Como Rio, Pinto Luz e Montenegro atacaram e defenderam no primeiro round das diretas

27-11-2019
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As críticas entre eles: Todos contra todos, mas Rio contra nenhum

Rui Rio fez a analogia para o combate de boxe — que diz que os portugueses não gostam de ver na oposição ao governo — mas não levou os adversários para o ringue. O presidente do PSD foi o primeiro a falar e não fez nenhuma crítica direta aos adversários, embora tenha explicado que é contra um estilo de “oposição troglodita”. Ou seja: de ataque mais forte ao PS, como propõe Luís Montenegro.

Miguel Pinto Luz não teve problemas em calçar as luvas e considerou “preocupante o estado atual do partido”, já que não aceita “um PSD destituído de ambição”. E visou diretamente David Justino (um “vice-presidente da comissão política”), por o colega de Rio na direção ter criticado “a ambição de ganhar as eleições”. E reafirmou o que já tinha dito na apresentação: “Quero ganhar as autárquicas, quero ganhar as legislativas“. Lembraria, minutos depois, que o PSD “ganhou maior dimensão [na sua história] quando teve ambição sem prestar vassalagens a outras forças sociais ou partidárias.”

Pinto Luz, que prefere ser tratado na “jota” apenas por “Miguel”, voltou a visar Rio ao dizer que “há quem olhe para o PSD e goste apenas de partes do PSD”. Isso não entende, já que o antigo presidente da distrital de Lisboa gosta “a 200% do PSD” e gosta de “tudo no PSD”. Tentou ainda que Rio saísse no ringue pelo próprio pé e deixasse outros assumirem a batalha: “Quem não gosta deste partido, que dê lugar a outros que gostem“.

Embora a maior parte dos ataques tenham sido para Rio, o “caro amigo Luís Montenegro”, como Pinto Luz lhe chamou, também teria direito a um golpe do autarca de Cascais: “Não me ouvirão dizer que voto cegamente contra um Orçamento do PS”. O alvo estava mais que identificado, já que Luís Montenegro tinha assumido essa posição logo no primeiro evento de pré-campanha à liderança do partido. Mas Pinto Luz ainda iria mais longe, ao acrescentar que se calhar “era mais popular dizer uma coisa dessas“, mas com ele não já que quer ser uma “oposição confiável”. E aí sugeriu que Montenegro o faz por razões eleitorais, ao afirmar: “O nosso primeiro interesse não é a nossa agenda no partido, é a agenda nacional, do interesse nacional“.

Luís Montenegro, que seria o último a falar, teve a vantagem de poder responder às críticas na própria intervenção. E por isso devolveria a crítica a Miguel Pinto Luz, acusando-o indiretamente de estar a ser demagogo. O antigo líder parlamentar criticou os “entendimentos” e a “demagogia” que se faz com o facto de ele ter dito que vota contra o orçamento do PS. Na introdução da crítica a Pinto Luz, Montenegro fez uma crítica a Rio (“não tenho a sorte, como outros, de ter os socialistas e os comentadores socialistas a falar bem deles”). E sugeria que dizer o contrário era naïf: “Alguém acredita que o PSD vai votar a favor do Orçamento do Estado? É preciso ver o documento? Estão à espera que traga uma novidade tão boa que nós vamos abster-nos ou votar contra?”

A maior parte dos ataques de Luís Montenegro seriam, sem surpresa, para Rui Rio. Disse que tinha respeito pela “vida política”, pelo trabalho dele em prol o PSD, mas que tinham uma “divergência de facto”. E que o disse desde o congresso que o consagrou: “Disse-lhe, olhos nos olhos, que o PSD não pode ser um partido subalterno do PS. Sobretudo um PS acorrentado ao PCP e ao BE”. Montenegro acha que, com essa estratégia, Rio só perdeu votos e ajudou a normalizar a “perceção” que os eleitores tinham do PS, já que “não recentrou o PSD, recentrou o PS. O PS que estava encostado ao BE e PCP e ficou mais centrado com a disponibilidade do PSD”.

