O canto da Boop: Qualquer dia...

23-09-2020
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Há mais de uma semana que não leio. Tenho quatro livros começados espalhados pelos meus cantos prediletos de leitura, Rubem Fonseca, Thomas Man, Teresa Veiga e Gregory Maguire, esperam-me serenos, alheios que estão das minhas vontades e desejos. Os quatro autores não podiam ser mais destintos entre si. Separam-nos décadas, oceanos, estilos, a uni-los estou Eu.Entretenho-me a imagina-los em pausas similares, protelando o mergulhar na trama densa e absorvente de uma história, ao mesmo tempo que os personagens continuam presentes, como se se encontrassem juntos, autores e heróis, num terraço num qualquer lugar indefinido, com um chá de menta e biscoitos de manteiga, em silêncio de olhar perdido no horizonte.Entranham-se, fundem-se, criador e criação, num processo elaborativo semi-consciente, onde o recurso a máquina de escrever, caneta, ou computador, quebraria a magia de um enamoramento lento, o caldo criativo de onde nascem todas as ideias.Ou talvez seja eu, qual narciso mirando-se nas águas, que em auto-referenciação procuro uma absolvição para a minha paragem injustificada, que deixou as vidas que preenchem as páginas dos livros interrompidas.Encontro em mim traços de Hans Castrop, saído directamente da Montanha Mágica, o livro que me ocupa a cabeceira. Estarei como ele com a vida suspensa, retirado, longe do mundo, saltitando entre a mais profunda reflexão filosófica sobre a temporalidade e a fragilidade humana, e a cor do batom que torna tão apelativa a boca de Clawdia.Ou talvez esteja só um passo atrás, com Ada, a amiga de Alice, que no universo recriado por Maguire a vê desaparecer na toca do coelho e mergulha no seu encalço.Personagens são como apetrechos inanimados, soltos, quase esquecidos numa caixa de ferramentas, aptos a serem reanimados quando necessários.Talvez não precise deles agora. Ou simplesmente não queira a sua companhia.Os livros continuam fechados.Qualquer dia...


Há mais de uma semana que não leio. Tenho quatro livros começados espalhados pelos meus cantos prediletos de leitura, Rubem Fonseca, Thomas Man, Teresa Veiga e Gregory Maguire, esperam-me serenos, alheios que estão das minhas vontades e desejos. Os quatro autores não podiam ser mais destintos entre si. Separam-nos décadas, oceanos, estilos, a uni-los estou Eu.Entretenho-me a imagina-los em pausas similares, protelando o mergulhar na trama densa e absorvente de uma história, ao mesmo tempo que os personagens continuam presentes, como se se encontrassem juntos, autores e heróis, num terraço num qualquer lugar indefinido, com um chá de menta e biscoitos de manteiga, em silêncio de olhar perdido no horizonte.Entranham-se, fundem-se, criador e criação, num processo elaborativo semi-consciente, onde o recurso a máquina de escrever, caneta, ou computador, quebraria a magia de um enamoramento lento, o caldo criativo de onde nascem todas as ideias.Ou talvez seja eu, qual narciso mirando-se nas águas, que em auto-referenciação procuro uma absolvição para a minha paragem injustificada, que deixou as vidas que preenchem as páginas dos livros interrompidas.Encontro em mim traços de Hans Castrop, saído directamente da Montanha Mágica, o livro que me ocupa a cabeceira. Estarei como ele com a vida suspensa, retirado, longe do mundo, saltitando entre a mais profunda reflexão filosófica sobre a temporalidade e a fragilidade humana, e a cor do batom que torna tão apelativa a boca de Clawdia.Ou talvez esteja só um passo atrás, com Ada, a amiga de Alice, que no universo recriado por Maguire a vê desaparecer na toca do coelho e mergulha no seu encalço.Personagens são como apetrechos inanimados, soltos, quase esquecidos numa caixa de ferramentas, aptos a serem reanimados quando necessários.Talvez não precise deles agora. Ou simplesmente não queira a sua companhia.Os livros continuam fechados.Qualquer dia...

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