portugal dos pequeninos

15-12-2019
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Ainda ontem, por causa de Chávez, chamava a atenção para as desventuras de uma diplomacia tagarela, no sentido que Heidegger atribui ao termo tagarela. Luís Amado tem sido um razoável MNE se bem que pudesse ser um razoável ministro de outra coisa qualquer. Acontece que um representante de um país, mesmo do nosso, não pode afirmar levianamente, e numa fase em que a matéria já foi longe demais, que "é preferível" que Mugabe não viesse à gloriosa "cimeira Europa-África", a cereja que falta no bolo da presidência portuguesa. Das duas, uma. Ou Portugal, presidente temporário da Europa do respeito pelos mais elementares direitos humanos, não admite a presença do ditador africano - e de outros como ele que falam correctamente português, por exemplo -, ou admite, em nome do "sucesso" e da fotografia contra os princípios. O "é preferível" quer dizer "eu até disse que era bom ele não vir, mas já que veio, paciência." Com o devido respeito, é seguramente voz que não chega às orelhas moucas e tortuosas do sr. Mugabe. Já agora, por que é que o governo português não pede a opinião de uma das suas musas inspiradoras, o alto comissário Guterres? Talvez ele pudesse esclarecer os milhares de vidas humanas de diferença entre o "é preferível" e o "não o queremos cá". A diplomacia tagarela também vive dos seus silêncios e da sua ambiguidade. É a vida, onde ela escasseia.


Ainda ontem, por causa de Chávez, chamava a atenção para as desventuras de uma diplomacia tagarela, no sentido que Heidegger atribui ao termo tagarela. Luís Amado tem sido um razoável MNE se bem que pudesse ser um razoável ministro de outra coisa qualquer. Acontece que um representante de um país, mesmo do nosso, não pode afirmar levianamente, e numa fase em que a matéria já foi longe demais, que "é preferível" que Mugabe não viesse à gloriosa "cimeira Europa-África", a cereja que falta no bolo da presidência portuguesa. Das duas, uma. Ou Portugal, presidente temporário da Europa do respeito pelos mais elementares direitos humanos, não admite a presença do ditador africano - e de outros como ele que falam correctamente português, por exemplo -, ou admite, em nome do "sucesso" e da fotografia contra os princípios. O "é preferível" quer dizer "eu até disse que era bom ele não vir, mas já que veio, paciência." Com o devido respeito, é seguramente voz que não chega às orelhas moucas e tortuosas do sr. Mugabe. Já agora, por que é que o governo português não pede a opinião de uma das suas musas inspiradoras, o alto comissário Guterres? Talvez ele pudesse esclarecer os milhares de vidas humanas de diferença entre o "é preferível" e o "não o queremos cá". A diplomacia tagarela também vive dos seus silêncios e da sua ambiguidade. É a vida, onde ela escasseia.

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