E se Tsipras escolhesse outro caminho?

27-06-2020
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É
tarefa árdua encontrar defesa para a posição adoptada pelo
primeiro-ministro grego. Em bom rigor, Alexis Tsipras aceitou um novo
plano de austeridade que apenas vai agravar o problema grego... isto
se o plano for para cumprir. A receita da Europa, essa já se sabe, é
para falhar. Nesta discussão importa ter presente a seguinte
dualidade: instituições europeias e governos seguidistas que são
tudo e dão tudo pelo sistema financeiro e pelas grandes
multinacionais, flexibilizando legislação e concedendo todo o
espaço de manobra para o florescimento do capital, enquanto
restringem o espaço de manobra dos países, aplicando regras
draconianas destruidoras das democracias. E se um país quiser sair
desta armadilha? Não pode, os tratados não contemplam essa
possibilidade, apesar de ser essa a vontade do ministro das Finanças
alemão.

E
se Tsipras escolhesse outro caminho? E se esse caminho resultasse
numa saída, embora não contemplada pelos tratados, da Zona Euro? A
Grécia ficaria fora do jogo e nenhum dos problemas de liquidez que
afligem a economia Grega no plano imediato seriam resolvidos, bem
pelo contrário, poderiam conhecer um acentuado agravamento, pelo
menos no curto prazo.

A
contrapartida foi a aceitação de mais austeridade e uma promessa de
reestruturação de dívida. Tenho poucas certezas de que este plano
seja para cumprir, eu e muitos outros. Entretanto parece-me que
estamos muito longe de conhecer um desfecho neste contexto da zona
euro e poderá ser esta a estratégia de Tsipras: comprar tempo,
resolver os problemas com a economia grega no plano imediato (o
sistema bancário está em colapso), protelar a aplicação de
medidas que representam mais austeridade e esperar que algo mude na
configuração política na própria UE, designadamente em países
que fazem parte da zona euro (Espanha, Portugal. em menor grau. e
Irlanda que têm eleições nos próximos meses) e eventualmente uma
fragmentação mais acentuada do eixo franco-alemão.

Tsipras
sempre teve um problema de tempo que condiciona toda a sua estratégia
- uma estratégia já criticada pelo Presidente da República
português (?), a par do isolamento notório num contexto ideológico
manifestamente adverso à esquerda.

Tudo
isto não passam de meras conjecturas porque certezas são poucas,
mas importa salientar uma: a moeda única não funciona, É um facto
que apenas tem trazido benefícios à Alemanha, paradoxalmente o país
que mais dificuldades tem criado à Grécia, mas aquele que mais
sairia prejudicado com uma eventual desintegração da zona euro.
Parafraseando Francisco Louçã e Mariana Mortágua, com base num
estudo de Paul de Grauwe - "... quando existe uma zona de moeda
comum, todos os Estados passam a emitir dívida soberana em euros,
mas, porque não têm controlo nacional sobre a moeda e porque vivem
em regimes de câmbios fixos, cada um se torna vulnerável a ataques
especulativos que podem forçar a sua falência". ("A
Dividadura - Portugal na crise do Euro, Francisco Louça e Mariana
Mortágua). Em situação oposta à descrita, e segundo o estudo já
referido, as situações de incumprimento praticamente não existem.
Estes são apenas alguns aspectos das falhas estruturais da moeda
única, muitas outras podem ser avançadas, como a ausência de
uniformização fiscal; a existência de uma capacidade diminuta
orçamental e a exiguidade de funções do BCE, concentrado na
inflação e que poderia ter um papel mais activo.


um aspecto positivo que saiu do passado domingo: a inexistência de
união política liquida em absoluto o futuro de uma união económica
e monetária que definha a cada dia que passa, apenas ao serviço do
sistema financeiro. Chegará o dia em que nem união política, nem
união económica e monetária. No passado domingo deu-se o primeiro
passo. E a derrota de Tsipras que anda pelas bocas de todos pode não
ser bem uma derrota, para já são 86 mil milhões, uma
reestruturação de dívida, com extensão dos prazos e o FMI e BCE a
sublinharem a necessidade de aliviar a dívida grega. A Alemanha fica
mais isolada e a derrota é, segundo a comunicação social,
exclusiva de Tsipras.

