Nós os Poucos...: A exumação de Franco e a trincheira ideológica.

14-12-2019
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Quando
Franco morreu foi sepultado na Basílica do Vale dos Caídos. O Vale dos Caído é
um monumento imponente, construído durante o franquismo para sepultar os mortos
de ambos os lados da Guerra Civil de Espanha.

A
retirada dos restos mortais de Franco do Vale é uma guerra antiga da esquerda,
que Pedro Sanchéz decidiu levar até ao fim. Por isso há duas semanas, depois de
um processo atribulado, Franco foi exumado e os seus restos mortais transladados
para o mesmo cemitério onde está enterrada a sua mulher, com acesso restrito ao
seu túmulo.

O que mais me impressionou na exumação de
Franco não foi o facto em si, mas a irresponsabilidade de Pedro Sanchéz.

Espanha
não tem um problema com o franquismo. Para além de umas centenas de caturras
que todos os anos participavam numa missa e cantavam o Cara al Sol, não se conhecem movimentos políticos ou sociais a
gritar pelo regresso do franquismo. A transição para a democracia em Espanha
foi um sucesso.

Esta
decisão, de exumar Franco, foi feita apenas com um fim político: garantir poder
ao PSOE. Ao exumar Franco, Sanchéz colocou em cheque o PP e o Ciudadanos(se são
contra são fascistas, se são a favor são traidores, se não têm opinião,
cobardes) e deu força ao Vox que vestiu a pele da direita corajosa,
verdadeiramente espanhola, sem medo de enfrentar o “politicamente correcto”.     

E
dar força ao Vox serve os propósitos de Sanchéz que aposta tudo numa
polarização de Espanha. Sanchéz exumou Franco para causar revolta na direita,
para logo a seguir poder gritar: vêm aí os fascistas! O presidente do governo
espanhol quer ganhar as eleições à custa da divisão das duas espanhas. Quer
aprofundar essa divisão e estabelecer-se como o campeão da esquerda.

Esta
política seria sempre perigosa. Mas é mais perigosa num país onde os avós dos
actuais eleitores, mataram e morreram por causa destas divisões. Num país onde
a cicatriz da guerra e da ditadura ainda não está fechada. Pelo poder, Sanchéz
demonstra-se disposto a reabrir essa cicatriz o mais profundamente possível.

Infelizmente,
Pedro Sanchéz não é um caso isolado, mas uma tendência cada vez mais
disseminada. A política está cada vez mais polarizada. Cada vez mais os
políticos aproveitam o descontentamento popular para fazer uma política de
trincheira, transformando os adversários em inimigos a abater. Esta política
afasta os moderados e abre o campo para eleições disputadas por Trump e Clinton,
Bolsonaro e Haddad, Jonhson e Corbyn.

Mas
não se confunda a moderação com uma ausência de firmeza. E não se confunda
ideais com ideologia. Aquilo a que assistimos é a uma política cada vez mais
ideológica. Ou seja, uma política onde um meio para atingir o bem comum é
transformado num fim em si mesmo, transformando quem discorda num adversário,
com o qual não é possível qualquer hipótese de diálogo.

Pensemos,
por exemplo, na luta pela igual dignidade de todas as pessoas. Esta luta pela
igualdade, transformada num fim em si mesmo, permite colocar a igualdade acima
da dignidade humana. Por isso, em nome da igualdade entre homem e mulher, se
defende o aborto. E transforma-se quem é contra o aborto num inimigo da mulher!
Mas não nos enganemos, o contrário também é possível. É possível proclamar a
defesa da herança cristã da Europa até ao ponto de estarmos dispostos a
permitir que morram pessoas no Mediterrâneo.

A
defesa do bem comum exige a capacidade de diálogo com quem discorda de mim, de
construir em conjunto, de procurar, não consensos, mas pontos comuns a partir
dos quais seja possível trabalhar para a sociedade. Evidentemente que em
política tem que haver debate, discussão. Tem que haver quem ganha e quem
perde. Mas também é preciso olhar para o adversário não como um mal, mas como
alguém que procura o bem comum. Mesmo que a sua visão desse bem comum esteja
errada!

A
alternativa ao diálogo é de facto o extremar da política a que estamos a
assistir. Onde o vencedor se ocupa mais em destruir a obra do seu antecessor do
que em construir.

O
futuro desta política de trincheira pode ser entrevisto naquilo que hoje
acontece na Catalunha: um povo em luta consigo mesmo, sem que se veja qualquer
solução que não passe pela vitória de uma facção e o esmagamento da outra.

A
exumação de Franco será apenas uma nota de rodapé nos livros de história. A
política de polarização de Sanchéz poderá vir a ser o fim de Espanha.
Dificilmente alguma coisa mudará com as eleições de 10 de Novembro. Esperemos
pelo menos que o resto do mundo aprenda alguma coisa.

