OS TEMPOS QUE CORREM. Miguel Vale de Almeida

01-09-2020
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Gente remota e estranha*.

«No estamos legislando, Señorías, para gentes remotas y extrañas. Estamos ampliando las oportunidades de felicidad para nuestros vecinos, para nuestros compañeros de trabajo, para nuestros amigos y para nuestros familiares, y a la vez estamos construyendo un país más decente, porque una sociedad decente es aquella que no humilla a sus miembros.» Texto completo do discurso de Zapatero aqui; A nova lei aqui; já agora, A iniciativa Random Reindeer aqui)

* somos nós, aqui.

mva |

Tele-Aljubarrota.

Pequeníssimas reportagens nos noticiários portugueses sobre o dia de hoje em Espanha. Num caso, nem correspondente havia; noutro, era entrevistado um padre, mas ninguém do lado do governo; noutro ainda, Zerolo fala como se fosse mais um na rua - a TV não explica quem ele é, talvez porque não imagine que seja possível haver um político assumidamente gay (e o nível é tão baixo que até nas legendas surge a palavra "dEscriminação"...). Absolutamente ninguém em Portugal é convidado a comentar: o assunto não existe entre nós, por decreto televisivo, normalmente mascarado de entendimento supremo daquilo que move as pessoas - talvez por isso Adelino Ferreira Torres, um cacique de um remoto esconço rurícola da Europa, tem mais tempo de antena. Talvez sejam estas as "prioridades nacionais".

Mas como interpretar este misto de incompetência profissional, desprezo, alheamento do mundo e pura e simples ignorância? De duas maneiras. A pessimista é que se trata de um efeito de hegemonia ("isso de gays não existe entre nós", "este país não é a Espanha", etc.) e/ou de uma estratégia propositada (a quem pertencem e a quem devem as TVs? Hello!...). A optimista é que o assunto dos casamentos gay e lésbicos não perturbe tanto assim e as redacções estejam a partir do princípio que, em breve e sem grande "estrilho", também por cá seremos civilização.

A ser verdade, então nesta legislatura ainda - ouviu, senhor engenheiro?

mva |

O fim do Antigo Regime.

«LVD - 30/06/2005 - 10.28 horasActualizada: 30/06/2005 11.30 horas Madrid. (Agencias).- El Pleno del Congreso de los Diputados aprobó hoy de forma definitiva la ley que regula el matrimonio entre personas del mismo sexo y que abre la adopción a estas parejas, por 187 votos a favor, 147 en contra (PP y Unió) y cuatro abstenciones (CiU).»

Foi agora, às 10h30 de Lisboa. Como no Canadá ainda falta uma tramitação, como na Holanda não permitem as adopções internacionais e como na Bélgica não permitem de todo a adopção, a Espanha torna-se no primeiro país com real igualdade legal entre heterossexuais e homossexuais.

¡Igualdad y libertad! Igualtat i llibertat! Berdintasun eta askatasun! Igualdade e liberdade! Enhorabuena, felicitats, zorionak, noraboa! Parabéns, man@s!

mva |

Do cheiro a bispo.

Dizem os bispos:

«... a Conferência Episcopal defende o direito de os pais intervirem na definição dos programas e na selecção dos professores que leccionem a disciplina, insurgindo-se contra as metodologias pedagógicas "que excitam a imaginação e exploram sensações de forma manipulatória". (DN, e seguintes)

Digo eu:

Hummm... Excitação da imaginação e exploração de sensações? Fátima? Milagres? Possessões? Exorcismos? Cilícios?

Dizem os bispos:

«..."os pais têm o direito e o dever de educar os filhos, inclusive no referente à sexualidade (...) O exercício desse direito-dever é anterior à intervenção de outras instituições, designadamente a escola." É a esta que "compete decidir as orientações educativas que deseja para os seus filhos, decorrentes dos seus valores, crenças e quadro cultural", sublinha-se.

Digo eu:

Portanto... a família sobrepõe-se à comunidade e ao Estado na escola, mesmo que obrigue uma filha a usar burka?

Dizem os bispos:

«..."tão-pouco se poderão considerar como padrão comportamentos evidenciados por minorias, tal como o que respeita às relações sexuais praticadas por adolescentes", acrescenta-se.»

Digo eu:

Ficamos a saber que os vinte e três adolescentes que praticam sexo merecem engravidar ou apanhar o VIH, porque tiveram culpa por não aderirem à imensa maioria que fez votos de abstinência.

Dizem os bispos:

«..."deturpa o sentido da sexualidade, isolando-a da dimensão do amor e dos valores, e abre caminho à vivência da liberdade sem responsabilidade (...) e à aceitação, por igual... manifestações da sexualidade, desde o auto-erotismo, à homossexualidade e às relações corporais sem dimensão espiritual porque o amor e o compromisso estão ausentes".»

Digo eu:

Hummm... o auto-erotismo e a homossexualidade dos sacerdotes da única confissão religiosa que proíbe o sexo ao seu clero são bons porque têm uma dimensão... espiritual?

mva |

Que país é o deles?