É
tarefa árdua encontrar defesa para a posição adoptada pelo
primeiro-ministro grego. Em bom rigor, Alexis Tsipras aceitou um novo
plano de austeridade que apenas vai agravar o problema grego... isto
se o plano for para cumprir. A receita da Europa, essa já se sabe, é
para falhar. Nesta discussão importa ter presente a seguinte
dualidade: instituições europeias e governos seguidistas que são
tudo e dão tudo pelo sistema financeiro e pelas grandes
multinacionais, flexibilizando legislação e concedendo todo o
espaço de manobra para o florescimento do capital, enquanto
restringem o espaço de manobra dos países, aplicando regras
draconianas destruidoras das democracias. E se um país quiser sair
desta armadilha? Não pode, os tratados não contemplam essa
possibilidade, apesar de ser essa a vontade do ministro das Finanças
alemão.

E
se Tsipras escolhesse outro caminho? E se esse caminho resultasse
numa saída, embora não contemplada pelos tratados, da Zona Euro? A
Grécia ficaria fora do jogo e nenhum dos problemas de liquidez que
afligem a economia Grega no plano imediato seriam resolvidos, bem
pelo contrário, poderiam conhecer um acentuado agravamento, pelo
menos no curto prazo.

A
contrapartida foi a aceitação de mais austeridade e uma promessa de
reestruturação de dívida. Tenho poucas certezas de que este plano
seja para cumprir, eu e muitos outros. Entretanto parece-me que
estamos muito longe de conhecer um desfecho neste contexto da zona
euro e poderá ser esta a estratégia de Tsipras: comprar tempo,
resolver os problemas com a economia grega no plano imediato (o
sistema bancário está em colapso), protelar a aplicação de
medidas que representam mais austeridade e esperar que algo mude na
configuração política na própria UE, designadamente em países
que fazem parte da zona euro (Espanha, Portugal. em menor grau. e
Irlanda que têm eleições nos próximos meses) e eventualmente uma
fragmentação mais acentuada do eixo franco-alemão.

Tsipras
sempre teve um problema de tempo que condiciona toda a sua estratégia
- uma estratégia já criticada pelo Presidente da República
português (?), a par do isolamento notório num contexto ideológico
manifestamente adverso à esquerda.

Tudo
isto não passam de meras conjecturas porque certezas são poucas,
mas importa salientar uma: a moeda única não funciona, É um facto
que apenas tem trazido benefícios à Alemanha, paradoxalmente o país
que mais dificuldades tem criado à Grécia, mas aquele que mais
sairia prejudicado com uma eventual desintegração da zona euro.
Parafraseando Francisco Louçã e Mariana Mortágua, com base num
estudo de Paul de Grauwe - "... quando existe uma zona de moeda
comum, todos os Estados passam a emitir dívida soberana em euros,
mas, porque não têm controlo nacional sobre a moeda e porque vivem
em regimes de câmbios fixos, cada um se torna vulnerável a ataques
especulativos que podem forçar a sua falência". ("A
Dividadura - Portugal na crise do Euro, Francisco Louça e Mariana
Mortágua). Em situação oposta à descrita, e segundo o estudo já
referido, as situações de incumprimento praticamente não existem.
Estes são apenas alguns aspectos das falhas estruturais da moeda
única, muitas outras podem ser avançadas, como a ausência de
uniformização fiscal; a existência de uma capacidade diminuta
orçamental e a exiguidade de funções do BCE, concentrado na
inflação e que poderia ter um papel mais activo.


um aspecto positivo que saiu do passado domingo: a inexistência de
união política liquida em absoluto o futuro de uma união económica
e monetária que definha a cada dia que passa, apenas ao serviço do
sistema financeiro. Chegará o dia em que nem união política, nem
união económica e monetária. No passado domingo deu-se o primeiro
passo. E a derrota de Tsipras que anda pelas bocas de todos pode não
ser bem uma derrota, para já são 86 mil milhões, uma
reestruturação de dívida, com extensão dos prazos e o FMI e BCE a
sublinharem a necessidade de aliviar a dívida grega. A Alemanha fica
mais isolada e a derrota é, segundo a comunicação social,
exclusiva de Tsipras.

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