Na mesma linha da sua apoiante Maria Luís Albuquerque, Luís Montenegro criticou quem não aceita a divergência de opinião no PSD e nem sequer disfarçou que se estava a referir a Rio, ao dizer que não aceita “um partido onde a liderança convida aqueles que pensam de forma diferente dela para abandonar o partido”. E acrescentou: “Temos de começar a ter cultura democrática dentro da nossa casa.”

Montenegro aproveitou ainda uma declaração de Rio horas antes (a tal de que os portugueses não querem uma “oposição troglodita”) para mais uma crítica, dizendo que o que defende “não é uma oposição troglodita, é oposição que não é pífia”. Leia-se: “pífia” como considera que a de Rui Rio é. Na fase de perguntas e respostas, por força das circunstâncias também apareceriam mais críticas ao líder por parte do antigo líder parlamentar.

Que ‘fato’ quiseram vestir os candidatos

Rui Rio, o senador, adotou a postura que tem adotado desde que arrancou o clima de campanha interna: fingir que não há campanha interna. Ao contrário do que fizeram os desafiadores, Rio não perdeu muito tempo com críticas diretas aos adversários e explicou-o no fim aos jornalistas: “Sei que há uma disputa interna mas vou fazer tudo para que não haja uma troca de argumentos em público porque, no fim, isto é uma disputa interna, e cabe aos militantes avaliar isso”. Rio preferiu vestir a pele de líder do partido para explicar aos militantes da “jota” por que razão faz uma oposição “credível” ao PS, em vez de uma oposição “troglodita”, e por que razão vai apostar tudo nas autárquicas porque é aí que se mede “a implantação real do partido”.

Luís Montenegro quis vestir o fato de candidato a primeiro-ministro, mais do que o de candidato ao PSD, para mostrar que já está a pensar no próximo passo. Para ele, mais do que diretas, as eleições do PSD são primárias para primeiro-ministro. Isto porque a sua candidatura, diz, “ultrapassa muito o universo do PSD e da estrutura do PSD como organização”, já que “projeta uma liderança política” para o país. E nesse projeto, não pede pouco, já que Montenegro quer ser primeiro-ministro de um governo com apoio parlamentar maioritário. “A alma do PSD está vocacionada para procurar uma maioria absoluta no Parlamento”, lembrou Luís Montenegro. Nas críticas à esquerda, de Centeno a à geringonça, Montenegro também quis exibir um discurso à líder da oposição que desafia o primeiro-ministro em funções.

Miguel Pinto Luz vestiu o fato de terceira via. Não a “terceira via” de Tony Blair, mas a via alternativa à bipolarização Rio-Montenegro que todos esperam. Desde logo, Pinto Luz não quer estar mais à esquerda, ao centro ou à direita, afastando-se da contenda dos adversários, uma vez que no PSD que idealizou cabem todos. Dos conservadores aos mais ao centro. No ataque ao PS também é no meio de Rio e Montenegro que Pinto Luz se posiciona: nem é tão radical ao ponto de recusar orçamentos que não leu, como não rejeita um PSD “subalterno do PS”.

A maior crítica ao PS

Rui Rio: “O PCP e o BE olham para os empresários como no século XIX, por isso não têm problema em complicar a legislação fiscal, burocratizar, não melhorar a formação profissional, tudo lógicas seguidas pelo PS que está amarrado à esquerda”.

Luís Montenegro: “Mário Centeno que é apelidado de Ronaldo, mas não é, a política dele é muito fácil [é aumentar a carga fiscal]. Tomáramos nós que tivesse o talento de Ronaldo e a agilidade de transferir as dificuldades em bom resultado, num golo.”

Miguel Pinto Luz: “Vivemos num país que gosta de nivelar por baixo. Isto é resultado do socialismo.”

Uma nova ideia para o partido

Rui Rio: Sendo líder em funções, Rui Rio não avançou com nenhuma ideia para mudar o partido, defendendo apenas que o PSD, estando na oposição, deve fazer uma oposição credível e não “troglodita”.

Luís Montenegro: Também não é uma ideia nova, mas é o elogio a uma medida do adversário: Manter o Conselho Estratégico Nacional, criado por Rui Rio, uma vez que considera que tem “méritos”.

Miguel Pinto Luz: Passar as eleições diretas para o último dia de congresso (domingo), de forma a tornar os congressos mais vivos e a disputa interna mais participada.

