Do CDS ao BE ninguém votaria em Trump

11-05-2020
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A mesma pergunta — se fosse eleitor norte-americano, votaria em Hillary Clinton ou Donald Trump? —, quase sempre a mesma resposta — Hillary — e nem uma palavrinha, nem pequenina, em favor de Trump. O Expresso questionou os presidentes e vice-presidentes de todos grupos parlamentares na Assembleia da República sobre o cenário que provavelmente os norte-americanos terão pela frente em novembro. Tendo em conta as primárias depois desta Superterça-feira (ver pág. 28), reduzimos a escolha a Clinton e Trump.

No total, as direções dos grupos parlamentares contabilizam 33 pessoas que, supõe-se, serão representativas dos 230 deputados que compõem a AR. Do CDS ao BE, só houve declarações de voto em Hillary. Ninguém gosta deste Donald. Mas a senhora Clinton não faz o pleno: seis entrevistados recusam escolher entre dois maus candidatos. Comecemos por esses.

Nem um nem outro

“Estaria tentado a abster-me”, confessa Luís Montenegro, caso fosse eleitor norte-americano. “Não me entusiasma nem um nem outro. O candidato republicano não tem condições, Hillary Clinton não traz nada de novo. Era preciso uma lufada de ar fresco”, diz o líder parlamentar do PSD. É acompanhado por dois dos seus vices. Miguel Morgado garante que “não votaria em nenhum”, pois “são ambos maus candidatos”, embora “por razões diferentes” — que sintetiza assim: “Trump é um candidato desestruturado e ameaçador; Hillary está totalmente descredibilizada, é cinzenta e refém da correção política.”

António Leitão Amaro também acha o cenário desolador. “No Trump não votaria seguramente, mas não vou pôr já as minhas fichas na Hillary”, diz, esperançado de que “no lado republicano ainda pode haver uma surpresa” — por exemplo, o avanço de Bloomberg. Mais à direita, Telmo Correia, do CDS, dá “graças a deus” por não ser eleitor nos EUA. “Apesar de perceber que pode ser um mal menor, não me creio capaz de votar Hillary. Por outro lado, apesar de ser republicano no sentido americano do termo (em Portugal, nem tanto) não me identifico com Trump, nem com o seu discurso”. Tudo pesado, este vice-presidente da bancada do CDS optaria pela “abstenção violenta”.

Abstenção ou voto em branco seria também a opção da líder de Os Verdes, Heloísa Apolónia, e do do PAN, André Silva. “Não gostaria de atribuir o meu voto a nenhum, embora reconhecendo as diferenças entre ambos”, diz Apolónia, apontando o dedo ao bipartidarismo, que é “redutor da democracia representativa”. “A minha resposta imediata e mais clara seria um voto em branco, visto que os dois representam o mesmo sistema ideológico de crescimento contínuo num planeta de recursos limitados”, explica André Silva.

Mais difícil de traduzir num voto são as respostas de Pedro Filipe Soares e de Jorge Costa. Ambos do BE, ambos a torcer por Bernie Sanders — o pretendente que vem da esquerda do Partido Democrata — e ambos com dificuldade em engolir Hillary Clinton como candidata de esquerda. “Ainda estou confiante que Sanders tem probabilidade de ganhar, não está tão acabado quanto isso”, garante o líder parlamentar do BE. Nenhum dos dois quer Trump, mas nenhum diz se votaria Clinton.

A mais pragmática na direção da bancada do BE é Mariana Mortágua: “Faria tudo para evitar que Trump chegasse ao poder. Porque é racista, militarista e é um perigo no comando de um país com o poderio que tem. Por isso votaria em Hillary, como forma de impedir um lunático de atingir o poder.” Do mesmo lado da barricada contra o “lunático” estão os socialistas João Galamba e Pedro Delgado Alves, mas também Hugo Soares ou Abreu Amorim, vice-presidentes da bancada do PSD.

