Puxão de orelhas de Ferro marcou regresso da reunião com especialistas da saúde

25-10-2020
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Marcelo Rebelo de Sousa entrou mudo e saiu calado. António Costa falou à entrada, para dizer que este era um "momento crítico", e não mais se lhe ouviu a voz. Caberia a Eduardo Ferro Rodrigues o papel principal no regresso das reuniões entre especialistas de saúde e as mais altas figuras do Estado, de uma forma inusitada: a intervenção da segunda figura do Estado foi transmitida em direto graças a um erro da organização.

Numa reunião - a primeira a ter uma parte pública - que foi pensada para falar sobre o regresso às aulas, as críticas do Presidente da Assembleia da República à forma como tem sido feita a gestão dos surtos nos lares acabaram por marcar o encontro numa fase que devia ser reservada e não transmitida ao público.

"Foi 'o' momento do debate", conta ao Expresso um dos participantes na reunião. Assim que se tornaram públicas, as palavras de Eduardo Ferro Rodrigues causaram um embaraço ao Governo, que, à saída da reunião, se teve de desfazer em explicações e respostas ao puxão de orelhas.

Lá dentro, no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Ferro foi lesto em apontar o dedo às autoridades de saúde e, por arrasto, ao Executivo socialista. “É isso que não consigo perceber porque é que não se apreenderam lições da primeira fase e não se retiraram lições para a evolução da situação em julho e em agosto, nomeadamente”, criticou o socialista que já foi ministro com aquela pasta.

À saída, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, e Marta Temido, ministra da Saúde, tiveram de dar explicações e garantir o que contrário: o Governo e a máquina do Estado tudo têm feito para otimizar a resposta nos lares.

Sinais positivos para a reabertura das escolas...

Apesar dos reparos de Eduardo Ferro Rodrigues, o encontro entre especialistas e representantes políticos acabou por ser dominado sobre a questão do regresso às aulas. E há um dado importante a ressalvar: as crianças parecem transmitir menos a doença do que os adultos.

Foi essa, pelo menos, a convicção transmitida pela infecciologista pediátrica Maria João Brito, com base num estudo realizado no Hospital Dona Estefânia. "Este vírus não se transmite da mesma forma que o vírus da gripe ou outros vírus respiratórios. Portanto, o encerramento das escolas que nos levou ao medo que se iniciasse a infeção a partir da criança para o adulto - que é o que acontece com a gripe -, não parece realmente que seja o modelo que acontece com este vírus. E isto pode ser reconfortante na decisão da reabertura das escolas", disse.

Menos otimista, Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, reconheceu que a situação é "muito complexa" mas, ao mesmo tempo, defendeu que uma segunda vaga de Covid-19 em Portugal não tem de ser uma "fatalidade".

“A reabertura das escolas, no seguimento das medidas de relaxamento do confinamento, tem uma grande propensão para originar uma segunda onda. Mas não é uma coisa inevitável e conseguimos até estimar o que podemos fazer para a evitar”, sublinhou.

Como? De forma muito exigente. Se durante a reabertura das escolas os contactos nas escolas forem reduzidos em 30% em relação à época “pré-covid”, e se isso for conjugado com uma redução para metade dos contactos na sociedade em relação ao que acontecia durante s era “pré-covid”. Uma equação muito difícil de cumprir.

... e más notícias sobre a vacina

Em contrapartida, Rui Ivo, presidente do Infarmed e outro dos intervenientes neste encontro, aproveitou a reunião para colocar alguma água na fervura sobre a eventual disponibilidade de vacinas em Portugal.

“Os dados preliminares que já foram disponibilizados, e a breve trecho teremos os dados deste estudo de fase 3, são positivos, portanto, são bastante promissores em termos do desenvolvimento das vacinas. Mas o desenvolvimento está numa fase precoce", salvaguardou o responsável.

No entretanto, e tal como foi revelado, as notícias sobre a transmissão do vírus merecem redobrada atenção.

Entre 17 e 30 de agosto, como revelaram os especialistas, registaram-se 3.909 novas infeções, sendo que 49% desses contágios aconteceram em contexto familiar e apenas 16% em contexto laboral.

Portugal está entre os piores países quando se compara a incidência com a transmissibilidade do novo coronavírus, mostram os mapas apresentados esta tarde por Ausenda Machado, do Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Portugal piorou no indíce de transmissibilidade efetivo (Rt) desde o início de julho até agora. Passou de um Rt inferior a 1 para um Rt de 1,12. Tem agora também uma incidência de casos mais elevada. Passou de 20 casos por 100 mil habitantes no início de agosto, para mais de 40.

Dados preocupantes num momento em que milhares de pessoas se preparam para voltar ao trabalho presencial e que milhares de crianças e adolescentes regressam às escolas. Não é certo, no entanto, que o país volte a ter oportunidade de ter acesso a estas e outras conclusões, uma vez que não ficaram definidas novos encontros desta natureza.

