Delito de Opinião

17-03-2020
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Paulo Sousa, 14.08.21

Por todo o nosso Portugal decorre a campanha autárquica. Os media cingem a sua cobertura aos grandes centros e aos cartazes cómicos mas, enquanto isso, na esmagadora maioria dos trezentos e poucos municípios portugueses vivem-se as normais dinâmicas de um debate sobre o que foi feito, o que falta fazer, sobre o passado e o futuro.

Os tempos das campanhas em que se distribuíam esferográficas, beijinhos e aventais, já lá vão. Agora, e também graças à pandemia, a acção desenrola-se com especial relevo nas redes sociais, onde não faltam os perfis falsos, as ameaças e calunias que se apagam alguns minutos depois e o destrate de quem se esquece que fora daquela bolha existe uma coisa chamada realidade. Em paralelo ao que é acessível no domínio público, entre correligionários, troca-se uma imensidão de mensagens pessoais e dão-se recados por interpostas pessoas. Tudo espremido e bem trabalhado, permitiria recolher matéria para muitas novelas reveladoras da natureza humana, na sua grandeza e nas suas misérias.

Como é normal, o concelho de Porto de Mós não está fora desta realidade. No cenário actual, Jorge Vala, o presidente em funções, recandidata-se pelo PSD para um segundo mandato, e é desafiado por João Salgueiro, que se apresenta pelo PS.

Jorge Vala, com 59 anos de idade, começou a carreira de bancário a fazer recolha de depósitos numa instituição financeira e ao longo dos anos foi sendo promovido, mudou de entidade empregadora e depois de gerente chegou a director regional, onde teve muitas dezenas de pessoas à sua responsabilidade. Eu, e aqui fica a minha declaração de interesses, sou apenas mais uma dessas dezenas de pessoas que teve a sorte de trabalhar com o Jorge Vala. Inaugurámos o balcão de um banco e, como ele, entendi que de facto existem pessoas que lideram pela positiva, que com toda a naturalidade aproximam quem os rodeia e, juntos, acabam por conseguir mais do que alguma vez seria possível com a simples soma das capacidades individuais. Talvez pudesse aqui ainda descrever o envolvimento que ele teve na vida comunitária. A lista seria muito longa, mas ainda assim, e certamente deixando algo para trás, sei que conduziu ambulâncias nos bombeiros voluntários, fundou o Clube Automóvel de Porto de Mós onde liderou a organização de inúmeros eventos desportivos, colaborou em diferentes órgãos sociais com a Associação Desportiva Portomosense, esteve ligado à Cincup, cooperativa que gere o quinzenário local e a rádio Dom Fuas, e nesta lista mais haveria para dizer, mas julgo que para traçar o seu perfil a quem não o conheça, será suficiente.

O mandato que começou em Outubro de 2017 foi naturalmente marcado e condicionado pela pandemia. Quando as dúvidas eram apenas o que tínhamos, Jorge Vala, recorrendo às redes sociais fez comunicados diários à população apelando à calma e ao cumprimento das recomendações sanitárias; quando as máscaras eram escassas fez chegar cinco a cada munícipe; todos os comerciantes que o solicitaram receberam uma viseira; foi criada uma linha de apoio que funcionou 24/24 horas para esclarecer dúvidas e que muitas vezes se tornou em linha de apoio psicológico. Sei de quem esteve de serviço nessa linha e passou horas a falar, noite fora, com pessoas assustadas e ansiosas.

Ainda antes da pandemia, foram várias as vezes que alguns programas televisivos de domingo à tarde foram feitos a partir de Porto de Mós, o que não sendo algo que traga benefício directo à população contribuirá para a sua auto-estima. Nesses programas é normal que várias pessoas sejam entrevistadas mostrando produtos regionais, artesanato, que sejam visitadas as atrações turísticas que aqui são essencialmente históricas e naturais.

Um dos compromissos assumidos por Jorge Vala na sua campanha era colocar Porto de Mós no mapa, referindo-se naturalmente ao mapa cerebral que cada português tem do seu país. A colocação de uma foto do castelo onde Nuno Alvares Pereira pernoitou - fez ontem 636 anos - antes da Batalha de Aljubarrota, em diversos outdoors ao longo de diversas rodovias do país, fará parte desse mesmo objectivo.

Posso ainda acrescentar que o polo tecnológico em recursos minerais do centro será sediado em Porto de Mós, fazendo este parte do que entendi ser uma aproximação das empresas ao mundo académico.