Um amigo queixava-se hoje do programa "Prós e Contras" (acho que se chama assim ainda) na RTP. Eu não vi, mas ele tirou-me as palavras da boca, pois parecia estar a fazer a síntese de tudo o que está errado com o espaço público mediático chênu. Um bando de homens - é sempre um bando de homens; maioritariamente economistas (os novos advogados); com imperceptíveis diferenças entre direita e esquerda; e falando um newspeak supostamente realista e incontornável (com uma autoridade que roça o autoritarismo, pelo menos intelectual): ele é "o País" (e o interesse do dito); ele é "a sociedade" (e a generalização da dita); ele é o "desenvolvimento" (e a não adjectivação do dito)... Acontece que estes termos são abstracções ideológicas. O intuito é usar termos que pareçam neutros e consensuais para ocultar escolhas que são marcadamente políticas. O governo (todos os governos até hoje) faz o mesmo. Não é no "interesse do País" que Sócrates toma as medidas que toma? Não é por "a sociedade não estar preparada" que se atrasa sempre a descriminalização do aborto, a legalização dos imigrantes e a mudança da lei da nacionalidade, ou se pretende esquecer a inconstitucionalidade do código civil no respeitante ao casamento?

mva |

Stone the wall.

Random Precision e Renas e Veados vão levar avante mais uma forma de pressão para a igualdade no casamento: «(...) o projecto entre o «Random Precision» e o «Renas e Veados» consiste precisamente no acompanhamento - jurídico e pessoal - de alguns casais homossexuais que conjuntamente se irão apresentar perante um Conservador do Registo Civil, solicitando a abertura de um processo de casamento (...)» (ver aqui e aqui).

As Panteras Rosa vão hoje tomar a temperatura à homofobia, com casais demonstrando o seu afecto em público, na presença oculta (!) de jornalistas.

Quinta-feira, dia 30, o Congreso de los Diputados (seguir os links "Actualidad" e "Agenda") aprovará por fim a alteração do Código Civil espanhol.

No sábado, dia 2, o Mado (o Dia do Orgulho LGBT de Madrid) será com certeza uma gigantesca manifestação de celebração da democracia.

mva |

Gaio.

Este é o garrulus glandarius, mais conhecido como gaio (pt), ou jay (inglês), ou geai (francês), ou ghiandaia (italiano), ou.... "Gaio", além de referir o bicharoco, tem origem na palavra latina gaius ou na fancesa e provençal gai - e quer dizer alegre, jovial. Já a gaia-ciência era a arte de poetar entre os provençais da Idade Média; e gaiato quer dizer ladino, alegre, esperto.

mva |

Agora é que foi mesmo.

Acabou o fragassauro. (fonte: Vieiros)

mva |

Esquerda-caviar (ou campari) e...

Aqui estão todas as sugestões submetidas. De cariz alimentar: direita-carapau; direita-bagaço; direita-pâté d' atum; direita-hóstia de camarão; direita-pasta de sardinha; direita-tomatada; direita-patanisca; direita-bacalhau; direita-sardinha; direita-trombeiro; direita-ovos de choco; direita-torresmo; direita-rissol-de-carne; direita-bolo-de-bacalhau; direita-champinhons; direita caldo verde; direita-cachucho; direita-chaputa; direita-sopas de cavalo cansado; direita-carrascão; direita-jaquinzinhos; direita tremoço; direita-bagre-ensaboado; direita-tubarão-cabeça-chata; direita-dourado; direita-baiacu; direita-polvo; direita-camarão; direita-caranguejo; direita-sande-de-córatos; direita carapau-de-corrida; direita-torta; direita-palmeta; direita-coiratos. Também houve quem saísse da mesa...: direita-chulé; direita-abananada; direita-pró lixo; direita-pró céu; direita-papista; direita-volver. E quem distinguisse direitas: direita-torresmo, direita-trauliteira, direita-hóstia e, como proposto equivalente, direita-coca.

mva |

Mudança.

Os TQC mudaram de template. Foi uma rendição. Aos tempos que correm e aos problemas que surgiam. No meio da mudança, lá se foram os comentários - que por aqui não vigora uma grande knowledge destas coisas... Mas prometo recuperar os a votação sobre a "direita-torresmo",num post. Se alguém me ensinar a recolocar os comentários da Haloscan, agradeço. De resto, isto ainda estará em construção ao longo desta semana - nomeadamente em ensaios de cores e pequenos pormenores.

mva |

O que é que tem o Barnabé?

Sei que não é de bom tom comentar os outros blogs enquanto blogs, mas não posso deixar de saudar a decisão do Daniel. O Barnabé estava ilegível desde há uns meses. (boca: nem a transformação dos blogs em livros, nem os alargamentos excessivos no número de autores me parecem positivos nos universos virtuais. Desvirtua.... Mas isto sou eu, lobo solitário). Espero que o Daniel comece uma coisa nova e entusiasmante - e já agora, please, o Rui Tavares também.

mva |

Balanço.

A Marcha LGBT não terá dado ainda o grande salto quantitativo, ao contrário de outros países, embora tenha parecido mais concorrida a quem lá esteve. No entanto, creio não errar se disser que deu um grande salto qualitativo. Refiro-me ao mais importante: a mediatização (enquanto sinónimo de importância social e política, não, é claro, enquanto mero tabloidismo). Tal deveu-se à escolha justa e acertada do tema do casamento como reivindicação central. Este tema tem várias características férteis: é uma reivindicação positiva, em que um grupo excluído exige o acesso ao "centro"; é uma reivindicação entendível, pois o grosso da sociedade sabe o que é o casamento; é uma reivindicação incontornável, pois obriga todos os sectores sociais e políticos a tomarem posição sobre ela, a confrontarem-se com a homofobia, mesmo que subtil, e a serem coerentes com a defesa do princípio da igualdade. É uma reivindicação simultaneamente progressista e aberta a tod@s, na linha dos direitos civis. Por fim, é uma reivindicação estratégica, à boleia da evolução espanhola e do que começa a acontecer um pouco por toda a Europa.

