Rio queria "abanão", BE não queria ficar para trás. Marcelo abanou, e saiu tranquilo. O que querem, afinal, os partidos dos bancos?

12-04-2020
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“Isto está tudo ligado”. A economia precisa de dinheiro mais cedo, porque as famílias precisam de dinheiro mais cedo, porque os trabalhadores precisam de trabalho mais cedo, porque precisam de salários mais cedo. É uma “corrida em contrarrelógio” e a banca “tem de entrar na corrida em contrarrelógio”. Foi assim que o Presidente da República explicou aos jornalistas, no sábado, durante uma visita a uma exploração agrícola, o porquê de se preparar para reunir, esta segunda-feira através de videoconferência, com os presidentes dos cinco maiores bancos portugueses.

A banca, defende, tem de estar na linha da frente no apoio rápido e eficaz às empresas e às famílias que estão em dificuldades devido à paralisação da economia motivada pelo surto da Covid-19, sobretudo depois de os contribuintes terem sido chamados a apoiar o sistema financeiro durante os anos da crise. E “um dia mais tarde é pior do que um dia mais cedo”. É preciso agir já.

O alerta mediático já tinha sido lançado na última quinta-feira, em pleno debate parlamentar para a renovação do estado de emergência. Rui Rio subiu ao púlpito e, num discurso que muitos estranharam vir daquela bancada, endureceu a voz contra a “tentação” da banca vir a lucrar com o sufoco das famílias e das empresas. Nessa altura, Rui Rio desafiou a banca a “não querer ganhar dinheiro com a crise” e avisou que, “se apresentar lucros avultados em 2020 e 2021, será uma vergonha e uma ingratidão para com os portugueses”. A banca, claro, não gostou, até porque já vários bancos tinham vindo dizer que não iriam distribuir dividendos pelos acionistas para poderem, dessa forma, contribuir para uma menor falência da economia. Além de que, nas atuais circunstâncias, falar em lucros para a banca em 2020 pode ser manifestamente exagerado.

O ponto é que estava disparado o alarme contra o “bicho papão” da banca. O Bloco de Esquerda, nesse mesmo debate, não deixaria o PSD ficar isolado com as palavras de alerta e assumiu o seu expectável papel: Catarina Martins praticamente fez suas as palavras de Rui Rio e não perdeu tempo. Para marcar território, logo no dia seguinte, o Bloco de Esquerda pôs a deputada Mariana Mortágua numa videoconferência de imprensa a anunciar um pacote robusto de medidas para o sistema financeiro — com a proibição de lucros através da distribuição de dividendos e com a proibição do pagamento de bónus à cabeça. E a pressionar Rui Rio: já que está de acordo e quer assim tanto chamar a banca à responsabilidade, então que aprove os projetos de lei do BE.

Rui Rio, que não tem apresentado quaisquer iniciativas legislativas por estar numa postura de “colaboração” com o Governo e nem sequer se tem pronunciado sobre iniciativas legislativas de outros partidos, foi questionado sobre isso esta segunda-feira, mas nada disse alegando não conhecer o projeto do Bloco de Esquerda em pormenor. Preferiu antes, aliás, acusar o BE, tal como o PCP e o PAN, de estarem a participar num “folclore parlamentar” a ver quem entrega mais projetos de lei na Assembleia da República. Esta quarta-feira vão ser votados mais de uma centena. “Não é assim que se ajuda o país”, alegou Rui Rio.

Então é como? No que à banca diz respeito, Rui Rio quer que seja dado um “abanão”, uma espécie de ‘abre olhos’, para que não caia na tentação de aproveitar a situação de sufoco financeiro em que vivem as empresas e as famílias. Depois de as suas declarações iniciais terem sido entendidas como muito duras para o sistema financeiro, que não deve ser visto como o mau da fita, Rio ainda tentou emendar a mão esta segunda-feira ao admitir que “não quer pôr em causa a banca” nem somar a esta crise uma “crise bancária”. Ou seja, a banca até pode estar sensibilizada para o problema e até pode estar de boa fé, mas é preciso garantir que essa boa fé tem efeitos no terreno. Coube a Marcelo Rebelo de Sousa dar esse abanão, na reunião desta segunda-feira por videoconferência com os líderes dos cinco maiores bancos, e terá surtido efeito. “Saio desta reunião com o estado de espírito motivado”, disse o Presidente da República ao final desta tarde em Belém, dando a entender que os bancos poderão vir a divulgar um comunicado conjunto a garantir que não vão lucrar com a crise.

