Ele ganhou o “Óscar dos perfumes de nicho”, apesar de a indústria em Portugal ser “zero”

24-12-2020
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Venceu enquanto estava deitado no sofá. Embora estivesse atento à transmissão – via Zoom, como obriga a pandemia – dos Art and Olfaction Awards, a partir de Los Angeles, na noite de quinta-feira, Miguel Matos nunca imaginou que poderia ser o vencedor do troféu da noite. O perfumista português de 43 anos estava nomeado para o prémio de melhor perfume de 2019 na categoria independente com Young Hearts, criação para a marca italiana Bruno Acampora Profumi, da qual é director criativo desde o início do ano.

Quando a sua imagem apareceu no ecrã na hora de declarar o vencedor, confessa, “foi uma surpresa enorme porque não estava absolutamente nada à espera”. “Só aparecia eu na imagem levantado no sofá”, conta ao PÚBLICO entre gargalhadas, enquanto explica que “a nível de perfumaria de nicho, este é o prémio mais importante mundialmente”. “Não existe nada acima”, continua, pelo que o compara aos “Óscares da perfumaria de nicho”.

Por isso, o sentimento é de “uma alegria muito grande, mas também de responsabilidade”, sendo “excelente ver os pares a reconhecer” o seu trabalho. Sobretudo tendo em conta que 2019 foi, oficialmente, o seu primeiro ano como perfumista. “No meu primeiro ano, ganhar logo este prémio era uma coisa que nunca me passou pela cabeça”, confessa, ainda que no ano passado já tenha sido nomeado, mas na categoria de trabalhos olfactivos experimentais.

O criador caracteriza a fragrância como sendo da categoria Chipre, “uma das famílias clássicas da perfumaria”, o que segue o seu traço de “perfumaria vintage, clássica francesa”. Começa cítrico, explica, “e depois tem um coração floral e um fim com patchuli e musgo”. É um perfume “muito verde”, que “cheira a terra, a musgo” e a “uma floresta húmida no inverno”.

Trabalha a 100% na indústria a partir de Portugal

Começou a fazer perfumes em casa há oito anos, embora “não com os melhores ingredientes”, pelo que “só em 2018 é que a coisa começou a dar alguns frutos”. Hoje trabalha “a 100% na indústria da perfumaria”. Por um lado, e já que foi “jornalista a vida toda”, é editor do Fragrantica, um “site americano especializado em perfumaria”, descrevendo-se como “um crítico de perfumes, tal como há os críticos de vinhos”.

Por outro, tem um ateliê em Almada onde produz fragrâncias não só para a sua marca pessoal, como para outras de vários países, incluindo Turquia, Roménia e Inglaterra, para além da italiana com a qual ganhou o prémio.

O que faz um perfumista no dia-a-dia? “Estuda os perfis olfactivos das matérias-primas.” Miguel Matos recorre à analogia para explicar: “Imaginemos que cada extracto é uma palavra. O meu objectivo é juntar essas palavras para criar frases ou livros.” Já os ingredientes utilizados podem ser naturais ou artificiais. Existem até, desenvolve o perfumista, “grandes laboratórios internacionais que se dedicam a investigação científica no objectivo de criar novas moléculas com novos odores, que permitem ampliar a paleta olfactiva dos perfumistas”.

Foto Miguel Matos trabalha directamente com um laboratório em Barcelona que lhe fornece os ingredientes para as fragrâncias Rui Eduardo Botas

Para fazer a diferenciação entre a perfumaria de nicho e o restante campo, mais uma comparação: “Se os perfumes que se encontram nas perfumarias dos centros comerciais são como o pronto-a-vestir, a perfumaria de nicho compara-se à alta-costura.” No final, são perfumes com uma distribuição muito mais reduzida e que, por norma “apresentam propostas olfactivas mais originais e desafiantes, com ingredientes de superior qualidade”. Características que ajudam a elevar o preço.

Perfumaria em Portugal é “ completamente zero ”

Questionado sobre como é a realidade da indústria em Portugal, Miguel Matos é rápido na resposta: “Zero”, diz entre risos. “Completamente zero.” O perfumista considera que “a perfumaria em Portugal nem se pode chamar propriamente uma indústria”, já que “é uma coisa muito rudimentar ainda” e, ainda que esteja “neste momento a começar a aparecer alguma coisa, está tudo ainda por fazer”.

Embora confirme que já existam algumas lojas de perfumaria de nicho em Portugal “duas ou três em Lisboa e no Porto”, nesta altura fazem trabalho sobretudo de “educação do público para levá-lo a experimentar propostas mais ousadas”. Isto porque, em Portugal, ainda existe “falta de cultura de perfumaria”, ao contrário do que acontece em países como França e Itália, que têm “séculos de experiência”.

Aquilo que falta no país em termos de “apetência” é suplantado pela potencialidade em termos de ingredientes. Embora Miguel Matos não esteja actualmente a usar nenhum produto português, sublinha que “há muito potencial”, ainda que falte a escala. “Mas para a perfumaria de nicho poderia funcionar perfeitamente”, mantém. Desde a lavanda, a esteva e as ervas aromáticas do Alentejo, às laranjas do Algarve ou ao louro da Madeira, segundo o perfumista premiado, Portugal tem ingredientes “com perfis olfactivos únicos no mundo que poderiam ser explorados para a perfumaria mundial”.