O movimento LGBT está de parabéns pela sua crescente capacidade política e pela superação dos medos e receios sobre essa vaguíssima entidade chamada "sociedade portuguesa" (e a sua famigerada "mentalidade"). Nas ruas da capital exigiram-se direitos, igualdade e dignidade.

Por fim, nunca será demais chamar a atenção para o seguinte: em Portugal, as associações LGBT fazem o seu trabalho com meia-dúzia de voluntários, tod@s pessoas com as suas vidas profissionais e familiares; o trabalho não é remunerado e não dá benesses; as entidades públicas, ao contrário do que acontece noutros países, não dão qualquer apoio financeiro sustentado ao funcionamento e acção das associações. Quaisquer 100 euros para pagar um qualquer panfleto são tirados a ferros, a maioria das vezes dos recursos da próprias pessoas. Por tudo isto, acho que o movimento LGBT deveria engajar-se na exigência de respostas claras por parte das candidaturas autárquicas. No caso de Lisboa, é simplesmente básico que o Arraial Pride volte a ocupar um espaço central da cidade, um local onde desemboque a marcha; e que o associativismo seja dignificado com o apoio público, no que será um investimento "civilizadamente normal" na criação de cidades mais igualitárias e diversas. E esperemos pelo crescimento de uma campanha pelo direito ao casamento, envolvendo cada vez mais os sectores não-LGBT da sociedade.

Beijos e abraços de parabéns e agradecimento a todo o voluntariado LGBT!

mva |

Marcha.

Este ano a publicidade mediática foi melhor e mais séria. Este ano a Marcha conta com o apadrinhamento de pessoas "de fora" (salvo seja), que a dignificam (mais) e popularizam. Este ano vão-se captando sinais de que mais gente quer aparecer, deixando de lado ideias feitas ora sobre o lado "manifestação", ora sobre o lado "exibição" (curiosamente contraditórias entre si...). Este ano houve Viseu, e houve Espanha e mudou o governo. Este ano mais gente perderá o medo e mais gente L, G, B, T e H aparecerá para mostrar que a sociedade deve ser diversa, inclusiva e baseada na igualdade de direitos. Estarei a delirar de optimismo ou vocês vão ajudar a confirmá-lo?

PS: Algo de estranho se passa com este blog. E a culpa não é do template. A Blogspot mudou o dashboard e cheira-me que a culpa reside aí. Ai, a globalização e a dependência do exterior...

mva |

O duplo problema.

A moda da diabolização do Estado e da função pública - professores incluídos - é uma estratégia torpe da direita. E um caso típico de aplicar ao nosso contexto grelhas de análise produzidas noutros locais e para outras realidades. Este é o primeiro problema. Mas o segundo é também terrível: o facto de o nosso Estado e a nossa função pública terem mesmo defeitos graves. Não vamos a lado nenhum simplesmente desmontando o argumento da diabolização ou escamoteando os defeitos do Estado e da função pública. A esquerda precisa de dizer: o nosso Estado e a nossa função pública estão em grande medida mal; precisam de profundas reformas; e essas reformas não devem ser uma carta branca para o neo-liberalismo.

mva |

Palavras necessárias.

A propósito dum post anterior, acho que teria piada inventar uma expressão simétrica de "esquerda caviar". Já não há paciência para esta expressão achincalhante que pretende denunciar uma suposta contradição entre ser de esquerda e gostar de uma vida boa. É altura de denunciar a direita dos privilégios que usa um discurso popular e populista para nos convencer que defende o povo e que está mais próxima dele do que os "elitistas" da esquerda intelectual. Tinha proposto direita-torresmo, mas alguém chamou a atenção para a necessidade de simetria com o "caviar" e propôs o delicioso direita-carapau. Em rigor, para haver simetria teria que ser direita ovas de pesacada, ou algo assim. Mas talvez não seja preciso simetria exacta. Aceitam-se propostas para este concurso sem prémio. Direita sardinha?

mva |

A gente depois vê isso.

Não percebo o "argumento" recorrente do tipo "não é uma prioridade, com tantos problemas por resolver no país...", usado para adiar a igualdade de direitos. É que, no caso do casamento, basta alterar o Código Civil. Qualquer comissão parlamentar faz isso às três pancadas, com o texto à frente e o lápis na mão. Quanto ao debate, claro que será feroz. Mas em que é que isso prejudica a economia ou aumenta o défice ou o desemprego? A velha teoria das prioridades - partilhada à esquerda e à direita, profundamente masculinista no seu privilegiar de certos assuntos de "homem" e no desprezar de "coisas de mulheres e maricas" - passou para o "povo".

mva |

Carta aberta.

