27-08-2020
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Bárbara Bulhosa, da também independente Tinta-da-China, considera que o Ministério da Cultura “se tem portado pessimamente”. “A Cultura é uma das áreas mais afetadas. Primeiro é o Turismo, claro, mas depois é a Cultura. Acho ridículo não haver medidas a sério, um plano estratégico de recuperação nas mais diversas áreas, em vez de coisas avulsas e disparatadas. A Cultura é muito desprotegida na maior parte dos casos. Não há uma estabilidade como nos outros setores da economia”, afirmou ao Observador, salientando que, para funcionarem, as indústrias culturais têm sempre de depender de subsídios, de apoios públicos ou de mecenato. Caso contrário, não é possível fazer nada em Portugal.

“Acho que devia haver um apoio, uma coisa a sério, para quem quer investir saber que o seu negócio não vai por água abaixo. Acho que a Tinta-da-China tem tudo para continuar, mas tem de haver mercado”, considerou ainda, admitindo estar “bastante assustada como editora independente. Tenho nove pessoas a trabalhar, todas efetivas, com seguros de saúde”. Dos apoios do Estado, a Tinta-da-China não teve direito a nada. E, esta semana, Bárbara Bulhosa soube que não terá direito ao empréstimo que tinha pedido porque a linha de crédito criada para conter os efeitos da Covid-19 esgotou. O Expresso deu conta do fim do apoio numa notícia publicada no início de maio, mas só agora é que a editora foi informada pelo banco, que garantiu desde logo que a Tinta-da-China era elegível para o apoio, que já não há verba disponível.

Bárbara Bulhosa não consegue compreender como é que uma empresa “que tem a ficha completamente limpa não tem qualquer apoio do estado”. “Se uma empresa como esta não tem apoio, qual é que terá?”, interrogou, atirando novas críticas ao Governo, que considera não fazer nada pela Cultura, um setor “de lapela” para o Executivo de António Costa.

Na opinião de Carlos Alberto Machado, o que a pandemia veio sobretudo trazer foi um agravamento dos sintomas de uma doença que há muito se fazia sentir. “Tínhamos os sintomas e eles, de repente, explodiram, como aquelas coisas que temos adormecidas no organismo durante anos”, afirmou, acrescentando que “o que estava antes, é o que está agora”.

“As pessoas compram poucos livros porque leem pouco. O problema maior, que não se resolve por obra e graça de um governo qualquer ou por obra e graça do Espírito Santo, é esse. Os governos podiam fazer um bocadinho mais para tentar contrariar esse tipo de coisas, que tem a ver com a promoção da leitura ou com apoios pontuais. Há o problema das bibliotecas, da leitura, de dar mais visibilidade ao livro e aos autores portugueses no espaço público. É absolutamente vital, e isso não se faz. A imprensa tem mais o que fazer e ninguém perde eleições por não haver livros. Ninguém liga muito a isso.”

Recomeçar onde se parou e tentar antecipar um futuro que é cada vez mais incerto — mas de que maneira?

Mais de dois meses depois de terem suspendido a publicação de novos livros, as editoras portuguesas preparam-se agora para retomar a normalidade. E como é que isso faz?

Bárbara Bulhosa acredita que, pelo menos nesta primeira fase, haverá “um disparate” de livros no mercado, por causa do grande entusiasmo que um regresso aos lançamentos naturalmente traz. “Estou convencida de que vão sair mais livros agora. Estamos todos com vontade de retomar, de reabrir, de voltar a ter a atividade que tínhamos. Eu própria estou entusiasmada com os novos livros”, admitiu. Apesar disso, as dúvidas são muitas quanto à concretização desse objetivo. “Continuamos a pensar como se tudo estivesse normal, mas como é que os livros vão chegar às pessoas? Mudou aqui qualquer coisa e vamos ter de nos reinventar.”

No caso da Tinta-da-China, essa mudança passa muito por uma maior maior aposta no site — que tem estado a funcionar “lindamente”, embora sem faturar o necessário — e pela criação de novos e diferentes conteúdos, “no sentido de tentar arranjar alternativas e de seduzir da mesma forma” os leitores, mas tranquilizando-os de que não há perigo e que “não têm de se arriscar”. Para já, houve vários livros que estavam programados que caíram por terra. “Vamos produzir menos livros e há uma série deles que iam sair em 2020 e que adiamos para 2021”, afirmou a editora, que tem estado, assim como a restante equipa da Tinta-da-China, a trabalhar a partir de casa. “Vou tentar ser o mais cautelosa e contida no meu entusiasmo para não cometer erros de gestão.”