As críticas entre eles: Todos contra todos, mas Rio contra nenhum

Rui Rio fez a analogia para o combate de boxe — que diz que os portugueses não gostam de ver na oposição ao governo — mas não levou os adversários para o ringue. O presidente do PSD foi o primeiro a falar e não fez nenhuma crítica direta aos adversários, embora tenha explicado que é contra um estilo de “oposição troglodita”. Ou seja: de ataque mais forte ao PS, como propõe Luís Montenegro.

Miguel Pinto Luz não teve problemas em calçar as luvas e considerou “preocupante o estado atual do partido”, já que não aceita “um PSD destituído de ambição”. E visou diretamente David Justino (um “vice-presidente da comissão política”), por o colega de Rio na direção ter criticado “a ambição de ganhar as eleições”. E reafirmou o que já tinha dito na apresentação: “Quero ganhar as autárquicas, quero ganhar as legislativas“. Lembraria, minutos depois, que o PSD “ganhou maior dimensão [na sua história] quando teve ambição sem prestar vassalagens a outras forças sociais ou partidárias.”

Pinto Luz, que prefere ser tratado na “jota” apenas por “Miguel”, voltou a visar Rio ao dizer que “há quem olhe para o PSD e goste apenas de partes do PSD”. Isso não entende, já que o antigo presidente da distrital de Lisboa gosta “a 200% do PSD” e gosta de “tudo no PSD”. Tentou ainda que Rio saísse no ringue pelo próprio pé e deixasse outros assumirem a batalha: “Quem não gosta deste partido, que dê lugar a outros que gostem“.

Embora a maior parte dos ataques tenham sido para Rio, o “caro amigo Luís Montenegro”, como Pinto Luz lhe chamou, também teria direito a um golpe do autarca de Cascais: “Não me ouvirão dizer que voto cegamente contra um Orçamento do PS”. O alvo estava mais que identificado, já que Luís Montenegro tinha assumido essa posição logo no primeiro evento de pré-campanha à liderança do partido. Mas Pinto Luz ainda iria mais longe, ao acrescentar que se calhar “era mais popular dizer uma coisa dessas“, mas com ele não já que quer ser uma “oposição confiável”. E aí sugeriu que Montenegro o faz por razões eleitorais, ao afirmar: “O nosso primeiro interesse não é a nossa agenda no partido, é a agenda nacional, do interesse nacional“.

Luís Montenegro, que seria o último a falar, teve a vantagem de poder responder às críticas na própria intervenção. E por isso devolveria a crítica a Miguel Pinto Luz, acusando-o indiretamente de estar a ser demagogo. O antigo líder parlamentar criticou os “entendimentos” e a “demagogia” que se faz com o facto de ele ter dito que vota contra o orçamento do PS. Na introdução da crítica a Pinto Luz, Montenegro fez uma crítica a Rio (“não tenho a sorte, como outros, de ter os socialistas e os comentadores socialistas a falar bem deles”). E sugeria que dizer o contrário era naïf: “Alguém acredita que o PSD vai votar a favor do Orçamento do Estado? É preciso ver o documento? Estão à espera que traga uma novidade tão boa que nós vamos abster-nos ou votar contra?”

A maior parte dos ataques de Luís Montenegro seriam, sem surpresa, para Rui Rio. Disse que tinha respeito pela “vida política”, pelo trabalho dele em prol o PSD, mas que tinham uma “divergência de facto”. E que o disse desde o congresso que o consagrou: “Disse-lhe, olhos nos olhos, que o PSD não pode ser um partido subalterno do PS. Sobretudo um PS acorrentado ao PCP e ao BE”. Montenegro acha que, com essa estratégia, Rio só perdeu votos e ajudou a normalizar a “perceção” que os eleitores tinham do PS, já que “não recentrou o PSD, recentrou o PS. O PS que estava encostado ao BE e PCP e ficou mais centrado com a disponibilidade do PSD”.

Na mesma linha da sua apoiante Maria Luís Albuquerque, Luís Montenegro criticou quem não aceita a divergência de opinião no PSD e nem sequer disfarçou que se estava a referir a Rio, ao dizer que não aceita “um partido onde a liderança convida aqueles que pensam de forma diferente dela para abandonar o partido”. E acrescentou: “Temos de começar a ter cultura democrática dentro da nossa casa.”