Dantes havia a instituição da "carta aberta": uma pessoa, geralmente um intelectual engajado ou alguém na política, escrevia a outra pessoa do mesmo tipo ou a uma instituição, contestando alguma coisa e tornando essa contestação pública através de um jornal. Isso era nos tempos em que o espaço público era coutada de meia-dúzia e dependia dos jornais. Hoje isso está (mais) democratizado (é claro que é preciso saber escrever, usar um computador e aceder à Internet, mas já é mais democrático): basta usar um blog - sem passar pelo crivo das redacções dos jornais.Os partidos - sobretudo os de esquerda - ainda não perceberam isso. Ou não lêem os blogs ou olham-nos de cima. Sobretudo em Portugal, por causa da bizarra característica de o fenómeno blogueiro ter começado na direita-caviar (perdão, na direita-torresmo, para fazer simetria). Insistem em jornais internos que de pouco servem; insistem em louvar a democracia interna mas protelando a participação para eventos de quando em quando. Isto vai afastá-los cada vez mais do contacto com @s livres-pensadore/as e com as identidades complexas e fragmentadas da maioria das pessoas, começando pelos mais jovens. Essa complexidade e essa fragmentação impedem as pessoas de aderir a partidos políticos, porque estes se apresentam como burocracias e como projectos em que é preciso comprar o pacote todo.Nada tenho contra os partidos e detesto o populismo para-fascista do discurso anti-partidos. Eles não só são necessários, como são fundamentais para a democracia. Mas se continuam a repetir velhos hábitos, desligar-se-ão do demos em "democracia" e tornar-se-ão em "pessoas colectivas" ou "corporações". E @s livres-pensadore/as sairão deles sem qualquer hesitação.É claro que - reconheço - no quadro institucional actual, os partidos, se querem ser eficazes, têm que se organizar como pessoas colectivas ou corporações. Mas @s livres-pensadore/as é que não têm que engolir isso como uma fatalidade - desde que continuem a sua acção política e cívica noutros fora, através de outros media e deixando-se permear pela complexidade e a fragmentação.

mva |

Cidade capital cosmopolita.

As cidades são os lugares por excelência do encontro e confronto de diversidades e desigualdades múltiplas. As cidades são os lugares para onde acorrem refugiados políticos, imigrantes em busca de trabalho e/ou liberdade, mulheres que se independentizam, gays e lésbicas que procuram comunidades de libertação e apoio, jovens em busca de autonomia, pobres em busca de melhor vida. As cidades são também os lugares por excelência do encontro e confronto entre diferentes visões do mundo, da sociedade, da pessoa. Por isso as vanguardas artísticas, os experimentalismos e as dissidências ocorrem no seio do burburinho urbano. Estas duas dimensões são as dimensões do cosmopolitismo - uma concepção que recobre a expressão "multiculturalismo" mas que lhe retira a carga essencialista, de separação entre grupos culturais que coexistem hierarquizados, e que acentua mais a produção de híbridos e de novidade, preocupando-se com a criação de igualdade de oportunidades. "Cosmopolitismo" deve também ser sinónimo de liberdade - de muitas liberdades pessoais e muitas liberdades colectivas de identificação, associação, expressão. A capital de um país deve ser o lugar por excelência da promoção de valores cosmopolitas de diversidade e do combate contra as desigualdades. As duas "culturas" - a cultura com c pequeno no seu sentido antropológico e a cultura com c grande, no seu sentido artístico (e só faço esta distinção por razões de facilidade no discurso) - devem ser duas prioridades numa visão de cidade capital cosmopolita. Tal só se consegue com apoios concretos. Ambos constituem investimentos sociais, no sentido em que os gastos de hoje colherão frutos no futuro em termos de menos conflito social e maior dinâmica cultural (algo que pode reflectir-se, por exemplo, no turismo, na imagem que uma cidade projecta para fora). Em Lisboa não existe verdadeiro apoio ao associativismo (há-o, mas pouco, para as colectividades de cultura e recreio; é inexistente para associações representativas de minorias sociais étnicas, de género ou sexuais). Mesmo conseguido esse apoio - que deve ser financeiro e material - é preciso que a CML apoie também a visibilidade e dignificação das expressões minoritárias. É, por exemplo, inconcebível o exílio a que foi votado o Arraial Pride LGBT para o Parque do Calhau (!), retirando-o do centro da polis, ou a desatenção a um evento de qualidade como o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. O mesmo poderia ser dito de empreendimentos relacionados com a imigração ou com as mulheres (onde estão as esquadras de polícia para mulheres, por exemplo?). No plano da cultura com c grande, idem: aos poderes públicos não compete apenas apoiar "o que há" (repertório, tradições, etc), numa perspectiva parecida com a da direita em relação ao patrimonialismo, mas sim apoiar as vanguardas e as experiências, pois são elas que depois vão dar frutos na criação de uma cidade mais dinâmica e moderna. O estado calamitoso de Lisboa em todos os planos leva a que se tenha uma tendência "conservacionista" e estimula nostalgias de classe média em relação a supostos tempos de "bairros", "proximidades", "tranquilidades" e outras fantasias bucólicas. Mas não podemos cair nessa armadilha - o caminho é para a frente, não para trás. Sobretudo nestas áreas das "duas" culturas.

Tudo isto faz ainda mais sentido no quadro não só da integração europeia como, sobretudo, da integração ibérica: qual a mais valia de Lisboa? Creio que é aquela que António Pinto Ribeiro já definiu: plataforma de cruzamento (humano, simbólico, artístico, etc) entre a Europa, a África e a América - sobretudo Latina). Lisboa deve ser um porto: de abrigo, de misturas e de liberdades.

Que fazer nas autárquicas?

