A insustentável leveza de Luis Duque

28-06-2020
marcar artigo


Luís Duque, ( cujo o regresso ao Sporting é indiscutivelmente uma mais valia, mesmo considerando as diferenças que me separam),  será tudo menos inexperiente e certamente que não é ingénuo. É-me por isso difícil de perceber como, na sua recente entrevista à RTPn, tenha misturado alhos com bogalhos ao proferir a seguinte afirmação: 
"Não desculpo erros de gestão do clube com os árbitros. No final, as contas entre os clubes ficam todas iguais. Estive um ano como presidente da SAD e não me viram desculpar-me com erros dos árbitros".  
Não duvido da boa intenção de Duque ao fazer aquela declaração, certamente motivado pela implementação de uma nova postura num clube que procura agora soluções e está farto de desculpas. E, porque não dizê-lo, demarcando-se dos que choram fortunas gastas em jogadores que acabaram por se tornar num dos principais adversários, como foi o caso de Roberto o ano passado. Mas Luís Duque não podia esquecer-se das especificidades do futebol português, em especial do mundo particular que se vive na arbitragem há muitos anos, onde um quadro de árbitros genericamente medíocre vive subjugado aos interesses de quem detém o poder de decidir sobre as suas carreiras e sobre os seus proventos, nada negligenciáveis, diga-se. 
Foi um erro estratégico do qual já se pagam juros. Após a péssima actuação de toda a equipa de arbitragem no jogo de sábado teve que ser o administrador geral Carlos Freitas a assumir o protesto e a indignação. Duque teve que ficar calado, sob pena de se desdizer com a diferença de poucos dias e limitando também a acção de Godinho Lopes e toda a direcção, que também não quererá dar uma ideia dissonante do seu vice-presidente. Ora o que é necessário em alturas como estas é precisamente uma posição dura e ao mais alto nível da instituição que, convenhamos, Carlos Freitas não representa, pese a forma categórica como refutou a actuação do árbitro. Nem pode ser alcançado com a estampagem da indignação na primeira página no jornal do clube. Creio que, chegados aqui, e depois do que assistimos no sábado, cabe a Luís Duque retomar o assunto, pondo as virgulas e os pontos onde eles devem estar. Essa é única forma de desatar o Sporting, permitindo uma reacção adequada à gravidade do sucedido. De outra forma Alvalade e qualquer outro campo onde o Sporting se desloque serão sempre uma quinta para os homens do apito. 
Não sou ingénuo para pensar que o famigerado e quase estéril processo "Apito Dourado" fez desaparecer a rede que sustenta o poderio do FCP e que o SLB não beneficiou do período que se seguiu para se instalar nas caves do futebol português e com isso alavancar um título. Mas também não irei tão longe sustentando que os erros de arbitragem registados em Alvalade contra o Sporting e que os lances duvidosos registados nos jogos dos nossos adversários fazem parte de um complot para nos afastar do campeonato. No entanto, se assim fosse, seria apenas a reedição do sucedido nos anos 80 e 90, numa saga pornográfica protagonizada por artistas do calibre dos Calheiros, Martins dos Santos, João Mesquita, Soares Dias, Guímaro, José Silvano, José Leirós, dinastia Paraty e tantos outros.
Os erros no futebol, tal como na vida, existirão sempre. Não se trata de perseguir os que erram, em particular os árbitros, ou correríamos os risco de acabar sem ninguém disponível para arbitrar, ou até, quem sabe, pontas-de-lança para jogar no Sporting... O que o Sporting tem é que pugnar pelo respeito do clube e da sua equipa de futebol, dos seus profissionais e dos seus adeptos, coisa que não ocorre actualmente, pelo tratamento diferenciado que lhe é dispensado, dos dirigentes aos meios de comunicação social, face aos seus rivais. Errar contra o Sporting, ou tomar decisões que o prejudicam, parece às vezes uma modalidade desportiva e com muitos candidatos a campeões. 
Lembro-me agora do Manifesto Por Um Debate Diferente Sobre oFuturo do Sporting, movimento surgido na altura das eleições e que, no fragor da disputa eleitoral, terá passado despercebido a muitos Sportinguistas, e cuja leitura recomendo mais uma vez.  Recupero o que era então defendido como posição a adoptar pelo clube no contexto do futebol nacional e que passo a citar: o clube tem não apenas de pensar a sua identidade mas impô-la. Primeiro, o clube tem de retomar a liderança do debate sobre o futebol em Portugal. Que modelo de organização para o nosso futebol? Que mudanças na arbitragem e, em particular, nos critérios de avaliação dos árbitros? O clube poderia sugerir, por exemplo, que a classificação anual dos árbitros assentasse mais na sua coerência de critérios do que em erros individuais. Isto exigiria uma comparação entre os critérios adoptados pelos árbitros não só em diferentes lances mas também em diferentes jogos o que permitiria, igualmente, controlar os próprios avaliadores.
O Sporting pode continuar a investir o que tem e o que não tem em jogadores e técnicos e aprimorar a sua organização interna mas nunca conseguirá mais do que vitórias pontuais se continuar a alhear-se por muito mais tempo do meio e das condições especificas em que disputa as competições e em particular o campeonato nacional de futebol. Luís Duque sabe-lo-à melhor do que ninguém porque não chegou ontem ao futebol, pelo que não pode olhar para o fenómeno de forma tão ligeira como o fez na entrevista à RTPn.

