crónicas on the rocks: Derniers Baisers (2): Mixed feellings

22-12-2019
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                                             Ao segundo 52 vão perceber porque escolhi esta canção para ilustrar este post

( Continuado daqui)
Acelero em direcção a Ofir,  onde ficaram enterrados alguns amores de Verão, nos longínquos anos 60. O vento é agora mais forte e mais frio. Embrenho-me pelo pinhal em direcção à casa onde fui tão feliz, mas acabaria por ser o início de uma estória de muitas tristezas e desgraças.

Os meus sentimentos dividem-se. Por um lado, recordo os dias felizes que vivi naquela praia; por outro, lembro o dia de angústia e sofrimento de há quase 40 anos, quando naquele local perdeu a vida um dos meus irmãos.

O cenário é agora muito diferente daquele dos anos 60. O  espaço é hoje em dia reserva natural e as pessoas parecem interessadas em preservar aquele recanto do litoral minhoto que permanece um paraíso para muitos escondido. Deixo a casa nas minhas costas e sigo para o Hotel Pinhal, cenário de casamentos, onde desenferujava o alemão com a minha amiga Petra W. Está encerrado. Estugo o passo em direcção ao mar. Lá permanece o Hotel Ofir que me lembra tardes de bowling, uma discoteca famosa e a final de  66 do mundial de futebol, onde torci furiosamente pelos alemães, mas vi os ingleses vencerem 4-2. 
Já não há dunas mas, em frente ao mar, a ganância de alguns, conluiada com interesses políticos, ergueu três torres monstruosas que destruiram a paisagem e- certamente-  retiraram muita paz nos meses de Verão.

 Sem querer, deixo-me invadir pela força nostálgica do Outono. Olho em volta. É de praias quase desertas que eu gosto mas, neste momento, preferia que estivesse cheia de gente. Tenho sentimentos contraditórios em relação ao Outono. Gosto dos tons acobreados do meu Douro, da luminosidade dos seus dias de sol. Não gosto do anúncio de fim de ciclo, que culminará no Inverno. Não gosto dos dias chuvosos em que anseio a noite. Já não sinto tristeza. É mais uma sensação de amargura, de quem se despede de um amigo, sem ter a certeza se o vai voltar a ver.

Já passa das seis. O sol acelera em direcção ao horizonte, mas não é ali que me quero despedir dele hoje.  Ainda tenho mais de uma hora. Meto-me no carro, sigo pela marginal para a Apúlia  e paro na praia de Santo André, junto à pousada onde também fui muito feliz. Resisto a subir ao monte de S. Félix para de lá desfrutar o pôr do sol. Continuo pela estrada  marginal. Passo com um aceno por A Ver o Mar, Póvoa de Varzim, Caxinas e Vila do Conde. Já não há o Bom Doce dos docinhos conventuais, mas existe um sucedâneo que não me deixa saudades.  Seguem-se as praias de Árvore, Azurara e Mindelo Finalmente, Labruge. É ali que fico a ver o pôr do sol de tons vermelho-alaranjados. Acompanhado por um Portotonic.

Quando o sol desaparece no horizonte, regresso ao carro. Sigo para o Porto, que devia ser o fim da viagem para a Baixinha. Ela quer continuar até Lisboa. Pela costa. Seja feita a sua vontade!

(Continua)

                                             Ao segundo 52 vão perceber porque escolhi esta canção para ilustrar este post

( Continuado daqui)
Acelero em direcção a Ofir,  onde ficaram enterrados alguns amores de Verão, nos longínquos anos 60. O vento é agora mais forte e mais frio. Embrenho-me pelo pinhal em direcção à casa onde fui tão feliz, mas acabaria por ser o início de uma estória de muitas tristezas e desgraças.

Os meus sentimentos dividem-se. Por um lado, recordo os dias felizes que vivi naquela praia; por outro, lembro o dia de angústia e sofrimento de há quase 40 anos, quando naquele local perdeu a vida um dos meus irmãos.

O cenário é agora muito diferente daquele dos anos 60. O  espaço é hoje em dia reserva natural e as pessoas parecem interessadas em preservar aquele recanto do litoral minhoto que permanece um paraíso para muitos escondido. Deixo a casa nas minhas costas e sigo para o Hotel Pinhal, cenário de casamentos, onde desenferujava o alemão com a minha amiga Petra W. Está encerrado. Estugo o passo em direcção ao mar. Lá permanece o Hotel Ofir que me lembra tardes de bowling, uma discoteca famosa e a final de  66 do mundial de futebol, onde torci furiosamente pelos alemães, mas vi os ingleses vencerem 4-2. 
Já não há dunas mas, em frente ao mar, a ganância de alguns, conluiada com interesses políticos, ergueu três torres monstruosas que destruiram a paisagem e- certamente-  retiraram muita paz nos meses de Verão.

 Sem querer, deixo-me invadir pela força nostálgica do Outono. Olho em volta. É de praias quase desertas que eu gosto mas, neste momento, preferia que estivesse cheia de gente. Tenho sentimentos contraditórios em relação ao Outono. Gosto dos tons acobreados do meu Douro, da luminosidade dos seus dias de sol. Não gosto do anúncio de fim de ciclo, que culminará no Inverno. Não gosto dos dias chuvosos em que anseio a noite. Já não sinto tristeza. É mais uma sensação de amargura, de quem se despede de um amigo, sem ter a certeza se o vai voltar a ver.

Já passa das seis. O sol acelera em direcção ao horizonte, mas não é ali que me quero despedir dele hoje.  Ainda tenho mais de uma hora. Meto-me no carro, sigo pela marginal para a Apúlia  e paro na praia de Santo André, junto à pousada onde também fui muito feliz. Resisto a subir ao monte de S. Félix para de lá desfrutar o pôr do sol. Continuo pela estrada  marginal. Passo com um aceno por A Ver o Mar, Póvoa de Varzim, Caxinas e Vila do Conde. Já não há o Bom Doce dos docinhos conventuais, mas existe um sucedâneo que não me deixa saudades.  Seguem-se as praias de Árvore, Azurara e Mindelo Finalmente, Labruge. É ali que fico a ver o pôr do sol de tons vermelho-alaranjados. Acompanhado por um Portotonic.

Quando o sol desaparece no horizonte, regresso ao carro. Sigo para o Porto, que devia ser o fim da viagem para a Baixinha. Ela quer continuar até Lisboa. Pela costa. Seja feita a sua vontade!

(Continua)

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