portugal dos pequeninos: MEMÓRIA DE SUSAN SONTAG

15-12-2019
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O Público recorda a morte, há quatro anos, de Susan Sontag. Lembro a sua intervenção numa conferência em Lisboa sobre a "Europa e a Cultura" do tempo em que a Gulbenkian era viva. Sontag era uma americana para quem a Europa - enquanto ideia e cultura - era indispensável. Não por acaso quis ser inumada no cemitério de Montparnasse. Seria, de acordo com os "critérios" em vigor, de esquerda. Não me interessa. Interessa-me compreendê-la com o mesmo entusiasmo que ela colocava em tudo a que se dedicou, de Nova Iorque a Sarajevo. As suas palavras não são propriamente de "esquerda" ou de "direita". São exactas como a vida jamais o poderá ser. Porque «a legitimidade e a necessidade de continuar a formular uma estética da resistência, resistência às barbaridades da nossa cultura, aos apocalípticos jogos de planificação dos nossos líderes e ao conformismo das nossas imaginações e das nossas vidas" não cessam. Porque é fundamental persistir no esforço de ser «contemporâneo consigo mesmo, na nossa vida, prestando toda a atenção ao mundo, contra a ideia solipsista de que está tudo na nossa cabeça», com a certeza de que «toda a verdade é superficial» e que «algumas (mas não todas) as distorções da verdade, (mas não todas) as loucuras, algumas (mas não todas) as negações da vida, são fontes de verdade, produzem sanidade mental, criam saúde e tornam melhor a vida.»


O Público recorda a morte, há quatro anos, de Susan Sontag. Lembro a sua intervenção numa conferência em Lisboa sobre a "Europa e a Cultura" do tempo em que a Gulbenkian era viva. Sontag era uma americana para quem a Europa - enquanto ideia e cultura - era indispensável. Não por acaso quis ser inumada no cemitério de Montparnasse. Seria, de acordo com os "critérios" em vigor, de esquerda. Não me interessa. Interessa-me compreendê-la com o mesmo entusiasmo que ela colocava em tudo a que se dedicou, de Nova Iorque a Sarajevo. As suas palavras não são propriamente de "esquerda" ou de "direita". São exactas como a vida jamais o poderá ser. Porque «a legitimidade e a necessidade de continuar a formular uma estética da resistência, resistência às barbaridades da nossa cultura, aos apocalípticos jogos de planificação dos nossos líderes e ao conformismo das nossas imaginações e das nossas vidas" não cessam. Porque é fundamental persistir no esforço de ser «contemporâneo consigo mesmo, na nossa vida, prestando toda a atenção ao mundo, contra a ideia solipsista de que está tudo na nossa cabeça», com a certeza de que «toda a verdade é superficial» e que «algumas (mas não todas) as distorções da verdade, (mas não todas) as loucuras, algumas (mas não todas) as negações da vida, são fontes de verdade, produzem sanidade mental, criam saúde e tornam melhor a vida.»

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