Tudo menos Trump

Galamba e Delgado Alves prefeririam alguém mais à esquerda, mas o porta-voz do PS considera a ex-primeira-dama “uma candidata forte e mais aceitável do que qualquer coisa que venha do Partido Republicano, ainda mais se essa coisa for o Donald Trump”. Delgado Alves acrescenta que Trump é “o degenerar no populismo mais desbragado” — gostaria que fosse Sanders a travá-lo, mas votaria Clinton.

Já Hugo Soares e Abreu Amorim gostariam de alguém à direita de Hillary, mas concordam com a esquerda: tudo menos Trump. “Não votaria no candidato democrata em nenhuma outra circunstância, mas votaria em qualquer candidato que se apresentasse contra Trump”, diz Hugo Soares. “Não me recordo de outra eleição norte-americana em que eu tenha sido a favor dos democratas. Nada me aproxima de Hillary Clinton... mas tudo menos Trump. Colocar na posição mais poderosa do mundo um homem impreparado, sem ideias e leviano é como pôr uma arma poderosa nas mãos de uma criança”, explica Abreu Amorim. Miguel Santos, outro vice da bancada laranja, vê em Hillary “uma política muito artificial e cosmética”, mas dar-lhe-ia o seu voto contra Trump, que classifica como “assustador”. Também o social-democrata Nuno Serra, apesar de se identificar com os republicanos, “votaria Clinton, sobretudo pela rejeição de Trump”, que “não representa o ideal americano nem aquilo que espero que os republicanos representem na política americana”.

Do lado do CDS há quem tenha um raciocínio semelhante. É o caso do líder parlamentar, Nuno Magalhães. Começa por dizer que “ficaria indeciso se iria votar”, mas concede que “acabaria por optar por aquilo que o CDS sempre combateu, o voto útil. E por exclusão de partes votaria em Hillary Clinton”, pois, apesar de não acreditar que protagonize “qualquer tipo de mudança ou acrescente nada de especial” ao cargo, está mais distante de Trump — “Ideologicamente tudo me afasta dele.” Cecília Meireles também votaria no mal menor. Na direção de bancada do CDS, o mais “clintoniano” é Helder Amaral, que não se limita a enumerar defeitos de Trump, puxa pelas qualidades da candidata. Cita a sua experiência política, mas não só: “Hillary tem mais compromissos com os valores europeus, com os parceiros europeus, tem uma visão estratégica e do mundo mais próxima da nossa.”

Sim, também há quem apoie Hillary pelo que é, e não apenas por ser a única que poderá fazer frente a Trump. O líder da bancada do PS, Carlos César, frisa a relação dos Clinton a Portugal e à comunidade portuguesa e louva em Hillary a experiência e o “sinal de estabilidade que dá na política americana”. E acrescenta os seus “antecedentes firmados no combate às desigualdades e na recuperação de um sistema de proteção social mínimo nos EUA, nomeadamente na saúde”. O socialista João Paulo Correia realça o “discurso com maior consciência social e mais inclusivo e também menos bélico sobre o papel dos EUA”. Adão Silva, do PSD, acredita que Hillary fará “a antítese de Trump” a favor dos EUA enquanto “país aberto, cosmopolita e promotor de equilíbrios mundiais”. Ainda na bancada do PSD, o “vice” Sérgio Azevedo vê “uma candidata equilibrada que dará continuidade ao trabalho que a administração Obama levou por diante”.

Então, e o PCP? Não sabemos. O presidente e os dois vice-presidentes da bancada foram os únicos que não responderam ao Expresso. Presumimos que não seriam “team Trump”. Mas, em geral, o PCP não é “team USA”...

Luís Montenegro Líder parlamentar PSD

“O candidato republicano não tem condições, Hillary não traz nada de novo”

Carlos César Líder parlamentar PS

“Hillary tem antecedentes no combate às desigualdades e na recuperação de um sistema de proteção social mínimo nos EUA”

Nuno Magalhães Líder parlamentar CDS

“Acabaria por optar por aquilo que o CDS sempre combateu, o voto útil. Por exclusão de partes, votaria Hillary”

Mariana Mortágua, Vice-presidente do grupo parlamentar do BE

“Votaria em Hillary como forma de evitar um lunático de atingir o poder”

A mesma pergunta — se fosse eleitor norte-americano, votaria em Hillary Clinton ou Donald Trump? —, quase sempre a mesma resposta — Hillary — e nem uma palavrinha, nem pequenina, em favor de Trump. O Expresso questionou os presidentes e vice-presidentes de todos grupos parlamentares na Assembleia da República sobre o cenário que provavelmente os norte-americanos terão pela frente em novembro. Tendo em conta as primárias depois desta Superterça-feira (ver pág. 28), reduzimos a escolha a Clinton e Trump.

