O Marchador: Zurique-2014: balanço nacional das provas de marcha

06-01-2020
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Os marchadores portugueses em Zurique: AnaCabecinha, Inês Henriques, Pedro Isidro, SérgioVieira e João Vieira. Fotos: Emmanuel Tardi.Montagem: O Marchador

Depois do
rescaldo internacional ontem publicado, «O Marchador» apresenta hoje o balanço
da participação portuguesa nas provas de marcha dos 22.os
Campeonatos da Europa de Atletismo, realizados em Zurique, na Suíça. Este
balanço assenta na análise breve do desempenho de cada atleta e na inserção
dessas prestações no historial da presença dos marchadores portugueses em
campeonatos europeus, iniciada em 1982, com a participação de José Pinto nos 20
km dos europeus de Atenas (14.º, 1.34.19).

13 de Agosto, 20 km masculinos

Foi pouco
eufórica a participação portuguesa nos 20 km masculinos destes europeus. Com a
representação a cargo dos gémeos Vieira, Portugal sabia que dificilmente João
Vieira poderia repetir as façanhas de Gotemburgo-2006 e Barcelona-2010, quando
alcançou o pódio e correspondentes duas medalhas. Lesionado desde há muitas
semanas e mesmo sabendo-se que do marchador do Sporting pode a qualquer momento
surgir uma surpresa, era baixa a expectativa para esta quinta presença, logo
confirmada com a desistência nas voltas iniciais ao percurso de mil metros.
Igual destino teria Sérgio Vieira, ainda que a meio da prova estivesse
relativamente bem classificado (14.º aos 10 km), com os primeiros à vista.
Também à vista esteve uma clara melhoria na classificação e na marca obtidas há
quatro anos em Barcelona, mas tudo foi por água abaixo na segunda metade da
prova, com a pouco previsível desistência. De positivo da presença portuguesa
nesta prova fica o facto de João Vieira ter atingido as cinco participações em
campeonatos da Europa de atletismo.

Nas
anteriores quatro presenças de João Vieira e uma de Sérgio Vieira, nunca nenhum
dos irmãos tinha desistido ou sido desclassificado. As classificações variavam
entre o segundo lugar de João Vieira em Barcelona-2010 e o 20.º posto de João e
Sérgio, respectivamente em Budapeste-1998 e Barcelona-2010. O histórico da
participação de Portugal nos 20 km marcha dos europeus de atletismo registava
até aqui apenas uma desistência, quando, em Split-1990, José Pinto abandonou a
prova.

Em todo o
caso, João Vieira mantém não apenas a melhor classificação dos portugueses
nesta prova (2.º lugar em Barcelona-2010), mas também a melhor marca aí obtida:
1.20.09 h, quando em Gotemburgo-2006 foi terceiro.

14 de Agosto, 20 km femininos

Bastante
mais positivo foi o desempenho das raparigas portuguesas nos 20 km femininos.
Ana Cabecinha esteve na luta pelos primeiros lugares até perto do final,
terminando na sexta posição, enquanto Inês Henriques, com uma segunda meia
prova para esquecer, acabou no 13.º lugar. Ambas tinham este ano resultados
mais expressivos obtidos na Taça do Mundo de Taicang, mas ainda não foi desta
vez que conseguiram juntar-se a Susana Feitor como portuguesas medalhadas em
grandes competições individuais.

Ao registar
a segunda presença em europeus, Ana Cabecinha alcançou uma classificação que
representou um progresso de dois lugares em relação a Barcelona-2010 (de 8.ª
para 6.ª), ao mesmo tempo que retirava nada menos que três minutos e oito
segundos à marca aí registada, obtendo em Zurique 1.28.40 h. Por sua vez, Inês
Henriques, mesmo fazendo a segunda pior classificação em quatro presenças (fora
15.ª em Munique-2002, 12.ª em Gotemburgo-2006 e 9.ª em Barcelona-2010),
concluiu a prova da semana passada com a sua melhor marca de sempre em
europeus: 1.31.32 h (antes tinha 1.31.58, de 2006).

