Luís Graça > Blogpoesia: Blogantologia(s) II

20-06-2020
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Lourinhã > Praia de Vale de Frades > 8 de Junho de 2007 > É um pássaro, diz ela. De areia. Ferido de morte.Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.Para o Idálio Reis e os bravos da CCAÇ 2317 (Gandembel/Ponte Balana, 1968/69), com um Alfa Bravo (abraço) (1)É um pássaro.De areia.Diz ela.Ferido de morte.Uma jurássica ave de arribaçãoque te veio anunciar a peste.Peste branca. Preta. Vermelha.Vírus do Nilo.Dengue.Al Qaeda.O tchador.A burkha.A mulher dengosa.A expulsão do paraíso.A língua veperina.O caduceu do Asclépio.Febre hemorrágica.Sida.Terror nuclear.Pandemia. Amarela.Bílis negra.Os neutrões.A língua azul dos camelos.O vírus influenzados gansos selvagens.A gripe das gaivotas-ratazanas.A implosão dos neurónios.O buraco do ozono.A febre da carraça.Malária, paludismo, sezonismo.A doença de Creutzfeldt-JakobO mal de viver.Os vectores das doenças emergentes.As metástases pancreátricas.O pão transgénico.As setas pragas do Egipto.A estátua jazente de um deus aladoque morreu nas dunas.Diz ele.Por fadiga. Burn-out. Desidratação.O irã que largou o poilãoe morreu de infinita tristeza.Vidrado.Varado por um tiro de Kalash.Ou um náufrago da costa de ouro, marfim e prata.A escassos metros da meta.À entrada do paraíso.Da reserva ecológica.Dos abrigos à prova de canhão sem recuoda Europa imaginada.Blindada.Terá atravessado os campos de golfe magnéticosque eram verdes.Diz ela.Na rota das Canárias e do Saará,segue sempre em frentee encontrarás o paraíso.Já.Ou encontravas.Diz ele.Aqui jaz.Agora.Na areia da praia.O soldado.Desconhecido.Número tal.Que terá vindo de Gandembel,sobrevoando Ponte Balana.Sem senhanem contra-senhanem ração de combate.Nem requisição de transporte.Nem vistoou simples carta de chamadada Pátria.Nem sequer muda de roupapara o além.Simplesmente morto por uma roquetada.O puro terror dos fornilhos,diz ele.A cilada.A emboscada.As pirogas à deriva.A guerra elevada à categoria de artedo predador.Generalíssimo.As tripas de forade um deus-menino.O pássaro.De fogo.Desintegrado.Oh! Gandembel das morteiradas,dos abrigos de madeiraonde nós, pobres soldados,imitamos a toupeira.-diz ele.In memoriam.A morte, sem legenda,a asfixia, sem escape,a exaustão, sem honra,os nervos de aço esfrangalhadosdo soldado-toupeira,o envenenamento das fontes de águaque corria doce e triste,o triste rio Balana,triste como todos os rios da Guiné,o céu trespassado por setas envenenadas,o napalm,o RPG-Sete.O pássaro de areia, diz ela.- Quem vem lá ?Cala-se o dari (2) no Cantanhez.E as gazelas na orla das bolanhas da zona leste.Para se poder ouvir o tiro tenso do vooda ave mortal da madrugada.__________Notas de L.G.:(1) Vd. post de 18 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)(2) Chimpanzé


Lourinhã > Praia de Vale de Frades > 8 de Junho de 2007 > É um pássaro, diz ela. De areia. Ferido de morte.Foto: © Luís Graça (2007). Direitos reservados.Para o Idálio Reis e os bravos da CCAÇ 2317 (Gandembel/Ponte Balana, 1968/69), com um Alfa Bravo (abraço) (1)É um pássaro.De areia.Diz ela.Ferido de morte.Uma jurássica ave de arribaçãoque te veio anunciar a peste.Peste branca. Preta. Vermelha.Vírus do Nilo.Dengue.Al Qaeda.O tchador.A burkha.A mulher dengosa.A expulsão do paraíso.A língua veperina.O caduceu do Asclépio.Febre hemorrágica.Sida.Terror nuclear.Pandemia. Amarela.Bílis negra.Os neutrões.A língua azul dos camelos.O vírus influenzados gansos selvagens.A gripe das gaivotas-ratazanas.A implosão dos neurónios.O buraco do ozono.A febre da carraça.Malária, paludismo, sezonismo.A doença de Creutzfeldt-JakobO mal de viver.Os vectores das doenças emergentes.As metástases pancreátricas.O pão transgénico.As setas pragas do Egipto.A estátua jazente de um deus aladoque morreu nas dunas.Diz ele.Por fadiga. Burn-out. Desidratação.O irã que largou o poilãoe morreu de infinita tristeza.Vidrado.Varado por um tiro de Kalash.Ou um náufrago da costa de ouro, marfim e prata.A escassos metros da meta.À entrada do paraíso.Da reserva ecológica.Dos abrigos à prova de canhão sem recuoda Europa imaginada.Blindada.Terá atravessado os campos de golfe magnéticosque eram verdes.Diz ela.Na rota das Canárias e do Saará,segue sempre em frentee encontrarás o paraíso.Já.Ou encontravas.Diz ele.Aqui jaz.Agora.Na areia da praia.O soldado.Desconhecido.Número tal.Que terá vindo de Gandembel,sobrevoando Ponte Balana.Sem senhanem contra-senhanem ração de combate.Nem requisição de transporte.Nem vistoou simples carta de chamadada Pátria.Nem sequer muda de roupapara o além.Simplesmente morto por uma roquetada.O puro terror dos fornilhos,diz ele.A cilada.A emboscada.As pirogas à deriva.A guerra elevada à categoria de artedo predador.Generalíssimo.As tripas de forade um deus-menino.O pássaro.De fogo.Desintegrado.Oh! Gandembel das morteiradas,dos abrigos de madeiraonde nós, pobres soldados,imitamos a toupeira.-diz ele.In memoriam.A morte, sem legenda,a asfixia, sem escape,a exaustão, sem honra,os nervos de aço esfrangalhadosdo soldado-toupeira,o envenenamento das fontes de águaque corria doce e triste,o triste rio Balana,triste como todos os rios da Guiné,o céu trespassado por setas envenenadas,o napalm,o RPG-Sete.O pássaro de areia, diz ela.- Quem vem lá ?Cala-se o dari (2) no Cantanhez.E as gazelas na orla das bolanhas da zona leste.Para se poder ouvir o tiro tenso do vooda ave mortal da madrugada.__________Notas de L.G.:(1) Vd. post de 18 de Setembro de 2007 > Guiné 63/74 - P2117: Fotobiografia da CCAÇ 2317 (1968/70) (Idálio Reis) (10): O terror das colunas no corredor da morte (Gandembel, Guileje)(2) Chimpanzé

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