A Destreza das Dúvidas

13-03-2020
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12 anos antes de um destes dias, tive um rude awakening. Literalmente. Na altura vivia numa residência universitária, e uma colega americana batia-me à porta do quarto para me dizer, chocada, que eu não ia acreditar: o Bush tinha sido re-eleito. Foi a primeira coisa de que me lembrei, quando acordei hoje e vi as inúmeras mensagens no telemóvel que tinha por ler. É curioso como o sub-consciente encontra pontos de referência para que não nos dispersemos em racionalizações.  

Os resultados confirmaram a minha teoria de que o fator mais importante para explicar o resultado do referendo seria o modo como a campanha gerisse a tensa relação entre Londres e Inglaterra. Londres, a Escócia e a Irlanda do Norte votaram amplamente pela permanência, Inglaterra votou massivamente pela saída. Também já se notou que houve uma diferenciação etária no voto, com os mais jovens a votar massivamente na permanência. Este é um caso, parece-me, de correlação espúria. Calha que, grosso modo, os mais jovens vivem em Londres e na Escócia, e os mais velhos em Inglaterra (onde continuo a excluir Londres). A única separação com interesse analítico é a separação entre Inglaterra e o Reino Unido, e sobretudo a sua capital. A Inglaterra é um país velho, que sente a energia a fugir para se concentrar numa capital que não é tida como sua. Uma cidade que é vista, mais do que uma capital, como uma colónia simultaneamente britânica e europeia, mas nunca inglesa. Um símbolo vivo daquilo que é necessário para manter a ligação indesejada entre Inglaterra e o seu espaço geográfico mais próximo, em vez de a ligar ao mundo. 

A desagregação do Reino Unido parece um risco real. O SNP tem inscrito, no seu manifesto político, que qualquer alteração significativa face à realidade de 2014 significaria um novo referendo à permanência da Escócia no Reino Unido. O Sinn Fein já veio clamar por um referendo à re-unificação da Irlanda. Muita gente estará a ver o possível fim do Reino Unido como um custo da decisão inglesa de sair da UE. Uma espécie de apesar disso, ainda assim votaram pela saída. Eu não vejo a coisa dessa maneira, de todo. Acho que, mais do que um custo, é parte da motivação. 

12 anos antes de um destes dias, tive um rude awakening. Literalmente. Na altura vivia numa residência universitária, e uma colega americana batia-me à porta do quarto para me dizer, chocada, que eu não ia acreditar: o Bush tinha sido re-eleito. Foi a primeira coisa de que me lembrei, quando acordei hoje e vi as inúmeras mensagens no telemóvel que tinha por ler. É curioso como o sub-consciente encontra pontos de referência para que não nos dispersemos em racionalizações.  

Os resultados confirmaram a minha teoria de que o fator mais importante para explicar o resultado do referendo seria o modo como a campanha gerisse a tensa relação entre Londres e Inglaterra. Londres, a Escócia e a Irlanda do Norte votaram amplamente pela permanência, Inglaterra votou massivamente pela saída. Também já se notou que houve uma diferenciação etária no voto, com os mais jovens a votar massivamente na permanência. Este é um caso, parece-me, de correlação espúria. Calha que, grosso modo, os mais jovens vivem em Londres e na Escócia, e os mais velhos em Inglaterra (onde continuo a excluir Londres). A única separação com interesse analítico é a separação entre Inglaterra e o Reino Unido, e sobretudo a sua capital. A Inglaterra é um país velho, que sente a energia a fugir para se concentrar numa capital que não é tida como sua. Uma cidade que é vista, mais do que uma capital, como uma colónia simultaneamente britânica e europeia, mas nunca inglesa. Um símbolo vivo daquilo que é necessário para manter a ligação indesejada entre Inglaterra e o seu espaço geográfico mais próximo, em vez de a ligar ao mundo. 

A desagregação do Reino Unido parece um risco real. O SNP tem inscrito, no seu manifesto político, que qualquer alteração significativa face à realidade de 2014 significaria um novo referendo à permanência da Escócia no Reino Unido. O Sinn Fein já veio clamar por um referendo à re-unificação da Irlanda. Muita gente estará a ver o possível fim do Reino Unido como um custo da decisão inglesa de sair da UE. Uma espécie de apesar disso, ainda assim votaram pela saída. Eu não vejo a coisa dessa maneira, de todo. Acho que, mais do que um custo, é parte da motivação. 

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