PS passa à ofensiva depois de quinzena 'horribilis'

02-09-2020
marcar artigo

A elite dirigente do PS, com António Costa à cabeça e terminando em Carlos César, protagoniza na segunda-feira uma conferência onde o partido pretende repor a agenda no que lhe interessa: dramatizar a aprovação do Orçamento do Estado para 2021.

António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS, com o presidente do partido, Carlos César. © Filipe Amorim/Global Imagens

"Recuperar Portugal." Este é o titulo de uma conferência que vai juntar o principal do corpo dirigente socialista em Coimbra, na segunda-feira. A intenção parece ser voltar a pôr na agenda política os planos do governo para o futuro - e já no contexto do Orçamento do Estado para 2021, o qual terá de dar entrada no Parlamento até 15 de outubro.

Os trabalhos da conferência - que decorrerão no Convento de São Francisco, em Coimbra - serão abertos pelos anfitriões, o presidente da câmara, Manuel Machado, e o presidente da federação distrital socialista, Nuno Moita. E depois intervirá Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS.

A seguir virá António Costa, com uma intervenção subordinada ao título "Controlar a pandemia, recuperar Portugal, cuidar do futuro", seguindo-se debate. Haverá também espaço para uma intervenção de Vasco Cordeiro, presidente do governo regional dos Açores, região onde o covid fez até agora apenas 15 vítimas mortais.

Cordeiro está em campanha para a sua reeleição como presidente do governo dos Açores - as legislativas regionais estão marcadas para 25 de outubro - e a sua convocatória para esta conferência do PS em Coimbra também deverá ser interpretada nesse contexto.

O líder regional socialista - que vai tentar assim um terceiro mandato à frente do executivo regional - já disse que "estas eleições regionais não são um último mandato para o PS". "Estas eleições regionais são o primeiro mandato de uma nova década, o primeiro mandato de um novo ciclo que as circunstâncias que vivemos levam a que seja aberto", disse ainda.

À tarde, os temas do debates serão uma espécie de segmentação da intervenção inicial do chefe do partido. A ministra da Saúde, Marta Temido, vai falar sobre como "controlar a pandemia"; a ministra Ana Mendes Godinho (Segurança Social) e o ministro Pedro Siza Vieira (Economia) tratarão da parte de "recuperar Portugal"; e o ministro Nelson de Souza (Planeamento) falará sobre "cuidar do futuro".

"Se os partidos à esquerda estiverem interessados em garantir estabilidade para a legislatura, devem dizê-lo depressa."

Depois o PS regressará ao palanque, pela voz do secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, e, a encerrar, do presidente do partido, Carlos César.

Deste espera-se, novamente, pressão sobre os partidos que constituíram com o PS, na legislatura 2015-2019, a geringonça, para que façam um acordo outra vez que dê estabilidade ao governo minoritário do PS. Em 16 de agosto passado, numa publicação no seu Facebook antes de ir de férias, Carlos César pediu urgência ao BE, ao PCP e ao PEV para que se definam.

"Se os partidos à esquerda estiverem interessados em garantir estabilidade para a legislatura, devem dizê-lo depressa", considerando que "a expectativa de estabilidade política é fundamental" para vencer "os enormes desafios de recuperação económica e social que o presente e o futuro" reservam.

A conferência surgirá na sequência de mais de duas semanas horribilis para o governo - e o tema foi sempre, direta ou indiretamente, o surto de covid que provocou 18 mortos num lar de Reguengos de Monsaraz.

O primeiro problema surgiu com uma entrevista ao Expresso em 15 de agosto em que a ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, admitiu que não tinha lido o inquérito da Ordem dos Médicos ao sucedido no lar de Reguengos (propriedade de uma fundação dirigida pelo presidente da Câmara de Reguengos, o socialista José Calixto. Só no dia 19 é que António Costa surgiu no espaço público a defender a ministra.

Costa decidiu então dar ele próprio uma entrevista ao mesmo semanário, no sábado seguinte, dia 22 - mas o que marcou essa entrevista foi a fuga para a net de uma pequena gravação de sete segundos de uma conversa off the record com o primeiro-ministro com os jornalistas do semanário na qual o chefe do governo acusava de "cobardes" médicos que não terão acatado diretivas da ARS do Alentejo para acudirem ao lar de Reguengos.

Na segunda-feira, a Ordem dos Médicos pediu uma audiência ao PM e este foi rápido a decidir que a audiência seria logo no dia seguinte, na terça, pelas nove da manhã. O PM queria notoriamente desanuviar o ambiente entre o governo e a Ordem - e foi essa a mensagem que passou depois do encontro.

Nesta quarta-feira, porém, ficou a saber-se que, do ponto de vista do bastonário da Ordem, Miguel Guimarães, o PM "não transmitiu integralmente e fielmente [aos jornalistas] aquilo que minutos antes tinha reconhecido à Ordem dos Médicos".

Dito de outra forma: fracassou a tentativa de Costa para desanuviar o ambiente, insistindo a OM na ideia de que "o apoio continuado aos lares não pode ser atribuído aos médicos de família".

O PS quer agora passar à ofensiva, dramatizar a aprovação do OE 2021 - e, porventura, recordar que o eventual chumbo da proposta governamental terá tudo para criar uma situação de grave impasse, visto que, nessa altura, já no último semestre do seu mandato, o Presidente da República não poderá resolver o problema dissolvendo a Assembleia da República e convocar legislativas antecipadas. Essa impossibilidade entrará em vigor a partir de 9 de setembro.

