Blog de um Bombeiro: Depois do fogo, as árvores queimadas. “Há outra tragédia à espera de acontecer”

20-06-2020
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Manuela
Furtado sente-se a jogar a roleta russa com a sua vida quando
percorre o IP3. “Está tudo ardido de ambos os lados e, em algumas zonas, as
árvores são enormes e estão penduradas em penhascos”, pendendo sobre uma
estrada já de si sinuosa e que todos os dias é utilizada por milhares de
carros. 

Não é
uma previsão. Já
aconteceu desde que o fogo passou pela região, em outubro – as árvores
queimadas tombaram para o alcatrão, foram cortadas “na zona que estorva” e o
que resta dos troncos continua à espera de ser recolhido. A Infraestruturas de
Portugal garante ao Observador que não tem informação de que haja perigo para
as populações. “É outra tragédia à espera de acontecer”, garante
Manuela Furtado ao Observador.

Há 12 anos que o dia começa e acaba da mesma maneira: Manuela Furtado,
conservadora em Santa Comba Dão, sai de Coimbra rumo ao local de trabalho e, ao
cair da noite, faz o mesmo trajeto de volta. Não é raro ser obrigada a perder
mais tempo que o necessário nesse percurso devido aos trabalhos de remoção de
uma árvore que caiu sobre o asfalto, antes mesmo de as chamas deixarem o
terreno daquela região de Oliveira do Mondego ainda mais debilitado. “Tanto
pior será quando vier chuva e os ventos fortes, aquilo vai cair, não é preciso
ser-se técnico para perceber que aquilo vai cair”, antevê. 

       
Ao
Observador, o comandante dos bombeiros de Penacova, por onde o IP3 passa a
caminho de Viseu, confirma que a corporação já foi chamada a intervir para
limpar alguns troços da região. “Há muitas árvores ao longo da estrada” e os
bombeiros têm sido chamados “quando cai uma árvore, quando há uma árvore para
cortar ou quando é preciso desimpedir a via”, diz António Simões.

Mas, sublinha aquele responsável, “o que está por cima” — as outras
árvores equilibradas nos penhascos — , “continua ali” e representa um perigo para
quem passa pelas zonas por onde o fogo andou há cerca de um mês. Ao ponto de
pôr em risco quem por ali passa? “Pode acontecer [um acidente], é verdade”,
admite o comandante.

Pedro Coimbra é presidente da Assembleia Municipal de Penacova. Desde os
incêndios, tem percorrido semanalmente toda aquela região e, um mês depois de o
fogo ter passado por ali, diz que “ainda há muita intervenção por
fazer” e que “há, naturalmente, riscos associados a esse problema” das
árvores debilitadas à beira das principais estradas. “As autarquias têm
alertado entidades competentes e é essencial que haja uma intervenção”,
sublinha ao Observador.

O risco não está circunscrito ao IP3. As informações recolhidas pelo Observador apontam
para que, a menos de 20 quilómetros dali, na estrada nacional que liga o IC6 a
Oliveira do Hospital (e por onde o fogo também deixou um cenário cinzento),
também há árvores que ameaçam cair a qualquer momento sem que a intervenção se
faça sentir.

“Não há
informações de perigo”, diz Infraestruturas de Portugal

A gestão destas estradas cabe à Infraestruturas de Portugal (IP), sob
tutela dos Ministérios do Planeamento e das Infraestruturas e das Finanças.
Questionada sobre eventuais riscos para a população associados a árvores em
risco de queda, Fernanda Silva, do gabinete de imprensa, diz não ter
chegado ao organismo qualquer informação nesse sentido.

Num esclarecimento ao Observador prestado por telefone, Fernanda Silva refere
que a IP “tem equipas no terreno que fiscalizam e monitorizam” as
áreas sob sua jurisdição e que, “ao ter conhecimento de árvores caídas”, atuam
e cortam-nas. “Temos um plano de intervenções previsto para essa zona” e que já
está a ser concretizado, acrescenta esta responsável, sem conseguir esclarecer
que tipo de trabalho preventivo está a ser feito ou se há, sequer, algum
trabalho a ser desenvolvido nesse sentido.

O comandante dos bombeiros de Penacova considera que “devia haver um
trabalho persistente” na contenção dos riscos que ficam depois da passagem do
fogo. A este respeito, António Simões lembra o caso da Galiza, onde, num dia,
arderam 50 mil hectares e agora se depara com um outro risco: o de deslize de
grandes porções de terras. Na região, as autoridades espanholas estão a
“espalhar palha” lançada a partir de helicópteros, uma tarefa com que se
pretende conter eventuais deslizamentos expectáveis com a chegada as primeiras
chuvas mais fortes.

Esse perigo também existe em Portugal. António Simões aponta para as
encostas de Oliveira do Mondego, delimitada a sul pelo rio Alva e com o rio
Mondego pelo meio, onde identifica um “risco grave do erosão”. Quando a chuva
chegar, tudo o que ardeu em outubro vem pelas encostas abaixo.

A 15 de outubro, o “pior dia do ano” em matéria de incêndios florestais, de
acordo com a Proteção Civil, as chamas que percorreram a zona centro e norte do
país fizeram 45 mortes e deixaram 70 pessoas feridas. Cerca de 800 casas de
habitação permanente foram total ou parcialmente destruídas e 190.090 hectares
de floresta arderam (um valor que corresponde a quase metade da área ardida
este ano).

