crónicas on the rocks

21-06-2020
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Quem não tem por hábito tirar férias em Agosto, interioriza e vive com outra dimensão a "rentrée", porque percebe melhor a diferença da vida na cidade, com o regresso do ramerrame diário.  A primeira segunda-feira de Setembro é sempre assim:

Voltam a abarrotar –se os transportes; regressam as filas intermináveis caracoleando nos acessos à cidade; os balcões das pastelarias voltam a animar-se em refeições rápidas de come em pé, num menu “standard” SFB ( sopa, folhado e bica). Corpos tisnados cruzam-se connosco, deixando no ar resquícios de verão, alguns  restaurantes estão de novo bem compostos, estabelecimentos que  reabrem, reencontro com pessoas que deixámos de ver durante um mês e trazem estampados no rosto os efeitos revigorantes das férias.

Este ano, porém, notei algumas diferenças em relação a anos anteriores. 

A maioria das pessoas regressou com o mesmo ar fechado que levou para férias, porque o período foi mais curto ou o regresso não deu lugar à esperança. Não houve tantos estabelecimentos a reabrir, porque não houve tantos a encerrar para férias como habitualmente e alguns fecharam as portas definitivamente.

Quando chegou ao escritório, o Pires não discutiu a melhor manchete do dia; o Mendes não falou com a Sofia  que continua com os auscultadores enfiados nos ouvidos e a menear a cabeça ao som da música, enquanto prepara o café, mas já não liga pêva ao Mendes.

A Marina continua a oferecer à cobiça dos homens um pedaço de coxa entre a racha da saia, ou um peito descoberto pela generosidade do decote, mas já não namora com o disc jockey. A boîte fechou, ele ficou desempregado, deu em dealer, foi dentro há três meses e quando saiu emigrou em busca de um futuro mais risonho.

O Abreu já não grita com o estagiário, porque na empresa já  não há estagiários.  O chefe Lopes deixou de falar em  política, já não usa galicismos desde que levou com os pés da amante, e  o uísque que traz na mão é agora "temperado" com uma generosa dose de água. 

Este ano o almoço de "rentrée" com todo o pessoal vai ser numa tasquinha simpática, porque a empresa está em dificuldades. Já todos sabem de cor o discurso do Lopes, repetido ano após ano, com crise ou sem ela, mas no final do repasto darão graças a Deus por ainda terem emprego.

O Pires lembrou-se finalmente da fórmula do convite à Marina, mas levou uma nega e uma reprimenda pelo atrevimento, porque agora é do Bloco e não tolera piropos.
A seguir ao almoço, o Pires  voltou a sentir-se indisposto, mas este ano foi para casa sem avisar ninguém

( Em 2007, a rentrée´foi mais divertida, não vos parece? Já não se lembram? Então podem recordar aqui...)

Quem não tem por hábito tirar férias em Agosto, interioriza e vive com outra dimensão a "rentrée", porque percebe melhor a diferença da vida na cidade, com o regresso do ramerrame diário.  A primeira segunda-feira de Setembro é sempre assim:

Voltam a abarrotar –se os transportes; regressam as filas intermináveis caracoleando nos acessos à cidade; os balcões das pastelarias voltam a animar-se em refeições rápidas de come em pé, num menu “standard” SFB ( sopa, folhado e bica). Corpos tisnados cruzam-se connosco, deixando no ar resquícios de verão, alguns  restaurantes estão de novo bem compostos, estabelecimentos que  reabrem, reencontro com pessoas que deixámos de ver durante um mês e trazem estampados no rosto os efeitos revigorantes das férias.

Este ano, porém, notei algumas diferenças em relação a anos anteriores. 

A maioria das pessoas regressou com o mesmo ar fechado que levou para férias, porque o período foi mais curto ou o regresso não deu lugar à esperança. Não houve tantos estabelecimentos a reabrir, porque não houve tantos a encerrar para férias como habitualmente e alguns fecharam as portas definitivamente.

Quando chegou ao escritório, o Pires não discutiu a melhor manchete do dia; o Mendes não falou com a Sofia  que continua com os auscultadores enfiados nos ouvidos e a menear a cabeça ao som da música, enquanto prepara o café, mas já não liga pêva ao Mendes.

A Marina continua a oferecer à cobiça dos homens um pedaço de coxa entre a racha da saia, ou um peito descoberto pela generosidade do decote, mas já não namora com o disc jockey. A boîte fechou, ele ficou desempregado, deu em dealer, foi dentro há três meses e quando saiu emigrou em busca de um futuro mais risonho.

O Abreu já não grita com o estagiário, porque na empresa já  não há estagiários.  O chefe Lopes deixou de falar em  política, já não usa galicismos desde que levou com os pés da amante, e  o uísque que traz na mão é agora "temperado" com uma generosa dose de água. 

Este ano o almoço de "rentrée" com todo o pessoal vai ser numa tasquinha simpática, porque a empresa está em dificuldades. Já todos sabem de cor o discurso do Lopes, repetido ano após ano, com crise ou sem ela, mas no final do repasto darão graças a Deus por ainda terem emprego.

O Pires lembrou-se finalmente da fórmula do convite à Marina, mas levou uma nega e uma reprimenda pelo atrevimento, porque agora é do Bloco e não tolera piropos.
A seguir ao almoço, o Pires  voltou a sentir-se indisposto, mas este ano foi para casa sem avisar ninguém

( Em 2007, a rentrée´foi mais divertida, não vos parece? Já não se lembram? Então podem recordar aqui...)

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