Os homens desentendidos e o problema feminino do PSD

27-02-2020
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Ouvida da bancada destinada aos observadores, a aguardada intervenção de Luis Montenegro no 38º congresso do PSD não ajudou à concórdia da família social-democrata. Não se percebeu se havia ali claque organizada, mas, enquanto o antigo líder parlamentar falava, só se ouviam apupos, insultos e provocações, situação que até motivou reprimendas de Paulo Mota Pinto, presidente da mesa. O FC Porto-Benfica da noite não era para ali chamado, mas o ambiente bem parecia decalcado do ambiente de estádio, em dia de confronto entre rivais.

“Exijam mais os dirigentes”, pedia Montenegro.

“Olha para ti!”, respondiam.

“Nós não somos o partido da troika e da austeridade”, frisava.

“Aaaaaaah…Ai agora já não?!”, reagia um coro “laranja”, carregando na ironia.

Quando o candidato derrotado por Rui Rio na corrida à liderança começou a receber avisos da mesa de que estaria a ultrapassar o seu tempo de oratória, a bancada reagiu como se reclamasse ao árbitro o apito final. “Já chega!”, insistiam, em gritaria. Luís Montenegro ainda sugeriu ao primeiro-ministro António Costa que fizesse as malas e fosse à sua vida. “Vai tu!”, ouviu, logo de seguida.

O ex-candidato à liderança sentiu o toque, apesar de manter aquele ar de galã sereno de filmes datados. “Há demasiada crispação, agressividade verbal e fanatismo. O PSD precisa de respirar mais liberdade.”. A saída foi pela esquerda baixa, com a bancada ululante.

Hugo Soares, esse, está de bem com a vida, sem desassossegos, pelo menos aparentemente. É ele próprio quem o diz. Contudo, se um marciano caísse aos trambolhões no congresso, o ex-líder da bancada “laranja” na Assembleia da República mais parecia o líder da oposição interna, embora nunca se tenha chegado à frente. No veneno, não poupou nem uma gota: “O PSD saiu reforçado onde?”, questionou, recordando o fraco resultado eleitoral nas legislativas. “Nós, no PSD, não nos congratulamos com as vitórias de António Costa”, afirmou, desafiando o estilo de oposição alegadamente passiva: “É a hora de deixarmos de ser socialistas de segunda.”. Os apupos não tardaram. “Aplausos e assobios são sempre música para os meus ouvidos”, reagiu, antes de ir também à sua vida.

Da parte do autarca Miguel Pinto Luz, outro dos adversários de Rio nas eleições internas, tudo pareceu pacificado. Melhor ainda para o bem estar do clã: o vice-presidente da Câmara de Cascais protegeu Rio de futuros ataques e deixou as indiretas para os protagonistas de “cinismos e tacticismos”, resguardados numa espécie de “reserva senatorial.”. Dito isto, e “talvez mais cedo do que tarde”, Rui Rio será, segundo Paulo Rangel, “primeiro-ministro de Portugal”.

Era difícil fazer a síntese entre tantos homens desentendidos sobre o diagnóstico e as linhas com que se cose o PSD.

Será um problema de género? “Não posso ter um congresso com mais de 80 por cento de homens!”, disse, ao início da tarde, Lina Lopes, com leve indignação, aos delegados do PSD. A coordenadora da estrutura informal das Mulheres Sociais-Democratas não acredita no que vê – “mais de 900 congressistas e apenas 180 mulheres” – mas, de momento, é o que tem. Se os socialistas, segundo a deputada, falam em igualdade por ser “giro” e ajudar a ornamentar o discurso da igualdade, o partido liderado por Rui Rio continua sem resolver o problema da paridade ou, pelo menos, torná-lo menos escandaloso em momentos tão solenes como o de Viana do Castelo. “Este é um congresso de homens”, resumiu a parlamentar social-democrata e sindicalista, resignada às evidências, mas desafiando o líder a tomar o assunto em mãos.

Nuno Morais Sarmento foi quem acabou por vir em seu socorro, embora com mais floreados e sem propostas: pretendendo homenagear o trabalho de mais de quarenta anos de diversas funcionárias ao serviço do PSD, chamou ao palco uma delas – Margarida Ferro – nomeou as outras e arrancou um dos mais sonoros aplausos da tarde de sábado relevando a entrega e dedicação feminina ao partido. Miminhos, as mulheres do PSD já têm. A igualdade, essa, pode esperar.

