Filho do 25 de Abril: Março 2005

22-11-2019
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Nota: Este post pode revelar partes da história de Mystic River e Million Dollar Baby. Se não viu um destes filmes não aconselho a leitura.Comprei uma edição inglesa do penúltimo filme de Clint Eastwood, Mystic River. Os extras não abundam mas o filme vale por si. Acho útil rever os filmes para perceber se estes resistem bem ao tempo. Há filmes que perdem o choque inicial, outros que tornam-se demasiadamente datados e há outros filmes que não nos cansamos de rever. Este é um dos filmes que vai resistir bem ao tempo...O lançamento do último filme de Eastwood, Million Dollar Baby (MDB), é a oportunidade ideal para fazer algumas comparações entre os filmes. Eu achei MDB um filme soberbo pela serenidade com que a história é contada e pela dimensão que as personagens do filme alcançam. Mas há um truque narrativo que não vai sobreviver bem no tempo neste filme. O filme tem uma reviravolta gigantesca a meio do filme que eu não contava (a vantagem de não ter lido as críticas ao filme) e esse efeito choque é irrepetível. Adicionalmente há determinadas personagens que acabam por não estar bem enquadradas no filme como a família da Hilary Swank ou a sua oponente na batalha “final” que eu apelidei na altura de caricatura do “Darth Vader”. Confesso que pode ser um filme que vá “envelhecer” mais depressa que Mystic River apesar de valer sempre a pena ver e rever a dupla Clint Eastwood e Morgan Freeman em interacção.Mystic River é mais visceral e apesar de ter os seus momentos de choque para o espectador o filme não depende tanto deles. E isso acontece porque os choques não são repentinos ou caídos do céu, vão-se construindo ao longo do filme. A cena em que Sean Penn mata Tim Robbins já estava predestinada quase desde o início do filme a ser uma fatalidade inevitável. E está tão bem gerida a relação entre os dois que é impossível encontrar falhas. Diria até que a narrativa é mais consistente do que a de MDB (com excepção das coincidências forçadas entre o passado de Penn e os verdadeiros assassinos da filha). Penn é notável neste filme tanto nas cenas em que o temperamento violento é libertado como nas cenas de dor contida. Só no início do filme Penn tem o “direito” de fazer uma cena pouco exigente porque depois disso é um festival de representação. Mas Tim Robbins não fica atrás na qualidade de representação. Ele é um “vampiro, um morto vivo” como ele próprio se define. Ele está lá mas ao mesmo tempo está ausente. Magnífico. As cenas finais em que Penn lida com a culpa são fantásticas e nada forçadas. É tudo feito com muita classe... é a escola clássica de Eastwood!Por todas estas razões se tivesse que escolher entre um dos filmes para ter na minha “DVDteca” escolhia sem sombra de dúvida Mystic River. Mas como não tenho que escolher porque não ficar com dois filmes fantásticos em casa?*Tópicos Relacionados:Fevereiro 23, 2005 (338) Sala de Cinema: Million Dollar Baby, de Clint Eastwood

Nota: Este post pode revelar partes da história de Mystic River e Million Dollar Baby. Se não viu um destes filmes não aconselho a leitura.Comprei uma edição inglesa do penúltimo filme de Clint Eastwood, Mystic River. Os extras não abundam mas o filme vale por si. Acho útil rever os filmes para perceber se estes resistem bem ao tempo. Há filmes que perdem o choque inicial, outros que tornam-se demasiadamente datados e há outros filmes que não nos cansamos de rever. Este é um dos filmes que vai resistir bem ao tempo...O lançamento do último filme de Eastwood, Million Dollar Baby (MDB), é a oportunidade ideal para fazer algumas comparações entre os filmes. Eu achei MDB um filme soberbo pela serenidade com que a história é contada e pela dimensão que as personagens do filme alcançam. Mas há um truque narrativo que não vai sobreviver bem no tempo neste filme. O filme tem uma reviravolta gigantesca a meio do filme que eu não contava (a vantagem de não ter lido as críticas ao filme) e esse efeito choque é irrepetível. Adicionalmente há determinadas personagens que acabam por não estar bem enquadradas no filme como a família da Hilary Swank ou a sua oponente na batalha “final” que eu apelidei na altura de caricatura do “Darth Vader”. Confesso que pode ser um filme que vá “envelhecer” mais depressa que Mystic River apesar de valer sempre a pena ver e rever a dupla Clint Eastwood e Morgan Freeman em interacção.Mystic River é mais visceral e apesar de ter os seus momentos de choque para o espectador o filme não depende tanto deles. E isso acontece porque os choques não são repentinos ou caídos do céu, vão-se construindo ao longo do filme. A cena em que Sean Penn mata Tim Robbins já estava predestinada quase desde o início do filme a ser uma fatalidade inevitável. E está tão bem gerida a relação entre os dois que é impossível encontrar falhas. Diria até que a narrativa é mais consistente do que a de MDB (com excepção das coincidências forçadas entre o passado de Penn e os verdadeiros assassinos da filha). Penn é notável neste filme tanto nas cenas em que o temperamento violento é libertado como nas cenas de dor contida. Só no início do filme Penn tem o “direito” de fazer uma cena pouco exigente porque depois disso é um festival de representação. Mas Tim Robbins não fica atrás na qualidade de representação. Ele é um “vampiro, um morto vivo” como ele próprio se define. Ele está lá mas ao mesmo tempo está ausente. Magnífico. As cenas finais em que Penn lida com a culpa são fantásticas e nada forçadas. É tudo feito com muita classe... é a escola clássica de Eastwood!Por todas estas razões se tivesse que escolher entre um dos filmes para ter na minha “DVDteca” escolhia sem sombra de dúvida Mystic River. Mas como não tenho que escolher porque não ficar com dois filmes fantásticos em casa?*Tópicos Relacionados:Fevereiro 23, 2005 (338) Sala de Cinema: Million Dollar Baby, de Clint Eastwood

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