portugal dos pequeninos

15-12-2019
marcar artigo


No meio do lixo tóxico que é a nossa "vida pública", passou despercebida a trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena para Portugal. Duvido que, se fosse vivo, concordasse com o fútil exercício. A sua altivez amarga não se daria bem com piedades póstumas. Eduardo Lourenço falou, certeiro, do "regresso do indesejado". Anos a fio, no "antigo" como no "novo" regime - com a excepção de Ramalho Eanes -, trataram-no sempre como um intruso, como um estranho ao cânone oficial e ao "amiguismo" circular. Hoje quando olho para aquilo a que apelidam de "literatura portuguesa" - uma categoria pífia onde cabe tudo, desde o "romance" encomendado a jornalistas da moda a meninos e meninas dados a tremuras cerebrais lá onde nem sequer existe uma cabeça - percebo melhor por que é que um homem da dimensão de Sena teve de ir embora daqui para ser Jorge de Sena. Porque aqui matam as pessoas em vida para, depois de mortas, as exibir como troféus nacionais. Sena "acompanhou" a minha adolescência e a minha juventude. Como ensaísta, como camonista, como poeta, como romancista, como contista. Em suma, como um Homem. A melhor homenagem que se deve fazer a seres raros como Sena é lê-los e deixá-los entregues à luminosa eternidade a que sempre pertenceram. Como escreveu um dia, «Esta é a ditosa pátria minha amada. Não./Nem minha amada, porque é só madrasta./ Nem pátria minha, porque eu não mereço/a pouca sorte de nascido nela./ Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta/ quanto esse arroto de passadas glórias.» Requiescat in pace.


No meio do lixo tóxico que é a nossa "vida pública", passou despercebida a trasladação dos restos mortais de Jorge de Sena para Portugal. Duvido que, se fosse vivo, concordasse com o fútil exercício. A sua altivez amarga não se daria bem com piedades póstumas. Eduardo Lourenço falou, certeiro, do "regresso do indesejado". Anos a fio, no "antigo" como no "novo" regime - com a excepção de Ramalho Eanes -, trataram-no sempre como um intruso, como um estranho ao cânone oficial e ao "amiguismo" circular. Hoje quando olho para aquilo a que apelidam de "literatura portuguesa" - uma categoria pífia onde cabe tudo, desde o "romance" encomendado a jornalistas da moda a meninos e meninas dados a tremuras cerebrais lá onde nem sequer existe uma cabeça - percebo melhor por que é que um homem da dimensão de Sena teve de ir embora daqui para ser Jorge de Sena. Porque aqui matam as pessoas em vida para, depois de mortas, as exibir como troféus nacionais. Sena "acompanhou" a minha adolescência e a minha juventude. Como ensaísta, como camonista, como poeta, como romancista, como contista. Em suma, como um Homem. A melhor homenagem que se deve fazer a seres raros como Sena é lê-los e deixá-los entregues à luminosa eternidade a que sempre pertenceram. Como escreveu um dia, «Esta é a ditosa pátria minha amada. Não./Nem minha amada, porque é só madrasta./ Nem pátria minha, porque eu não mereço/a pouca sorte de nascido nela./ Nada me prende ou liga a uma baixeza tanta/ quanto esse arroto de passadas glórias.» Requiescat in pace.

marcar artigo