portugal dos pequeninos: WITTGENSTEIN NÃO PASSOU POR ALCOCHETE

15-11-2019
marcar artigo


Na noite em que "Deus Nosso Senhor" desceu à Terra para jurar ser a última vez que ia falar sobre Alcochete (isto de "Deus" estar em toda a parte inclui rincons improváveis como Alcochete), não se apercebeu de uma coisa óbvia que, em artigo no Expresso, Rui Ramos explica. Sócrates não devia ter dito nada sobre o Freeport. Porquê? Porque não foi ouvido, «foi apenas falado.» Ao descer à Terra, mais precisamente em São Bento, um lugar inverosímil para falar da "vida comum", o nosso "Deus", «com esta exibição pública de alívio (...) voltou a fazer do Freeport um caso seu.» Aliás, é o que querem dizer os procuradores com o seu ambíguo despacho das perguntas que ficaram por fazer. Quem tenha alguma vez na vida feito inquéritos - penais ou administrativos que podem ter consequências disciplinares ou penais - sabe que, a partir de um determinado "nível", as coisas complicam-se. Em 2001, fiz um relacionado com a "fundação para a prevenção e segurança" que tinha custado a cabeça política a dois então membros do governo Guterres: Vara e Luís Patrão. Os vasculhadores de arquivos experimentem arranjar o Expresso, mas de 4 de Agosto de 2001. Vem lá transcrito - porque o inquérito foi pedido por uma comissão parlamentar e passou por muitas mãos - o meu pedido de escusa e de substituição por outro inquiridor quando o relatório final que apresentei não foi aceite e o processo continuou. Nesse texto, se bem me lembro, também deixei umas perguntas bem como no dito relatório. Propunha então um processo disciplinar a um director-geral que não foi aceite superiormente. O director-geral chamava-se António Morais, engenheiro, à altura director de uma coisa chamada "gabinete de estudos e planeamento de instalações" do MAI. Antes do fim desse mês de Agosto de 2001, e já sem mim a conduzi-lo, o processo foi arquivado. Morais acabou por ser removido daquele "gabinete" pelo governo seguinte após uma auditoria realizada pelo mesmo organismo que, ano e meio antes, não viu razões para lhe instaurar um processo disciplinar. Só voltei a ouvir falar de António Morais em 2005 ou 2006 quando o primeiro governo do nosso "Deus", pela mão de Alberto Costa, da Justiça, o colocou à frente de um departamento homólogo àquele onde o encontrara anteriormente. E de onde saiu a correr por causa de uma capa do falecido Independente. Finalmente, em 2007, soube que, antes de o ter conhecido, Morais tinha sido professor de Sócrates num estabelecimento dito universitário que encerrou. "Deus", afinal, já estava em toda a parte. Regresso ao despacho das perguntas por fazer. Que revela ele? Impotência, algo que Rui Ramos identifica exemplarmente. «Depois da perda de soberania ocasional por sucessivos maus governos, o Estado que temos em Portugal já só serve para pequenos projectos de poder pessoal, como algumas Câmaras Municipais de província.» Na sua pusilanimidade congénita e no seu inaceitável temor reverencial, a justiça, seja ela qual for, acaba por fazer parte deste "paradigma" permitindo a recuperação da "dúvida metódica", cartesiana, da primazia da primeira pessoa. Primeira pessoa que, no caso, não soube escolher o conselho "analítico" do primeiro Wittgenstein - «acerca daquilo que se não pode falar, tem que se ficar em silêncio.»(foto: Ludwig Wittgenstein, "furtad0" ao Tiago que hoje acordou analítico)Adenda: Ler este post de Artur Costa e este de Eduardo Maia Costa.


Na noite em que "Deus Nosso Senhor" desceu à Terra para jurar ser a última vez que ia falar sobre Alcochete (isto de "Deus" estar em toda a parte inclui rincons improváveis como Alcochete), não se apercebeu de uma coisa óbvia que, em artigo no Expresso, Rui Ramos explica. Sócrates não devia ter dito nada sobre o Freeport. Porquê? Porque não foi ouvido, «foi apenas falado.» Ao descer à Terra, mais precisamente em São Bento, um lugar inverosímil para falar da "vida comum", o nosso "Deus", «com esta exibição pública de alívio (...) voltou a fazer do Freeport um caso seu.» Aliás, é o que querem dizer os procuradores com o seu ambíguo despacho das perguntas que ficaram por fazer. Quem tenha alguma vez na vida feito inquéritos - penais ou administrativos que podem ter consequências disciplinares ou penais - sabe que, a partir de um determinado "nível", as coisas complicam-se. Em 2001, fiz um relacionado com a "fundação para a prevenção e segurança" que tinha custado a cabeça política a dois então membros do governo Guterres: Vara e Luís Patrão. Os vasculhadores de arquivos experimentem arranjar o Expresso, mas de 4 de Agosto de 2001. Vem lá transcrito - porque o inquérito foi pedido por uma comissão parlamentar e passou por muitas mãos - o meu pedido de escusa e de substituição por outro inquiridor quando o relatório final que apresentei não foi aceite e o processo continuou. Nesse texto, se bem me lembro, também deixei umas perguntas bem como no dito relatório. Propunha então um processo disciplinar a um director-geral que não foi aceite superiormente. O director-geral chamava-se António Morais, engenheiro, à altura director de uma coisa chamada "gabinete de estudos e planeamento de instalações" do MAI. Antes do fim desse mês de Agosto de 2001, e já sem mim a conduzi-lo, o processo foi arquivado. Morais acabou por ser removido daquele "gabinete" pelo governo seguinte após uma auditoria realizada pelo mesmo organismo que, ano e meio antes, não viu razões para lhe instaurar um processo disciplinar. Só voltei a ouvir falar de António Morais em 2005 ou 2006 quando o primeiro governo do nosso "Deus", pela mão de Alberto Costa, da Justiça, o colocou à frente de um departamento homólogo àquele onde o encontrara anteriormente. E de onde saiu a correr por causa de uma capa do falecido Independente. Finalmente, em 2007, soube que, antes de o ter conhecido, Morais tinha sido professor de Sócrates num estabelecimento dito universitário que encerrou. "Deus", afinal, já estava em toda a parte. Regresso ao despacho das perguntas por fazer. Que revela ele? Impotência, algo que Rui Ramos identifica exemplarmente. «Depois da perda de soberania ocasional por sucessivos maus governos, o Estado que temos em Portugal já só serve para pequenos projectos de poder pessoal, como algumas Câmaras Municipais de província.» Na sua pusilanimidade congénita e no seu inaceitável temor reverencial, a justiça, seja ela qual for, acaba por fazer parte deste "paradigma" permitindo a recuperação da "dúvida metódica", cartesiana, da primazia da primeira pessoa. Primeira pessoa que, no caso, não soube escolher o conselho "analítico" do primeiro Wittgenstein - «acerca daquilo que se não pode falar, tem que se ficar em silêncio.»(foto: Ludwig Wittgenstein, "furtad0" ao Tiago que hoje acordou analítico)Adenda: Ler este post de Artur Costa e este de Eduardo Maia Costa.

marcar artigo