crónicas on the rocks: À mesa do Café dei Frari

21-06-2020
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Apresento-vos a primeira leitora a chegar à mesa para as nossas conversas nesta Rua dos Cafés.
Chama-se Safira e tem um blog muito catita. Pelo que escreve presumo-a pessoa bem disposta ou, pelo menos, capaz de pôr quem  passa pela House of the rising cats com boa disposição. Sugiro-vos, por isso, que passem por lá e confirmem.
Agora, que ela já está aqui sentada ao nosso lado, vejamos a hitória que ela tem para nos contar sobre o Café dei Frari, e uma viagem Veneza:

"Esta é a história de uma viagem de amigos que num fim de semana de 2007 decidiram rumar até Veneza. Não é uma história muito feliz. No fim da viagem, duas de nós estávamos de relações cortadas, e não nos falámos durante três anos.  Hoje, as 'tontices' já estão sanadas, mas esta foi sem dúvida a pior viagem da minha vida. Curiosamente, tudo começou à porta de um outro café, no qual não entrámos. O emblemático Florian. Eu queria muito ir ao Florian.  Queria muito sentar-me, beber um chocolate quente e contemplar a praça de S. Marcos, ao som de um quarteto ao serviço do café que tocava na esplanada. Infelizmente, só eu é que queria. Não fomos. A democraria é uma coisa penosa, por vezes. Fiquei contrariada. Os preços não são convidativos, é certo, mas quem vai a Veneza não se pode preocupar com os seis ou sete euros que vai gastar UMA vez num chocolate quente. Penso eu de que...Mas também só eu é que pensava assim, pelo que, seguramente, o problema será meu. O facto de também não termos entrado na Catedral foi mais um ‘pecado’ que me ficou atravessado. A verdade é que tínhamos interesses diferentes. Nunca é boa ideia viajar assim.

Daí em diante tudo correu pior. A história é demasiado densa e penosa para que sobre ela me alongue. Direi apenas que, farta de andar a reboque de humores e a deambular sem rumo, apenas com paragens em lojas de souvenirs, fiz finca pé. Separámo-nos. Eu para um lado, os outros três para outro. Lembro-me de correr (literalmente!) de mapa na mão, para tentar chegar antes das cinco à bilheteira da Scuola Grande di San Rocco. Após uma visita relâmpago (mas maravilhosa) , segui em direcção à basílica de Santa Maria Gloriosa dei Frari, infelizmente já fechada, para minha grande frustração. Ainda tinha uma hora só para mim, mas já era tarde para visitar museus ou monumentos. Olhei em volta e, mesmo em frente da igreja, vejo um cafézinho com montra de vidro. Entrei. Creio que não estava mais ninguém, ou talvez uma mesa estivesse ocupada, mas lembro-me de uma quietude e tranquilidade pouco comuns naquela cidade. Sentei-me numa mesa à janela.  Pedi um cappuccino e uma tarte de pêssego. Comi-a devagar, olhando pela janela, sentindo-me viva e feliz pela primeira vez desde que chegara, orgulhosa do meu grito do Ipiranga.

 Ao mesmo tempo (se é que se pode ser feliz e triste em simultâneo) tive consciência de uma profundíssima solidão naquele momento. Não era uma solidão desesperante, contudo; mais uma nostalgia ao pensar que outras pessoas  poderiam estar ali a vibrar comigo. Pessoas com quem poderia partilhar a emoção da visita ao museu e, no fundo, celebrar a vida. É sempre bom sentirmo-nos gratos pelas oportuniddes que a vida nos concede, mas perde-se um pouco do efeito quando não podemos ver a nossa felicidade reflectida nos olhos de quem nos é próximo. E, inversamente, que é sempre mágico ver o sorriso entusiasmado de quem está connosco e se sente feliz por estar ali e em mais lugar nenhum. Neste misto de emoções, este café ficou-me no coração como um bálsamo quando precisei de conforto e de paz espiritual. Durante pouco menos de uma hora fui, como o Malato, muito feliz em Veneza. E, até hoje, não encontrei uma tarte de pêssego igual. 

Como tudo correu mal nessa viagem, descobri recentemente que perdi todas as fotos que tirei. Ironia do destino? Talvez. Estou a planear voltar lá assim que possível. Com a(s) pessoa(as) certa(s), claro."