Marcelo Rebelo de Sousa entrou mudo e saiu calado. António Costa falou à entrada, para dizer que este era um "momento crítico", e não mais se lhe ouviu a voz. Caberia a Eduardo Ferro Rodrigues o papel principal no regresso das reuniões entre especialistas de saúde e as mais altas figuras do Estado, de uma forma inusitada: a intervenção da segunda figura do Estado foi transmitida em direto graças a um erro da organização.

Numa reunião - a primeira a ter uma parte pública - que foi pensada para falar sobre o regresso às aulas, as críticas do Presidente da Assembleia da República à forma como tem sido feita a gestão dos surtos nos lares acabaram por marcar o encontro numa fase que devia ser reservada e não transmitida ao público.

"Foi 'o' momento do debate", conta ao Expresso um dos participantes na reunião. Assim que se tornaram públicas, as palavras de Eduardo Ferro Rodrigues causaram um embaraço ao Governo, que, à saída da reunião, se teve de desfazer em explicações e respostas ao puxão de orelhas.

Lá dentro, no auditório da Faculdade de Medicina da Universidade do Porto, Ferro foi lesto em apontar o dedo às autoridades de saúde e, por arrasto, ao Executivo socialista. “É isso que não consigo perceber porque é que não se apreenderam lições da primeira fase e não se retiraram lições para a evolução da situação em julho e em agosto, nomeadamente”, criticou o socialista que já foi ministro com aquela pasta.

À saída, José Luís Carneiro, secretário-geral adjunto do PS, e Marta Temido, ministra da Saúde, tiveram de dar explicações e garantir o que contrário: o Governo e a máquina do Estado tudo têm feito para otimizar a resposta nos lares.

Sinais positivos para a reabertura das escolas...

Apesar dos reparos de Eduardo Ferro Rodrigues, o encontro entre especialistas e representantes políticos acabou por ser dominado sobre a questão do regresso às aulas. E há um dado importante a ressalvar: as crianças parecem transmitir menos a doença do que os adultos.

Foi essa, pelo menos, a convicção transmitida pela infecciologista pediátrica Maria João Brito, com base num estudo realizado no Hospital Dona Estefânia. "Este vírus não se transmite da mesma forma que o vírus da gripe ou outros vírus respiratórios. Portanto, o encerramento das escolas que nos levou ao medo que se iniciasse a infeção a partir da criança para o adulto - que é o que acontece com a gripe -, não parece realmente que seja o modelo que acontece com este vírus. E isto pode ser reconfortante na decisão da reabertura das escolas", disse.

Menos otimista, Manuel do Carmo Gomes, da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa, reconheceu que a situação é "muito complexa" mas, ao mesmo tempo, defendeu que uma segunda vaga de Covid-19 em Portugal não tem de ser uma "fatalidade".

“A reabertura das escolas, no seguimento das medidas de relaxamento do confinamento, tem uma grande propensão para originar uma segunda onda. Mas não é uma coisa inevitável e conseguimos até estimar o que podemos fazer para a evitar”, sublinhou.

Como? De forma muito exigente. Se durante a reabertura das escolas os contactos nas escolas forem reduzidos em 30% em relação à época “pré-covid”, e se isso for conjugado com uma redução para metade dos contactos na sociedade em relação ao que acontecia durante s era “pré-covid”. Uma equação muito difícil de cumprir.

... e más notícias sobre a vacina

Em contrapartida, Rui Ivo, presidente do Infarmed e outro dos intervenientes neste encontro, aproveitou a reunião para colocar alguma água na fervura sobre a eventual disponibilidade de vacinas em Portugal.

“Os dados preliminares que já foram disponibilizados, e a breve trecho teremos os dados deste estudo de fase 3, são positivos, portanto, são bastante promissores em termos do desenvolvimento das vacinas. Mas o desenvolvimento está numa fase precoce", salvaguardou o responsável.

No entretanto, e tal como foi revelado, as notícias sobre a transmissão do vírus merecem redobrada atenção.

Entre 17 e 30 de agosto, como revelaram os especialistas, registaram-se 3.909 novas infeções, sendo que 49% desses contágios aconteceram em contexto familiar e apenas 16% em contexto laboral.

Portugal está entre os piores países quando se compara a incidência com a transmissibilidade do novo coronavírus, mostram os mapas apresentados esta tarde por Ausenda Machado, do Instituto Nacional de Saúde Pública Dr. Ricardo Jorge (INSA).

Portugal piorou no indíce de transmissibilidade efetivo (Rt) desde o início de julho até agora. Passou de um Rt inferior a 1 para um Rt de 1,12. Tem agora também uma incidência de casos mais elevada. Passou de 20 casos por 100 mil habitantes no início de agosto, para mais de 40.

Dados preocupantes num momento em que milhares de pessoas se preparam para voltar ao trabalho presencial e que milhares de crianças e adolescentes regressam às escolas. Não é certo, no entanto, que o país volte a ter oportunidade de ter acesso a estas e outras conclusões, uma vez que não ficaram definidas novos encontros desta natureza.

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