Na candidatura de Carrilho, tudo isto se resume à retórica a que nos habituou. Não é com os pequenos protagonismos típicos do PS que Lisboa se safa (e desde o episódio do vídeo e da criança é mesmo "pequeno" protagonismo). Na candidatura de Ruben vislumbra-se o aparelho do PC a reunir tropas para a sua obsessão de medir forças com o Bloco. Quanto a este, apressou-se a servir de apoio partidário à candidatura de Sá Fernandes. Pessoalmente, já manifestei ao Bloco que me desvinculo desta candidatura. Por uma questão de princípio: não aceito, a não ser para a Presidência da República - cargo unipessoal - candidaturas pessoalizadas e na base dos protagonismos cívicos. E por questões de conteúdo: o programa-base com que se apresentou é colado do património do PPM/Ribeiro Telles/MPT, uma espécie de nostalgia patrimonialista de uma cidade tranquila, de bairros e hortas, que ou nunca existiu ou só existiu para alguns à custa da exclusão periférica de muitos.

A esquerda portou-se mal em Lisboa. Não há paciência para o jogo da simples contagem de espingardas partidárias, ou de falsas alternativas pessoalizadas - sobretudo quando já houve uma candidatura, a do Bloco nas últimas eleições, que se preocupou mesmo em construir um excelente programa com valores de promoção da igualdade, de estímulo à liberdade e com visão "metropolitana" (é a área metropolitana que deve ser pensada, não o concelho - e é por este concelho não fazer sentido que os partidos tornam a lógica eleitoral numa lógica nacional). Posto isto, não apoio nenhuma candidatura, mesmo que vá votar para impedir o jogo sujo de Carmona Rodrigues (Nogueira Pinto protagoniza apenas uma candidatura misericordiosa...), cuja estratégia é fingir que só ele não é como Santana Lopes (quando ele é Santana Lopes, como o é a actual Câmara que se propõe ser reconduzida).

mva |

Mientras tanto, en el poniente...

«Portugal.

Los homosexuales portugueses pedirán el derecho al matrimonio en el desfile del Día del Orgullo Gay en Lisboa

LISBOA, 22 Jun. (De la corresponsal de EUROPA PRESS, Patricia Ferro)

La legalización del matrimonio civil entre personas del mismo sexo será la reivindicación de los homosexuales portugueses en el desfile del día del Orgullo Gay, Lésbico, Bisexual y Transexual, que el sábado se celebrará en una céntrica avenida de Lisboa, anunció hoy la organización. El sexto desfile del orgullo gay que se celebra en Portugal tendrá como padrinos a los escritores Inés Pedrosa y Rui Zink, que asistieron a la presentación del acto y ambos destacaron que el matrimonio entre dos personas del mismo sexo es "un derecho a la normalidad", ya que la situación en Portugal no se corresponde con la Constitución que prohíbe la discriminación con base en la orientación sexual. (...)» (aqui)

mva |

Agora que já fizeram birra, vamos às coisas sérias.

«Pleno Senado veta el proyecto ley matrimonio entre homosexuales.

El pleno del Senado vetó hoy con 131 votos -mayoría absoluta- el proyecto de ley que permite el matrimonio entre personas del mismo sexo, un rechazo que apoyaron todos los senadores del PP, cuatro de CiU y el parlamentario del Partido Aragonés, José María Mur. El texto se remite ahora al Congreso, donde es previsible que la mayoría absoluta de los diputados apoye el próximo jueves 30 de junio el proyecto para levantar el veto, con lo que la ley se aprobaría definitivamente ese día. (...)» (aqui)

No dia 2 de Julho, o Pride de Madrid vai ser histórico - 3 dias depois da esperada aprovação final dos casamentos.

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O Evangelho segundo São Gaio.

Desculpem, mas esta semana é one-track mind...

A conferência de imprensa de hoje, no Centro Comunitário Gay e Lésbico de Lisboa, deu frutos: uma das melhores coberturas jornalísticas de sempre do anúncio da Marcha LGBT:Agência Lusa; SIC; SIC-Mulher; RTP. Haverá mais quantidade amanhã, mas para já a qualidade é boa.

Entretanto: a ideia R 'n' V sobre convocatórias SMS é excelente. Alguém quer sugerir uma frase fresca e mobilizadora, para LGBTs, gay friendlies e concerned citizens? Podem colocar nos comentários...

mva |

Madrinhos (ou padrinhas)

Este ano a Marcha LGBT conta com a presença de madrinhos vindos do "exterior": Inês Pedrosa e Rui Zink. Que tal como argumento para mais pessoas gay friendly ("amigaynhos"?) aparecerem? Lembrem-se: «Uma sociedade pode ser julgada pela forma como trata as suas minorias» (Ghandi)

mva |

Pergunta inocente.

Se já não há referendo à Constituição Europeia, porque não aproveitar para fazer o referendo ao aborto?

mva |

É aquela semana do ano...

«Manifesto 2005

Cumprir a Constituição: Homofobia Não!

«Os paneleiros hádem morrer todos». A frase é de um dos elementos de uma milícia organizada que em Viseu decidiu perseguir, ameaçar e atacar homens gay. Esta foi uma expressão mais violenta e visível de uma homofobia doentia que é afinal bem mais generalizada do que os erros gramaticais dariam a entender: no campo, na cidade, na escola, na família, no trabalho, nos jornais, na televisão, no café, no dia-a-dia, a homofobia está no meio de nós. À homofobia que nos remete para a vergonha do armário respondemos hoje, mais uma vez, e sempre, com o orgulho de a recusarmos. Somos lésbicas, somos gays, somos bissexuais, somos transgénero, somos cidadãs e cidadãos da República Portuguesa e a nossa Constituição já diz não à discriminação. Portugal é, neste momento, o único país da Europa cuja Constituição proíbe explicitamente a discriminação com base na orientação sexual - é tempo de "Cumprir a Constituição" e de dizer "Homofobia não!"

