Greta Thunberg. “Ela é uma de nós” ou apela a perigosas “divisões”?

03-12-2019
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“Mostrem à vossa comunidade, à indústria dos combustíveis fósseis e aos vossos líderes políticos que não vão tolerar mais a inação e as alterações climáticas.” Num artigo de opinião que co-assina com outras duas jovens ativistas e que foi publicado no portal Social Europe, Greta Thunberg apela à participação na sexta-feira na “greve climática” em Madrid. O tom dirigido aos líderes políticos que se deslocam à capital espanhola, onde decorre até 13 de dezembro a cimeira do clima, é fiel ao que a tornou famosa: “Os olhos de todas as futuras gerações estão em cima de vós, atuem em conformidade”.

Prestes a chegar a Portugal, Greta Thunberg tem por cá admiradores. E alguns deles têm assento nas bancadas do Parlamento, onde, afinal, não é certo que a jovem se desloque. Para o efeito, tanto faz. Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, reconhece o efeito “catalizador” da ativista, agregando os jovens no sentido comum de quererem “fazer a diferença”. “Ela mostrou, e está a mostrar, como uma ação individual pode desencadear uma ação coletiva”, afirmou ao Expresso o líder da bancada do BE, que destaca também estar em causa “uma mensagem emancipadora”, que afasta a necessidade de “paternalismo”, para pôr o dedo na ferida e dizer “que é preciso lutar”.

Ao sublinhar que a dinâmica criada “já está muito para lá da adolescente”, Greta é ainda, para o deputado, um “bom exemplo” pela forma como “soube lidar com essa transição”, no que à “gestão de emoções e expetativas criadas em torno dela” diz respeito.

“Símbolo de intransigência e de ousadia”

Desafiada a partilhar o que gostaria de dizer à jovem sueca se tivesse a oportunidade de se cruzar com ela, Maria Begonha, deputada pelo PS, não hesita: “Perguntar-lhe-ia o que deseja alcançar a partir daqui”.

A também secretária-geral da Juventude Socialista não duvida que Greta Thunberg e a sua forma de ativismo vão marcar as gerações mais novas. “Vai ser incontornável”, considera Maria Begonha, estendendo essa importância a três vertentes. “Para a causa climática, claro, pelo incentivo à ideia de que não podemos ficar parados; mas também num plano simbólico, ao mostrar como uma jovem de 16 anos pode mobilizar e inspirar os outros; e pelo facto de começar a envolver outras gerações”.

“O sentimento de que ‘ela é uma de nós’ fez a diferença”, entende a deputada socialista. “Foi isso que sentiram muitos jovens e muitos estudantes, que a passaram a ver como símbolo, e se calhar procuramos isso, símbolos de intransigência e de ousadia”.

Talvez demasiada intransigência, considera por seu turno Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa, que ao Expresso elogiou “o aspecto muito positivo“ da contestação da jovem sueca - “a contestação legítima perante quem se limita a ‘empurrar com a barriga’ a grave questão das alterações climáticas” - não sem deixar uma nota de preocupação sobre o risco inerente a uma comunicação demasiado “agressiva” ou que coloque a tónica numa lógica de “luta de gerações”, demasiado a preto e branco no seu entender.

Greta Thunberg “tem mérito”, sublinha Nuno Ribeiro da Silva, “mas não está seguramente sozinha e seria bom que quem está à sua volta a defenda, não só do potencial desgaste” pela escala da exposição envolvida, como da possível tentativa de “descredibilização por parte de quem se queira utilizar do seu entusiasmo e boa-fé”.

A segunda nota deixada pelo presidente da Endesa vai para o sentimento que lhe ficou após a passagem da jovem pelas Nações Unidas: “Apetece-me lembrar que ‘não é com vinagre que se apanham moscas’. Dar a ideia de um radicalismo cego é negativo e só fornece argumentos fáceis para quem pretenda negar o problema, não se preocupe com ele ou queira ver na ação da jovem uma mera manobra de esquerda”.

Para Nuno Ribeiro da Silva, usar expressões faciais “agressivas ou de escárnio” e cair numa mensagem “que apela a divisões” não é o caminho. “Nunca deu bons resultados. Um discurso não precisa disso para ser contundente”, nem faz sentido negar o que de bom muita gente fez antes de Greta Thunberg, acrescenta.

Recebida por Fernando Medina

O melhor do ativismo da jovem sueca? A possibilidade de debater o problema. “Independentemente do futuro, a questão está aberta e, para nós, que desde há muitos anos nos preocupamos com esta questão, este é mais um momento para discutir o caminho e repensar o modelo que temos, reivindicando transformações de fundo”, disse ao Expresso Alma Rivera, deputada do PCP.

Não que a deputada sinta ter algo de especial para dizer a Greta Thunberg. “Naturalmente, ela está bastante esclarecida sobre o tema”, afirma, com um sorriso, “mas seria bom aproveitar para reafirmar a todos os outros o lema que tem sido usado pelos jovens comunistas, o de que o capitalismo não é verde”.

A jovem, que atravessou o Atlântico de veleiro, chega à Doca de Santo Amaro, junto à Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, às 8h00 desta terça-feira. Será recebida pelo presidente da Câmara da capital, Fernando Medina, e estará algumas horas em Lisboa antes de rumar para a capital espanhola, para participar na COP25,

O Presidente da República já saudou a passagem da jovem por Portugal, mas esclareceu também que não passará na Doca de Alcântara para a cumprimentar, por querer evitar o que poderia “ser considerado aproveitamento político”.

