A Destreza das Dúvidas: Profundamente triste, profundamente Europeu

13-03-2020
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Ao escrever aos meus três amigos que moraram comigo durante o doutoramento – um inglês, um escocês e um espanhol – partilhei com eles um pensamento terrível : será que seremos lembrados como a primeira e última geração verdadeiramente Europeia?

Esta ideia deixa-me profundamente triste. Talvez poucos portugueses se sintam tão Europeus quanto eu. Durante a minha licenciatura, fiz parte do boom do programa Erasmus (criado pela UE), através do qual estudei 6 meses emVilnius (Lituânia).

Em 2010, iniciei o meu doutoramento no Instituto Europeu Universitário em Florença – instituto o criado pela União Europeia. A minha pseudo-banda era constituída por um português, um italiano, uma finlandesa, um búlgaro e um holandês. Entre os meus amigos mais próximos encontravam-se alemães, espanhóis, suecos, polacos ou gregos.

Após o meu doutoramento, passei os meus dois primeiros anos como economista na Organização Internacional do Trabalho a analisar a reação dos governos da UE à crise no mercado de trabalho, num projecto financiado pela Comissão Europeia.

Dado  o meu percurso será natural que me sinta profundamente Europeu. E hoje sinto-me, consequentemente, profundamente triste. Triste por ver um projecto fantástico perder o rumo. E assustado pela confirmação de que, caso mudanças não sejam feitas, os falhanços da UE em anos recentes em assuntos vitais como a crise financeira ou a crise de refugiados poderão eventualmente levar à sua implosão.

Não se enganem. O Francisco Louçã não tem razão quando disse que “A União Europeia é um projecto falhado". Pelo menos se considerarmos que o primeiro e primordial objectivo da UE era (e é) a manuntenção da paz.

Mas a verdade é que o projecto Europeu tem vindo a falhar. Falhou redondamente na resposta à crise de 2007/08 e tem falhado tragicamente no que toca à crise de refugiados dos últimos anos. E quando assim acontece, a distância entre um projecto falhado e um projecto que tem vindo a falhar pode tornar-se perigosamente curta.

De modo algo paralelo ao que aconteceu com a crise, de novo o worst case scenario foi por muitos considerado de probabilidade zero. E de novo se confirmou que estavam completamente enganados. O Reino Unido está de saída da União Europeia. A Escócia estará perto de um novo referendo sobre a independência (que manteria o país na UE) e a Irlanda do Norte vai realizar um referendo para sair do Reino Unido e se unificar com a Irlanda (mantendo-se também na UE). Da França à Dinamarca, passando pela Holanda e pela Itália, políticos oportunistas pedem um referendo sobre a saída da UE.

Este não é o fim da UE. Mas poderá ser o principio do fim. A menos que os líderes Europeus  - e os povos que os elegem – tenham a coragem e a sensatez de encarar esta ameaça ao projecto europeu como uma oportunidade única para finalmente corrigir os problemas com que a UE se tem debatido, particularmente na última década, quer ao nível do seu funcionamento quer ao nível das suas tomadas de decisão.

Neste dia em que se celebra o nascimento de S. João cabe aos Europeus, juntos, acreditar que este dia pode também marcar o nascimento de uma nova e melhor União.

Ao escrever aos meus três amigos que moraram comigo durante o doutoramento – um inglês, um escocês e um espanhol – partilhei com eles um pensamento terrível : será que seremos lembrados como a primeira e última geração verdadeiramente Europeia?

Esta ideia deixa-me profundamente triste. Talvez poucos portugueses se sintam tão Europeus quanto eu. Durante a minha licenciatura, fiz parte do boom do programa Erasmus (criado pela UE), através do qual estudei 6 meses emVilnius (Lituânia).

Em 2010, iniciei o meu doutoramento no Instituto Europeu Universitário em Florença – instituto o criado pela União Europeia. A minha pseudo-banda era constituída por um português, um italiano, uma finlandesa, um búlgaro e um holandês. Entre os meus amigos mais próximos encontravam-se alemães, espanhóis, suecos, polacos ou gregos.

Após o meu doutoramento, passei os meus dois primeiros anos como economista na Organização Internacional do Trabalho a analisar a reação dos governos da UE à crise no mercado de trabalho, num projecto financiado pela Comissão Europeia.

Dado  o meu percurso será natural que me sinta profundamente Europeu. E hoje sinto-me, consequentemente, profundamente triste. Triste por ver um projecto fantástico perder o rumo. E assustado pela confirmação de que, caso mudanças não sejam feitas, os falhanços da UE em anos recentes em assuntos vitais como a crise financeira ou a crise de refugiados poderão eventualmente levar à sua implosão.

Não se enganem. O Francisco Louçã não tem razão quando disse que “A União Europeia é um projecto falhado". Pelo menos se considerarmos que o primeiro e primordial objectivo da UE era (e é) a manuntenção da paz.

Mas a verdade é que o projecto Europeu tem vindo a falhar. Falhou redondamente na resposta à crise de 2007/08 e tem falhado tragicamente no que toca à crise de refugiados dos últimos anos. E quando assim acontece, a distância entre um projecto falhado e um projecto que tem vindo a falhar pode tornar-se perigosamente curta.

De modo algo paralelo ao que aconteceu com a crise, de novo o worst case scenario foi por muitos considerado de probabilidade zero. E de novo se confirmou que estavam completamente enganados. O Reino Unido está de saída da União Europeia. A Escócia estará perto de um novo referendo sobre a independência (que manteria o país na UE) e a Irlanda do Norte vai realizar um referendo para sair do Reino Unido e se unificar com a Irlanda (mantendo-se também na UE). Da França à Dinamarca, passando pela Holanda e pela Itália, políticos oportunistas pedem um referendo sobre a saída da UE.

Este não é o fim da UE. Mas poderá ser o principio do fim. A menos que os líderes Europeus  - e os povos que os elegem – tenham a coragem e a sensatez de encarar esta ameaça ao projecto europeu como uma oportunidade única para finalmente corrigir os problemas com que a UE se tem debatido, particularmente na última década, quer ao nível do seu funcionamento quer ao nível das suas tomadas de decisão.

Neste dia em que se celebra o nascimento de S. João cabe aos Europeus, juntos, acreditar que este dia pode também marcar o nascimento de uma nova e melhor União.

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