Catarina Martins: “A arrogância das maiorias absolutas significa sempre um recuo”

15-12-2019
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Há quatro anos, o almoço grande do Bloco de Esquerda em Lisboa juntou pouco menos de 1000 apoiantes na Sala Tejo, a uma centena de passos dali. Este sábado, no arranque para a última semana de campanha, a escolha para o grande encontro na capital acabou por ser o Pavilhão 1 da Feira Internacional de Lisboa, no Parque das Nações. Há razões de logística – desta vez havia cerca de 1500 apoiantes a agitar bandeiras na sala, pelas contas da direção de campanha – mas também simbólicas. “Quem cumpre, merece crescer e o Bloco de Esquerda cumpriu cada um dos compromissos que fez com o país”, disse Catarina Martins no encerramento do comício. É essa mensagem que o partido vai carregar até ao dia 6 de outubro.

A aposta no reforço da bancada do Bloco anda de mão dada com outra ideia, que tem destinatário bem identificado. “Este país sabe que a arrogância de maiorias absolutas significa sempre um recuo”, disse a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda na reta final de um discurso de cerca de 20 minutos, em que falou para “a gente” que esteve no centro das principais “lutas” do partido nos últimos quatro anos na Assembleia da República.

Catarina Martins subiu ao palco ao som de um “7 Nation Army” – o tema que também já acompanhou Marisa Matias nas europeias de maio. Não seriam exatamente sete nações reunidas no pavilhão da FIL, mas lá estavam sentadas as assistentes da Santa Casa da Misericórdia que conseguiram contrato de trabalho; estavam também os pedreiros de Peroselo; as amas da Segurança Social; os formadores do Instituto de Formação Profissional; os moradores dos bairros dos Lagares, de Almada e da Quinta da Lage que vivem em habitações degradadas ou que correm risco de ver as casas demolidas – cada um com mesa próprio num encontro do partido que tinha dimensão nacional. São também eles “quem faz esta campanha”. Pedro Filipe Soares diria que “esta energia que se sente é a que contagia o país e vai fazer a diferença daqui a uma semana”, quando os eleitores forem chamados a escolher o Parlamento dos próximos quatro anos.

Isso é futuro, e a líder do Bloco de Esquerda lá iria. Antes, Catarina Martins fez as contas com o passado. “Não discutimos quem teve a ideia de cada uma das medidas” aprovadas nesta legislatura – a subida do salário mínimo nacional, a “estabilidade” das pensões, a tarifa social da energia, os passes sociais, a redução de propinas, os manuais gratuitos, as mexidas do IRS – mas reclama louros: “O Governo nada teria feito sem o Bloco de Esquerda e o PCP” a puxar do outro lado da corda, defendeu. “Provámos que é possível, em cada um dos dias destes quatro anos estivemos a vencer barreiras.”

Essa prova de obstáculos ainda só vai a meio. Agora, o Bloco pede “mais deputados em todo o país” – há expectativa de eleger onde não ainda conseguiram conquistar lugares, como em Viana do Castelo e Viseu, e de reforçar a votação em círculos maiores como Lisboa e Setúbal – para cumprir o caderno de encargos da segunda volta. O Serviço Nacional de Saúde “tem de ser a luta da próxima legislatura”, apontou a coordenadora nacional. Mariana Mortágua trazia uma lista mais extensa.

Controlo da banca e o fim dos “empecilhos”

“Fomos responsáveis, fizemos o que tínhamos de fazer”, arrancou a cabeça de lista por Lisboa. A par de Catarina Martins, o palco do comício foi também da deputada que, nesta legislatura, viu ser aprovado um imposto sobre o património selado com o seu nome.

Marcos Borga

Mortágua atirou para a frente. Na próxima legislatura, o Bloco vai defender o “controlo democrático da banca” e vai lutar por maior “justiça fiscal”, com a apresentação de uma proposta de “englobamento” dos rendimentos, “venham de ações, de rendas” para que “sejam taxados de forma progressiva”. Numa ideia, o princípio é este: “Quem ganha menos, paga menos, quem ganha mais, paga mais porque [porque] é assim que se constrói a democracia.”