As ausentes
Susana Feitor e Vera Santos continuam a ser as melhores classificadas de sempre
entre as marchadoras portuguesas em europeus de atletismo. Susana foi terceira
no último ano em que a distância da prova feminina foi de 10 km
(Budapeste-1998, com 42.55); Vera terminou em sexto lugar os 20 km de
Barcelona-2010, mas foi em Gotemburgo-2006 que teve o melhor registo (1.30.41,
para o 8.º lugar).

15 de Agosto, 50 km

Também aqui
a representação portuguesa ficou aquém das expectativas. Pedro Isidro, o único
atleta luso em prova, cumpriu bem nas primeiras léguas, com tempos parciais que
até cerca dos 20 quilómetros apontavam para recorde pessoal. Depois, surgiram
os velhos problemas do sistema digestivo e tudo se deitou a perder. Regra
geral, o marchador do Benfica tem saído das chamadas à selecção nacional com
desempenhos positivos, apesar de nalguns casos os resultados terem sido
prejudicados por situações como esta experimentada em Zurique. Só que desta vez
as consequências foram mais negativas e o penúltimo lugar final (25.º)
correspondeu a tudo menos ao que podia antever-se como desempenho de Pedro
Isidro na sua estreia em campeonatos da Europa.

Na
globalidade das presenças portuguesas nas provas de marcha de europeus de
atletismo, Portugal nunca tinha ficado atrás do 24.º posto, ficando Pedro
Isidro com uma espécie de prémio-limão para a presença em Zurique (isto,
naturalmente, não contando com as cinco desistências no total das dez
participações anteriores em 50 km, mais duas em 20 km no passado e duas nos 20
km deste ano).

Historicamente,
a melhor classificação de portugueses na distância longa foi obtida por Augusto
Cardoso em Barcelona-2010: 14.º lugar. O seu treinador de tantos anos, José
Magalhães, permanece com o autor da melhor marca, a única que Portugal registou
abaixo de quatro horas em campeonatos da Europa: 3.59.46 h, no 17.º lugar de
Budapeste-1998.

Conclusão

No plano
nacional, estes campeonatos tiveram desfechos desequilibrados, de que se
aproveitaram os resultados nos 20 km femininos, em especial o lugar de
finalista de Ana Cabecinha. Mas de tudo sobra ainda a nuvem negra da não
selecção de Susana Feitor após a lesão de Vera Santos, mancha que o tempo também
não apagará da história da participação de Portugal nos europeus de Zurique.

Em 2018, os
próximos europeus de atletismo com provas de marcha terão lugar em Berlim. Nos
quatro anos que hão-de passar até lá, muitas mudanças deverão acontecer na
marcha portuguesa. Fica a expectativa de saber quantos destes cinco marchadores
que estiveram em Zurique vão competir na capital alemã. E quantos outros, mais
jovens, conseguirão seguir-lhes as pisadas.

Para
finalizar, três curiosidades estatísticas. A primeira para assinalar que as
edições de Munique-2002, Gotemburgo-2006 e Barcelona-2010 foram as que
registaram maior número de marchadores portugueses - sete (em nove possíveis).
A segunda para recordar que o pioneiro José Pinto permanece como o único
marchador português a ter competido nas duas distâncias dos masculinos numa
mesma edição dos campeonatos da Europa: em Split-1990 (infelizmente, ambas
saldadas por desistência). Por fim, a terceira para seguir as contas do
jornalista Arons de Carvalho e constatar que lista de internacionalizações de
portugueses em campeonatos europeus de atletismo é liderada por Fernanda
Ribeiro (seis participações), seguida pelos marchadores João Vieira (5), Susana
Feitor (4, que deveriam ser 5) e Inês Henriques (4) e ainda pela corredora Ana
Dias (4). E estaria a faltar aqui o nome de Vera Santos, se a lesão não tivesse
obrigado a ficar-se, por agora, pelas três presenças.

