
para a medicina intensiva. Vou ligar.» Obrigada, obrigada, obrigada a todas tão
amáveis, com vozes tão frescas apesar do trabalho pesado que têm sobre si…

«Sim, ele está cá. Mora cá em
Leiria? Estou a perguntar porque a visita é só das sete às sete e meia.»

Que sim, que podia ir mesmo que
chegasse um pouco atrasada… Obrigada, outra vez.

Lá estava ele, o meu companheiro
de vida em todas as horas boas e más, ligado a não sei quantas máquinas num
espaço amplo, daqueles que fazem lembrar os filmes, com mais três ou quatro
outros vigiados por médicos e enfermeiras. Sereno, profundamente adormecido,
entubado. Esquecido da vida.

Foram seis horas de operação.
Correu como se previa, sem surpresas. O resto, logo se vê. Disse o médico.

Depois foi informar os amigos de
volta, enviar mensagens, receber mais telefonemas. Ouvir mais palavras de
conforto.

Estou muito cansada. A pressão
foi muita. Que notícias teremos amanhã? Trata-se de um órgão muito delicado.

A informação era de que se
tratava de uma intervenção delicada e demorada. Marcada para logo de manhã.

O telefone retinia de chamadas e
mensagens a querer saber, a desejar tudo a correr bem, se precisares de alguma
coisa, é só dizeres… Só simpatias, só sinais de amizade, de grande amizade.

O médico há de dizer-te alguma
coisa – avisou-me ele.  Mas a tarde
alongou-se sem que tivesse concentração para me ocupar com coisa alguma. O telefone
tocava «então já se sabe alguma coisa?»

 Às cinco da tarde, «vamos contactar o
hospital», mas que não, que ainda estava no bloco. Nem a garrafa de gás butano
conseguimos que se ligasse ao aquecedor daquela divisão. (Será que as coisas
inanimadas absorvem a nossa inquietação? Lembrei o dia da primeira eleição de
Soares para Presidente contra Freitas do Amaral que tinha a vitória como certa –
para grande raiva minha – e tudo correu mal nesta casa, até a máquina de lavar
roupa recusou trabalhar – e sem avaria!)

Lá para as seis e meia, «já saiu
do bloco, mas ainda não subiu. Vou ligar ao recobro.» «Não, esses casos vão
para a medicina intensiva. Vou ligar.» Obrigada, obrigada, obrigada a todas tão
amáveis, com vozes tão frescas apesar do trabalho pesado que têm sobre si…

«Sim, ele está cá. Mora cá em
Leiria? Estou a perguntar porque a visita é só das sete às sete e meia.»

Que sim, que podia ir mesmo que
chegasse um pouco atrasada… Obrigada, outra vez.

Lá estava ele, o meu companheiro
de vida em todas as horas boas e más, ligado a não sei quantas máquinas num
espaço amplo, daqueles que fazem lembrar os filmes, com mais três ou quatro
outros vigiados por médicos e enfermeiras. Sereno, profundamente adormecido,
entubado. Esquecido da vida.

Foram seis horas de operação.
Correu como se previa, sem surpresas. O resto, logo se vê. Disse o médico.

Depois foi informar os amigos de
volta, enviar mensagens, receber mais telefonemas. Ouvir mais palavras de
conforto.

Estou muito cansada. A pressão
foi muita. Que notícias teremos amanhã? Trata-se de um órgão muito delicado.

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