A intervenção foi curta, mas a deputada do Bloco ainda teve tempo para apontar os riscos de um PS agigantado com a maioria dos lugares no Parlamento. “A esquerda contou para o povo porque não houve maoiria absoluta”. Foi esse, em 2015, “o imenso poder” dos partidos à esquerda do PS. No final da próxima semana, Mariana Mortágua quer mais votos para acabar com “os empecilhos que grilhoam a nossa democracia”..

“E salta, Bloco! E salta, Bloco!”… mas Catarina não saltou

O speaker teve de chamar duas vezes pelos militantes que continuavam sentados à mesa, dentro do pavilhão. Lá fora, a banda já tocava um tema que até foi hino de campanha do PS nas europeias – “O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao”. E, enfim, lá foram saindo algumas centenas de militantes para fazer número e cumprir outras centenas de metros ao longo da zona de bares do Parque das Nações. Ida e regresso não demoraram mais de 25 minutos. Saldo final: muita música, um ou outro aperto de Catarina Martins e um salto que, a acontecer, fica reservado para depois das eleições.

Marcos Borga

Se da primeira vez não resultou, os apoiantes do Bloco de Esquerda voltariam a tentar. A arruada ia a meio quando se ouviu a segunda tentativa: “E salta, Bloco, e salta, Bloco, allez, allez.” Catarina Martins sorriu e seguiu caminho, mas Ao lado ia Mariana Mortágua. A deputada percebeu a expectativa mas rapidamente desfez entusiasmos. “Queriam, não queriam? Mas não, não…”

A memória está fresca. Há quatro anos, António Costa não se fez rogado. Em plena campanha, o líder do PS ouviu o desafio e, em cima do palco, saltou, saltou e saltou. Por estes dias, António Costa não voltará a repetir – mas no Bloco há quem não esqueça o desfecho dessas legislativas. É que Costa perdeu as eleições…

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Há quatro anos, o almoço grande do Bloco de Esquerda em Lisboa juntou pouco menos de 1000 apoiantes na Sala Tejo, a uma centena de passos dali. Este sábado, no arranque para a última semana de campanha, a escolha para o grande encontro na capital acabou por ser o Pavilhão 1 da Feira Internacional de Lisboa, no Parque das Nações. Há razões de logística – desta vez havia cerca de 1500 apoiantes a agitar bandeiras na sala, pelas contas da direção de campanha – mas também simbólicas. “Quem cumpre, merece crescer e o Bloco de Esquerda cumpriu cada um dos compromissos que fez com o país”, disse Catarina Martins no encerramento do comício. É essa mensagem que o partido vai carregar até ao dia 6 de outubro.

A aposta no reforço da bancada do Bloco anda de mão dada com outra ideia, que tem destinatário bem identificado. “Este país sabe que a arrogância de maiorias absolutas significa sempre um recuo”, disse a coordenadora nacional do Bloco de Esquerda na reta final de um discurso de cerca de 20 minutos, em que falou para “a gente” que esteve no centro das principais “lutas” do partido nos últimos quatro anos na Assembleia da República.

Catarina Martins subiu ao palco ao som de um “7 Nation Army” – o tema que também já acompanhou Marisa Matias nas europeias de maio. Não seriam exatamente sete nações reunidas no pavilhão da FIL, mas lá estavam sentadas as assistentes da Santa Casa da Misericórdia que conseguiram contrato de trabalho; estavam também os pedreiros de Peroselo; as amas da Segurança Social; os formadores do Instituto de Formação Profissional; os moradores dos bairros dos Lagares, de Almada e da Quinta da Lage que vivem em habitações degradadas ou que correm risco de ver as casas demolidas – cada um com mesa próprio num encontro do partido que tinha dimensão nacional. São também eles “quem faz esta campanha”. Pedro Filipe Soares diria que “esta energia que se sente é a que contagia o país e vai fazer a diferença daqui a uma semana”, quando os eleitores forem chamados a escolher o Parlamento dos próximos quatro anos.