No total, as direções dos grupos parlamentares contabilizam 33 pessoas que, supõe-se, serão representativas dos 230 deputados que compõem a AR. Do CDS ao BE, só houve declarações de voto em Hillary. Ninguém gosta deste Donald. Mas a senhora Clinton não faz o pleno: seis entrevistados recusam escolher entre dois maus candidatos. Comecemos por esses.

Nem um nem outro

“Estaria tentado a abster-me”, confessa Luís Montenegro, caso fosse eleitor norte-americano. “Não me entusiasma nem um nem outro. O candidato republicano não tem condições, Hillary Clinton não traz nada de novo. Era preciso uma lufada de ar fresco”, diz o líder parlamentar do PSD. É acompanhado por dois dos seus vices. Miguel Morgado garante que “não votaria em nenhum”, pois “são ambos maus candidatos”, embora “por razões diferentes” — que sintetiza assim: “Trump é um candidato desestruturado e ameaçador; Hillary está totalmente descredibilizada, é cinzenta e refém da correção política.”

António Leitão Amaro também acha o cenário desolador. “No Trump não votaria seguramente, mas não vou pôr já as minhas fichas na Hillary”, diz, esperançado de que “no lado republicano ainda pode haver uma surpresa” — por exemplo, o avanço de Bloomberg. Mais à direita, Telmo Correia, do CDS, dá “graças a deus” por não ser eleitor nos EUA. “Apesar de perceber que pode ser um mal menor, não me creio capaz de votar Hillary. Por outro lado, apesar de ser republicano no sentido americano do termo (em Portugal, nem tanto) não me identifico com Trump, nem com o seu discurso”. Tudo pesado, este vice-presidente da bancada do CDS optaria pela “abstenção violenta”.

Abstenção ou voto em branco seria também a opção da líder de Os Verdes, Heloísa Apolónia, e do do PAN, André Silva. “Não gostaria de atribuir o meu voto a nenhum, embora reconhecendo as diferenças entre ambos”, diz Apolónia, apontando o dedo ao bipartidarismo, que é “redutor da democracia representativa”. “A minha resposta imediata e mais clara seria um voto em branco, visto que os dois representam o mesmo sistema ideológico de crescimento contínuo num planeta de recursos limitados”, explica André Silva.

Mais difícil de traduzir num voto são as respostas de Pedro Filipe Soares e de Jorge Costa. Ambos do BE, ambos a torcer por Bernie Sanders — o pretendente que vem da esquerda do Partido Democrata — e ambos com dificuldade em engolir Hillary Clinton como candidata de esquerda. “Ainda estou confiante que Sanders tem probabilidade de ganhar, não está tão acabado quanto isso”, garante o líder parlamentar do BE. Nenhum dos dois quer Trump, mas nenhum diz se votaria Clinton.

A mais pragmática na direção da bancada do BE é Mariana Mortágua: “Faria tudo para evitar que Trump chegasse ao poder. Porque é racista, militarista e é um perigo no comando de um país com o poderio que tem. Por isso votaria em Hillary, como forma de impedir um lunático de atingir o poder.” Do mesmo lado da barricada contra o “lunático” estão os socialistas João Galamba e Pedro Delgado Alves, mas também Hugo Soares ou Abreu Amorim, vice-presidentes da bancada do PSD.