Montenegro aproveitou ainda uma declaração de Rio horas antes (a tal de que os portugueses não querem uma “oposição troglodita”) para mais uma crítica, dizendo que o que defende “não é uma oposição troglodita, é oposição que não é pífia”. Leia-se: “pífia” como considera que a de Rui Rio é. Na fase de perguntas e respostas, por força das circunstâncias também apareceriam mais críticas ao líder por parte do antigo líder parlamentar.

Que ‘fato’ quiseram vestir os candidatos

Rui Rio, o senador, adotou a postura que tem adotado desde que arrancou o clima de campanha interna: fingir que não há campanha interna. Ao contrário do que fizeram os desafiadores, Rio não perdeu muito tempo com críticas diretas aos adversários e explicou-o no fim aos jornalistas: “Sei que há uma disputa interna mas vou fazer tudo para que não haja uma troca de argumentos em público porque, no fim, isto é uma disputa interna, e cabe aos militantes avaliar isso”. Rio preferiu vestir a pele de líder do partido para explicar aos militantes da “jota” por que razão faz uma oposição “credível” ao PS, em vez de uma oposição “troglodita”, e por que razão vai apostar tudo nas autárquicas porque é aí que se mede “a implantação real do partido”.

Luís Montenegro quis vestir o fato de candidato a primeiro-ministro, mais do que o de candidato ao PSD, para mostrar que já está a pensar no próximo passo. Para ele, mais do que diretas, as eleições do PSD são primárias para primeiro-ministro. Isto porque a sua candidatura, diz, “ultrapassa muito o universo do PSD e da estrutura do PSD como organização”, já que “projeta uma liderança política” para o país. E nesse projeto, não pede pouco, já que Montenegro quer ser primeiro-ministro de um governo com apoio parlamentar maioritário. “A alma do PSD está vocacionada para procurar uma maioria absoluta no Parlamento”, lembrou Luís Montenegro. Nas críticas à esquerda, de Centeno a à geringonça, Montenegro também quis exibir um discurso à líder da oposição que desafia o primeiro-ministro em funções.

Miguel Pinto Luz vestiu o fato de terceira via. Não a “terceira via” de Tony Blair, mas a via alternativa à bipolarização Rio-Montenegro que todos esperam. Desde logo, Pinto Luz não quer estar mais à esquerda, ao centro ou à direita, afastando-se da contenda dos adversários, uma vez que no PSD que idealizou cabem todos. Dos conservadores aos mais ao centro. No ataque ao PS também é no meio de Rio e Montenegro que Pinto Luz se posiciona: nem é tão radical ao ponto de recusar orçamentos que não leu, como não rejeita um PSD “subalterno do PS”.

A maior crítica ao PS

Rui Rio: “O PCP e o BE olham para os empresários como no século XIX, por isso não têm problema em complicar a legislação fiscal, burocratizar, não melhorar a formação profissional, tudo lógicas seguidas pelo PS que está amarrado à esquerda”.

Luís Montenegro: “Mário Centeno que é apelidado de Ronaldo, mas não é, a política dele é muito fácil [é aumentar a carga fiscal]. Tomáramos nós que tivesse o talento de Ronaldo e a agilidade de transferir as dificuldades em bom resultado, num golo.”

Miguel Pinto Luz: “Vivemos num país que gosta de nivelar por baixo. Isto é resultado do socialismo.”

Uma nova ideia para o partido

Rui Rio: Sendo líder em funções, Rui Rio não avançou com nenhuma ideia para mudar o partido, defendendo apenas que o PSD, estando na oposição, deve fazer uma oposição credível e não “troglodita”.

Luís Montenegro: Também não é uma ideia nova, mas é o elogio a uma medida do adversário: Manter o Conselho Estratégico Nacional, criado por Rui Rio, uma vez que considera que tem “méritos”.

Miguel Pinto Luz: Passar as eleições diretas para o último dia de congresso (domingo), de forma a tornar os congressos mais vivos e a disputa interna mais participada.

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