Semióticas

25-06-2020
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Passou
batido pela imprensa mineira da época, mas alguns ainda guardam na
memória o encanto do show naquela noite em setembro de 1974,
anunciado como “o mais sensacional show de rock do mundo”. O
extinto “Jornal de Minas” foi o único veículo impresso de Belo
Horizonte a registrar o show de Michael Jackson e seus irmãos
Jackie, Tito, Marlon e Jermaine, que formavam The Jackson Five, e que
naquela turnê brasileira contavam com o reforço de um sexto
integrante, o estreante Steve Randall Jackson.

A
manchete do “Jornal de Minas” do dia 19 de setembro 1974
estampava: “A mais nova explosão dos jovens irmãos”. Na foto em
preto e branco, publicada pelo jornal sem identificação do
fotógrafo, Michael, que morreu há exatos três anos, em 2009,
aos 50 anos, vítima de uma overdose de medicamentos, aparece em primeiro plano, muito jovem, sorrindo, de boné e com uma das mãos na
cintura, acompanhado por quatro dos irmãos, todos ostentando trajes da última
moda e suas cabeleiras “black power”.

Michael Jackson em BH: no alto e
acima, Michael em 1974, época da turnê
internacional que passou por Belo Horizonte,
com os irmãos na formação original do
The Jackson Five, Jackie, Tito, Marlon e
Jermaine. Abaixo, a família reunida em casa,
na Califórnia, em 1971, em reportagem
publicada pela revista Life

 

A
reportagem começa anunciando que “ouvir um disco do The Jackson Five é uma coisa, mas presenciar o grupo atuando em shows é algo
inteiramente diferente”. De acordo com o “Jornal de Minas”, o
que motivava tanta expectativa pela apresentação de Michael Jackson
e seus irmãos no Estádio Independência, no bairro Horto, era o
“sucesso estrondoso e quase inacreditável” do jovem e talentoso
Michael, que tinha alcançado a soma de mais de um milhão de cópias
vendidas dos singles “Ben” e “Music and Me”.

O
“Jornal de Minas” também informava que The Jackson Five chegaria a BH com uma comitiva de 18 integrantes e seis toneladas de
aparelhagem importada pela firma Koski-Ellis-Stein da Inglaterra. Mas
todo o destaque da reportagem foi para a potência vocal do jovem
Michael Jackson, então com 16 anos. “Ele está longe de ser o
menino de voz fina dos primeiros discos e primeiros shows”,
apontava o texto, que apresentava Michael como “um dos maiores
artistas do cenário do rock”. 

Michael Jackson no álbum de família:
no alto, aos dois anos, em 1960, e 
aos 16, em foto de 1974. Abaixo, nos
bastidores do show e no palco em
Los Angeles, 1974, em performance
com The Jackson Five, e o material
promocional do grupo para a turnê
internacional de 1974

Naquela
semana, rivalizando com o show de The Jackson Five, a capital mineira
também assistiria a uma única apresentação do rock de Rita Lee, que recentemente havia se separado de Os Mutantes e seguia carreira solo com a banda Tutti Frutti, no Teatro Francisco Nunes, e do samba de Martinho
da Vila e banda, que se apresentaram no Teatro Marília. Também
houve uma apresentação de astros da Jovem Guarda no Parque da
Gameleira, mas sem mobilizar a esperada multidão de fãs, já que o
show não contou com a participação do trio principal Roberto
Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

Ingressos
a Cr$ 25,00

Para
assistir ao show de The Jackson Five no Independência, o ingresso
custava Cr$ 25,00. Quem assistiu ao show diz que foi uma apresentação
impecável, mas que as arquibancadas e o gramado do estádio não
ficaram lotados, talvez porque tenha sido um dia de chuvas em BH.
Entre os fãs históricos que presenciaram a passagem de Michael Jackson e seus irmãos
pela capital mineira estão o produtor cultural Wilson Miranda e os veteranos do jornalismo Neusa Costa e
Afonso de Souza, que dizem se
lembrar muito bem daquele dia e do show sensacional que assistiram à noite no Estádio Independência.

“O
grupo desceu no Aeroporto da Pampulha e ficou hospedado no Brasilton
Palace Hotel, em Contagem”, recorda Miranda, enquanto Afonso de
Souza diz que jovens e crianças formaram a maior parte da plateia do
grupo no show do Independência. No palco, Michael Jackson e seus
irmãos apresentaram os sucessos que naquela época tocavam muito no
rádio e nas trilhas sonoras das novelas de TV, entre eles "I'll Be There", "I
Want You Back" e "ABC", com as canções da
carreira solo de Michael, como “Ben” e “Music and Me”, em
destaque e repetidas no final do show. Michael, todos se lembram, foi um show à parte, apresentando os novos passos da dança que ele inventou e que imitavam os movimentos de um robô. Anos depois, seriam os passos de dança marcantes na carreira solo de Michael, incluindo o célebre "moonwalk", sua coreografia mais famosa, em que ele se movia para trás enquanto parecia caminhar para frente.