Outras obras e melhoramentos foram feitos, mas que aqui não irei descrever em detalhe por não ser o fito deste meu postal.

O candidato rival, João Salgueiro, com 68 anos de idade, foi vereador com o pelouro das obras durante vários mandatos pelo PSD. Em 2005 mudou de cor partidária e apresentou-se como candidato pelo PS contra o seu até então presidente José Ferreira. Venceu as eleições e continuou assim a sua ligação ao poder autárquico por mais três mandatos. A lei anti-dinossauros impediu que se recandidatasse, e desde então Jorge Vala é o presidente.

Desde que conheço João Salgueiro que ele está ligado ao pelouro das obras da Câmara Municipal e mais tarde como presidente. É do conhecimento público que é aficionado tauromáquico e que está ligado à competição/criação equestre.

No mandato de 2005 a 2009 fui Secretário da Junta de Freguesia do Juncal, eleito pelo PSD estando a Câmara então, e desde a primeira vez, nas mãos do PS. Quando a Câmara e Junta são eleitas por diferentes partidos, é normal ocorrerem pequenas tricas e fricções, mas que acabam por ter de ser ultrapassadas. No entanto, e cada um terá um limite de flexibilidade diferente, a nossa convivência nunca foi fácil, e passo a explicar porquê.

Um dos compromissos eleitorais de João Salgueiro era a construção de uma Casa Velório no Juncal. Logo que tomou posse, quis avançar com o processo, mas tudo começou da pior forma. O terreno escolhido foi o de um cemitério atrás da Igreja Paroquial onde não eram inumados corpos há cerca de cem anos. Desde a primeira hora que não aceitei esse argumento, até porque João Salgueiro acabou por nunca me esclarecer qual era o seu entendimento do prazo de validade da expressão “Descanse em Paz”.

O projecto foi sendo delineado e poucos meses depois as obras avançaram. Em pouco tempo o descanso, que deveria ser eterno, de largas dezenas antepassados juncalenses foi interrompido pelas unhas desta retroescavadora.

Várias figuras com responsabilidades públicas não se comportaram à altura do que aquele momento exigia. O Pároco, o Presidente da Junta, o Presidente da Assembleia de Freguesia, todos foram condicionados pela pressão de querer ter uma Casa Velório em tempo recorde. Isolado pelo encolhimento serôdio de quem diz querer defender uma comunidade, assim como, pela anémica indiferença tuga às coisas públicas, acabei por ter de pedir ajuda a IPA – Instituto Português de Arqueologia que quando embargou a obra já o cemitério estava neste estado.

João Salgueiro reagiu a isto como se uma ofensa pessoal lhe tivesse sido feita. Recomendei-lhe, até numa Assembleia Municipal, que a questão legal deveria ser tratada entre o Município e o IPA, mas a profunda falta de respeito e de total insensibilidade era para com a população.

A entrada do IPA nesta história infeliz, obrigou a uma alteração do projecto. O local das novas sapatas deveria ser aberto sob supervisão dos seus técnicos e as ossadas recolhidas deveriam ser transladas para um coval específico aberto para o feito no cemitério actual, onde já estavam as duas urnas de chumbo retiradas anteriormente.

Como um azar nunca vem só, o novo projecto demorou dezanove semanas a ficar pronto. Durante este tempo, o cemitério ficou tão toscamente vedado, que ainda acabou por ser vandalizado.

Numa história assim, tão abaixo de triste e lamentável, fez pandã um discurso de inauguração do edifício, dito de carótida inflamada, num tom persecutório e de dedo em riste a apontar a mim. João Salgueiro personalizou na minha pessoa a defesa dos restos mortais dos meus antepassados, o que, olhando para o que nós os dois ali representavamos, me poderia deixar orgulhoso, mas não pude deixar de ficar triste por não ter conseguido fazer mais.

Já passaram uns anos, mas há dias, e num comentário que fiz no Facebook a uma lista do PS de uma das freguesias do concelho, lá regressou João Salgueiro, a tentar acertar contas com o passado e a recomendar-me vergonha. Antes de lhe conseguir responder, apagou o comentário e, apenas para quem não o conhece, confirmou a sua incapacidade em lidar com o perguntas incómodas e contraditório.

Para já fico por aqui. Provavelmente outros assuntos dentro desta temática merecerão aqui regressar.

