portugal dos pequeninos

15-12-2019
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«O direito a ser divertido é hoje um direito intocável do cidadão. Em Lisboa, por exemplo, o espaço público acabou por se tornar um espaço comum que toda a gente, ou quase toda a gente, pode usar para seu interesse ou conforto. A câmara não hesita em fechar ao trânsito partes da cidade, mesmo da cidade central, a benefício de um concurso de bandas (de género desconhecido ou ambíguo) ou de um acampamento de barraquinhas, que se instalaram no Rossio com um propósito misterioso. Segundo o jornal i, a Câmara de Lisboa até nem hesitou em se dotar de uma empresa, a EGEAC, com 183 funcionários para a conservação de salas (que, suponho, a cultura não deixou vender) e a organização de eventos, presumivelmente do agrado da populaça ou de meia dúzia de tontos que se acham beneméritos da humanidade. Ainda assim, o pior não é isso. O pior é que as freguesias imitaram essa política, que vinha de alto e que elas, coitadas, presumiam "moderna". Sexta, sábado e domingo, há, em Carnide, a partir de Maio, uma festa ou um baile, com uma espécie de música devastadora e penetrante, que não deixa dormir ninguém num raio de, pelo menos, dois quilómetros. Nunca a polícia interveio neste simpático exercício, que, suponho, considera inócuo e perfeitamente legal. Reparei agora que este hábito se estendeu pela província, perante a benevolência de autoridades que sofrem de insónias ou que não querem interferir com a democracia. Num Estado que proíbe tudo e regula tudo, a privacidade não conta. Só somos livres dentro de casa e com isolamento de som. A rua é de quem toma conta dela.» Vasco Pulido Valente, Público


«O direito a ser divertido é hoje um direito intocável do cidadão. Em Lisboa, por exemplo, o espaço público acabou por se tornar um espaço comum que toda a gente, ou quase toda a gente, pode usar para seu interesse ou conforto. A câmara não hesita em fechar ao trânsito partes da cidade, mesmo da cidade central, a benefício de um concurso de bandas (de género desconhecido ou ambíguo) ou de um acampamento de barraquinhas, que se instalaram no Rossio com um propósito misterioso. Segundo o jornal i, a Câmara de Lisboa até nem hesitou em se dotar de uma empresa, a EGEAC, com 183 funcionários para a conservação de salas (que, suponho, a cultura não deixou vender) e a organização de eventos, presumivelmente do agrado da populaça ou de meia dúzia de tontos que se acham beneméritos da humanidade. Ainda assim, o pior não é isso. O pior é que as freguesias imitaram essa política, que vinha de alto e que elas, coitadas, presumiam "moderna". Sexta, sábado e domingo, há, em Carnide, a partir de Maio, uma festa ou um baile, com uma espécie de música devastadora e penetrante, que não deixa dormir ninguém num raio de, pelo menos, dois quilómetros. Nunca a polícia interveio neste simpático exercício, que, suponho, considera inócuo e perfeitamente legal. Reparei agora que este hábito se estendeu pela província, perante a benevolência de autoridades que sofrem de insónias ou que não querem interferir com a democracia. Num Estado que proíbe tudo e regula tudo, a privacidade não conta. Só somos livres dentro de casa e com isolamento de som. A rua é de quem toma conta dela.» Vasco Pulido Valente, Público

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