Isso é futuro, e a líder do Bloco de Esquerda lá iria. Antes, Catarina Martins fez as contas com o passado. “Não discutimos quem teve a ideia de cada uma das medidas” aprovadas nesta legislatura – a subida do salário mínimo nacional, a “estabilidade” das pensões, a tarifa social da energia, os passes sociais, a redução de propinas, os manuais gratuitos, as mexidas do IRS – mas reclama louros: “O Governo nada teria feito sem o Bloco de Esquerda e o PCP” a puxar do outro lado da corda, defendeu. “Provámos que é possível, em cada um dos dias destes quatro anos estivemos a vencer barreiras.”

Essa prova de obstáculos ainda só vai a meio. Agora, o Bloco pede “mais deputados em todo o país” – há expectativa de eleger onde não ainda conseguiram conquistar lugares, como em Viana do Castelo e Viseu, e de reforçar a votação em círculos maiores como Lisboa e Setúbal – para cumprir o caderno de encargos da segunda volta. O Serviço Nacional de Saúde “tem de ser a luta da próxima legislatura”, apontou a coordenadora nacional. Mariana Mortágua trazia uma lista mais extensa.

Controlo da banca e o fim dos “empecilhos”

“Fomos responsáveis, fizemos o que tínhamos de fazer”, arrancou a cabeça de lista por Lisboa. A par de Catarina Martins, o palco do comício foi também da deputada que, nesta legislatura, viu ser aprovado um imposto sobre o património selado com o seu nome.

Marcos Borga

Mortágua atirou para a frente. Na próxima legislatura, o Bloco vai defender o “controlo democrático da banca” e vai lutar por maior “justiça fiscal”, com a apresentação de uma proposta de “englobamento” dos rendimentos, “venham de ações, de rendas” para que “sejam taxados de forma progressiva”. Numa ideia, o princípio é este: “Quem ganha menos, paga menos, quem ganha mais, paga mais porque [porque] é assim que se constrói a democracia.”

A intervenção foi curta, mas a deputada do Bloco ainda teve tempo para apontar os riscos de um PS agigantado com a maioria dos lugares no Parlamento. “A esquerda contou para o povo porque não houve maoiria absoluta”. Foi esse, em 2015, “o imenso poder” dos partidos à esquerda do PS. No final da próxima semana, Mariana Mortágua quer mais votos para acabar com “os empecilhos que grilhoam a nossa democracia”..

“E salta, Bloco! E salta, Bloco!”… mas Catarina não saltou

O speaker teve de chamar duas vezes pelos militantes que continuavam sentados à mesa, dentro do pavilhão. Lá fora, a banda já tocava um tema que até foi hino de campanha do PS nas europeias – “O bella ciao, bella ciao, bella ciao, ciao, ciao”. E, enfim, lá foram saindo algumas centenas de militantes para fazer número e cumprir outras centenas de metros ao longo da zona de bares do Parque das Nações. Ida e regresso não demoraram mais de 25 minutos. Saldo final: muita música, um ou outro aperto de Catarina Martins e um salto que, a acontecer, fica reservado para depois das eleições.

Marcos Borga

Se da primeira vez não resultou, os apoiantes do Bloco de Esquerda voltariam a tentar. A arruada ia a meio quando se ouviu a segunda tentativa: “E salta, Bloco, e salta, Bloco, allez, allez.” Catarina Martins sorriu e seguiu caminho, mas Ao lado ia Mariana Mortágua. A deputada percebeu a expectativa mas rapidamente desfez entusiasmos. “Queriam, não queriam? Mas não, não…”

A memória está fresca. Há quatro anos, António Costa não se fez rogado. Em plena campanha, o líder do PS ouviu o desafio e, em cima do palco, saltou, saltou e saltou. Por estes dias, António Costa não voltará a repetir – mas no Bloco há quem não esqueça o desfecho dessas legislativas. É que Costa perdeu as eleições…

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