A elite dirigente do PS, com António Costa à cabeça e terminando em Carlos César, protagoniza na segunda-feira uma conferência onde o partido pretende repor a agenda no que lhe interessa: dramatizar a aprovação do Orçamento do Estado para 2021.

António Costa, primeiro-ministro e secretário-geral do PS, com o presidente do partido, Carlos César. © Filipe Amorim/Global Imagens

"Recuperar Portugal." Este é o titulo de uma conferência que vai juntar o principal do corpo dirigente socialista em Coimbra, na segunda-feira. A intenção parece ser voltar a pôr na agenda política os planos do governo para o futuro - e já no contexto do Orçamento do Estado para 2021, o qual terá de dar entrada no Parlamento até 15 de outubro.

Os trabalhos da conferência - que decorrerão no Convento de São Francisco, em Coimbra - serão abertos pelos anfitriões, o presidente da câmara, Manuel Machado, e o presidente da federação distrital socialista, Nuno Moita. E depois intervirá Ana Catarina Mendes, líder parlamentar do PS.

A seguir virá António Costa, com uma intervenção subordinada ao título "Controlar a pandemia, recuperar Portugal, cuidar do futuro", seguindo-se debate. Haverá também espaço para uma intervenção de Vasco Cordeiro, presidente do governo regional dos Açores, região onde o covid fez até agora apenas 15 vítimas mortais.

Cordeiro está em campanha para a sua reeleição como presidente do governo dos Açores - as legislativas regionais estão marcadas para 25 de outubro - e a sua convocatória para esta conferência do PS em Coimbra também deverá ser interpretada nesse contexto.

O líder regional socialista - que vai tentar assim um terceiro mandato à frente do executivo regional - já disse que "estas eleições regionais não são um último mandato para o PS". "Estas eleições regionais são o primeiro mandato de uma nova década, o primeiro mandato de um novo ciclo que as circunstâncias que vivemos levam a que seja aberto", disse ainda.

À tarde, os temas do debates serão uma espécie de segmentação da intervenção inicial do chefe do partido. A ministra da Saúde, Marta Temido, vai falar sobre como "controlar a pandemia"; a ministra Ana Mendes Godinho (Segurança Social) e o ministro Pedro Siza Vieira (Economia) tratarão da parte de "recuperar Portugal"; e o ministro Nelson de Souza (Planeamento) falará sobre "cuidar do futuro".

"Se os partidos à esquerda estiverem interessados em garantir estabilidade para a legislatura, devem dizê-lo depressa."

Depois o PS regressará ao palanque, pela voz do secretário-geral adjunto, José Luís Carneiro, e, a encerrar, do presidente do partido, Carlos César.

Deste espera-se, novamente, pressão sobre os partidos que constituíram com o PS, na legislatura 2015-2019, a geringonça, para que façam um acordo outra vez que dê estabilidade ao governo minoritário do PS. Em 16 de agosto passado, numa publicação no seu Facebook antes de ir de férias, Carlos César pediu urgência ao BE, ao PCP e ao PEV para que se definam.

"Se os partidos à esquerda estiverem interessados em garantir estabilidade para a legislatura, devem dizê-lo depressa", considerando que "a expectativa de estabilidade política é fundamental" para vencer "os enormes desafios de recuperação económica e social que o presente e o futuro" reservam.

A conferência surgirá na sequência de mais de duas semanas horribilis para o governo - e o tema foi sempre, direta ou indiretamente, o surto de covid que provocou 18 mortos num lar de Reguengos de Monsaraz.

O primeiro problema surgiu com uma entrevista ao Expresso em 15 de agosto em que a ministra da Segurança Social, Ana Mendes Godinho, admitiu que não tinha lido o inquérito da Ordem dos Médicos ao sucedido no lar de Reguengos (propriedade de uma fundação dirigida pelo presidente da Câmara de Reguengos, o socialista José Calixto. Só no dia 19 é que António Costa surgiu no espaço público a defender a ministra.

Costa decidiu então dar ele próprio uma entrevista ao mesmo semanário, no sábado seguinte, dia 22 - mas o que marcou essa entrevista foi a fuga para a net de uma pequena gravação de sete segundos de uma conversa off the record com o primeiro-ministro com os jornalistas do semanário na qual o chefe do governo acusava de "cobardes" médicos que não terão acatado diretivas da ARS do Alentejo para acudirem ao lar de Reguengos.

Na segunda-feira, a Ordem dos Médicos pediu uma audiência ao PM e este foi rápido a decidir que a audiência seria logo no dia seguinte, na terça, pelas nove da manhã. O PM queria notoriamente desanuviar o ambiente entre o governo e a Ordem - e foi essa a mensagem que passou depois do encontro.

Nesta quarta-feira, porém, ficou a saber-se que, do ponto de vista do bastonário da Ordem, Miguel Guimarães, o PM "não transmitiu integralmente e fielmente [aos jornalistas] aquilo que minutos antes tinha reconhecido à Ordem dos Médicos".

Dito de outra forma: fracassou a tentativa de Costa para desanuviar o ambiente, insistindo a OM na ideia de que "o apoio continuado aos lares não pode ser atribuído aos médicos de família".

O PS quer agora passar à ofensiva, dramatizar a aprovação do OE 2021 - e, porventura, recordar que o eventual chumbo da proposta governamental terá tudo para criar uma situação de grave impasse, visto que, nessa altura, já no último semestre do seu mandato, o Presidente da República não poderá resolver o problema dissolvendo a Assembleia da República e convocar legislativas antecipadas. Essa impossibilidade entrará em vigor a partir de 9 de setembro.

marcar artigo