Os marchadores portugueses em Zurique: AnaCabecinha, Inês Henriques, Pedro Isidro, SérgioVieira e João Vieira. Fotos: Emmanuel Tardi.Montagem: O Marchador

Depois do
rescaldo internacional ontem publicado, «O Marchador» apresenta hoje o balanço
da participação portuguesa nas provas de marcha dos 22.os
Campeonatos da Europa de Atletismo, realizados em Zurique, na Suíça. Este
balanço assenta na análise breve do desempenho de cada atleta e na inserção
dessas prestações no historial da presença dos marchadores portugueses em
campeonatos europeus, iniciada em 1982, com a participação de José Pinto nos 20
km dos europeus de Atenas (14.º, 1.34.19).

13 de Agosto, 20 km masculinos

Foi pouco
eufórica a participação portuguesa nos 20 km masculinos destes europeus. Com a
representação a cargo dos gémeos Vieira, Portugal sabia que dificilmente João
Vieira poderia repetir as façanhas de Gotemburgo-2006 e Barcelona-2010, quando
alcançou o pódio e correspondentes duas medalhas. Lesionado desde há muitas
semanas e mesmo sabendo-se que do marchador do Sporting pode a qualquer momento
surgir uma surpresa, era baixa a expectativa para esta quinta presença, logo
confirmada com a desistência nas voltas iniciais ao percurso de mil metros.
Igual destino teria Sérgio Vieira, ainda que a meio da prova estivesse
relativamente bem classificado (14.º aos 10 km), com os primeiros à vista.
Também à vista esteve uma clara melhoria na classificação e na marca obtidas há
quatro anos em Barcelona, mas tudo foi por água abaixo na segunda metade da
prova, com a pouco previsível desistência. De positivo da presença portuguesa
nesta prova fica o facto de João Vieira ter atingido as cinco participações em
campeonatos da Europa de atletismo.

Nas
anteriores quatro presenças de João Vieira e uma de Sérgio Vieira, nunca nenhum
dos irmãos tinha desistido ou sido desclassificado. As classificações variavam
entre o segundo lugar de João Vieira em Barcelona-2010 e o 20.º posto de João e
Sérgio, respectivamente em Budapeste-1998 e Barcelona-2010. O histórico da
participação de Portugal nos 20 km marcha dos europeus de atletismo registava
até aqui apenas uma desistência, quando, em Split-1990, José Pinto abandonou a
prova.

Em todo o
caso, João Vieira mantém não apenas a melhor classificação dos portugueses
nesta prova (2.º lugar em Barcelona-2010), mas também a melhor marca aí obtida:
1.20.09 h, quando em Gotemburgo-2006 foi terceiro.

14 de Agosto, 20 km femininos

Bastante
mais positivo foi o desempenho das raparigas portuguesas nos 20 km femininos.
Ana Cabecinha esteve na luta pelos primeiros lugares até perto do final,
terminando na sexta posição, enquanto Inês Henriques, com uma segunda meia
prova para esquecer, acabou no 13.º lugar. Ambas tinham este ano resultados
mais expressivos obtidos na Taça do Mundo de Taicang, mas ainda não foi desta
vez que conseguiram juntar-se a Susana Feitor como portuguesas medalhadas em
grandes competições individuais.

Ao registar
a segunda presença em europeus, Ana Cabecinha alcançou uma classificação que
representou um progresso de dois lugares em relação a Barcelona-2010 (de 8.ª
para 6.ª), ao mesmo tempo que retirava nada menos que três minutos e oito
segundos à marca aí registada, obtendo em Zurique 1.28.40 h. Por sua vez, Inês
Henriques, mesmo fazendo a segunda pior classificação em quatro presenças (fora
15.ª em Munique-2002, 12.ª em Gotemburgo-2006 e 9.ª em Barcelona-2010),
concluiu a prova da semana passada com a sua melhor marca de sempre em
europeus: 1.31.32 h (antes tinha 1.31.58, de 2006).

