portugal dos pequeninos

15-12-2019
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Aos oitenta e quatro anos, com a mesma complexa simplicidade com que escreveu que "a alma é um vício", Agustina Bessa-Luís, numa entrevista ao Sol, fala de costumes. E dá uma lição - pode aprender-se na "província" a ser-se cosmopolita e estudar na "cidade" sem nunca deixar de ser provinciano - a criaturas com o Frederico Lourenço, a Amaral Dias, o Vale de Almeida, os "ILGAS", a Câncio, os "JS's", os "JSD,", os "BE's" etc. etc. sobre o casamento e as opções sexuais. Perguntada acerca de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Agustina afirma que "falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo é distorcer o seu sentido". Mais. "Ao longo da vida conheci homossexuais brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o casamento. Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas (...) Os maricas querem todas essas prerrogativas, como o casamento. Os homossexuais não... Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". Vem isto a propósito de uma sondagem da Católica/Público/Antena 1/RTP sobre "vícios privados e públicas virtudes" que começou ontem a ser divulgada em relação ao aborto e que prossegue na edição de sábado para temas como a educação sexual nas escolas, a eutanásia, a prostituição, o consumo de drogas, a ordenação de mulheres, o uso de embriões e células para investigação, as quotas, a pena de morte e, finalmente, os direitos dos homossexuais. Os resultados são divertidos e demonstram, uma vez mais, que a raça não é para ser levada a sério. À cabeça, o mesmíssimo universo que ontem se inclinava maioritariamente para o "sim" ao aborto, acha que o "objectivo mais importante para a nossa sociedade hoje em dia é - imagine-se - "promover maior respeito pelos valores sociais e morais tradicionais" (37%), dividindo-se o resto pela "tolerância"e pelo "encorajamento" de outras "tradições e estilos de vida"(27%) ou por ambos (24%). Esta ambivalência, como explica caridosamente o Pedro Magalhães - está na hora de o Pedro começar a colocar estes estudos no seu blogue e de os comentar para se perceber como "evoluem" -, faz com que o dito universo seja claramente a favor da eutanásia (65%), da legalização da prostituição (55%), do sacerdócio feminino (58%), do uso de embriões para fins cientificos (45%, com 30% contra) e das quotas (48%, para 30% contra). Em oposição à pena de morte estão apenas 46% (41% a favor) e existe uma vantagem nítida (56%) para os que não querem outorgar nenhuns direitos "familiares" a same sexers, e ainda mais (67%) dos que são contra a adopção por estes. Finalmente, 64% dos inquiridos são contrários à legalização do consumo de drogas leves. Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua. Hipócritas, esquizofrénicos, mal amados, mal "sexuados", mal resolvidos, queremos, para as nossas vidas, o céu e o inferno, o tudo e o seu nada. Por isso a infelicidade anda espalhada como pó invisível pelos "lares" contentinhos de tantos portugueses. E por isso existe tanta gente que não quer votar no referendo sobre o aborto o qual, par delicatesse legislativa, foi transformado numa coisa "sexista", através de uma pergunta politicamente correcta e formalmente errada que ilude o essencial. Em matéria de costumes, já estou como a Agustina. Não sejamos maricas.


Aos oitenta e quatro anos, com a mesma complexa simplicidade com que escreveu que "a alma é um vício", Agustina Bessa-Luís, numa entrevista ao Sol, fala de costumes. E dá uma lição - pode aprender-se na "província" a ser-se cosmopolita e estudar na "cidade" sem nunca deixar de ser provinciano - a criaturas com o Frederico Lourenço, a Amaral Dias, o Vale de Almeida, os "ILGAS", a Câncio, os "JS's", os "JSD,", os "BE's" etc. etc. sobre o casamento e as opções sexuais. Perguntada acerca de casamentos entre pessoas do mesmo sexo, Agustina afirma que "falar de casamento entre pessoas do mesmo sexo é distorcer o seu sentido". Mais. "Ao longo da vida conheci homossexuais brilhantes a nível intelectual que não eram capazes de encarar o casamento. Uma coisa são os homossexuais, outra são os maricas (...) Os maricas querem todas essas prerrogativas, como o casamento. Os homossexuais não... Todos devem ter os mesmos direitos, mas para isso não é preciso falar de casamento". Vem isto a propósito de uma sondagem da Católica/Público/Antena 1/RTP sobre "vícios privados e públicas virtudes" que começou ontem a ser divulgada em relação ao aborto e que prossegue na edição de sábado para temas como a educação sexual nas escolas, a eutanásia, a prostituição, o consumo de drogas, a ordenação de mulheres, o uso de embriões e células para investigação, as quotas, a pena de morte e, finalmente, os direitos dos homossexuais. Os resultados são divertidos e demonstram, uma vez mais, que a raça não é para ser levada a sério. À cabeça, o mesmíssimo universo que ontem se inclinava maioritariamente para o "sim" ao aborto, acha que o "objectivo mais importante para a nossa sociedade hoje em dia é - imagine-se - "promover maior respeito pelos valores sociais e morais tradicionais" (37%), dividindo-se o resto pela "tolerância"e pelo "encorajamento" de outras "tradições e estilos de vida"(27%) ou por ambos (24%). Esta ambivalência, como explica caridosamente o Pedro Magalhães - está na hora de o Pedro começar a colocar estes estudos no seu blogue e de os comentar para se perceber como "evoluem" -, faz com que o dito universo seja claramente a favor da eutanásia (65%), da legalização da prostituição (55%), do sacerdócio feminino (58%), do uso de embriões para fins cientificos (45%, com 30% contra) e das quotas (48%, para 30% contra). Em oposição à pena de morte estão apenas 46% (41% a favor) e existe uma vantagem nítida (56%) para os que não querem outorgar nenhuns direitos "familiares" a same sexers, e ainda mais (67%) dos que são contra a adopção por estes. Finalmente, 64% dos inquiridos são contrários à legalização do consumo de drogas leves. Tudo visto e ponderado, constituímos uma sociedade "aética" em que a "norma" vale muito dentro de casa e para os outros, e começa a valer menos assim que se desce as escadas ou se apanha o elevador para a rua. Hipócritas, esquizofrénicos, mal amados, mal "sexuados", mal resolvidos, queremos, para as nossas vidas, o céu e o inferno, o tudo e o seu nada. Por isso a infelicidade anda espalhada como pó invisível pelos "lares" contentinhos de tantos portugueses. E por isso existe tanta gente que não quer votar no referendo sobre o aborto o qual, par delicatesse legislativa, foi transformado numa coisa "sexista", através de uma pergunta politicamente correcta e formalmente errada que ilude o essencial. Em matéria de costumes, já estou como a Agustina. Não sejamos maricas.

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