Bárbara Bulhosa, da também independente Tinta-da-China, considera que o Ministério da Cultura “se tem portado pessimamente”. “A Cultura é uma das áreas mais afetadas. Primeiro é o Turismo, claro, mas depois é a Cultura. Acho ridículo não haver medidas a sério, um plano estratégico de recuperação nas mais diversas áreas, em vez de coisas avulsas e disparatadas. A Cultura é muito desprotegida na maior parte dos casos. Não há uma estabilidade como nos outros setores da economia”, afirmou ao Observador, salientando que, para funcionarem, as indústrias culturais têm sempre de depender de subsídios, de apoios públicos ou de mecenato. Caso contrário, não é possível fazer nada em Portugal.

“Acho que devia haver um apoio, uma coisa a sério, para quem quer investir saber que o seu negócio não vai por água abaixo. Acho que a Tinta-da-China tem tudo para continuar, mas tem de haver mercado”, considerou ainda, admitindo estar “bastante assustada como editora independente. Tenho nove pessoas a trabalhar, todas efetivas, com seguros de saúde”. Dos apoios do Estado, a Tinta-da-China não teve direito a nada. E, esta semana, Bárbara Bulhosa soube que não terá direito ao empréstimo que tinha pedido porque a linha de crédito criada para conter os efeitos da Covid-19 esgotou. O Expresso deu conta do fim do apoio numa notícia publicada no início de maio, mas só agora é que a editora foi informada pelo banco, que garantiu desde logo que a Tinta-da-China era elegível para o apoio, que já não há verba disponível.

Bárbara Bulhosa não consegue compreender como é que uma empresa “que tem a ficha completamente limpa não tem qualquer apoio do estado”. “Se uma empresa como esta não tem apoio, qual é que terá?”, interrogou, atirando novas críticas ao Governo, que considera não fazer nada pela Cultura, um setor “de lapela” para o Executivo de António Costa.

Na opinião de Carlos Alberto Machado, o que a pandemia veio sobretudo trazer foi um agravamento dos sintomas de uma doença que há muito se fazia sentir. “Tínhamos os sintomas e eles, de repente, explodiram, como aquelas coisas que temos adormecidas no organismo durante anos”, afirmou, acrescentando que “o que estava antes, é o que está agora”.

“As pessoas compram poucos livros porque leem pouco. O problema maior, que não se resolve por obra e graça de um governo qualquer ou por obra e graça do Espírito Santo, é esse. Os governos podiam fazer um bocadinho mais para tentar contrariar esse tipo de coisas, que tem a ver com a promoção da leitura ou com apoios pontuais. Há o problema das bibliotecas, da leitura, de dar mais visibilidade ao livro e aos autores portugueses no espaço público. É absolutamente vital, e isso não se faz. A imprensa tem mais o que fazer e ninguém perde eleições por não haver livros. Ninguém liga muito a isso.”

Recomeçar onde se parou e tentar antecipar um futuro que é cada vez mais incerto — mas de que maneira?

Mais de dois meses depois de terem suspendido a publicação de novos livros, as editoras portuguesas preparam-se agora para retomar a normalidade. E como é que isso faz?

Bárbara Bulhosa acredita que, pelo menos nesta primeira fase, haverá “um disparate” de livros no mercado, por causa do grande entusiasmo que um regresso aos lançamentos naturalmente traz. “Estou convencida de que vão sair mais livros agora. Estamos todos com vontade de retomar, de reabrir, de voltar a ter a atividade que tínhamos. Eu própria estou entusiasmada com os novos livros”, admitiu. Apesar disso, as dúvidas são muitas quanto à concretização desse objetivo. “Continuamos a pensar como se tudo estivesse normal, mas como é que os livros vão chegar às pessoas? Mudou aqui qualquer coisa e vamos ter de nos reinventar.”

No caso da Tinta-da-China, essa mudança passa muito por uma maior maior aposta no site — que tem estado a funcionar “lindamente”, embora sem faturar o necessário — e pela criação de novos e diferentes conteúdos, “no sentido de tentar arranjar alternativas e de seduzir da mesma forma” os leitores, mas tranquilizando-os de que não há perigo e que “não têm de se arriscar”. Para já, houve vários livros que estavam programados que caíram por terra. “Vamos produzir menos livros e há uma série deles que iam sair em 2020 e que adiamos para 2021”, afirmou a editora, que tem estado, assim como a restante equipa da Tinta-da-China, a trabalhar a partir de casa. “Vou tentar ser o mais cautelosa e contida no meu entusiasmo para não cometer erros de gestão.”

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