Como
eram os tempos da ditadura militar, além do aparato policial ser
ostensivamente reforçado, a apresentação em Belo Horizonte teve
encerramento rigorosamente antes das dez da noite. A turnê
brasileira do The Jackson Five também incluiu, além de Belo Horizonte, shows
em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. Houve um único
registro gravado na passagem de Michael Jackson e seus irmãos pelo
Brasil. A gravação foi feita pela extinta TV Tupi, mas as imagens foram perdidas
num dos incêndios que destruíram os arquivos da emissora. Restaram
menos de dois minutos, preservados no acervo da Cinemateca
Brasileira.

No final da
década de 1970, com o lançamento do álbum “Off
The Wall”, Michael Jackson inicia a fase
adulta da carreira e arranca elogios unânimes da crítica ao
combinar as tradições do Rhythm and Blues de décadas passadas com o
estilo de sucessos da gravadora Motown e a novidade da Disco Music.
Compositor e arranjador desde os primeiros tempos do The Jackson Five, Michael passou a investir na experimentação musical.

E também começou a ganhar uma
exposição cada vez maior na mídia, que culminaria em 1982, com
“Thriller”,
até hoje o disco mais vendido do mundo, com cerca de 100 milhões de
cópias. Com “Thriller”, curta-metragem de 15 minutos escrito e dirigido por Michael em parceria com o cineasta John Landis, também começou a era de videoclipes na
MTV, emissora que acabara de despontar no cenário internacional.

Duas
décadas depois da primeira turnê brasileira, já aclamado com os
títulos de “rei do pop”, “recordista das premiações do Grammy”, “dono do
disco mais vendido da história”, “inventor do videoclipe”,
“maior entertainer vivo” e líder de campanhas humanitárias
importantes como USA For África (quando se juntou a 44 celebridades
para gravar a canção “We
Are The World”, que arrecadou US$
200 milhões), Michael Jackson passou a ser protagonista de polêmicas
que envolviam cirurgias plásticas a que teria se submetido para
buscar um “branqueamento” e uma série de escândalos fomentadas pela imprensa mais sensacionalista com
denúncias nunca comprovadas de abusos e pedofilia.

Trajetória
de Michael Jackson:

acima,
cartaz promocional e fotografia no

lançamento
do álbum de 1979 Off the Wall.

Abaixo, Jacko em
cena de Thriller (1983),

o
lendário videoclipe escrito e dirigido

em
parceria com o cineasta John Landis

e
apontado como o primeiro e o mais

importante
filme da era dos videoclipes;

e Jacko
no Brasil, durante as gravações

com
o cineasta Spike Lee na favela carioca

e
no Pelourinho, em Salvador 

 

Michael Jackson retornaria
duas vezes ao Brasil, em outubro de 1993 e em fevereiro de 1996. Em
1993, realizou dois shows no Estádio do Morumbi, em São Paulo, como
parte da turnê do álbum “Dangerous”.
Na confusão entre fãs e imprensa em frente ao hotel em que o
artista estava hospedado, a comitiva de
Michael atropelou dois adolescentes. Um deles, de 15 anos, teve sua
perna quebrada e recebeu no hospital a visita de seu ídolo.

Em 1996,
Michael e o diretor Spike Lee vieram ao Brasil para gravar cenas para
o videoclipe da música "They Don't Care About Us". No Rio
de Janeiro, as equipes do cantor e do diretor tiveram que negociar
com os traficantes para gravar cenas na favela. Também foram
gravadas cenas no Pelourinho, em Salvador, Bahia, onde Michael e
Spike Lee contaram com a participação do Olodum. As imagens de Michael Jackson
usando a camisa do grupo, não por acaso, fizeram com que o Olodum ficasse conhecido
nos quatro cantos do mundo.

por José
Antônio Orlando.

Como
citar:

ORLANDO,
José Antônio. Michael
Jackson em BH.
In: _____. Blog
Semióticas,
25
de
junho
de 2012.
Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2012/06/michael-jackson-em-bh.html
(acessado em .../.../...).

