portugal dos pequeninos

15-12-2019
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Sem o ter afirmado expressamente, Cavaco Silva considera imorais os vencimentos auferidos por muitos gestores públicos e privados. Alguns - e isto abona a favor de Cavaco - são parvenus que "nasceram" com o "cavaquismo" e que continuaram, em lógica "centralona", a ser apascentados pelo PS. Outros brotaram de "geração expontânea", "recomendados" pelo amplo tráfico de influências de que vive o regime. E outros, ainda, foram "compensados" por terem desempenhado fugazmente um cargo político, constituindo a gestão, pública ou privada, uma espécie de "subsídio de desemprego" só que em bom. As universidades e os MBA jorram milhares de "gestores" académicos que não têm a mínima hipótese de concorrer com o pessoal do regime. Veja-se, por exemplo, o caso de Pina Moura, cujo currículo ainda não há muitos anos consistia em ser membro do comité central do PC, e que uma rápida conversão ao "guterrismo", seguida de exercício governativo, conduziu a gestor de fama e proveito internacionais. Ou de Couto dos Santos, uma inexplicável escolha de Cavaco para a educação no princípio dos anos noventa, que até já foi gestor da "Casa da Música" e é agora "patrão de patrões" numa associação qualquer do norte. Há "mérito" nisto? Haverá, sobretudo o mérito de "saber viver". Não discuto valores a não ser éticos. Esta gente toda, do Banco de Portugal aos bancos, das "grandes empresas" para-públicas às outras, merece o que ganha? Talvez. A questão não é essa. Antes de considerar imoral o que eles auferem, é preciso avaliar como é que chegaram ao ponto de poder auferir o que auferem. A ética, ou a sua ausência, está no caminho, não naquilo que se paga pelo resultado. É evidente que, num país que empobrece a olhos vistos, a emergência destes "predestinados" que se repoduzem como malmequeres, cria problemas de consciência a quem manda. Foi esse o sentido do desabafo presidencial. Cavaco sabe que a democracia comporta efeitos perversos. Ele pode mencioná-los mas não os pode combater. Qualquer tentativa para eliminar a nudez do rei seria imediatamente apontada a dedo pelas carpideiras do saloio liberalismo nacional e pelos defensores de um mercado que só existe na cabeça deles. A democracia e o regime, diriam eles, não sobreviveriam sem estes semoventes de luxo. Se calhar têm razão.


Sem o ter afirmado expressamente, Cavaco Silva considera imorais os vencimentos auferidos por muitos gestores públicos e privados. Alguns - e isto abona a favor de Cavaco - são parvenus que "nasceram" com o "cavaquismo" e que continuaram, em lógica "centralona", a ser apascentados pelo PS. Outros brotaram de "geração expontânea", "recomendados" pelo amplo tráfico de influências de que vive o regime. E outros, ainda, foram "compensados" por terem desempenhado fugazmente um cargo político, constituindo a gestão, pública ou privada, uma espécie de "subsídio de desemprego" só que em bom. As universidades e os MBA jorram milhares de "gestores" académicos que não têm a mínima hipótese de concorrer com o pessoal do regime. Veja-se, por exemplo, o caso de Pina Moura, cujo currículo ainda não há muitos anos consistia em ser membro do comité central do PC, e que uma rápida conversão ao "guterrismo", seguida de exercício governativo, conduziu a gestor de fama e proveito internacionais. Ou de Couto dos Santos, uma inexplicável escolha de Cavaco para a educação no princípio dos anos noventa, que até já foi gestor da "Casa da Música" e é agora "patrão de patrões" numa associação qualquer do norte. Há "mérito" nisto? Haverá, sobretudo o mérito de "saber viver". Não discuto valores a não ser éticos. Esta gente toda, do Banco de Portugal aos bancos, das "grandes empresas" para-públicas às outras, merece o que ganha? Talvez. A questão não é essa. Antes de considerar imoral o que eles auferem, é preciso avaliar como é que chegaram ao ponto de poder auferir o que auferem. A ética, ou a sua ausência, está no caminho, não naquilo que se paga pelo resultado. É evidente que, num país que empobrece a olhos vistos, a emergência destes "predestinados" que se repoduzem como malmequeres, cria problemas de consciência a quem manda. Foi esse o sentido do desabafo presidencial. Cavaco sabe que a democracia comporta efeitos perversos. Ele pode mencioná-los mas não os pode combater. Qualquer tentativa para eliminar a nudez do rei seria imediatamente apontada a dedo pelas carpideiras do saloio liberalismo nacional e pelos defensores de um mercado que só existe na cabeça deles. A democracia e o regime, diriam eles, não sobreviveriam sem estes semoventes de luxo. Se calhar têm razão.

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