Depois de uma campanha eleitoral marcada por tentativas de exploração da homofobia, exigimos do novo Governo e da nova maioria medidas concretas de combate ao preconceito homófobo e o fim da discriminação na lei. Precisamos de novas medidas legislativas e da responsabilização do Estado na promoção da educação anti-homofobia - para além da aplicação efectiva de leis já existentes. Precisamos que o Estado dialogue com o movimento LGBT (Lésbico, Gay, Bissexual e Transgénero) na identificação das discriminações sistemáticas praticadas pelos próprios organismos públicos, desde o impedimento da doação de sangue por homens homossexuais às barreiras no acesso às Forças Armadas. No entanto, no mesmo ano em que o Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade do artigo 175º do Código Penal (uma reivindicação histórica do movimento LGBT), apresentamos outra reivindicação clara no sentido do cumprimento do princípio constitucional que garante a igualdade de direitos e deveres: tal como em Espanha, queremos a revisão do Código Civil para que passe a permitir o igual acesso de casais de gays ou de lésbicas ao casamento civil.

Enquanto que casais de pessoas de sexos diferentes têm actualmente acesso ao casamento civil e à união de facto, para os casais de gays ou de lésbicas existe apenas a união de facto. Isso significa que há muitos direitos associados ao casamento civil aos quais gays e lésbicas não têm acesso: do registo às heranças, passando pelos regimes de propriedade até aos inúmeros aspectos da vida quotidiana em que o estado civil é relevante. Estas limitações afectam as relações e as vidas de muitos gays e lésbicas e contradizem o texto da Constituição - que é a nossa Lei Fundamental. Não queremos um país em que haja cidadãs e cidadãos de segunda por causa do amor. Queremos, pelo contrário, uma equiparação legal das relações hetero- e homossexuais. Não aceitamos menos do que a dignidade e o respeito que as nossas relações merecem e recusamos todos os atributos negativos com que a homofobia tenta menorizá-las. Exigimos, pelo contrário, ser igualmente valorizad@s pela sociedade que integramos e sobretudo pelo Estado para o qual tod@s contribuímos.

O fim da exclusão dos casais de gays ou de lésbicas no acesso ao casamento civil promoverá simultaneamente a liberdade e a igualdade. Qualquer objecção a esta medida terá por isso uma única fonte: a homofobia. Enquanto o casamento civil não for alargado aos casais de pessoas do mesmo sexo, é o Estado que endossa e glorifica na lei essa mesma homofobia e é o próprio Estado que classifica as nossas relações de indignas e é o próprio Estado que, sem erros gramaticais, nos insulta. É afinal o Estado que continua a chamar-nos "fufas" e "paneleiros". Com a razão, o coração e a Constituição do nosso lado, e com o apoio de todas as pessoas que se preocupam com os valores da democracia e com os direitos civis, dizemos por isso ao poder político e também às pessoas homófobas deste mundo: recusamos o insulto e a despromoção; temos o direito a viver e temos o direito a amar. E não, não havemos de casar tod@s, mas havemos tod@s de poder fazê-lo.O igual acesso ao casamento civil é a nossa reivindicação clara, a nossa exigência democrática, o nosso grito pela liberdade e pela igualdade.»

É aquela semana do ano... Fast forward na Marcha e play no Arraial!

mva |

Quer dizer, já estava...

Afinal, a situação está tremida na Galiza. Tudo depende da emigração. AAAARGH!

mva |

Xá está!

O Fragossauro já não é absoluto. A Península está quase toda libertada.

mva |

Força, Galiza!

Imaginem que não tinha havido 1640 em Portugal. Imaginem que, séculos mais tarde, na ditadura franquista, um tuga rurícola e beato - sei lá, o Salazar, ou um boçal demagogo, tipo Jardim - ia para Madrid e tornava-se ministro do ditador. Imaginem, depois, que na transição para a democracia a criatura safava-se, regressava à terriña/terrinha e era eleito presidente da Xunta/Junta autonómica. Imaginem - não é difícil, pois não? - que o coiso (OK, demos-lhe um nome: Fragazar? Xardim?) se tornava num cacique, apropriando-se da administração através das "normais" redes de patrocinato e tráfico de influências. E durava, durava, durava, mesmo quando a pele de coelho já cheirasse a ranço e as baterias babassem ácido.

Hoxe/hoje teríamos a oportunidade de votá-lo fora.

mva |

Entre la música i jo.

Em Barcelona redescobri a rádio. Tinha perdido completamente o hábito. A "culpada" da redescoberta foi a RAC105. Agora, graças à internet, posso ouvir horas de música excelente (para mim, claro) Ainda por cima é a única situação mediática em que fico contente quando, de meia em meia hora, há uma interrupção para publicidade e notícias - é que fico conectado com a minha nova língua, o catalão.

mva |

E agora ide para vossas casas destilar vossos ódios.

A inteligência (no sentido estrito, é claro) política da ICAR, da Opus Dei e das suas sucursais "familistas" em Espanha fez com que ontem não surgissem slogans e cartazes explicitamente homofóbicos nas ruas de Madrid. Mas a referida inteligência é feita duma mistura de matreirice e hipocrisia: no contexto actual (de alteração do Código Civil espanhol), defender os modelos "tradicionais" de casamento e família é um apelo à exclusão e à desigualdade perante a lei. Até porque, por baixo desta aparente "civilidade" dos manifestantes, há reivindicações explícitas no sentido de impedir as alterações do Código Civil.

