Poesia Portuguesa: ADIAMENTO

24-06-2020
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Fotografia de João Manuel

Olhar-te bem nos olhos: que voragem!

Ouvir-te a voz na alma: que estridência!

É tão difícil termos coragem

de nos vermos enfim sem complacência.

É tão difícil regressar de viagem,

e descobrir no rastro tanta ausência...

Mas os meus olhos, súbito, reagem.

À tua voz chega o silêncio e vence-a.

Nos pulsos vibra ainda o mesmo rio

que no delta dos dedos se extasia

e moroso reflui ao coração.

O gesto de acusar-te? Suspendi-o.

Mas foi só aguardando melhor dia

em que tenha lugar a execução.

(24/02/1927 - 16/06/1996

in, "Obra poética" a págs. 171/172
Editorial Presença

Fotografia de João Manuel

Olhar-te bem nos olhos: que voragem!

Ouvir-te a voz na alma: que estridência!

É tão difícil termos coragem

de nos vermos enfim sem complacência.

É tão difícil regressar de viagem,

e descobrir no rastro tanta ausência...

Mas os meus olhos, súbito, reagem.

À tua voz chega o silêncio e vence-a.

Nos pulsos vibra ainda o mesmo rio

que no delta dos dedos se extasia

e moroso reflui ao coração.

O gesto de acusar-te? Suspendi-o.

Mas foi só aguardando melhor dia

em que tenha lugar a execução.

(24/02/1927 - 16/06/1996

in, "Obra poética" a págs. 171/172
Editorial Presença

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