Asas da Montanha

07-12-2019
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Em consequência de todo este ambiente que nos envolve,
parece instalar-se
na sociedade a vacuidade e a estagnação. “Já
nenhuma ideologia é capaz de inflamar as multidões, a sociedade pós-moderna já
não tem ídolos nem tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si própria
ou projeto histórico mobilizador; doravante é o vazio que nos governa”.

Daqui nasce, segundo G. Lipovetsky, “um perfil iné­dito do
indivíduo nas relações consigo próprio e com o seu corpo, com outrem, com o mundo e com o tempo”.
A faceta mais notória deste perfil é o fascínio pelo autoconhecimento e pela autorrealização. Do mesmo modo que a planetarização não evita o nacionalismo (na Europa) e o tribalismo (em África), também a convivência
social não tem impedido a afirmação do indivíduo.

Sucede que esta afirmação tende hoje a fazer-se de forma
unilateral e prepotente. A individualidade é enten­dida e assumida não já como
dimensão irrenunciável da pessoa, mas como critério supremo de atuação. Neste contexto, o relacionamento humano deixa de ser pautado pelo princípio da convicção. Já não interessa
dialogar ou con­vencer, mas atrair e seduzir.

Acontece que, no fundo, esta estratégia volta-se con­tra os que a executam. O culto exacerbado do indivíduo
conduz inevitavelmente à objetivação das pessoas. O outro aparece não como parceiro ou
destinatário, passando a ser visto como objeto de que se desfruta e que se abandona quando não nos é útil.
É assim que a nossa época é tam­bém a época da solidão no meio da multidão.

O individualismo desponta, portanto, não apenas como uma opção, mas sobretudo como uma imposição. Não se pode falar, neste sentido, de
um acréscimo de felici­dade para o homem. O deslumbramento das conquistas
depressa deu lugar ao ceticismo, ao medo e até ao deses­pero.
Com efeito, muitas pessoas, apesar de disporem de recursos para viver, mostram
não ter “um sentido pelo qual viver”

Este dado é patente na procura desenfreada de formas de
evasão e torna-se
particularmente visível no consumismo
sexista, na violência (quase) institucionalizada e na corrupção incontrolada. O
êxito imediato parece ser o único estímulo, ficando as preocupações últimas da vida remetidas para uma
contínua penumbra.

Facilmente se
compreenderá que, numa situação como esta, é especialmente problemático o
acolhimento da men­sagem eclesiológica do Concílio, centrada na afirmação da
comunidade e dirigida para a consumação escatológica do Reino.

In "Continuará o Concílio atual?"


Em consequência de todo este ambiente que nos envolve,
parece instalar-se
na sociedade a vacuidade e a estagnação. “Já
nenhuma ideologia é capaz de inflamar as multidões, a sociedade pós-moderna já
não tem ídolos nem tabus, já não possui qualquer imagem gloriosa de si própria
ou projeto histórico mobilizador; doravante é o vazio que nos governa”.

Daqui nasce, segundo G. Lipovetsky, “um perfil iné­dito do
indivíduo nas relações consigo próprio e com o seu corpo, com outrem, com o mundo e com o tempo”.
A faceta mais notória deste perfil é o fascínio pelo autoconhecimento e pela autorrealização. Do mesmo modo que a planetarização não evita o nacionalismo (na Europa) e o tribalismo (em África), também a convivência
social não tem impedido a afirmação do indivíduo.

Sucede que esta afirmação tende hoje a fazer-se de forma
unilateral e prepotente. A individualidade é enten­dida e assumida não já como
dimensão irrenunciável da pessoa, mas como critério supremo de atuação. Neste contexto, o relacionamento humano deixa de ser pautado pelo princípio da convicção. Já não interessa
dialogar ou con­vencer, mas atrair e seduzir.

Acontece que, no fundo, esta estratégia volta-se con­tra os que a executam. O culto exacerbado do indivíduo
conduz inevitavelmente à objetivação das pessoas. O outro aparece não como parceiro ou
destinatário, passando a ser visto como objeto de que se desfruta e que se abandona quando não nos é útil.
É assim que a nossa época é tam­bém a época da solidão no meio da multidão.

O individualismo desponta, portanto, não apenas como uma opção, mas sobretudo como uma imposição. Não se pode falar, neste sentido, de
um acréscimo de felici­dade para o homem. O deslumbramento das conquistas
depressa deu lugar ao ceticismo, ao medo e até ao deses­pero.
Com efeito, muitas pessoas, apesar de disporem de recursos para viver, mostram
não ter “um sentido pelo qual viver”

Este dado é patente na procura desenfreada de formas de
evasão e torna-se
particularmente visível no consumismo
sexista, na violência (quase) institucionalizada e na corrupção incontrolada. O
êxito imediato parece ser o único estímulo, ficando as preocupações últimas da vida remetidas para uma
contínua penumbra.

Facilmente se
compreenderá que, numa situação como esta, é especialmente problemático o
acolhimento da men­sagem eclesiológica do Concílio, centrada na afirmação da
comunidade e dirigida para a consumação escatológica do Reino.

In "Continuará o Concílio atual?"

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