crónicas on the rocks: À mesa do Café Monte Carlo

21-06-2020
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O nosso segundo convidado para estas tertúlias dominicais é o João Roque que muitos dos leitores já conhecem. Habitual participante nas iniciativas promovidas aqui ou no CR, o João é o administrador do blog  whynotnow e traz-nos recordações de um café e de uma época que muitos de nós recordamos. Respondendo ao meu convite, o João trouxe consigo dois amigos ( a Margarida e o Francisco) que também   virão aqui contar-nos uma história.

O João já está sentado ao nosso lado, por isso é altura de ficarmos a saber o que tem para nos contar sobre  o  Monte Carlo ( café de que também eu fui frequentador) um local mítico de Lisboa... bem dêmos a palavra ao João.

"Sou do tempo em que se frequentavam os cafés e em muitos, havia estudantes a qualquer hora do dia ou da noite; eu próprio fiz algumas das cadeiras de Económicas num simpático café perto de minha casa e que ficava a 100 metros do Instituto Britânico – o “Big Ben”.

Mas o meu café de Lisboa era bem longe das minhas duas primeiras casas lisboetas, ficava no Saldanha (mais propriamente no final da Fontes Pereira de Melo) e era sem dúvida um dos mais emblemáticos cafés de Lisboa – o “Monte Carlo”.

Eu sei, Carlos que também foi o teu café e quem sabe não nos cruzámos várias vezes por lá…

Comecei a ir ao Monte Carlo, porque a malta da Covilhã que estudava em Lisboa fez ali o seu poiso e ali nos encontrávamos todas as noites e quantas tardes…Mesmo em frente da “Paulistana”, onde pontuavam os alentejanos e os estudantes de Veterinária, ficava mesmo ao lado de outro café bem conhecido, o “Monumental”.

Mas o Monte Carlo era uma instituição e chamavam-lhe a “catedral”. Havia à entrada, do lado de fora à direita, a tabacaria (vê-se na foto) e logo depois de franqueada a porta, do lado esquerdo, antes do restaurante, a pastelaria.

Geralmente encontrava-se por lá um cão, velho e gordissimo, o Benfica, que adorava queques e tanta gente lhe comprava esses bolos para sua delícia…

O restaurante, não me perguntem pela ementa, pois para mim, só existia o “bife à Monte Carlo”, com molho de café e que quase se trinchava com o garfo. Mais tarde, quando fui para a tropa, para Mafra, o meu fim de semana só começava depois de ali comer o bife, acompanhado de meia garrafa de Dão Grão Vasco. Presença assídua ali no restaurante, quase sempre só, era Laura Alves, com o seu lenço verde na cabeça e os enormes óculos de sol, sempre aparentando tristeza.

Depois do corredor, com mesas, chegava-se à parte mais baixa e maior do café, onde geralmente nós abancávamos; a afabilidade dos empregados de mesa era tal, que quando chegava à mesa, tinha o café já à espera.

Nesse corredor prontificava a tertúlia dos forcados com o Salvação Barreto à cabeça. Depois havia os actores, vários, embora alguns também frequentassem o Monumental e havia os escritores e os “revolucionários”.

Sim, ali havia de tudo e até muito boa gente de variados gostos sexuais.

E depois havia as “traseiras”; por de trás dos bilhares havia um pequeno bar e as célebres mesas do dominó e dos cavalinhos, e não só… Havia um cabeleireiro de homens e o WC.

Era um mundo, que começava à porta, na cavaqueira e que prosseguia lá dentro, no estudo, na escrita, no jogo, nas conversas, no início de tantas ideias de esquerda, tudo ali coabitava.

Hoje é mais uma loja da Zara, que tristeza…”

Realmente é uma tristeza, João. Passar à porta da Zara e recordar o Monte Carlo, ou entrar no Monumental e lembrar - me do café com o mesmo nome, é algo que me acontece com muita frequência, pois o meu gabinete de trabalho é no Saldanha. Obrigado pela tua evocação e por estes minutos de conversa. 

Contamos com a tua presença e dos teus amigos no próximo domingo. O convidado é o Pedro Coimbra e vai contar-nos uma história hilariante.

