Os campeões da liberdade numa cerimónia cheia de restrições

26-05-2020
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Se as comemorações do 25 de Abril no Parlamento fossem uma competição pela liberdade, este ano quem a teria ganho? A resposta seria Ana Catarina Mendes, que teria superado a concorrência, se, lá está, a utilização da palavra “liberdade” valesse pontos.

Não valia, como bem sabemos, mas no “Liberdadómetro VISÃO” deste ano, a líder da bancada parlamentar do PS somaria, em 11 minutos, 13 repetições de um dos valores que cunham o 25 de Abril de 1974. A liberdade como um direito que se cola à pele dos mais novos, a liberdade a que Manuel Alegre se dedicou em “Rosas Vermelhas”, a liberdade limitada por uma pandemia e, por isso, a liberdade como um valor a proteger e preservar. “Os próximos anos demonstrarão que a liberdade não é apenas a mais justa, mas também a mais eficaz forma de construir a prosperidade. É esse o próximo desafio das nossas vidas.”

Se a líder parlamentar do PS venceu em valor absoluto, João Cotrim de Figueiredo triunfou em termos relativos. Em apenas três minutos, o presidente da Iniciativa Liberal disse “liberdade” oito vezes. A conta é simples: a palavra surgiu, em média, quase três vezes a cada intervalo de 60 segundos na breve intervenção do deputado único dos liberais.

Foi como uma mensagem subliminar que atravessou todo o discurso. Ferro Rodrigues falou durante dez minutos e pouco faltou para que, a cada um desses minutos, enunciasse de forma clara o valor da “liberdade”. Ele que se transformou no alvo destes dias, em grande medida pela forma como defendeu que não podia haver 25 de Abril que não passasse por ali, pela casa da democracia, a casa a que Ferro Rodrigues preside. O número dois do Estado exaltou o “Dia da Liberdade”, elevou a “liberdade” que não cessa mesmo num país em estado de emergência e celebrou a liberdade. Porque “a liberdade não está só a passar por aqui: a liberdade é aqui e agora.”

Telmo Correia, que foi à câmara que representa o povo lavrar o protesto do CDS, referiu-se à liberdade à razão de uma vez por minuto. O chefe da bancada centrista – que se opunha aos moldes da celebração – totalizou quatro menções noutros tantos minutos de discurso. Rui Rio foi mais frugal na utilização do vocábulo que quase rima com o 25 de Abril: verbalizou-o três vezes em seis minutos.

A proporção foi, de resto, igual à que Inês Sousa Real, presidente do grupo parlamentar do PAN, usou para cozinhar a intervenção de estreia em sessões solenes de evocação da revolução dos cravos. Quatro alusões em oito minutos de discurso.

O secretário-geral do PCP falou num “povo que ama a liberdade”. Fê-lo para defender que hoje, 25 de Abril de 2020, 46 anos depois da Revolução e em plena pandemia, hoje, era o dia em que mais fazia sentido estar ali, no Parlamento, a assinalar esse histórico virar da página. Nos sete minutos da sua intervenção, o secretário-geral do PCP falou, ainda, nos “valores de Abril”. E lá estava, à cabeça, o suspeito do costume: “A liberdade”, que Jerónimo colocava junto aos valores “da democracia, da natureza do Estado concebido para responder aos interesses e necessidades do povo e do país, em oposição à conceção do Estado, instrumento para servir o capital e a exploração”. Foram três menções à expressão mais usada.

Houve Ary dos Santos, houve Zeca Afonso, houve José Mário Branco – no primeiro 25 de Abril depois da sua morte – e houve Luís Sepúlveda. Houve muita liberdade, apenas não houve porque nomeá-la assim, tão diretamente. O deputado Moisés Ferreira enunciou por duas vezes esse valor fundamental. Mas quando o fez, num daqueles sete minutos, expressou-se assim: “Não descemos a Avenida, mas nem por isso esquecemos que a Liberdade é o nosso chão.” E, depois, quando falava do estado de emergência em que o país vive há mais de um mês, defendeu que esse regime excecional “tem sido necessário para medidas de confinamento e de restrição da circulação que têm travado a epidemia, mas não suspende a democracia nem serve para atacar direitos e liberdades conquistadas”.

