portugal dos pequeninos

15-12-2019
marcar artigo


Este artigo do director do "i" vem com uns anitos de atraso. Em 1997 e 1998, por razões profissionais ligadas à altura ao controlo da actividade policial, estive em Nova Iorque onde me familiarizei com o "NYPD" e a famosa teoria das "broken windows". Quando cá chegámos, fizemos um briefing aos chefes das nossas polícias - PSP e GNR - na presença do então MAI, o dr. Jorge Coelho. Foi precisamente em Maio de 1998, vai para onze anos. Depois, talvez no Natal de 2000, não me recordo bem, andei de noite a visitar postos e esquadras, respectivamente da GNR e da PSP, na Margem Sul. Um dos postos da GNR metia dó e recomendámos o fecho imediato. E também fomos à Bela Vista. A esquadra era - presumo que não terá mudado muito entretanto - um verdadeiro tugúrio perfeitamente aberto a qualquer um, bem ou mal intencionado. Se repararem nas datas, o governo era, como hoje, socialista. O dr. Coelho saiu, veio o dr. Gomes - que demorou pouco tempo - e Guterres fechou a coisa com Severiano Teixeira. Sócrates começou com um super-ministro da administração interna, António Costa, e vai terminar com Pereira, sem comentários. Quando eu expliquei ao dr. Coelho que o nosso "sistema" era demasiado "garantístico", recordo-me de ele ter elogiado vagamente os EUA porque desconfiava do êxito absoluto da tal teoria das "janelas partidas". De facto, as "broken windows" tornaram a Manhattan de Giuliani mais segura - isto, é a Nova Iorque que vemos nos filmes e que os turistas apreciam, de Times Square ao Central Park, passando pelo metro e pelas estações de comboio - mas "exportaram" muita criminalidade "urbana" para as cercanias, sobretudo para o norte da ilha e para o outro lado do Hudson. Não quero com isto afirmar que as "broken windows" falharam e que representaram uma mera operação de cosmética bem sucedida. Não. Todavia, espero que o director do "i" não esteja a recomendar ao governo que aplique algo que conhece há pelo menos uma década. Com a tendência para a superficialidade propagandística que tem, era de certeza pior a emenda que o soneto. Bela Vista é um caso de polícia? Sem dúvida. Não tenho é a certeza que a autoridade política saiba lidar com ele, não apenas enquanto tal mas igualmente como sintoma de qualquer coisa de mais perverso que o regime construiu à sombra de estafadas boas intenções meramente proclamatórias de carácter "social". E eu não sou nem da esquerda "justicialista", religiosa ou ateia, nem da direita empertigada.Adenda: Este post do Pedro Magalhães.


Este artigo do director do "i" vem com uns anitos de atraso. Em 1997 e 1998, por razões profissionais ligadas à altura ao controlo da actividade policial, estive em Nova Iorque onde me familiarizei com o "NYPD" e a famosa teoria das "broken windows". Quando cá chegámos, fizemos um briefing aos chefes das nossas polícias - PSP e GNR - na presença do então MAI, o dr. Jorge Coelho. Foi precisamente em Maio de 1998, vai para onze anos. Depois, talvez no Natal de 2000, não me recordo bem, andei de noite a visitar postos e esquadras, respectivamente da GNR e da PSP, na Margem Sul. Um dos postos da GNR metia dó e recomendámos o fecho imediato. E também fomos à Bela Vista. A esquadra era - presumo que não terá mudado muito entretanto - um verdadeiro tugúrio perfeitamente aberto a qualquer um, bem ou mal intencionado. Se repararem nas datas, o governo era, como hoje, socialista. O dr. Coelho saiu, veio o dr. Gomes - que demorou pouco tempo - e Guterres fechou a coisa com Severiano Teixeira. Sócrates começou com um super-ministro da administração interna, António Costa, e vai terminar com Pereira, sem comentários. Quando eu expliquei ao dr. Coelho que o nosso "sistema" era demasiado "garantístico", recordo-me de ele ter elogiado vagamente os EUA porque desconfiava do êxito absoluto da tal teoria das "janelas partidas". De facto, as "broken windows" tornaram a Manhattan de Giuliani mais segura - isto, é a Nova Iorque que vemos nos filmes e que os turistas apreciam, de Times Square ao Central Park, passando pelo metro e pelas estações de comboio - mas "exportaram" muita criminalidade "urbana" para as cercanias, sobretudo para o norte da ilha e para o outro lado do Hudson. Não quero com isto afirmar que as "broken windows" falharam e que representaram uma mera operação de cosmética bem sucedida. Não. Todavia, espero que o director do "i" não esteja a recomendar ao governo que aplique algo que conhece há pelo menos uma década. Com a tendência para a superficialidade propagandística que tem, era de certeza pior a emenda que o soneto. Bela Vista é um caso de polícia? Sem dúvida. Não tenho é a certeza que a autoridade política saiba lidar com ele, não apenas enquanto tal mas igualmente como sintoma de qualquer coisa de mais perverso que o regime construiu à sombra de estafadas boas intenções meramente proclamatórias de carácter "social". E eu não sou nem da esquerda "justicialista", religiosa ou ateia, nem da direita empertigada.Adenda: Este post do Pedro Magalhães.

marcar artigo