Cetóbriga: Memória da Cidade

20-06-2020
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Memória da Cidade

(Fot.de Joaquim Torres/Região de Setúbal Online)

Aqueles que criticam os mandatos de Mata Cáceres na Câmara Municipal de Setúbal (1986-2001) usam em geral o estilo superficial característico do nosso tempo ignorante: sem profundidade histórica (nem para dizer mal!), não contextualizando nada, incapazes de definir um "antes", um "durante" ou um "depois" — e mesmo esse "durante" de 16 anos é tratado como se fosse um curto lapso de tempo, que caracterizam com uma ou duas banalidades.

Eu, confesso, costumo divertir-me à custa desta ignorância desmemoriada, e quando oiço as "análises" superficiais dos analistas do nosso terreiro costumo fazer uma ou duas perguntas chatinhas. Por exemplo: o que é que pensam os analistas do período imediatamente anterior a Mata Cáceres? Não pensam nada, é claro. Frequentemente, nem sabem sequer quem foi o Presidente que o antecedeu.

Também não se lembram que o primeiro mandato de Mata Cáceres foi em coligação do PS com o PSD, com a Câmara dividida entre as cabeças do presidente e do "outro presidente", o super-vereador Sousa Pinto. Também não se recordam de quem desfez a coligação, tal como não sabem explicar porque é que Mata Cáceres teve logo a seguir maioria absoluta, etc., etc., etc.

Se os "analistas" têm paciência para me continuar a ouvir, pergunto-lhes depois pela evolução da situação financeira ao longo destes anos. Não lhes pergunto números, apenas tendências: mas nem isso sabem. Ignoram que o mandato anterior do PC (1983/1985) foi de profunda crise financeira, com ameaças constantes de insuficiência para pagar vencimentos, com ausência de crédito até na lojinha da esquina, etc. Nem sabem que a situação melhorou substancialmente durante os mandatos de Mata Cáceres, ao ponto da Câmara ter feito um notável aproveitamento dos fundos comunitários durante a OID (uma das raras Operações Integradas de sucesso realizadas na União Europeia).

Também não sabem situar os investimentos realizados ao longo deste tempo. Se lhes perguntam "quais as obras que não deveriam ter sido feitas" (ou, em alternativa, quais as que deveriam ter sido) estrebucham como peixes fora de água.

Mata Cáceres esteve, no sábado passado, numa sessão pública que decorreu no Instituto da Juventude, a falar sobre tudo isto. Eu, na minha ignorância (também tenho direito à ignorância!) julgo que se pode aprender alguma coisa em ouvir quem tem conhecimento de causa - e memória - para nos ajudar a recordar a história recente da cidade. Creio mesmo que umas quantas sessões destas, com actores de vários quadrantes políticos, seriam muito úteis para os analistas desmemoriados.

Mas não vos quero enganar: o que os analistas desmemoriados querem mesmo é continuar desmemoriados. Não desejam ouvir dados ou factos que atrapalhem as suas miríficas convicções. Seria uma grande maldade obrigá-los a ouvir Mata Cáceres dizer que recuperou a Câmara duma asfixia financeira em que o PC a tinha deixado atolada ou a enumerar as obras que fez e as iniciativas que teve, e que ainda são o que mantém a cidade a funcionar, desde a Estação de Resíduos Sólidos à ETAR, desde a Escola Profissional ao Festroia, desde o Museu do Trabalho à Biblioteca e ao Museu Sebastião da Gama.

Moral da história: há um período "antes" de Mata Cáceres em que a cidade parou, imobilizada pelas dívidas. Há um período "depois" de Mata Cáceres em que voltou a acontecer exactamente o mesmo. E há um "durante" em que a cidade e o concelho conheceram níveis de investimento público notáveis (atendendo às parcas receitas que tradicionalmente tem), bem como de iniciativas de desenvolvimento. Como é que os analistas desmemoriados explicam isto? Não podem explicar...

Uma referência para a imprensa da cidade (digital ou em papel) que fez uma boa cobertura deste debate, que também contou com a participação de Adriano Menezes. Julgo que os jornais poderiam ter ido um pouco mais longe e aproveitado para entrevistar mais longamente o antigo presidente. As cidades não ganham nada em ignorar aqueles que, numa dada altura, tiveram responsabilidades no seu governo. O calor emocional das campanhas eleitorais não é bom para a reflexão, pelo que é oportuno aproveitar estes períodos mais calmos para fazer essa reflexão.