Se lhe somássemos aquele momento em que usa o termo “livre”, José Luís Ferreira conseguiria subir um pequeníssimo degrau, mas mesmo assim suficientemente alto para que se afastasse do fundo da tabela. Nos sete minutos em que interveio, o deputado d’Os Verdes mencionou por duas vezes o termo “liberdade”.

André Ventura, que ensaiou um discurso a apontar para uma IV República, só pegou duas vezes no termo liberdade, embora a proporção nº de referências/período de intervenção seja melhor que as de José Luís Ferreira, da bancada do PEV, e de Moisés Ferreira, do BE.

Quanto ao Presidente da República, nos 17 minutos em que interveio puxou sete vezes do trunfo da liberdade. Ou seja, Marcelo Rebelo de Sousa fê-lo com um intervalo superior a dois minutos.

Confira os resultados do “Liberdadómetro VISÃO 2020”

Ana Catarina Mendes (PS): 13 vezes / 11 minutos de intervenção

João Cotrim de Figueiredo (IL): 8 vezes / 3 minutos

Eduardo Ferro Rodrigues (PAR): 8 vezes / 10 minutos

Marcelo Rebelo de Sousa (PR): 7 vezes / 17 minutos

Telmo Correia (CDS): 4 vezes / 4 minutos

Inês Sousa Real (PAN): 4 vezes / 8 minutos

Rui Rio (PSD): 3 vezes / 6 minutos

Jerónimo de Sousa (PCP): 3 vezes / 7 minutos

André Ventura (CH): 2 vezes / 4 minutos

José Luís Ferreira (PEV): 2 vezes / 7 minutos

Moisés Ferreira (BE): 2 vezes / 7 minutos

Se as comemorações do 25 de Abril no Parlamento fossem uma competição pela liberdade, este ano quem a teria ganho? A resposta seria Ana Catarina Mendes, que teria superado a concorrência, se, lá está, a utilização da palavra “liberdade” valesse pontos.

Não valia, como bem sabemos, mas no “Liberdadómetro VISÃO” deste ano, a líder da bancada parlamentar do PS somaria, em 11 minutos, 13 repetições de um dos valores que cunham o 25 de Abril de 1974. A liberdade como um direito que se cola à pele dos mais novos, a liberdade a que Manuel Alegre se dedicou em “Rosas Vermelhas”, a liberdade limitada por uma pandemia e, por isso, a liberdade como um valor a proteger e preservar. “Os próximos anos demonstrarão que a liberdade não é apenas a mais justa, mas também a mais eficaz forma de construir a prosperidade. É esse o próximo desafio das nossas vidas.”

Se a líder parlamentar do PS venceu em valor absoluto, João Cotrim de Figueiredo triunfou em termos relativos. Em apenas três minutos, o presidente da Iniciativa Liberal disse “liberdade” oito vezes. A conta é simples: a palavra surgiu, em média, quase três vezes a cada intervalo de 60 segundos na breve intervenção do deputado único dos liberais.

Foi como uma mensagem subliminar que atravessou todo o discurso. Ferro Rodrigues falou durante dez minutos e pouco faltou para que, a cada um desses minutos, enunciasse de forma clara o valor da “liberdade”. Ele que se transformou no alvo destes dias, em grande medida pela forma como defendeu que não podia haver 25 de Abril que não passasse por ali, pela casa da democracia, a casa a que Ferro Rodrigues preside. O número dois do Estado exaltou o “Dia da Liberdade”, elevou a “liberdade” que não cessa mesmo num país em estado de emergência e celebrou a liberdade. Porque “a liberdade não está só a passar por aqui: a liberdade é aqui e agora.”