Share This:  
 Facebook Twitter Google+ Stumble Digg


Luís Duque, ( cujo o regresso ao Sporting é indiscutivelmente uma mais valia, mesmo considerando as diferenças que me separam),  será tudo menos inexperiente e certamente que não é ingénuo. É-me por isso difícil de perceber como, na sua recente entrevista à RTPn, tenha misturado alhos com bogalhos ao proferir a seguinte afirmação: 
"Não desculpo erros de gestão do clube com os árbitros. No final, as contas entre os clubes ficam todas iguais. Estive um ano como presidente da SAD e não me viram desculpar-me com erros dos árbitros".  
Não duvido da boa intenção de Duque ao fazer aquela declaração, certamente motivado pela implementação de uma nova postura num clube que procura agora soluções e está farto de desculpas. E, porque não dizê-lo, demarcando-se dos que choram fortunas gastas em jogadores que acabaram por se tornar num dos principais adversários, como foi o caso de Roberto o ano passado. Mas Luís Duque não podia esquecer-se das especificidades do futebol português, em especial do mundo particular que se vive na arbitragem há muitos anos, onde um quadro de árbitros genericamente medíocre vive subjugado aos interesses de quem detém o poder de decidir sobre as suas carreiras e sobre os seus proventos, nada negligenciáveis, diga-se. 
Foi um erro estratégico do qual já se pagam juros. Após a péssima actuação de toda a equipa de arbitragem no jogo de sábado teve que ser o administrador geral Carlos Freitas a assumir o protesto e a indignação. Duque teve que ficar calado, sob pena de se desdizer com a diferença de poucos dias e limitando também a acção de Godinho Lopes e toda a direcção, que também não quererá dar uma ideia dissonante do seu vice-presidente. Ora o que é necessário em alturas como estas é precisamente uma posição dura e ao mais alto nível da instituição que, convenhamos, Carlos Freitas não representa, pese a forma categórica como refutou a actuação do árbitro. Nem pode ser alcançado com a estampagem da indignação na primeira página no jornal do clube. Creio que, chegados aqui, e depois do que assistimos no sábado, cabe a Luís Duque retomar o assunto, pondo as virgulas e os pontos onde eles devem estar. Essa é única forma de desatar o Sporting, permitindo uma reacção adequada à gravidade do sucedido. De outra forma Alvalade e qualquer outro campo onde o Sporting se desloque serão sempre uma quinta para os homens do apito. 
Não sou ingénuo para pensar que o famigerado e quase estéril processo "Apito Dourado" fez desaparecer a rede que sustenta o poderio do FCP e que o SLB não beneficiou do período que se seguiu para se instalar nas caves do futebol português e com isso alavancar um título. Mas também não irei tão longe sustentando que os erros de arbitragem registados em Alvalade contra o Sporting e que os lances duvidosos registados nos jogos dos nossos adversários fazem parte de um complot para nos afastar do campeonato. No entanto, se assim fosse, seria apenas a reedição do sucedido nos anos 80 e 90, numa saga pornográfica protagonizada por artistas do calibre dos Calheiros, Martins dos Santos, João Mesquita, Soares Dias, Guímaro, José Silvano, José Leirós, dinastia Paraty e tantos outros.
Os erros no futebol, tal como na vida, existirão sempre. Não se trata de perseguir os que erram, em particular os árbitros, ou correríamos os risco de acabar sem ninguém disponível para arbitrar, ou até, quem sabe, pontas-de-lança para jogar no Sporting... O que o Sporting tem é que pugnar pelo respeito do clube e da sua equipa de futebol, dos seus profissionais e dos seus adeptos, coisa que não ocorre actualmente, pelo tratamento diferenciado que lhe é dispensado, dos dirigentes aos meios de comunicação social, face aos seus rivais. Errar contra o Sporting, ou tomar decisões que o prejudicam, parece às vezes uma modalidade desportiva e com muitos candidatos a campeões. 
Lembro-me agora do Manifesto Por Um Debate Diferente Sobre oFuturo do Sporting, movimento surgido na altura das eleições e que, no fragor da disputa eleitoral, terá passado despercebido a muitos Sportinguistas, e cuja leitura recomendo mais uma vez.  Recupero o que era então defendido como posição a adoptar pelo clube no contexto do futebol nacional e que passo a citar: o clube tem não apenas de pensar a sua identidade mas impô-la. Primeiro, o clube tem de retomar a liderança do debate sobre o futebol em Portugal. Que modelo de organização para o nosso futebol? Que mudanças na arbitragem e, em particular, nos critérios de avaliação dos árbitros? O clube poderia sugerir, por exemplo, que a classificação anual dos árbitros assentasse mais na sua coerência de critérios do que em erros individuais. Isto exigiria uma comparação entre os critérios adoptados pelos árbitros não só em diferentes lances mas também em diferentes jogos o que permitiria, igualmente, controlar os próprios avaliadores.
O Sporting pode continuar a investir o que tem e o que não tem em jogadores e técnicos e aprimorar a sua organização interna mas nunca conseguirá mais do que vitórias pontuais se continuar a alhear-se por muito mais tempo do meio e das condições especificas em que disputa as competições e em particular o campeonato nacional de futebol. Luís Duque sabe-lo-à melhor do que ninguém porque não chegou ontem ao futebol, pelo que não pode olhar para o fenómeno de forma tão ligeira como o fez na entrevista à RTPn.

Share This:  
 Facebook Twitter Google+ Stumble Digg

marcar artigo