Paulo Sousa, 14.08.21

Por todo o nosso Portugal decorre a campanha autárquica. Os media cingem a sua cobertura aos grandes centros e aos cartazes cómicos mas, enquanto isso, na esmagadora maioria dos trezentos e poucos municípios portugueses vivem-se as normais dinâmicas de um debate sobre o que foi feito, o que falta fazer, sobre o passado e o futuro.

Os tempos das campanhas em que se distribuíam esferográficas, beijinhos e aventais, já lá vão. Agora, e também graças à pandemia, a acção desenrola-se com especial relevo nas redes sociais, onde não faltam os perfis falsos, as ameaças e calunias que se apagam alguns minutos depois e o destrate de quem se esquece que fora daquela bolha existe uma coisa chamada realidade. Em paralelo ao que é acessível no domínio público, entre correligionários, troca-se uma imensidão de mensagens pessoais e dão-se recados por interpostas pessoas. Tudo espremido e bem trabalhado, permitiria recolher matéria para muitas novelas reveladoras da natureza humana, na sua grandeza e nas suas misérias.

Como é normal, o concelho de Porto de Mós não está fora desta realidade. No cenário actual, Jorge Vala, o presidente em funções, recandidata-se pelo PSD para um segundo mandato, e é desafiado por João Salgueiro, que se apresenta pelo PS.

Jorge Vala, com 59 anos de idade, começou a carreira de bancário a fazer recolha de depósitos numa instituição financeira e ao longo dos anos foi sendo promovido, mudou de entidade empregadora e depois de gerente chegou a director regional, onde teve muitas dezenas de pessoas à sua responsabilidade. Eu, e aqui fica a minha declaração de interesses, sou apenas mais uma dessas dezenas de pessoas que teve a sorte de trabalhar com o Jorge Vala. Inaugurámos o balcão de um banco e, como ele, entendi que de facto existem pessoas que lideram pela positiva, que com toda a naturalidade aproximam quem os rodeia e, juntos, acabam por conseguir mais do que alguma vez seria possível com a simples soma das capacidades individuais. Talvez pudesse aqui ainda descrever o envolvimento que ele teve na vida comunitária. A lista seria muito longa, mas ainda assim, e certamente deixando algo para trás, sei que conduziu ambulâncias nos bombeiros voluntários, fundou o Clube Automóvel de Porto de Mós onde liderou a organização de inúmeros eventos desportivos, colaborou em diferentes órgãos sociais com a Associação Desportiva Portomosense, esteve ligado à Cincup, cooperativa que gere o quinzenário local e a rádio Dom Fuas, e nesta lista mais haveria para dizer, mas julgo que para traçar o seu perfil a quem não o conheça, será suficiente.

O mandato que começou em Outubro de 2017 foi naturalmente marcado e condicionado pela pandemia. Quando as dúvidas eram apenas o que tínhamos, Jorge Vala, recorrendo às redes sociais fez comunicados diários à população apelando à calma e ao cumprimento das recomendações sanitárias; quando as máscaras eram escassas fez chegar cinco a cada munícipe; todos os comerciantes que o solicitaram receberam uma viseira; foi criada uma linha de apoio que funcionou 24/24 horas para esclarecer dúvidas e que muitas vezes se tornou em linha de apoio psicológico. Sei de quem esteve de serviço nessa linha e passou horas a falar, noite fora, com pessoas assustadas e ansiosas.

Ainda antes da pandemia, foram várias as vezes que alguns programas televisivos de domingo à tarde foram feitos a partir de Porto de Mós, o que não sendo algo que traga benefício directo à população contribuirá para a sua auto-estima. Nesses programas é normal que várias pessoas sejam entrevistadas mostrando produtos regionais, artesanato, que sejam visitadas as atrações turísticas que aqui são essencialmente históricas e naturais.

Um dos compromissos assumidos por Jorge Vala na sua campanha era colocar Porto de Mós no mapa, referindo-se naturalmente ao mapa cerebral que cada português tem do seu país. A colocação de uma foto do castelo onde Nuno Alvares Pereira pernoitou - fez ontem 636 anos - antes da Batalha de Aljubarrota, em diversos outdoors ao longo de diversas rodovias do país, fará parte desse mesmo objectivo.

Posso ainda acrescentar que o polo tecnológico em recursos minerais do centro será sediado em Porto de Mós, fazendo este parte do que entendi ser uma aproximação das empresas ao mundo académico.