Telmo Correia, que foi à câmara que representa o povo lavrar o protesto do CDS, referiu-se à liberdade à razão de uma vez por minuto. O chefe da bancada centrista – que se opunha aos moldes da celebração – totalizou quatro menções noutros tantos minutos de discurso. Rui Rio foi mais frugal na utilização do vocábulo que quase rima com o 25 de Abril: verbalizou-o três vezes em seis minutos.

A proporção foi, de resto, igual à que Inês Sousa Real, presidente do grupo parlamentar do PAN, usou para cozinhar a intervenção de estreia em sessões solenes de evocação da revolução dos cravos. Quatro alusões em oito minutos de discurso.

O secretário-geral do PCP falou num “povo que ama a liberdade”. Fê-lo para defender que hoje, 25 de Abril de 2020, 46 anos depois da Revolução e em plena pandemia, hoje, era o dia em que mais fazia sentido estar ali, no Parlamento, a assinalar esse histórico virar da página. Nos sete minutos da sua intervenção, o secretário-geral do PCP falou, ainda, nos “valores de Abril”. E lá estava, à cabeça, o suspeito do costume: “A liberdade”, que Jerónimo colocava junto aos valores “da democracia, da natureza do Estado concebido para responder aos interesses e necessidades do povo e do país, em oposição à conceção do Estado, instrumento para servir o capital e a exploração”. Foram três menções à expressão mais usada.

Houve Ary dos Santos, houve Zeca Afonso, houve José Mário Branco – no primeiro 25 de Abril depois da sua morte – e houve Luís Sepúlveda. Houve muita liberdade, apenas não houve porque nomeá-la assim, tão diretamente. O deputado Moisés Ferreira enunciou por duas vezes esse valor fundamental. Mas quando o fez, num daqueles sete minutos, expressou-se assim: “Não descemos a Avenida, mas nem por isso esquecemos que a Liberdade é o nosso chão.” E, depois, quando falava do estado de emergência em que o país vive há mais de um mês, defendeu que esse regime excecional “tem sido necessário para medidas de confinamento e de restrição da circulação que têm travado a epidemia, mas não suspende a democracia nem serve para atacar direitos e liberdades conquistadas”.

Se lhe somássemos aquele momento em que usa o termo “livre”, José Luís Ferreira conseguiria subir um pequeníssimo degrau, mas mesmo assim suficientemente alto para que se afastasse do fundo da tabela. Nos sete minutos em que interveio, o deputado d’Os Verdes mencionou por duas vezes o termo “liberdade”.

André Ventura, que ensaiou um discurso a apontar para uma IV República, só pegou duas vezes no termo liberdade, embora a proporção nº de referências/período de intervenção seja melhor que as de José Luís Ferreira, da bancada do PEV, e de Moisés Ferreira, do BE.

Quanto ao Presidente da República, nos 17 minutos em que interveio puxou sete vezes do trunfo da liberdade. Ou seja, Marcelo Rebelo de Sousa fê-lo com um intervalo superior a dois minutos.

Confira os resultados do “Liberdadómetro VISÃO 2020”

Ana Catarina Mendes (PS): 13 vezes / 11 minutos de intervenção

João Cotrim de Figueiredo (IL): 8 vezes / 3 minutos

Eduardo Ferro Rodrigues (PAR): 8 vezes / 10 minutos

Marcelo Rebelo de Sousa (PR): 7 vezes / 17 minutos

Telmo Correia (CDS): 4 vezes / 4 minutos

Inês Sousa Real (PAN): 4 vezes / 8 minutos

Rui Rio (PSD): 3 vezes / 6 minutos

Jerónimo de Sousa (PCP): 3 vezes / 7 minutos

André Ventura (CH): 2 vezes / 4 minutos

José Luís Ferreira (PEV): 2 vezes / 7 minutos

Moisés Ferreira (BE): 2 vezes / 7 minutos

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