As nobres vinganças do Dr. Mário Soares

08-11-2020
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Antes do mais, é imperioso tornar claro que este texto não visa beliscar, e ainda menos criticar, o Dr. Fernando Nobre, homem que eu e muitos portugueses se habituaram a admirar pelo humanismo e altruísmo ao serviço da AMI, nos sete cantos do Mundo. O nome do médico – cirurgião, agora candidato à Presidência da República, teve necessariamente de ser requerido à minha memória, para ser usado na qualidade de peça colateral – perdoe-se-me o termo. O centro da história é ocupado por outra personagem a que associo o frequente e torpe gosto da vingança.

O País e a Democracia Portuguesa beneficiaram de acções políticas do Dr. Mário Soares, mas é exagerado considerar-se que se contraiu com ele uma dívida de valor incalculável, ao ponto de nos obrigar a aceitar tudo quanto o citado decida, declare ou ‘decrete’ de modos e em formatos diversos; em particular, os artigos do DN de divina presciência dedicados ao Zé-povinho, gente acéfala ou de pensamento indigente.

O género de comportamento actual do Dr. Mário Soares é, de resto, recorrente em líderes políticos auto-classificados de retirados. Trata-se de um afastamento fictício, não eliminando, portanto, tentativas de influenciar as escolhas políticas dos concidadãos.

Consideremos, pois, toda a prática enunciada como coisa normal; e não é por aí que caminhamos para qualquer recriminação a Mário Soares. O que é verdadeiramente peculiar, nele, é a aberrante reacção de vingança sobre os camaradas que ousem contrariá-lo. Aí sim, o patriarca socialista desfere a desforra. A arma de arremesso, agora, foi Fernando Nobre e o alvo Manuel Alegre, ex-amigo e velho camarada de duras caminhadas.

Todavia, este é o capítulo mais recente de uma história antiga. Primeiro exemplo: Dr. Vasco da Gama Fernandes (1908-1991), 1º. Presidente da Assembleia da República (1976-1978), personalidade afastada da renovação para um 2.º mandato, por Mário Soares ter imposto a atribuição do lugar ao Dr. Teófilo Carvalho dos Santos. A humilhação pública do Dr. Vasco da Gama Fernandes, distinta figura humanista e tolerante, foi um acto persecutório grave, estando na origem da demissão do visado, em 1979, do PS, partido de que era fundador. Segundo exemplo: Dr. Francisco Salgado Zenha (1923-1993), natural de Braga, católico, lutou ao lado de Mário Soares desde a segunda metade dos anos quarenta (1947); foi fundador da Associação Socialista Portuguesa (1965) e também do PS; era-lhe reconhecida uma inteligência invulgar, e um espírito de combate contra a ditadura que implicou várias prisões pela PIDE. A ruptura com Mário Soares teve como causa o apoio de Salgado Zenha a Ramalho Eanes nas presidenciais de 1980. No inicio da década de 1980, Soares não está com meias-medidas: manda instaurar um processo disciplinar e expulsa Zenha do PS. Mais tarde, António Guterres, cujo ingresso no PS foi promovido por Salgado Zenha, ainda tentou convence-lo a voltar; mas em vão. Salgado Zenha recusou e viria a falecer em 1993.

Em jeito de resumo, concluo que parece haver demasiadas coincidências e reincidências de vinganças e prepotências no percurso político do Dr. Mário Soares, em momentos de eleição para altos cargos do Estado (Presidência da República, da Assembleia da República e eventualmente outros órgãos). E certamente vários episódios abundam por aí. A História, um dia, recontará tudo com pormenor e precisão – espero.

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Antes do mais, é imperioso tornar claro que este texto não visa beliscar, e ainda menos criticar, o Dr. Fernando Nobre, homem que eu e muitos portugueses se habituaram a admirar pelo humanismo e altruísmo ao serviço da AMI, nos sete cantos do Mundo. O nome do médico – cirurgião, agora candidato à Presidência da República, teve necessariamente de ser requerido à minha memória, para ser usado na qualidade de peça colateral – perdoe-se-me o termo. O centro da história é ocupado por outra personagem a que associo o frequente e torpe gosto da vingança.

O País e a Democracia Portuguesa beneficiaram de acções políticas do Dr. Mário Soares, mas é exagerado considerar-se que se contraiu com ele uma dívida de valor incalculável, ao ponto de nos obrigar a aceitar tudo quanto o citado decida, declare ou ‘decrete’ de modos e em formatos diversos; em particular, os artigos do DN de divina presciência dedicados ao Zé-povinho, gente acéfala ou de pensamento indigente.

O género de comportamento actual do Dr. Mário Soares é, de resto, recorrente em líderes políticos auto-classificados de retirados. Trata-se de um afastamento fictício, não eliminando, portanto, tentativas de influenciar as escolhas políticas dos concidadãos.

Consideremos, pois, toda a prática enunciada como coisa normal; e não é por aí que caminhamos para qualquer recriminação a Mário Soares. O que é verdadeiramente peculiar, nele, é a aberrante reacção de vingança sobre os camaradas que ousem contrariá-lo. Aí sim, o patriarca socialista desfere a desforra. A arma de arremesso, agora, foi Fernando Nobre e o alvo Manuel Alegre, ex-amigo e velho camarada de duras caminhadas.

Todavia, este é o capítulo mais recente de uma história antiga. Primeiro exemplo: Dr. Vasco da Gama Fernandes (1908-1991), 1º. Presidente da Assembleia da República (1976-1978), personalidade afastada da renovação para um 2.º mandato, por Mário Soares ter imposto a atribuição do lugar ao Dr. Teófilo Carvalho dos Santos. A humilhação pública do Dr. Vasco da Gama Fernandes, distinta figura humanista e tolerante, foi um acto persecutório grave, estando na origem da demissão do visado, em 1979, do PS, partido de que era fundador. Segundo exemplo: Dr. Francisco Salgado Zenha (1923-1993), natural de Braga, católico, lutou ao lado de Mário Soares desde a segunda metade dos anos quarenta (1947); foi fundador da Associação Socialista Portuguesa (1965) e também do PS; era-lhe reconhecida uma inteligência invulgar, e um espírito de combate contra a ditadura que implicou várias prisões pela PIDE. A ruptura com Mário Soares teve como causa o apoio de Salgado Zenha a Ramalho Eanes nas presidenciais de 1980. No inicio da década de 1980, Soares não está com meias-medidas: manda instaurar um processo disciplinar e expulsa Zenha do PS. Mais tarde, António Guterres, cujo ingresso no PS foi promovido por Salgado Zenha, ainda tentou convence-lo a voltar; mas em vão. Salgado Zenha recusou e viria a falecer em 1993.

Em jeito de resumo, concluo que parece haver demasiadas coincidências e reincidências de vinganças e prepotências no percurso político do Dr. Mário Soares, em momentos de eleição para altos cargos do Estado (Presidência da República, da Assembleia da República e eventualmente outros órgãos). E certamente vários episódios abundam por aí. A História, um dia, recontará tudo com pormenor e precisão – espero.

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