portugal dos pequeninos

15-12-2019
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1. Há precisamente vinte anos, no dia 1 de Janeiro de 1986, Portugal passou a ser membro de pleno direito da então Comunidade Económica Europeia. O pedido de adesão ocorreria no final da década anterior, sob os auspícios de Mário Soares, então primeiro-ministro, e de José Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros. Coube, no entanto, a Cavaco Silva, graças às virtualidades das escolhas populares, dirigir, enquanto chefe do Governo, o período inicial de adaptação à integração europeia, entre 1986 e 1995. Para abreviar, recorro à opinião insuspeita de Vasco Pulido Valente, em 1995, numa entrevista a Maria João Avillez."MJA - De uma forma simplista, diz-se que o "cavaquismo" se dividiu em dois períodos: a um primeiro tempo atribuem-se todas as virtudes; a um segundo, concedem-se todos os malefícios.VPV - Não houve dois períodos. Houve primeiro que normalizar o país, ou seja, aproximá-lo do modelo de sociedade dos Estados do Ocidente: liquidar o peso do sector público na economia; fazer as privatizações; pôr termo às ambiguidades sobre a propriedade da terra e acabar com as UCPs; desnacionalizar os media ( a imprensa, a rádio, a televisão) ; modernizar o sistema fiscal que tinha trinta ou quarenta anos; restaurar o sistema financeiro; baixar a inflação e o deficit do Estado; aumentar o rendimento médio dos portugueses e o poder de compra das populações; modernizar as vias de comunicação e as telecomunicações; garantir a cobertura hospitalar; aumentar a escolaridade obrigatória; restaurar o parque escolar; restabelecer o ensino tecnico profissional, destruído pela revolução; aumentar o acesso ao ensino superior...MJA - E por aí fora...VPV - E por aí fora. Ou seja, fazer em Portugal o que, na essência, fora feito na Europa entre 1948 e 1973. Em circunstâncias muito mais desfavoráveis, porque esses vinte e cinco anos foram para os países Europeus e para os Estados Unidos, os anos de maior expansão historicamente registados."2. "Por isso se apresentam tão decisivas as próximas eleições presidenciais. Nessas eleições os Portugueses terão de optar entre o esvaziamento da acção mobilizadora do Presidente da República e a identificação de um referencial de mudança. Entre a retórica inconsequente e a acção serena e determinada. Entre o egoísmo de quem está agarrado ao passado e a responsabilidade de saber que as novas gerações exigem mais de nós." Vinte anos depois, Cavaco Silva está muito provavelmente a cerca de vinte dias de poder ser escolhido livremente como Presidente da República, sem medos nem temores reverenciais.


1. Há precisamente vinte anos, no dia 1 de Janeiro de 1986, Portugal passou a ser membro de pleno direito da então Comunidade Económica Europeia. O pedido de adesão ocorreria no final da década anterior, sob os auspícios de Mário Soares, então primeiro-ministro, e de José Medeiros Ferreira, ministro dos Negócios Estrangeiros. Coube, no entanto, a Cavaco Silva, graças às virtualidades das escolhas populares, dirigir, enquanto chefe do Governo, o período inicial de adaptação à integração europeia, entre 1986 e 1995. Para abreviar, recorro à opinião insuspeita de Vasco Pulido Valente, em 1995, numa entrevista a Maria João Avillez."MJA - De uma forma simplista, diz-se que o "cavaquismo" se dividiu em dois períodos: a um primeiro tempo atribuem-se todas as virtudes; a um segundo, concedem-se todos os malefícios.VPV - Não houve dois períodos. Houve primeiro que normalizar o país, ou seja, aproximá-lo do modelo de sociedade dos Estados do Ocidente: liquidar o peso do sector público na economia; fazer as privatizações; pôr termo às ambiguidades sobre a propriedade da terra e acabar com as UCPs; desnacionalizar os media ( a imprensa, a rádio, a televisão) ; modernizar o sistema fiscal que tinha trinta ou quarenta anos; restaurar o sistema financeiro; baixar a inflação e o deficit do Estado; aumentar o rendimento médio dos portugueses e o poder de compra das populações; modernizar as vias de comunicação e as telecomunicações; garantir a cobertura hospitalar; aumentar a escolaridade obrigatória; restaurar o parque escolar; restabelecer o ensino tecnico profissional, destruído pela revolução; aumentar o acesso ao ensino superior...MJA - E por aí fora...VPV - E por aí fora. Ou seja, fazer em Portugal o que, na essência, fora feito na Europa entre 1948 e 1973. Em circunstâncias muito mais desfavoráveis, porque esses vinte e cinco anos foram para os países Europeus e para os Estados Unidos, os anos de maior expansão historicamente registados."2. "Por isso se apresentam tão decisivas as próximas eleições presidenciais. Nessas eleições os Portugueses terão de optar entre o esvaziamento da acção mobilizadora do Presidente da República e a identificação de um referencial de mudança. Entre a retórica inconsequente e a acção serena e determinada. Entre o egoísmo de quem está agarrado ao passado e a responsabilidade de saber que as novas gerações exigem mais de nós." Vinte anos depois, Cavaco Silva está muito provavelmente a cerca de vinte dias de poder ser escolhido livremente como Presidente da República, sem medos nem temores reverenciais.

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