Aviso: Talvez a época não seja a mais propícia para estar sentado à mesa de um café a conversar, mas já vejo na Rua dos Cafés algumas pessoas que trazem histórias para  contar. Algumas que já conheço, porque são clientes frequentes, outras que vêm pela primeira vez. O João, que será o próximo convidado, trouxe dois amigos. Cá ficarei à espera das vossas histórias, que deverão ser enviadas para:

pracasdeverao@yahoo.com

Até domingo, à hora habitual

Apresento-vos a primeira leitora a chegar à mesa para as nossas conversas nesta Rua dos Cafés.
Chama-se Safira e tem um blog muito catita. Pelo que escreve presumo-a pessoa bem disposta ou, pelo menos, capaz de pôr quem  passa pela House of the rising cats com boa disposição. Sugiro-vos, por isso, que passem por lá e confirmem.
Agora, que ela já está aqui sentada ao nosso lado, vejamos a hitória que ela tem para nos contar sobre o Café dei Frari, e uma viagem Veneza:

"Esta é a história de uma viagem de amigos que num fim de semana de 2007 decidiram rumar até Veneza. Não é uma história muito feliz. No fim da viagem, duas de nós estávamos de relações cortadas, e não nos falámos durante três anos.  Hoje, as 'tontices' já estão sanadas, mas esta foi sem dúvida a pior viagem da minha vida. Curiosamente, tudo começou à porta de um outro café, no qual não entrámos. O emblemático Florian. Eu queria muito ir ao Florian.  Queria muito sentar-me, beber um chocolate quente e contemplar a praça de S. Marcos, ao som de um quarteto ao serviço do café que tocava na esplanada. Infelizmente, só eu é que queria. Não fomos. A democraria é uma coisa penosa, por vezes. Fiquei contrariada. Os preços não são convidativos, é certo, mas quem vai a Veneza não se pode preocupar com os seis ou sete euros que vai gastar UMA vez num chocolate quente. Penso eu de que...Mas também só eu é que pensava assim, pelo que, seguramente, o problema será meu. O facto de também não termos entrado na Catedral foi mais um ‘pecado’ que me ficou atravessado. A verdade é que tínhamos interesses diferentes. Nunca é boa ideia viajar assim.

Daí em diante tudo correu pior. A história é demasiado densa e penosa para que sobre ela me alongue. Direi apenas que, farta de andar a reboque de humores e a deambular sem rumo, apenas com paragens em lojas de souvenirs, fiz finca pé. Separámo-nos. Eu para um lado, os outros três para outro. Lembro-me de correr (literalmente!) de mapa na mão, para tentar chegar antes das cinco à bilheteira da Scuola Grande di San Rocco. Após uma visita relâmpago (mas maravilhosa) , segui em direcção à basílica de Santa Maria Gloriosa dei Frari, infelizmente já fechada, para minha grande frustração. Ainda tinha uma hora só para mim, mas já era tarde para visitar museus ou monumentos. Olhei em volta e, mesmo em frente da igreja, vejo um cafézinho com montra de vidro. Entrei. Creio que não estava mais ninguém, ou talvez uma mesa estivesse ocupada, mas lembro-me de uma quietude e tranquilidade pouco comuns naquela cidade. Sentei-me numa mesa à janela.  Pedi um cappuccino e uma tarte de pêssego. Comi-a devagar, olhando pela janela, sentindo-me viva e feliz pela primeira vez desde que chegara, orgulhosa do meu grito do Ipiranga.

 Ao mesmo tempo (se é que se pode ser feliz e triste em simultâneo) tive consciência de uma profundíssima solidão naquele momento. Não era uma solidão desesperante, contudo; mais uma nostalgia ao pensar que outras pessoas  poderiam estar ali a vibrar comigo. Pessoas com quem poderia partilhar a emoção da visita ao museu e, no fundo, celebrar a vida. É sempre bom sentirmo-nos gratos pelas oportuniddes que a vida nos concede, mas perde-se um pouco do efeito quando não podemos ver a nossa felicidade reflectida nos olhos de quem nos é próximo. E, inversamente, que é sempre mágico ver o sorriso entusiasmado de quem está connosco e se sente feliz por estar ali e em mais lugar nenhum. Neste misto de emoções, este café ficou-me no coração como um bálsamo quando precisei de conforto e de paz espiritual. Durante pouco menos de uma hora fui, como o Malato, muito feliz em Veneza. E, até hoje, não encontrei uma tarte de pêssego igual. 

Como tudo correu mal nessa viagem, descobri recentemente que perdi todas as fotos que tirei. Ironia do destino? Talvez. Estou a planear voltar lá assim que possível. Com a(s) pessoa(as) certa(s), claro."

Aviso: Talvez a época não seja a mais propícia para estar sentado à mesa de um café a conversar, mas já vejo na Rua dos Cafés algumas pessoas que trazem histórias para  contar. Algumas que já conheço, porque são clientes frequentes, outras que vêm pela primeira vez. O João, que será o próximo convidado, trouxe dois amigos. Cá ficarei à espera das vossas histórias, que deverão ser enviadas para:

pracasdeverao@yahoo.com

Até domingo, à hora habitual

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