o que disse, afinal, a menina mortágua e o ps aplaudiu vibrantemente?

06-07-2020
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o que disse, afinal, a menina mortágua e o ps aplaudiu vibrantemente?

O que disse, afinal, a menina Mortágua, na sua já célebre intervenção num fórum socialista de Coimbra. Pois bem, seguem as suas palavras, ipsis verbis, proferidas entre os minutos 12’45’’ e 15’30’’ (o resto é igual ao litro):

«Três conclusões sobre esta intensa análise. A primeira é: as desigualdades vêm necessariamente do próprio funcionamento do sistema capitalista como ele está desenhado hoje. É o sistema a funcionar, é a economia a funcionar, que gera as desigualdades que, por sua vez, geram crises. E, portanto, a primeira questão é acabar com as desigualdades. Não é apenas uma questão de justiça social. É claro que é uma questão de justiça social para qualquer pessoa de esquerda, mas acabar com as desigualdades é uma questão de política económica de estabilização macroeconómica. Porque enquanto persistirem desigualdades na distribuição de rendimentos há potencial para desequilíbrios macroeconómicos. E, portanto, quando eu estou a defender políticas de distribuição de rendimentos eu não estou a fazê-lo apenas porque eu acho que as pessoas têm que ter rendimentos aproximados. Eu estou a fazê-lo porque eu não quero ter crises económicas. É um mecanismo de estabilização de economias. A segunda questão, muito breve, é que há medidas de política social que podem ajudar a reduzir a pobreza e podem ajudar a diminuir as desigualdades, mas elas não vão resolver o problema na sua base. E não vão resolver o problema na sua base porque o problema está no funcionamento do sistema económico. Eu posso encontrar medidas que me permitam, através do Estado Social, redistribuir alguma riqueza, posso encontrar medidas que, através do Estado Social, mitigar alguma pobreza, mas eu não vou conseguir acabar com as desigualdades se eu não mexer no sistema que produz as desigualdades. E eu penso que esta é uma reflexão que não está tão desenvolvida como nós gostaríamos. E, por isso, termino agora, do ponto de vista prático, a primeira coisa que acho que temos que fazer é perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro. Quando estamos a apresentar taxas sobre grandes patrimónios ou grandes rendimentos estamos a fazê-lo porque queremos diminuir as desigualdades, mas também porque dizemos que uma sociedade estável não é uma sociedade que permita a acumulação brutal de capital nos 1% do topo. E, portanto, não devemos ter vergonha de uma política social deste género. Em segundo lugar, e este é o desafio que deixo ao PS (aplausos vibrantes…), em último lugar é o desafio que deixo ao PS, a Ana Catarina dizia há bocado que quem desiste de pensar acaba por cair no pragmatismo, e eu concordo, eu acho que cabe ao PS, acho eu e com toda a humildade, se quer pensar as desigualdades pensar também o que é que pensa do sistema económico hoje em dia, do capitalismo financeirizado hoje em dia e até onde é que está disposto a ir para encontrar uma alternativa a esse sistema capitalista (aplausos vibrantes)».

A questão de fundo desta intervenção – tão aplaudida pelos socialistas presentes – não foi a intenção anunciada de taxar os «ricos», novidade que, no Bloco, verdadeiramente o não é, mas a de desafiar o Partido Socialista a abandonar o modelo de Estado Social, e que foi tão vibrantemente aplaudida. É isso que significa a frase «eu não vou conseguir acabar com as desigualdades se eu não mexer no sistema que produz as desigualdades». As medidas do Estado Social, o tal que era património genético do PS supostamente desde sempre, mitigam, mas não permitem acabar com as desigualdades sociais, pelo que é necessário ir mais além. Foi para isso que Mariana Mortágua desafiou o PS a esclarecer «até onde é que está disposto a ir para encontrar uma alternativa». Uma alternativa ao Estado Social.

Para garantir a sobrevivência do governo e a liderança de António Costa, o PS compactua com isto. Por quanto tempo mais e com que custos para o país?

o que disse, afinal, a menina mortágua e o ps aplaudiu vibrantemente?