Missão cumprida? Há partidos que querem mais e esta quarta-feira vão a debate, e votação, no Parlamento, várias iniciativas nesse sentido.

O que querem os partidos da banca

PSD quer “colaboração” dos bancos no esforço das empresas

O PSD quer “colaboração” e “equilíbrio”. Equilíbrio entre o que as empresas e as famílias podem pagar e o que o sistema financeiro pode aguentar, sendo que, diz Rio, neste momento está a financiar-se a taxas de juro negativas. Foi nesse sentido que os sociais-democratas apresentaram, esta segunda-feira, um conjunto de medidas imediatas de apoio às empresas, aos trabalhadores e às famílias, que vão pôr à consideração do Governo, e que passam nomeadamente por chamar a banca a contribuir mais neste esforço que é de todos.

“Não queremos pôr em causa a banca, evidentemente, não queremos somar a isto uma crise bancaria, mas é preciso disciplina e equilíbrio. As taxas de juro não podem ir para lá do que as empresas conseguem pagar. É a este equilíbrio, esta unidade nacional, que nos temos de recorrer. Entre spreads, garantia mútua, imposto de selo e comissões, não pode o custo ultrapassar 1,5% para as empresas” relativamente aos empréstimos que venham a contrair no acesso às linhas de crédito que o governo está a disponibilizar, afirmou Rui Rio esta segunda-feira numa conferência de imprensa a partir do Porto.

Foi nesse sentido que o presidente do PSD defendeu, por um lado, um reforço e aumento das linhas de crédito no valor de 10 mil milhões de euros, e, por outro, um contributo dos bancos para amenizar o esforço que as pequenas empresas vão fazer para contrair estes empréstimos. Aqui inclui-se, por exemplo, isenção do pagamento do imposto de selo ou a isenção do pagamento de comissões de gestão e de acompanhamento, pelo menos para as microempresas. Mas acima de tudo, o PSD defendeu que a TAEG (o custo global que as empresas pagam pelos créditos) não exceda 1,5% no bolo total, sendo que atualmente esse valor fixa-se em mais de 3%.

“Isto está tudo ligado”. A economia precisa de dinheiro mais cedo, porque as famílias precisam de dinheiro mais cedo, porque os trabalhadores precisam de trabalho mais cedo, porque precisam de salários mais cedo. É uma “corrida em contrarrelógio” e a banca “tem de entrar na corrida em contrarrelógio”. Foi assim que o Presidente da República explicou aos jornalistas, no sábado, durante uma visita a uma exploração agrícola, o porquê de se preparar para reunir, esta segunda-feira através de videoconferência, com os presidentes dos cinco maiores bancos portugueses.

A banca, defende, tem de estar na linha da frente no apoio rápido e eficaz às empresas e às famílias que estão em dificuldades devido à paralisação da economia motivada pelo surto da Covid-19, sobretudo depois de os contribuintes terem sido chamados a apoiar o sistema financeiro durante os anos da crise. E “um dia mais tarde é pior do que um dia mais cedo”. É preciso agir já.

O alerta mediático já tinha sido lançado na última quinta-feira, em pleno debate parlamentar para a renovação do estado de emergência. Rui Rio subiu ao púlpito e, num discurso que muitos estranharam vir daquela bancada, endureceu a voz contra a “tentação” da banca vir a lucrar com o sufoco das famílias e das empresas. Nessa altura, Rui Rio desafiou a banca a “não querer ganhar dinheiro com a crise” e avisou que, “se apresentar lucros avultados em 2020 e 2021, será uma vergonha e uma ingratidão para com os portugueses”. A banca, claro, não gostou, até porque já vários bancos tinham vindo dizer que não iriam distribuir dividendos pelos acionistas para poderem, dessa forma, contribuir para uma menor falência da economia. Além de que, nas atuais circunstâncias, falar em lucros para a banca em 2020 pode ser manifestamente exagerado.