In Observador

          

Manuela
Furtado sente-se a jogar a roleta russa com a sua vida quando
percorre o IP3. “Está tudo ardido de ambos os lados e, em algumas zonas, as
árvores são enormes e estão penduradas em penhascos”, pendendo sobre uma
estrada já de si sinuosa e que todos os dias é utilizada por milhares de
carros. 

Não é
uma previsão. Já
aconteceu desde que o fogo passou pela região, em outubro – as árvores
queimadas tombaram para o alcatrão, foram cortadas “na zona que estorva” e o
que resta dos troncos continua à espera de ser recolhido. A Infraestruturas de
Portugal garante ao Observador que não tem informação de que haja perigo para
as populações. “É outra tragédia à espera de acontecer”, garante
Manuela Furtado ao Observador.

Há 12 anos que o dia começa e acaba da mesma maneira: Manuela Furtado,
conservadora em Santa Comba Dão, sai de Coimbra rumo ao local de trabalho e, ao
cair da noite, faz o mesmo trajeto de volta. Não é raro ser obrigada a perder
mais tempo que o necessário nesse percurso devido aos trabalhos de remoção de
uma árvore que caiu sobre o asfalto, antes mesmo de as chamas deixarem o
terreno daquela região de Oliveira do Mondego ainda mais debilitado. “Tanto
pior será quando vier chuva e os ventos fortes, aquilo vai cair, não é preciso
ser-se técnico para perceber que aquilo vai cair”, antevê. 

       
Ao
Observador, o comandante dos bombeiros de Penacova, por onde o IP3 passa a
caminho de Viseu, confirma que a corporação já foi chamada a intervir para
limpar alguns troços da região. “Há muitas árvores ao longo da estrada” e os
bombeiros têm sido chamados “quando cai uma árvore, quando há uma árvore para
cortar ou quando é preciso desimpedir a via”, diz António Simões.

Mas, sublinha aquele responsável, “o que está por cima” — as outras
árvores equilibradas nos penhascos — , “continua ali” e representa um perigo para
quem passa pelas zonas por onde o fogo andou há cerca de um mês. Ao ponto de
pôr em risco quem por ali passa? “Pode acontecer [um acidente], é verdade”,
admite o comandante.

Pedro Coimbra é presidente da Assembleia Municipal de Penacova. Desde os
incêndios, tem percorrido semanalmente toda aquela região e, um mês depois de o
fogo ter passado por ali, diz que “ainda há muita intervenção por
fazer” e que “há, naturalmente, riscos associados a esse problema” das
árvores debilitadas à beira das principais estradas. “As autarquias têm
alertado entidades competentes e é essencial que haja uma intervenção”,
sublinha ao Observador.

O risco não está circunscrito ao IP3. As informações recolhidas pelo Observador apontam
para que, a menos de 20 quilómetros dali, na estrada nacional que liga o IC6 a
Oliveira do Hospital (e por onde o fogo também deixou um cenário cinzento),
também há árvores que ameaçam cair a qualquer momento sem que a intervenção se
faça sentir.

“Não há
informações de perigo”, diz Infraestruturas de Portugal

A gestão destas estradas cabe à Infraestruturas de Portugal (IP), sob
tutela dos Ministérios do Planeamento e das Infraestruturas e das Finanças.
Questionada sobre eventuais riscos para a população associados a árvores em
risco de queda, Fernanda Silva, do gabinete de imprensa, diz não ter
chegado ao organismo qualquer informação nesse sentido.

Num esclarecimento ao Observador prestado por telefone, Fernanda Silva refere
que a IP “tem equipas no terreno que fiscalizam e monitorizam” as
áreas sob sua jurisdição e que, “ao ter conhecimento de árvores caídas”, atuam
e cortam-nas. “Temos um plano de intervenções previsto para essa zona” e que já
está a ser concretizado, acrescenta esta responsável, sem conseguir esclarecer
que tipo de trabalho preventivo está a ser feito ou se há, sequer, algum
trabalho a ser desenvolvido nesse sentido.

O comandante dos bombeiros de Penacova considera que “devia haver um
trabalho persistente” na contenção dos riscos que ficam depois da passagem do
fogo. A este respeito, António Simões lembra o caso da Galiza, onde, num dia,
arderam 50 mil hectares e agora se depara com um outro risco: o de deslize de
grandes porções de terras. Na região, as autoridades espanholas estão a
“espalhar palha” lançada a partir de helicópteros, uma tarefa com que se
pretende conter eventuais deslizamentos expectáveis com a chegada as primeiras
chuvas mais fortes.

Esse perigo também existe em Portugal. António Simões aponta para as
encostas de Oliveira do Mondego, delimitada a sul pelo rio Alva e com o rio
Mondego pelo meio, onde identifica um “risco grave do erosão”. Quando a chuva
chegar, tudo o que ardeu em outubro vem pelas encostas abaixo.

A 15 de outubro, o “pior dia do ano” em matéria de incêndios florestais, de
acordo com a Proteção Civil, as chamas que percorreram a zona centro e norte do
país fizeram 45 mortes e deixaram 70 pessoas feridas. Cerca de 800 casas de
habitação permanente foram total ou parcialmente destruídas e 190.090 hectares
de floresta arderam (um valor que corresponde a quase metade da área ardida
este ano).

In Observador

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