O que disse, afinal, a menina Mortágua, na sua já célebre intervenção num fórum socialista de Coimbra. Pois bem, seguem as suas palavras, ipsis verbis, proferidas entre os minutos 12’45’’ e 15’30’’ (o resto é igual ao litro):

«Três conclusões sobre esta intensa análise. A primeira é: as desigualdades vêm necessariamente do próprio funcionamento do sistema capitalista como ele está desenhado hoje. É o sistema a funcionar, é a economia a funcionar, que gera as desigualdades que, por sua vez, geram crises. E, portanto, a primeira questão é acabar com as desigualdades. Não é apenas uma questão de justiça social. É claro que é uma questão de justiça social para qualquer pessoa de esquerda, mas acabar com as desigualdades é uma questão de política económica de estabilização macroeconómica. Porque enquanto persistirem desigualdades na distribuição de rendimentos há potencial para desequilíbrios macroeconómicos. E, portanto, quando eu estou a defender políticas de distribuição de rendimentos eu não estou a fazê-lo apenas porque eu acho que as pessoas têm que ter rendimentos aproximados. Eu estou a fazê-lo porque eu não quero ter crises económicas. É um mecanismo de estabilização de economias. A segunda questão, muito breve, é que há medidas de política social que podem ajudar a reduzir a pobreza e podem ajudar a diminuir as desigualdades, mas elas não vão resolver o problema na sua base. E não vão resolver o problema na sua base porque o problema está no funcionamento do sistema económico. Eu posso encontrar medidas que me permitam, através do Estado Social, redistribuir alguma riqueza, posso encontrar medidas que, através do Estado Social, mitigar alguma pobreza, mas eu não vou conseguir acabar com as desigualdades se eu não mexer no sistema que produz as desigualdades. E eu penso que esta é uma reflexão que não está tão desenvolvida como nós gostaríamos. E, por isso, termino agora, do ponto de vista prático, a primeira coisa que acho que temos que fazer é perder a vergonha de ir buscar dinheiro a quem está a acumular dinheiro. Quando estamos a apresentar taxas sobre grandes patrimónios ou grandes rendimentos estamos a fazê-lo porque queremos diminuir as desigualdades, mas também porque dizemos que uma sociedade estável não é uma sociedade que permita a acumulação brutal de capital nos 1% do topo. E, portanto, não devemos ter vergonha de uma política social deste género. Em segundo lugar, e este é o desafio que deixo ao PS (aplausos vibrantes…), em último lugar é o desafio que deixo ao PS, a Ana Catarina dizia há bocado que quem desiste de pensar acaba por cair no pragmatismo, e eu concordo, eu acho que cabe ao PS, acho eu e com toda a humildade, se quer pensar as desigualdades pensar também o que é que pensa do sistema económico hoje em dia, do capitalismo financeirizado hoje em dia e até onde é que está disposto a ir para encontrar uma alternativa a esse sistema capitalista (aplausos vibrantes)».

A questão de fundo desta intervenção – tão aplaudida pelos socialistas presentes – não foi a intenção anunciada de taxar os «ricos», novidade que, no Bloco, verdadeiramente o não é, mas a de desafiar o Partido Socialista a abandonar o modelo de Estado Social, e que foi tão vibrantemente aplaudida. É isso que significa a frase «eu não vou conseguir acabar com as desigualdades se eu não mexer no sistema que produz as desigualdades». As medidas do Estado Social, o tal que era património genético do PS supostamente desde sempre, mitigam, mas não permitem acabar com as desigualdades sociais, pelo que é necessário ir mais além. Foi para isso que Mariana Mortágua desafiou o PS a esclarecer «até onde é que está disposto a ir para encontrar uma alternativa». Uma alternativa ao Estado Social.

Para garantir a sobrevivência do governo e a liderança de António Costa, o PS compactua com isto. Por quanto tempo mais e com que custos para o país?

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