Em blogs, jornais e conversas várias percebe-se a fraqueza da cultura democrática entre nós. Gente que acha que os manifestantes de ontem em Madrid estavam simplesmente a demonstrar a sua "opinião". Não estavam. Estavam a exigir que um segmento da população tenha menos direitos que outro. Mais grave ainda é quando alguém se deixa convencer pelos "argumentos" (again: "inteligência política em sentido estrito") de um grunho televisionado que reivindica o direito a demonstrar "orgulho em ser branco". Nem vale a pena desmontar o absurdo desta frase: basta lembrar que os racistas que se manifestaram ontem em Lisboa querem explicitamente limitar os direitos de outras pessoas - ao trabalho, à residência, ao respeito, à nacionalidade, à cidadania.

A luz optimista ao fim do túnel é que o governo espanhol não vai retroceder na alteração do Código Civil; e em Portugal Sampaio foi à Cova da Moura demonstrar simbolicamente onde se situa a República face ao racismo.

mva |

A força da gravidade.

Figura de negra sustentando uma coluna num café do Porto; (des)calçada portuguesa em Lisboa.

Em Espanha o governo comenta assim a manifestação contra a nova lei do casamento:

«...el Ejecutivo de (...) Zapatero resolvió lanzarse al contraataque y criticar en especial la presencia de los obispos en la marcha de hoy. La vicepresidenta primera del Gobierno, María Teresa Fernández de la Vega, aseguró que "serán los ciudadanos los que deban juzgar que una parte de la jerarquía eclesiástica haya elegido una cuestión como ésta para salir a la calle a manifestarse". De la Vega recordó en todo momento que la reforma impulsada por los socialistas, y apoyada por el resto de partidos de izquierda, no supone en ningún momento un "recorte de libertades". "Lo único que hemos hecho - aseguró - es dar derechos a quienes hoy no los tenían".» (La Vanguardia)

Em Portugal, O Governo-Civil de Lisboa sobre a manifestação "contra a criminalidade":

«O porta-voz do Governo Civil, Geraldo Ayala, disse que "foram analisadas as condições em que foi apresentado o aviso subscrito por três cidadãos sobre a manifestação" e que este está "de acordo com as disposições legais existentes".» (no Público)

À resposta política, de um governo, contrapõe-se a resposta burocrática, dum governo-civil. Curiosamente, até nem acho isto problemático. Agir preventivamente contra a manifestação racista (que se apresentou matreiramente ao G-C como iniciativa de 3 pessoas contra "a criminalidade") seria promovê-la ainda mais do que o estão a fazer os jornais... O que se exige é que as autoridades ajam se houver um só slogan racista dito hoje no Martim Moniz. E que, a partir daí, investiguem a fundo as redes que estão por detrás da organização da coisa. A beleza da democracia está na possibilidade de os anti-gays sairem à rua, ou na extrema abertura do direito de manifestação em Portugal. Mas a beleza só será perfeita se a resposta for, política e legalmente, dirigida aos conteúdos expressos pelos manifestantes. Em ambos os casos é preciso dizer, vezes sem conta, que esta gente, em Madrid ou em Lisboa, está a reinvindicar menos direitos aos seus concidadãos. E no caso português, se se apelar ao ódio, nunca mais esta gente deverá poder manifestar-se, devendo as redes dos organizadores ser investigadas e perseguidas até às últimas consequências.

mva |

Frost.

«Está quente. Está feio. É feio e está quente. É quente e está feio. No horizonte (Cova da Moura? Aldeia da Roupa Branca?) vêem-se nuvens castanhas. O ar pesa. Cheira a lixo. Há pedintes na rua em cruzamentos com sinal fechado. Uma pessoa por cada dois carros - no sinal fechado. Amanhã a fachalada manifesta-se e em Bruxelas não se entendem - e fico no sinal fechado, entalado. Lisboa agoniza, pestilenta, feia como a morte e a velhice dos trapos. Carmona finge que não é Santana; Carrilho publicita a sua capacidade reprodutora; Sá Fernandes fala de hortas; do Ruben nada sei. Está quente e feio e castanho e pesado e sujo e fechado e agonizante e pestilento e feio e morto e velho e hortícola e ignorante na cidade onde vivo. 800 anos de fingimento à beira da exaustão. A exaustão dos rios que por aqui desaguam, negligentes e cansados, o aluvião. Sociedade de aluvião: lama e sarro e sedimento - e não, não me venham com a do estrangeirado que tem por tiques acender cigarro e dizer mal do país. É o país que diz mal de nós - ainda não perceberam? É o país que diz mal de nós, ainda não federam?

Na esperança de dias melhores,

mva |

O entalanço...

Lê-se algures que o rapazio facho quer fazer uma manifestação "anti-criminalidade" (i.e., anti-imigração) no Martim Moniz. Digita-se "Martim Moniz" no Google para descobrir algo sobre a pessoa que deu o nome à praça. Encontra-se isto: «O nome de Martim Moniz está ligado à conquista de Lisboa aos Mouros e figura na memória da cidade através de uma praça com o seu nome. A lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade, ajudado pelos muitos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa. O cerco durou ainda algum tempo, durante o qual se travavam pequenas investidas por parte dos cristãos. Numa dessas tentativas de assalto a uma das portas da cidade, Martim Moniz enfrentou os mouros que saíam para repelir os cristãos e conseguiu manter a porta aberta mesmo a custo da sua própria vida. O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos liderados por D. Afonso Henriques entrassem na cidade. Ferido gravemente, Martim Moniz entrou com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os seus inimigos, antes de cair morto.» Como faço por esquecer conhecimentos inúteis, este pedaço de "informação" já tinha desaparecido da minha cabeça. A História contada às crianças e lembrada ao povo é o supra-sumo da palermice. O rapazio de amanhã deve estar com fantasias de mouros e cristãos. Talvez se entalem. Antes que nos entalem a tod@s.

mva |

Blog em Bloco: Casamentos.