Passou
batido pela imprensa mineira da época, mas alguns ainda guardam na
memória o encanto do show naquela noite em setembro de 1974,
anunciado como “o mais sensacional show de rock do mundo”. O
extinto “Jornal de Minas” foi o único veículo impresso de Belo
Horizonte a registrar o show de Michael Jackson e seus irmãos
Jackie, Tito, Marlon e Jermaine, que formavam The Jackson Five, e que
naquela turnê brasileira contavam com o reforço de um sexto
integrante, o estreante Steve Randall Jackson.

A
manchete do “Jornal de Minas” do dia 19 de setembro 1974
estampava: “A mais nova explosão dos jovens irmãos”. Na foto em
preto e branco, publicada pelo jornal sem identificação do
fotógrafo, Michael, que morreu há exatos três anos, em 2009,
aos 50 anos, vítima de uma overdose de medicamentos, aparece em primeiro plano, muito jovem, sorrindo, de boné e com uma das mãos na
cintura, acompanhado por quatro dos irmãos, todos ostentando trajes da última
moda e suas cabeleiras “black power”.

Michael Jackson em BH: no alto e
acima, Michael em 1974, época da turnê
internacional que passou por Belo Horizonte,
com os irmãos na formação original do
The Jackson Five, Jackie, Tito, Marlon e
Jermaine. Abaixo, a família reunida em casa,
na Califórnia, em 1971, em reportagem
publicada pela revista Life

 

A
reportagem começa anunciando que “ouvir um disco do The Jackson Five é uma coisa, mas presenciar o grupo atuando em shows é algo
inteiramente diferente”. De acordo com o “Jornal de Minas”, o
que motivava tanta expectativa pela apresentação de Michael Jackson
e seus irmãos no Estádio Independência, no bairro Horto, era o
“sucesso estrondoso e quase inacreditável” do jovem e talentoso
Michael, que tinha alcançado a soma de mais de um milhão de cópias
vendidas dos singles “Ben” e “Music and Me”.

O
“Jornal de Minas” também informava que The Jackson Five chegaria a BH com uma comitiva de 18 integrantes e seis toneladas de
aparelhagem importada pela firma Koski-Ellis-Stein da Inglaterra. Mas
todo o destaque da reportagem foi para a potência vocal do jovem
Michael Jackson, então com 16 anos. “Ele está longe de ser o
menino de voz fina dos primeiros discos e primeiros shows”,
apontava o texto, que apresentava Michael como “um dos maiores
artistas do cenário do rock”. 

Michael Jackson no álbum de família:
no alto, aos dois anos, em 1960, e 
aos 16, em foto de 1974. Abaixo, nos
bastidores do show e no palco em
Los Angeles, 1974, em performance
com The Jackson Five, e o material
promocional do grupo para a turnê
internacional de 1974

Naquela
semana, rivalizando com o show de The Jackson Five, a capital mineira
também assistiria a uma única apresentação do rock de Rita Lee, que recentemente havia se separado de Os Mutantes e seguia carreira solo com a banda Tutti Frutti, no Teatro Francisco Nunes, e do samba de Martinho
da Vila e banda, que se apresentaram no Teatro Marília. Também
houve uma apresentação de astros da Jovem Guarda no Parque da
Gameleira, mas sem mobilizar a esperada multidão de fãs, já que o
show não contou com a participação do trio principal Roberto
Carlos, Erasmo Carlos e Wanderléa.

Ingressos
a Cr$ 25,00

Para
assistir ao show de The Jackson Five no Independência, o ingresso
custava Cr$ 25,00. Quem assistiu ao show diz que foi uma apresentação
impecável, mas que as arquibancadas e o gramado do estádio não
ficaram lotados, talvez porque tenha sido um dia de chuvas em BH.
Entre os fãs históricos que presenciaram a passagem de Michael Jackson e seus irmãos
pela capital mineira estão o produtor cultural Wilson Miranda e os veteranos do jornalismo Neusa Costa e
Afonso de Souza, que dizem se
lembrar muito bem daquele dia e do show sensacional que assistiram à noite no Estádio Independência.

“O
grupo desceu no Aeroporto da Pampulha e ficou hospedado no Brasilton
Palace Hotel, em Contagem”, recorda Miranda, enquanto Afonso de
Souza diz que jovens e crianças formaram a maior parte da plateia do
grupo no show do Independência. No palco, Michael Jackson e seus
irmãos apresentaram os sucessos que naquela época tocavam muito no
rádio e nas trilhas sonoras das novelas de TV, entre eles "I'll Be There", "I
Want You Back" e "ABC", com as canções da
carreira solo de Michael, como “Ben” e “Music and Me”, em
destaque e repetidas no final do show. Michael, todos se lembram, foi um show à parte, apresentando os novos passos da dança que ele inventou e que imitavam os movimentos de um robô. Anos depois, seriam os passos de dança marcantes na carreira solo de Michael, incluindo o célebre "moonwalk", sua coreografia mais famosa, em que ele se movia para trás enquanto parecia caminhar para frente.