O ponto é que estava disparado o alarme contra o “bicho papão” da banca. O Bloco de Esquerda, nesse mesmo debate, não deixaria o PSD ficar isolado com as palavras de alerta e assumiu o seu expectável papel: Catarina Martins praticamente fez suas as palavras de Rui Rio e não perdeu tempo. Para marcar território, logo no dia seguinte, o Bloco de Esquerda pôs a deputada Mariana Mortágua numa videoconferência de imprensa a anunciar um pacote robusto de medidas para o sistema financeiro — com a proibição de lucros através da distribuição de dividendos e com a proibição do pagamento de bónus à cabeça. E a pressionar Rui Rio: já que está de acordo e quer assim tanto chamar a banca à responsabilidade, então que aprove os projetos de lei do BE.

Rui Rio, que não tem apresentado quaisquer iniciativas legislativas por estar numa postura de “colaboração” com o Governo e nem sequer se tem pronunciado sobre iniciativas legislativas de outros partidos, foi questionado sobre isso esta segunda-feira, mas nada disse alegando não conhecer o projeto do Bloco de Esquerda em pormenor. Preferiu antes, aliás, acusar o BE, tal como o PCP e o PAN, de estarem a participar num “folclore parlamentar” a ver quem entrega mais projetos de lei na Assembleia da República. Esta quarta-feira vão ser votados mais de uma centena. “Não é assim que se ajuda o país”, alegou Rui Rio.

Então é como? No que à banca diz respeito, Rui Rio quer que seja dado um “abanão”, uma espécie de ‘abre olhos’, para que não caia na tentação de aproveitar a situação de sufoco financeiro em que vivem as empresas e as famílias. Depois de as suas declarações iniciais terem sido entendidas como muito duras para o sistema financeiro, que não deve ser visto como o mau da fita, Rio ainda tentou emendar a mão esta segunda-feira ao admitir que “não quer pôr em causa a banca” nem somar a esta crise uma “crise bancária”. Ou seja, a banca até pode estar sensibilizada para o problema e até pode estar de boa fé, mas é preciso garantir que essa boa fé tem efeitos no terreno. Coube a Marcelo Rebelo de Sousa dar esse abanão, na reunião desta segunda-feira por videoconferência com os líderes dos cinco maiores bancos, e terá surtido efeito. “Saio desta reunião com o estado de espírito motivado”, disse o Presidente da República ao final desta tarde em Belém, dando a entender que os bancos poderão vir a divulgar um comunicado conjunto a garantir que não vão lucrar com a crise.

Missão cumprida? Há partidos que querem mais e esta quarta-feira vão a debate, e votação, no Parlamento, várias iniciativas nesse sentido.

O que querem os partidos da banca

PSD quer “colaboração” dos bancos no esforço das empresas

O PSD quer “colaboração” e “equilíbrio”. Equilíbrio entre o que as empresas e as famílias podem pagar e o que o sistema financeiro pode aguentar, sendo que, diz Rio, neste momento está a financiar-se a taxas de juro negativas. Foi nesse sentido que os sociais-democratas apresentaram, esta segunda-feira, um conjunto de medidas imediatas de apoio às empresas, aos trabalhadores e às famílias, que vão pôr à consideração do Governo, e que passam nomeadamente por chamar a banca a contribuir mais neste esforço que é de todos.

“Não queremos pôr em causa a banca, evidentemente, não queremos somar a isto uma crise bancaria, mas é preciso disciplina e equilíbrio. As taxas de juro não podem ir para lá do que as empresas conseguem pagar. É a este equilíbrio, esta unidade nacional, que nos temos de recorrer. Entre spreads, garantia mútua, imposto de selo e comissões, não pode o custo ultrapassar 1,5% para as empresas” relativamente aos empréstimos que venham a contrair no acesso às linhas de crédito que o governo está a disponibilizar, afirmou Rui Rio esta segunda-feira numa conferência de imprensa a partir do Porto.

Foi nesse sentido que o presidente do PSD defendeu, por um lado, um reforço e aumento das linhas de crédito no valor de 10 mil milhões de euros, e, por outro, um contributo dos bancos para amenizar o esforço que as pequenas empresas vão fazer para contrair estes empréstimos. Aqui inclui-se, por exemplo, isenção do pagamento do imposto de selo ou a isenção do pagamento de comissões de gestão e de acompanhamento, pelo menos para as microempresas. Mas acima de tudo, o PSD defendeu que a TAEG (o custo global que as empresas pagam pelos créditos) não exceda 1,5% no bolo total, sendo que atualmente esse valor fixa-se em mais de 3%.

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