portugal dos pequeninos: O TRIUNFO UNIDIMENSIONAL

15-12-2019
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«O futebol tornou-se num fenómeno inseparável do culto da cupidez, do dinheiro fácil, do sucesso que não olha a meios, da matriz de irresponsabilidade impune, factores que têm conduzido as nossas sociedades aos dilacerantes problemas que hoje vivemos. É, pois, bom que se pense na sociedade que se está a construir, quando os exemplos que se incensam até ao delírio são os de indivíduos que vivem numa abracadabrante ostentação, como se fossem deuses de um novo circo, gastando dezenas de milhares de euros numa noite de discoteca, exibindo um permanente carrossel de escort girls de luxo, circulando em automóveis de centenas de milhares de euros que estoiram sem um ai. Ao mesmo tempo que, na maior parte dos casos, raramente são capazes de uma iniciativa filantrópica, de um projecto mecenático, de um gesto solidário. Ou, mesmo, quantas vezes, de uma simples frase com sentido… Por isso, a identificação das selecções e dos seus resultados com qualquer tipo de desígnio nacional não passa, na verdade, de um ritual mais ou menos oportunista e sem qualquer consistência. Que dá, todavia, um bom retrato da estatura daqueles que a promovem, que de resto não enganam ninguém com isso - a não ser, talvez, a si próprios! (...) O desporto condiciona hoje em todo o planeta o imaginário dos povos, impondo-lhes um conjunto uniforme de representações a partir do qual eles concebem quase toda a existência. Como diz um dos melhores intérpretes deste fenómeno, Robert Redeker, é no desporto que se concentram em mais alto grau os factores de uma tal uniformização: consumo desenfreado, fetichismo das marcas, pressão publicitária, culto dos ídolos, submissão aos media, sloganização da linguagem, histerização das multidões, fanatismo da performance. Convergência que torna o desporto, e particularmente o futebol, no catalisador de uma humanidade cada vez mais unidimensional. Não ver isto é não ver nada. Ou melhor, é ver só futebol…»Manuel Maria Carrilho, DN


«O futebol tornou-se num fenómeno inseparável do culto da cupidez, do dinheiro fácil, do sucesso que não olha a meios, da matriz de irresponsabilidade impune, factores que têm conduzido as nossas sociedades aos dilacerantes problemas que hoje vivemos. É, pois, bom que se pense na sociedade que se está a construir, quando os exemplos que se incensam até ao delírio são os de indivíduos que vivem numa abracadabrante ostentação, como se fossem deuses de um novo circo, gastando dezenas de milhares de euros numa noite de discoteca, exibindo um permanente carrossel de escort girls de luxo, circulando em automóveis de centenas de milhares de euros que estoiram sem um ai. Ao mesmo tempo que, na maior parte dos casos, raramente são capazes de uma iniciativa filantrópica, de um projecto mecenático, de um gesto solidário. Ou, mesmo, quantas vezes, de uma simples frase com sentido… Por isso, a identificação das selecções e dos seus resultados com qualquer tipo de desígnio nacional não passa, na verdade, de um ritual mais ou menos oportunista e sem qualquer consistência. Que dá, todavia, um bom retrato da estatura daqueles que a promovem, que de resto não enganam ninguém com isso - a não ser, talvez, a si próprios! (...) O desporto condiciona hoje em todo o planeta o imaginário dos povos, impondo-lhes um conjunto uniforme de representações a partir do qual eles concebem quase toda a existência. Como diz um dos melhores intérpretes deste fenómeno, Robert Redeker, é no desporto que se concentram em mais alto grau os factores de uma tal uniformização: consumo desenfreado, fetichismo das marcas, pressão publicitária, culto dos ídolos, submissão aos media, sloganização da linguagem, histerização das multidões, fanatismo da performance. Convergência que torna o desporto, e particularmente o futebol, no catalisador de uma humanidade cada vez mais unidimensional. Não ver isto é não ver nada. Ou melhor, é ver só futebol…»Manuel Maria Carrilho, DN

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