Como
eram os tempos da ditadura militar, além do aparato policial ser
ostensivamente reforçado, a apresentação em Belo Horizonte teve
encerramento rigorosamente antes das dez da noite. A turnê
brasileira do The Jackson Five também incluiu, além de Belo Horizonte, shows
em São Paulo, Porto Alegre, Rio de Janeiro e Brasília. Houve um único
registro gravado na passagem de Michael Jackson e seus irmãos pelo
Brasil. A gravação foi feita pela extinta TV Tupi, mas as imagens foram perdidas
num dos incêndios que destruíram os arquivos da emissora. Restaram
menos de dois minutos, preservados no acervo da Cinemateca
Brasileira.

No final da
década de 1970, com o lançamento do álbum “Off
The Wall”, Michael Jackson inicia a fase
adulta da carreira e arranca elogios unânimes da crítica ao
combinar as tradições do Rhythm and Blues de décadas passadas com o
estilo de sucessos da gravadora Motown e a novidade da Disco Music.
Compositor e arranjador desde os primeiros tempos do The Jackson Five, Michael passou a investir na experimentação musical.

E também começou a ganhar uma
exposição cada vez maior na mídia, que culminaria em 1982, com
“Thriller”,
até hoje o disco mais vendido do mundo, com cerca de 100 milhões de
cópias. Com “Thriller”, curta-metragem de 15 minutos escrito e dirigido por Michael em parceria com o cineasta John Landis, também começou a era de videoclipes na
MTV, emissora que acabara de despontar no cenário internacional.

Duas
décadas depois da primeira turnê brasileira, já aclamado com os
títulos de “rei do pop”, “recordista das premiações do Grammy”, “dono do
disco mais vendido da história”, “inventor do videoclipe”,
“maior entertainer vivo” e líder de campanhas humanitárias
importantes como USA For África (quando se juntou a 44 celebridades
para gravar a canção “We
Are The World”, que arrecadou US$
200 milhões), Michael Jackson passou a ser protagonista de polêmicas
que envolviam cirurgias plásticas a que teria se submetido para
buscar um “branqueamento” e uma série de escândalos fomentadas pela imprensa mais sensacionalista com
denúncias nunca comprovadas de abusos e pedofilia.

Trajetória
de Michael Jackson:

acima,
cartaz promocional e fotografia no

lançamento
do álbum de 1979 Off the Wall.

Abaixo, Jacko em
cena de Thriller (1983),

o
lendário videoclipe escrito e dirigido

em
parceria com o cineasta John Landis

e
apontado como o primeiro e o mais

importante
filme da era dos videoclipes;

e Jacko
no Brasil, durante as gravações

com
o cineasta Spike Lee na favela carioca

e
no Pelourinho, em Salvador 

 

Michael Jackson retornaria
duas vezes ao Brasil, em outubro de 1993 e em fevereiro de 1996. Em
1993, realizou dois shows no Estádio do Morumbi, em São Paulo, como
parte da turnê do álbum “Dangerous”.
Na confusão entre fãs e imprensa em frente ao hotel em que o
artista estava hospedado, a comitiva de
Michael atropelou dois adolescentes. Um deles, de 15 anos, teve sua
perna quebrada e recebeu no hospital a visita de seu ídolo.

Em 1996,
Michael e o diretor Spike Lee vieram ao Brasil para gravar cenas para
o videoclipe da música "They Don't Care About Us". No Rio
de Janeiro, as equipes do cantor e do diretor tiveram que negociar
com os traficantes para gravar cenas na favela. Também foram
gravadas cenas no Pelourinho, em Salvador, Bahia, onde Michael e
Spike Lee contaram com a participação do Olodum. As imagens de Michael Jackson
usando a camisa do grupo, não por acaso, fizeram com que o Olodum ficasse conhecido
nos quatro cantos do mundo.

por José
Antônio Orlando.

Como
citar:

ORLANDO,
José Antônio. Michael
Jackson em BH.
In: _____. Blog
Semióticas,
25
de
junho
de 2012.
Disponível no link
http://semioticas1.blogspot.com/2012/06/michael-jackson-em-bh.html
(acessado em .../.../...).

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