Outras obras e melhoramentos foram feitos, mas que aqui não irei descrever em detalhe por não ser o fito deste meu postal.

O candidato rival, João Salgueiro, com 68 anos de idade, foi vereador com o pelouro das obras durante vários mandatos pelo PSD. Em 2005 mudou de cor partidária e apresentou-se como candidato pelo PS contra o seu até então presidente José Ferreira. Venceu as eleições e continuou assim a sua ligação ao poder autárquico por mais três mandatos. A lei anti-dinossauros impediu que se recandidatasse, e desde então Jorge Vala é o presidente.

Desde que conheço João Salgueiro que ele está ligado ao pelouro das obras da Câmara Municipal e mais tarde como presidente. É do conhecimento público que é aficionado tauromáquico e que está ligado à competição/criação equestre.

No mandato de 2005 a 2009 fui Secretário da Junta de Freguesia do Juncal, eleito pelo PSD estando a Câmara então, e desde a primeira vez, nas mãos do PS. Quando a Câmara e Junta são eleitas por diferentes partidos, é normal ocorrerem pequenas tricas e fricções, mas que acabam por ter de ser ultrapassadas. No entanto, e cada um terá um limite de flexibilidade diferente, a nossa convivência nunca foi fácil, e passo a explicar porquê.

Um dos compromissos eleitorais de João Salgueiro era a construção de uma Casa Velório no Juncal. Logo que tomou posse, quis avançar com o processo, mas tudo começou da pior forma. O terreno escolhido foi o de um cemitério atrás da Igreja Paroquial onde não eram inumados corpos há cerca de cem anos. Desde a primeira hora que não aceitei esse argumento, até porque João Salgueiro acabou por nunca me esclarecer qual era o seu entendimento do prazo de validade da expressão “Descanse em Paz”.

O projecto foi sendo delineado e poucos meses depois as obras avançaram. Em pouco tempo o descanso, que deveria ser eterno, de largas dezenas antepassados juncalenses foi interrompido pelas unhas desta retroescavadora.

Várias figuras com responsabilidades públicas não se comportaram à altura do que aquele momento exigia. O Pároco, o Presidente da Junta, o Presidente da Assembleia de Freguesia, todos foram condicionados pela pressão de querer ter uma Casa Velório em tempo recorde. Isolado pelo encolhimento serôdio de quem diz querer defender uma comunidade, assim como, pela anémica indiferença tuga às coisas públicas, acabei por ter de pedir ajuda a IPA – Instituto Português de Arqueologia que quando embargou a obra já o cemitério estava neste estado.

João Salgueiro reagiu a isto como se uma ofensa pessoal lhe tivesse sido feita. Recomendei-lhe, até numa Assembleia Municipal, que a questão legal deveria ser tratada entre o Município e o IPA, mas a profunda falta de respeito e de total insensibilidade era para com a população.

A entrada do IPA nesta história infeliz, obrigou a uma alteração do projecto. O local das novas sapatas deveria ser aberto sob supervisão dos seus técnicos e as ossadas recolhidas deveriam ser transladas para um coval específico aberto para o feito no cemitério actual, onde já estavam as duas urnas de chumbo retiradas anteriormente.

Como um azar nunca vem só, o novo projecto demorou dezanove semanas a ficar pronto. Durante este tempo, o cemitério ficou tão toscamente vedado, que ainda acabou por ser vandalizado.

Numa história assim, tão abaixo de triste e lamentável, fez pandã um discurso de inauguração do edifício, dito de carótida inflamada, num tom persecutório e de dedo em riste a apontar a mim. João Salgueiro personalizou na minha pessoa a defesa dos restos mortais dos meus antepassados, o que, olhando para o que nós os dois ali representavamos, me poderia deixar orgulhoso, mas não pude deixar de ficar triste por não ter conseguido fazer mais.

Já passaram uns anos, mas há dias, e num comentário que fiz no Facebook a uma lista do PS de uma das freguesias do concelho, lá regressou João Salgueiro, a tentar acertar contas com o passado e a recomendar-me vergonha. Antes de lhe conseguir responder, apagou o comentário e, apenas para quem não o conhece, confirmou a sua incapacidade em lidar com o perguntas incómodas e contraditório.

Para já fico por aqui. Provavelmente outros assuntos dentro desta temática merecerão aqui regressar.

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