Entretanto renovo o convite a todos os que por aqui passam, para enviarem as vossas histórias sobre episódios vividos em cafés ( como a Safira) ou sobre  um café ( como o João)

O endereço , já sabem, é:

pracasdeverao@yahoo.com

O nosso segundo convidado para estas tertúlias dominicais é o João Roque que muitos dos leitores já conhecem. Habitual participante nas iniciativas promovidas aqui ou no CR, o João é o administrador do blog  whynotnow e traz-nos recordações de um café e de uma época que muitos de nós recordamos. Respondendo ao meu convite, o João trouxe consigo dois amigos ( a Margarida e o Francisco) que também   virão aqui contar-nos uma história.

O João já está sentado ao nosso lado, por isso é altura de ficarmos a saber o que tem para nos contar sobre  o  Monte Carlo ( café de que também eu fui frequentador) um local mítico de Lisboa... bem dêmos a palavra ao João.

"Sou do tempo em que se frequentavam os cafés e em muitos, havia estudantes a qualquer hora do dia ou da noite; eu próprio fiz algumas das cadeiras de Económicas num simpático café perto de minha casa e que ficava a 100 metros do Instituto Britânico – o “Big Ben”.

Mas o meu café de Lisboa era bem longe das minhas duas primeiras casas lisboetas, ficava no Saldanha (mais propriamente no final da Fontes Pereira de Melo) e era sem dúvida um dos mais emblemáticos cafés de Lisboa – o “Monte Carlo”.

Eu sei, Carlos que também foi o teu café e quem sabe não nos cruzámos várias vezes por lá…

Comecei a ir ao Monte Carlo, porque a malta da Covilhã que estudava em Lisboa fez ali o seu poiso e ali nos encontrávamos todas as noites e quantas tardes…Mesmo em frente da “Paulistana”, onde pontuavam os alentejanos e os estudantes de Veterinária, ficava mesmo ao lado de outro café bem conhecido, o “Monumental”.

Mas o Monte Carlo era uma instituição e chamavam-lhe a “catedral”. Havia à entrada, do lado de fora à direita, a tabacaria (vê-se na foto) e logo depois de franqueada a porta, do lado esquerdo, antes do restaurante, a pastelaria.

Geralmente encontrava-se por lá um cão, velho e gordissimo, o Benfica, que adorava queques e tanta gente lhe comprava esses bolos para sua delícia…

O restaurante, não me perguntem pela ementa, pois para mim, só existia o “bife à Monte Carlo”, com molho de café e que quase se trinchava com o garfo. Mais tarde, quando fui para a tropa, para Mafra, o meu fim de semana só começava depois de ali comer o bife, acompanhado de meia garrafa de Dão Grão Vasco. Presença assídua ali no restaurante, quase sempre só, era Laura Alves, com o seu lenço verde na cabeça e os enormes óculos de sol, sempre aparentando tristeza.

Depois do corredor, com mesas, chegava-se à parte mais baixa e maior do café, onde geralmente nós abancávamos; a afabilidade dos empregados de mesa era tal, que quando chegava à mesa, tinha o café já à espera.

Nesse corredor prontificava a tertúlia dos forcados com o Salvação Barreto à cabeça. Depois havia os actores, vários, embora alguns também frequentassem o Monumental e havia os escritores e os “revolucionários”.

Sim, ali havia de tudo e até muito boa gente de variados gostos sexuais.

E depois havia as “traseiras”; por de trás dos bilhares havia um pequeno bar e as célebres mesas do dominó e dos cavalinhos, e não só… Havia um cabeleireiro de homens e o WC.

Era um mundo, que começava à porta, na cavaqueira e que prosseguia lá dentro, no estudo, na escrita, no jogo, nas conversas, no início de tantas ideias de esquerda, tudo ali coabitava.

Hoje é mais uma loja da Zara, que tristeza…”

Realmente é uma tristeza, João. Passar à porta da Zara e recordar o Monte Carlo, ou entrar no Monumental e lembrar - me do café com o mesmo nome, é algo que me acontece com muita frequência, pois o meu gabinete de trabalho é no Saldanha. Obrigado pela tua evocação e por estes minutos de conversa. 

Contamos com a tua presença e dos teus amigos no próximo domingo. O convidado é o Pedro Coimbra e vai contar-nos uma história hilariante.

Entretanto renovo o convite a todos os que por aqui passam, para enviarem as vossas histórias sobre episódios vividos em cafés ( como a Safira) ou sobre  um café ( como o João)

O endereço , já sabem, é:

pracasdeverao@yahoo.com

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