As ausentes
Susana Feitor e Vera Santos continuam a ser as melhores classificadas de sempre
entre as marchadoras portuguesas em europeus de atletismo. Susana foi terceira
no último ano em que a distância da prova feminina foi de 10 km
(Budapeste-1998, com 42.55); Vera terminou em sexto lugar os 20 km de
Barcelona-2010, mas foi em Gotemburgo-2006 que teve o melhor registo (1.30.41,
para o 8.º lugar).

15 de Agosto, 50 km

Também aqui
a representação portuguesa ficou aquém das expectativas. Pedro Isidro, o único
atleta luso em prova, cumpriu bem nas primeiras léguas, com tempos parciais que
até cerca dos 20 quilómetros apontavam para recorde pessoal. Depois, surgiram
os velhos problemas do sistema digestivo e tudo se deitou a perder. Regra
geral, o marchador do Benfica tem saído das chamadas à selecção nacional com
desempenhos positivos, apesar de nalguns casos os resultados terem sido
prejudicados por situações como esta experimentada em Zurique. Só que desta vez
as consequências foram mais negativas e o penúltimo lugar final (25.º)
correspondeu a tudo menos ao que podia antever-se como desempenho de Pedro
Isidro na sua estreia em campeonatos da Europa.

Na
globalidade das presenças portuguesas nas provas de marcha de europeus de
atletismo, Portugal nunca tinha ficado atrás do 24.º posto, ficando Pedro
Isidro com uma espécie de prémio-limão para a presença em Zurique (isto,
naturalmente, não contando com as cinco desistências no total das dez
participações anteriores em 50 km, mais duas em 20 km no passado e duas nos 20
km deste ano).

Historicamente,
a melhor classificação de portugueses na distância longa foi obtida por Augusto
Cardoso em Barcelona-2010: 14.º lugar. O seu treinador de tantos anos, José
Magalhães, permanece com o autor da melhor marca, a única que Portugal registou
abaixo de quatro horas em campeonatos da Europa: 3.59.46 h, no 17.º lugar de
Budapeste-1998.

Conclusão

No plano
nacional, estes campeonatos tiveram desfechos desequilibrados, de que se
aproveitaram os resultados nos 20 km femininos, em especial o lugar de
finalista de Ana Cabecinha. Mas de tudo sobra ainda a nuvem negra da não
selecção de Susana Feitor após a lesão de Vera Santos, mancha que o tempo também
não apagará da história da participação de Portugal nos europeus de Zurique.

Em 2018, os
próximos europeus de atletismo com provas de marcha terão lugar em Berlim. Nos
quatro anos que hão-de passar até lá, muitas mudanças deverão acontecer na
marcha portuguesa. Fica a expectativa de saber quantos destes cinco marchadores
que estiveram em Zurique vão competir na capital alemã. E quantos outros, mais
jovens, conseguirão seguir-lhes as pisadas.

Para
finalizar, três curiosidades estatísticas. A primeira para assinalar que as
edições de Munique-2002, Gotemburgo-2006 e Barcelona-2010 foram as que
registaram maior número de marchadores portugueses - sete (em nove possíveis).
A segunda para recordar que o pioneiro José Pinto permanece como o único
marchador português a ter competido nas duas distâncias dos masculinos numa
mesma edição dos campeonatos da Europa: em Split-1990 (infelizmente, ambas
saldadas por desistência). Por fim, a terceira para seguir as contas do
jornalista Arons de Carvalho e constatar que lista de internacionalizações de
portugueses em campeonatos europeus de atletismo é liderada por Fernanda
Ribeiro (seis participações), seguida pelos marchadores João Vieira (5), Susana
Feitor (4, que deveriam ser 5) e Inês Henriques (4) e ainda pela corredora Ana
Dias (4). E estaria a faltar aqui o nome de Vera Santos, se a lesão não tivesse
obrigado a ficar-se, por agora, pelas três presenças.

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