Tudo menos Trump

Galamba e Delgado Alves prefeririam alguém mais à esquerda, mas o porta-voz do PS considera a ex-primeira-dama “uma candidata forte e mais aceitável do que qualquer coisa que venha do Partido Republicano, ainda mais se essa coisa for o Donald Trump”. Delgado Alves acrescenta que Trump é “o degenerar no populismo mais desbragado” — gostaria que fosse Sanders a travá-lo, mas votaria Clinton.

Já Hugo Soares e Abreu Amorim gostariam de alguém à direita de Hillary, mas concordam com a esquerda: tudo menos Trump. “Não votaria no candidato democrata em nenhuma outra circunstância, mas votaria em qualquer candidato que se apresentasse contra Trump”, diz Hugo Soares. “Não me recordo de outra eleição norte-americana em que eu tenha sido a favor dos democratas. Nada me aproxima de Hillary Clinton... mas tudo menos Trump. Colocar na posição mais poderosa do mundo um homem impreparado, sem ideias e leviano é como pôr uma arma poderosa nas mãos de uma criança”, explica Abreu Amorim. Miguel Santos, outro vice da bancada laranja, vê em Hillary “uma política muito artificial e cosmética”, mas dar-lhe-ia o seu voto contra Trump, que classifica como “assustador”. Também o social-democrata Nuno Serra, apesar de se identificar com os republicanos, “votaria Clinton, sobretudo pela rejeição de Trump”, que “não representa o ideal americano nem aquilo que espero que os republicanos representem na política americana”.

Do lado do CDS há quem tenha um raciocínio semelhante. É o caso do líder parlamentar, Nuno Magalhães. Começa por dizer que “ficaria indeciso se iria votar”, mas concede que “acabaria por optar por aquilo que o CDS sempre combateu, o voto útil. E por exclusão de partes votaria em Hillary Clinton”, pois, apesar de não acreditar que protagonize “qualquer tipo de mudança ou acrescente nada de especial” ao cargo, está mais distante de Trump — “Ideologicamente tudo me afasta dele.” Cecília Meireles também votaria no mal menor. Na direção de bancada do CDS, o mais “clintoniano” é Helder Amaral, que não se limita a enumerar defeitos de Trump, puxa pelas qualidades da candidata. Cita a sua experiência política, mas não só: “Hillary tem mais compromissos com os valores europeus, com os parceiros europeus, tem uma visão estratégica e do mundo mais próxima da nossa.”

Sim, também há quem apoie Hillary pelo que é, e não apenas por ser a única que poderá fazer frente a Trump. O líder da bancada do PS, Carlos César, frisa a relação dos Clinton a Portugal e à comunidade portuguesa e louva em Hillary a experiência e o “sinal de estabilidade que dá na política americana”. E acrescenta os seus “antecedentes firmados no combate às desigualdades e na recuperação de um sistema de proteção social mínimo nos EUA, nomeadamente na saúde”. O socialista João Paulo Correia realça o “discurso com maior consciência social e mais inclusivo e também menos bélico sobre o papel dos EUA”. Adão Silva, do PSD, acredita que Hillary fará “a antítese de Trump” a favor dos EUA enquanto “país aberto, cosmopolita e promotor de equilíbrios mundiais”. Ainda na bancada do PSD, o “vice” Sérgio Azevedo vê “uma candidata equilibrada que dará continuidade ao trabalho que a administração Obama levou por diante”.

Então, e o PCP? Não sabemos. O presidente e os dois vice-presidentes da bancada foram os únicos que não responderam ao Expresso. Presumimos que não seriam “team Trump”. Mas, em geral, o PCP não é “team USA”...

Luís Montenegro Líder parlamentar PSD

“O candidato republicano não tem condições, Hillary não traz nada de novo”

Carlos César Líder parlamentar PS

“Hillary tem antecedentes no combate às desigualdades e na recuperação de um sistema de proteção social mínimo nos EUA”

Nuno Magalhães Líder parlamentar CDS

“Acabaria por optar por aquilo que o CDS sempre combateu, o voto útil. Por exclusão de partes, votaria Hillary”

Mariana Mortágua, Vice-presidente do grupo parlamentar do BE

“Votaria em Hillary como forma de evitar um lunático de atingir o poder”

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