“Mostrem à vossa comunidade, à indústria dos combustíveis fósseis e aos vossos líderes políticos que não vão tolerar mais a inação e as alterações climáticas.” Num artigo de opinião que co-assina com outras duas jovens ativistas e que foi publicado no portal Social Europe, Greta Thunberg apela à participação na sexta-feira na “greve climática” em Madrid. O tom dirigido aos líderes políticos que se deslocam à capital espanhola, onde decorre até 13 de dezembro a cimeira do clima, é fiel ao que a tornou famosa: “Os olhos de todas as futuras gerações estão em cima de vós, atuem em conformidade”.

Prestes a chegar a Portugal, Greta Thunberg tem por cá admiradores. E alguns deles têm assento nas bancadas do Parlamento, onde, afinal, não é certo que a jovem se desloque. Para o efeito, tanto faz. Pedro Filipe Soares, do Bloco de Esquerda, reconhece o efeito “catalizador” da ativista, agregando os jovens no sentido comum de quererem “fazer a diferença”. “Ela mostrou, e está a mostrar, como uma ação individual pode desencadear uma ação coletiva”, afirmou ao Expresso o líder da bancada do BE, que destaca também estar em causa “uma mensagem emancipadora”, que afasta a necessidade de “paternalismo”, para pôr o dedo na ferida e dizer “que é preciso lutar”.

Ao sublinhar que a dinâmica criada “já está muito para lá da adolescente”, Greta é ainda, para o deputado, um “bom exemplo” pela forma como “soube lidar com essa transição”, no que à “gestão de emoções e expetativas criadas em torno dela” diz respeito.

“Símbolo de intransigência e de ousadia”

Desafiada a partilhar o que gostaria de dizer à jovem sueca se tivesse a oportunidade de se cruzar com ela, Maria Begonha, deputada pelo PS, não hesita: “Perguntar-lhe-ia o que deseja alcançar a partir daqui”.

A também secretária-geral da Juventude Socialista não duvida que Greta Thunberg e a sua forma de ativismo vão marcar as gerações mais novas. “Vai ser incontornável”, considera Maria Begonha, estendendo essa importância a três vertentes. “Para a causa climática, claro, pelo incentivo à ideia de que não podemos ficar parados; mas também num plano simbólico, ao mostrar como uma jovem de 16 anos pode mobilizar e inspirar os outros; e pelo facto de começar a envolver outras gerações”.

“O sentimento de que ‘ela é uma de nós’ fez a diferença”, entende a deputada socialista. “Foi isso que sentiram muitos jovens e muitos estudantes, que a passaram a ver como símbolo, e se calhar procuramos isso, símbolos de intransigência e de ousadia”.

Talvez demasiada intransigência, considera por seu turno Nuno Ribeiro da Silva, presidente da Endesa, que ao Expresso elogiou “o aspecto muito positivo“ da contestação da jovem sueca - “a contestação legítima perante quem se limita a ‘empurrar com a barriga’ a grave questão das alterações climáticas” - não sem deixar uma nota de preocupação sobre o risco inerente a uma comunicação demasiado “agressiva” ou que coloque a tónica numa lógica de “luta de gerações”, demasiado a preto e branco no seu entender.

Greta Thunberg “tem mérito”, sublinha Nuno Ribeiro da Silva, “mas não está seguramente sozinha e seria bom que quem está à sua volta a defenda, não só do potencial desgaste” pela escala da exposição envolvida, como da possível tentativa de “descredibilização por parte de quem se queira utilizar do seu entusiasmo e boa-fé”.

A segunda nota deixada pelo presidente da Endesa vai para o sentimento que lhe ficou após a passagem da jovem pelas Nações Unidas: “Apetece-me lembrar que ‘não é com vinagre que se apanham moscas’. Dar a ideia de um radicalismo cego é negativo e só fornece argumentos fáceis para quem pretenda negar o problema, não se preocupe com ele ou queira ver na ação da jovem uma mera manobra de esquerda”.

Para Nuno Ribeiro da Silva, usar expressões faciais “agressivas ou de escárnio” e cair numa mensagem “que apela a divisões” não é o caminho. “Nunca deu bons resultados. Um discurso não precisa disso para ser contundente”, nem faz sentido negar o que de bom muita gente fez antes de Greta Thunberg, acrescenta.

Recebida por Fernando Medina

O melhor do ativismo da jovem sueca? A possibilidade de debater o problema. “Independentemente do futuro, a questão está aberta e, para nós, que desde há muitos anos nos preocupamos com esta questão, este é mais um momento para discutir o caminho e repensar o modelo que temos, reivindicando transformações de fundo”, disse ao Expresso Alma Rivera, deputada do PCP.

Não que a deputada sinta ter algo de especial para dizer a Greta Thunberg. “Naturalmente, ela está bastante esclarecida sobre o tema”, afirma, com um sorriso, “mas seria bom aproveitar para reafirmar a todos os outros o lema que tem sido usado pelos jovens comunistas, o de que o capitalismo não é verde”.

A jovem, que atravessou o Atlântico de veleiro, chega à Doca de Santo Amaro, junto à Gare Marítima de Alcântara, em Lisboa, às 8h00 desta terça-feira. Será recebida pelo presidente da Câmara da capital, Fernando Medina, e estará algumas horas em Lisboa antes de rumar para a capital espanhola, para participar na COP25,

O Presidente da República já saudou a passagem da jovem por Portugal, mas esclareceu também que não passará na Doca de Alcântara para a cumprimentar, por querer evitar o que poderia “ser considerado aproveitamento político”.

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