Ouvida da bancada destinada aos observadores, a aguardada intervenção de Luis Montenegro no 38º congresso do PSD não ajudou à concórdia da família social-democrata. Não se percebeu se havia ali claque organizada, mas, enquanto o antigo líder parlamentar falava, só se ouviam apupos, insultos e provocações, situação que até motivou reprimendas de Paulo Mota Pinto, presidente da mesa. O FC Porto-Benfica da noite não era para ali chamado, mas o ambiente bem parecia decalcado do ambiente de estádio, em dia de confronto entre rivais.

“Exijam mais os dirigentes”, pedia Montenegro.

“Olha para ti!”, respondiam.

“Nós não somos o partido da troika e da austeridade”, frisava.

“Aaaaaaah…Ai agora já não?!”, reagia um coro “laranja”, carregando na ironia.

Quando o candidato derrotado por Rui Rio na corrida à liderança começou a receber avisos da mesa de que estaria a ultrapassar o seu tempo de oratória, a bancada reagiu como se reclamasse ao árbitro o apito final. “Já chega!”, insistiam, em gritaria. Luís Montenegro ainda sugeriu ao primeiro-ministro António Costa que fizesse as malas e fosse à sua vida. “Vai tu!”, ouviu, logo de seguida.

O ex-candidato à liderança sentiu o toque, apesar de manter aquele ar de galã sereno de filmes datados. “Há demasiada crispação, agressividade verbal e fanatismo. O PSD precisa de respirar mais liberdade.”. A saída foi pela esquerda baixa, com a bancada ululante.

Hugo Soares, esse, está de bem com a vida, sem desassossegos, pelo menos aparentemente. É ele próprio quem o diz. Contudo, se um marciano caísse aos trambolhões no congresso, o ex-líder da bancada “laranja” na Assembleia da República mais parecia o líder da oposição interna, embora nunca se tenha chegado à frente. No veneno, não poupou nem uma gota: “O PSD saiu reforçado onde?”, questionou, recordando o fraco resultado eleitoral nas legislativas. “Nós, no PSD, não nos congratulamos com as vitórias de António Costa”, afirmou, desafiando o estilo de oposição alegadamente passiva: “É a hora de deixarmos de ser socialistas de segunda.”. Os apupos não tardaram. “Aplausos e assobios são sempre música para os meus ouvidos”, reagiu, antes de ir também à sua vida.

Da parte do autarca Miguel Pinto Luz, outro dos adversários de Rio nas eleições internas, tudo pareceu pacificado. Melhor ainda para o bem estar do clã: o vice-presidente da Câmara de Cascais protegeu Rio de futuros ataques e deixou as indiretas para os protagonistas de “cinismos e tacticismos”, resguardados numa espécie de “reserva senatorial.”. Dito isto, e “talvez mais cedo do que tarde”, Rui Rio será, segundo Paulo Rangel, “primeiro-ministro de Portugal”.

Era difícil fazer a síntese entre tantos homens desentendidos sobre o diagnóstico e as linhas com que se cose o PSD.

Será um problema de género? “Não posso ter um congresso com mais de 80 por cento de homens!”, disse, ao início da tarde, Lina Lopes, com leve indignação, aos delegados do PSD. A coordenadora da estrutura informal das Mulheres Sociais-Democratas não acredita no que vê – “mais de 900 congressistas e apenas 180 mulheres” – mas, de momento, é o que tem. Se os socialistas, segundo a deputada, falam em igualdade por ser “giro” e ajudar a ornamentar o discurso da igualdade, o partido liderado por Rui Rio continua sem resolver o problema da paridade ou, pelo menos, torná-lo menos escandaloso em momentos tão solenes como o de Viana do Castelo. “Este é um congresso de homens”, resumiu a parlamentar social-democrata e sindicalista, resignada às evidências, mas desafiando o líder a tomar o assunto em mãos.

Nuno Morais Sarmento foi quem acabou por vir em seu socorro, embora com mais floreados e sem propostas: pretendendo homenagear o trabalho de mais de quarenta anos de diversas funcionárias ao serviço do PSD, chamou ao palco uma delas – Margarida Ferro – nomeou as outras e arrancou um dos mais sonoros aplausos da tarde de sábado relevando a entrega e dedicação feminina ao partido. Miminhos, as mulheres do PSD já têm. A igualdade, essa, pode esperar.

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