Memória da Cidade

(Fot.de Joaquim Torres/Região de Setúbal Online)

Aqueles que criticam os mandatos de Mata Cáceres na Câmara Municipal de Setúbal (1986-2001) usam em geral o estilo superficial característico do nosso tempo ignorante: sem profundidade histórica (nem para dizer mal!), não contextualizando nada, incapazes de definir um "antes", um "durante" ou um "depois" — e mesmo esse "durante" de 16 anos é tratado como se fosse um curto lapso de tempo, que caracterizam com uma ou duas banalidades.

Eu, confesso, costumo divertir-me à custa desta ignorância desmemoriada, e quando oiço as "análises" superficiais dos analistas do nosso terreiro costumo fazer uma ou duas perguntas chatinhas. Por exemplo: o que é que pensam os analistas do período imediatamente anterior a Mata Cáceres? Não pensam nada, é claro. Frequentemente, nem sabem sequer quem foi o Presidente que o antecedeu.

Também não se lembram que o primeiro mandato de Mata Cáceres foi em coligação do PS com o PSD, com a Câmara dividida entre as cabeças do presidente e do "outro presidente", o super-vereador Sousa Pinto. Também não se recordam de quem desfez a coligação, tal como não sabem explicar porque é que Mata Cáceres teve logo a seguir maioria absoluta, etc., etc., etc.

Se os "analistas" têm paciência para me continuar a ouvir, pergunto-lhes depois pela evolução da situação financeira ao longo destes anos. Não lhes pergunto números, apenas tendências: mas nem isso sabem. Ignoram que o mandato anterior do PC (1983/1985) foi de profunda crise financeira, com ameaças constantes de insuficiência para pagar vencimentos, com ausência de crédito até na lojinha da esquina, etc. Nem sabem que a situação melhorou substancialmente durante os mandatos de Mata Cáceres, ao ponto da Câmara ter feito um notável aproveitamento dos fundos comunitários durante a OID (uma das raras Operações Integradas de sucesso realizadas na União Europeia).

Também não sabem situar os investimentos realizados ao longo deste tempo. Se lhes perguntam "quais as obras que não deveriam ter sido feitas" (ou, em alternativa, quais as que deveriam ter sido) estrebucham como peixes fora de água.

Mata Cáceres esteve, no sábado passado, numa sessão pública que decorreu no Instituto da Juventude, a falar sobre tudo isto. Eu, na minha ignorância (também tenho direito à ignorância!) julgo que se pode aprender alguma coisa em ouvir quem tem conhecimento de causa - e memória - para nos ajudar a recordar a história recente da cidade. Creio mesmo que umas quantas sessões destas, com actores de vários quadrantes políticos, seriam muito úteis para os analistas desmemoriados.

Mas não vos quero enganar: o que os analistas desmemoriados querem mesmo é continuar desmemoriados. Não desejam ouvir dados ou factos que atrapalhem as suas miríficas convicções. Seria uma grande maldade obrigá-los a ouvir Mata Cáceres dizer que recuperou a Câmara duma asfixia financeira em que o PC a tinha deixado atolada ou a enumerar as obras que fez e as iniciativas que teve, e que ainda são o que mantém a cidade a funcionar, desde a Estação de Resíduos Sólidos à ETAR, desde a Escola Profissional ao Festroia, desde o Museu do Trabalho à Biblioteca e ao Museu Sebastião da Gama.

Moral da história: há um período "antes" de Mata Cáceres em que a cidade parou, imobilizada pelas dívidas. Há um período "depois" de Mata Cáceres em que voltou a acontecer exactamente o mesmo. E há um "durante" em que a cidade e o concelho conheceram níveis de investimento público notáveis (atendendo às parcas receitas que tradicionalmente tem), bem como de iniciativas de desenvolvimento. Como é que os analistas desmemoriados explicam isto? Não podem explicar...

Uma referência para a imprensa da cidade (digital ou em papel) que fez uma boa cobertura deste debate, que também contou com a participação de Adriano Menezes. Julgo que os jornais poderiam ter ido um pouco mais longe e aproveitado para entrevistar mais longamente o antigo presidente. As cidades não ganham nada em ignorar aqueles que, numa dada altura, tiveram responsabilidades no seu governo. O calor emocional das campanhas eleitorais não é bom para a reflexão, pelo que é oportuno aproveitar estes períodos mais calmos para fazer essa reflexão.

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