Quando
Franco morreu foi sepultado na Basílica do Vale dos Caídos. O Vale dos Caído é
um monumento imponente, construído durante o franquismo para sepultar os mortos
de ambos os lados da Guerra Civil de Espanha.

A
retirada dos restos mortais de Franco do Vale é uma guerra antiga da esquerda,
que Pedro Sanchéz decidiu levar até ao fim. Por isso há duas semanas, depois de
um processo atribulado, Franco foi exumado e os seus restos mortais transladados
para o mesmo cemitério onde está enterrada a sua mulher, com acesso restrito ao
seu túmulo.

O que mais me impressionou na exumação de
Franco não foi o facto em si, mas a irresponsabilidade de Pedro Sanchéz.

Espanha
não tem um problema com o franquismo. Para além de umas centenas de caturras
que todos os anos participavam numa missa e cantavam o Cara al Sol, não se conhecem movimentos políticos ou sociais a
gritar pelo regresso do franquismo. A transição para a democracia em Espanha
foi um sucesso.

Esta
decisão, de exumar Franco, foi feita apenas com um fim político: garantir poder
ao PSOE. Ao exumar Franco, Sanchéz colocou em cheque o PP e o Ciudadanos(se são
contra são fascistas, se são a favor são traidores, se não têm opinião,
cobardes) e deu força ao Vox que vestiu a pele da direita corajosa,
verdadeiramente espanhola, sem medo de enfrentar o “politicamente correcto”.     

E
dar força ao Vox serve os propósitos de Sanchéz que aposta tudo numa
polarização de Espanha. Sanchéz exumou Franco para causar revolta na direita,
para logo a seguir poder gritar: vêm aí os fascistas! O presidente do governo
espanhol quer ganhar as eleições à custa da divisão das duas espanhas. Quer
aprofundar essa divisão e estabelecer-se como o campeão da esquerda.

Esta
política seria sempre perigosa. Mas é mais perigosa num país onde os avós dos
actuais eleitores, mataram e morreram por causa destas divisões. Num país onde
a cicatriz da guerra e da ditadura ainda não está fechada. Pelo poder, Sanchéz
demonstra-se disposto a reabrir essa cicatriz o mais profundamente possível.

Infelizmente,
Pedro Sanchéz não é um caso isolado, mas uma tendência cada vez mais
disseminada. A política está cada vez mais polarizada. Cada vez mais os
políticos aproveitam o descontentamento popular para fazer uma política de
trincheira, transformando os adversários em inimigos a abater. Esta política
afasta os moderados e abre o campo para eleições disputadas por Trump e Clinton,
Bolsonaro e Haddad, Jonhson e Corbyn.

Mas
não se confunda a moderação com uma ausência de firmeza. E não se confunda
ideais com ideologia. Aquilo a que assistimos é a uma política cada vez mais
ideológica. Ou seja, uma política onde um meio para atingir o bem comum é
transformado num fim em si mesmo, transformando quem discorda num adversário,
com o qual não é possível qualquer hipótese de diálogo.

Pensemos,
por exemplo, na luta pela igual dignidade de todas as pessoas. Esta luta pela
igualdade, transformada num fim em si mesmo, permite colocar a igualdade acima
da dignidade humana. Por isso, em nome da igualdade entre homem e mulher, se
defende o aborto. E transforma-se quem é contra o aborto num inimigo da mulher!
Mas não nos enganemos, o contrário também é possível. É possível proclamar a
defesa da herança cristã da Europa até ao ponto de estarmos dispostos a
permitir que morram pessoas no Mediterrâneo.

A
defesa do bem comum exige a capacidade de diálogo com quem discorda de mim, de
construir em conjunto, de procurar, não consensos, mas pontos comuns a partir
dos quais seja possível trabalhar para a sociedade. Evidentemente que em
política tem que haver debate, discussão. Tem que haver quem ganha e quem
perde. Mas também é preciso olhar para o adversário não como um mal, mas como
alguém que procura o bem comum. Mesmo que a sua visão desse bem comum esteja
errada!

A
alternativa ao diálogo é de facto o extremar da política a que estamos a
assistir. Onde o vencedor se ocupa mais em destruir a obra do seu antecessor do
que em construir.

O
futuro desta política de trincheira pode ser entrevisto naquilo que hoje
acontece na Catalunha: um povo em luta consigo mesmo, sem que se veja qualquer
solução que não passe pela vitória de uma facção e o esmagamento da outra.

A
exumação de Franco será apenas uma nota de rodapé nos livros de história. A
política de polarização de Sanchéz poderá vir a ser o fim de Espanha.
Dificilmente alguma coisa mudará com as eleições de 10 de Novembro. Esperemos
pelo menos que o resto do mundo aprenda alguma coisa.

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