Venceu enquanto estava deitado no sofá. Embora estivesse atento à transmissão – via Zoom, como obriga a pandemia – dos Art and Olfaction Awards, a partir de Los Angeles, na noite de quinta-feira, Miguel Matos nunca imaginou que poderia ser o vencedor do troféu da noite. O perfumista português de 43 anos estava nomeado para o prémio de melhor perfume de 2019 na categoria independente com Young Hearts, criação para a marca italiana Bruno Acampora Profumi, da qual é director criativo desde o início do ano.

Quando a sua imagem apareceu no ecrã na hora de declarar o vencedor, confessa, “foi uma surpresa enorme porque não estava absolutamente nada à espera”. “Só aparecia eu na imagem levantado no sofá”, conta ao PÚBLICO entre gargalhadas, enquanto explica que “a nível de perfumaria de nicho, este é o prémio mais importante mundialmente”. “Não existe nada acima”, continua, pelo que o compara aos “Óscares da perfumaria de nicho”.

Por isso, o sentimento é de “uma alegria muito grande, mas também de responsabilidade”, sendo “excelente ver os pares a reconhecer” o seu trabalho. Sobretudo tendo em conta que 2019 foi, oficialmente, o seu primeiro ano como perfumista. “No meu primeiro ano, ganhar logo este prémio era uma coisa que nunca me passou pela cabeça”, confessa, ainda que no ano passado já tenha sido nomeado, mas na categoria de trabalhos olfactivos experimentais.

O criador caracteriza a fragrância como sendo da categoria Chipre, “uma das famílias clássicas da perfumaria”, o que segue o seu traço de “perfumaria vintage, clássica francesa”. Começa cítrico, explica, “e depois tem um coração floral e um fim com patchuli e musgo”. É um perfume “muito verde”, que “cheira a terra, a musgo” e a “uma floresta húmida no inverno”.

Trabalha a 100% na indústria a partir de Portugal

Começou a fazer perfumes em casa há oito anos, embora “não com os melhores ingredientes”, pelo que “só em 2018 é que a coisa começou a dar alguns frutos”. Hoje trabalha “a 100% na indústria da perfumaria”. Por um lado, e já que foi “jornalista a vida toda”, é editor do Fragrantica, um “site americano especializado em perfumaria”, descrevendo-se como “um crítico de perfumes, tal como há os críticos de vinhos”.

Por outro, tem um ateliê em Almada onde produz fragrâncias não só para a sua marca pessoal, como para outras de vários países, incluindo Turquia, Roménia e Inglaterra, para além da italiana com a qual ganhou o prémio.

O que faz um perfumista no dia-a-dia? “Estuda os perfis olfactivos das matérias-primas.” Miguel Matos recorre à analogia para explicar: “Imaginemos que cada extracto é uma palavra. O meu objectivo é juntar essas palavras para criar frases ou livros.” Já os ingredientes utilizados podem ser naturais ou artificiais. Existem até, desenvolve o perfumista, “grandes laboratórios internacionais que se dedicam a investigação científica no objectivo de criar novas moléculas com novos odores, que permitem ampliar a paleta olfactiva dos perfumistas”.

Foto Miguel Matos trabalha directamente com um laboratório em Barcelona que lhe fornece os ingredientes para as fragrâncias Rui Eduardo Botas

Para fazer a diferenciação entre a perfumaria de nicho e o restante campo, mais uma comparação: “Se os perfumes que se encontram nas perfumarias dos centros comerciais são como o pronto-a-vestir, a perfumaria de nicho compara-se à alta-costura.” No final, são perfumes com uma distribuição muito mais reduzida e que, por norma “apresentam propostas olfactivas mais originais e desafiantes, com ingredientes de superior qualidade”. Características que ajudam a elevar o preço.

Perfumaria em Portugal é “ completamente zero ”

Questionado sobre como é a realidade da indústria em Portugal, Miguel Matos é rápido na resposta: “Zero”, diz entre risos. “Completamente zero.” O perfumista considera que “a perfumaria em Portugal nem se pode chamar propriamente uma indústria”, já que “é uma coisa muito rudimentar ainda” e, ainda que esteja “neste momento a começar a aparecer alguma coisa, está tudo ainda por fazer”.

Embora confirme que já existam algumas lojas de perfumaria de nicho em Portugal “duas ou três em Lisboa e no Porto”, nesta altura fazem trabalho sobretudo de “educação do público para levá-lo a experimentar propostas mais ousadas”. Isto porque, em Portugal, ainda existe “falta de cultura de perfumaria”, ao contrário do que acontece em países como França e Itália, que têm “séculos de experiência”.

Aquilo que falta no país em termos de “apetência” é suplantado pela potencialidade em termos de ingredientes. Embora Miguel Matos não esteja actualmente a usar nenhum produto português, sublinha que “há muito potencial”, ainda que falte a escala. “Mas para a perfumaria de nicho poderia funcionar perfeitamente”, mantém. Desde a lavanda, a esteva e as ervas aromáticas do Alentejo, às laranjas do Algarve ou ao louro da Madeira, segundo o perfumista premiado, Portugal tem ingredientes “com perfis olfactivos únicos no mundo que poderiam ser explorados para a perfumaria mundial”.

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