Está disponível no jornal Esquerda (online e pdf) um artigo do Sérgio Vitorino sobre homofobia e questões de política LGBT. Acho que o artigo tem contradições que gostaria de apontar ao Sérgio e ao Bloco. O artigo oscila entre um apelo à luta pelo direito ao casamento como parte fundamental da reivindicação de igualdade, por um lado; e uma suspeita em relação aos supostos efeitos de transformar o casamento numa prioridade, por outro. Sente-se que isto é colocado em termos de uma oposição entre "integracionistas" e "outros". Acontece que esta oposição me parece pouco produtiva nos dias de hoje. Ela é mais própria de há umas décadas atrás. Hoje, certas reivindicações aparentemente integracionistas - como o direito ao casamento - podem resultar radicais; assim como certas reivindicações "radicais" podem ser contraproducentes, quando não esvaziadas de conteúdo. Esta é uma das diferenças entre modernidade e pós-modernidade, gostemos ou não.

Isto leva-me à questão da homofobia como sistema social que deve ser combatido - algo que o Sérgio privilegia. Do ponto de vista teórico, é verdade: combater a homofobia sistémica equivale ao combate ao patriarcado, por exemplo ou, ainda (e para alguns...), ao capitalismo. Só que a escala, a ordem de grandeza e a abrangência desse sistema homofóbico é tal, que é impossível torná-lo em alvo privilegiado das tácticas de luta - a não ser quando se combatem casos concretos de homofobia explícita, como aconteceu com a manifestação de Viseu, tema do artigo do Sérgio.

Tão-pouco concordo que a reivindicação do casamento possa conduzir ao esvaziamento da agenda LGBT uma vez conquistado esse direito. O Sérgio baseia o seu argumento no do que ele apelida de "movimento LGBT espanhol". Ora, esse receio, em Espanha, é veiculado apenas por um sector minoritário, mais radical, e com uma suspeita intelectual e teórica em relação ao casamento em si (homo ou hetero). Não me revejo aí. Sei que o Sérgio se revê mais aí. Tão-pouco é verdade - porque é redutor - dizer que a reivindicação do casamento em Espanha é alimentada pela influência do "euro rosa" (i.e., da mercantilização da "identidade" gay). É-o também, mas não só. E já é altura de se perceber que, hoje, o mercado pode tanto ser "local" de alienação como "local" de emancipação.

Em rigor - isto é, para o bem das causas LGBT - era óptimo que a reivindicação do casamento não se restringisse à área partidária do Bloco. Que o PS e o PC (e, quem sabe, o PSD...) também subscrevessem essa elementar igualização de direitos. Mas lá porque esses sectores estão reféns de ignorâncias, preconceitos, provincianismos e pressões, não deve o Bloco ter receio de ficar solitário nessa luta (nem deve o movimento LGBT achar que, por isso, a luta está "manchada" pelo Bloco). Defendo também que o Bloco não deve suspeitar da importância do casamento. Seria o mesmo que dizer que a segurança social não interessa porque é um paliativo para a desigualdade social... Que essa suspeita se baseie no argumento das "mentalidades" ou da "impreparação" da sociedade para o casamento LGBT, é inaceitável. Se até o Estado tem a obrigação de andar um pouco à frente da sociedade no que diz respeito à defesa de direitos (e em Portugal quantas vezes não anda atrás...), o que não dizer dos partidos de esquerda... O grau de "preparação" duma sociedade ou o grau de "mudança das mentalidades" não são mensuráveis, ao contrário do que dizem alguns gurus da sociologia...

Creio sinceramente que as oscilações no artigo do Sérgio - sobretudo entre o texto principal e a caixa sobre casamento - correspondem às oscilações da esquerda radical sobre o assunto. São oscilações boas para uma debate teórico numa escola de quadros partidários; são más para a acção política que transforme as vidas das pessoas reais aqui e agora.

PS: Sérgio, em querendo tens todo o espaço de resposta que quiseres neste blog

mva |

Correcção.

João Paulo II - 3

"Irmã" Lúcia - 1

Álvaro Cunhal - 1

Vasco Gonçalves - 0

Eugénio de Andrade - 0

ICAR, 4 / República, 1

mva |

O rapazio.

Talvez o rapazio que as TVs filmam de costas e de óculos escuros (onde já

vimos isto? Sim, mas por razões simétricas...) - esse rapazio que agora quer fazer uma manifestação contra o binómio imigração-criminalidade (e os binómios são mesmo a forma mais simples de pensar...) - talvez esse rapazio, dizia, precisasse de aprender umas coisas que a escola não ensina. Desde logo esta: nas minhas deambulações pelo fascinante fenómeno das "classificações raciais", estou sempre a encontrar portugueses na prateleira dos "pretos". Sobretudo nesse universo que ainda marca a consciência colectiva mundial, o universo que vai da hegemonia britânica do XIX à hegemonia americana do nosso século. Nesse universo, os portugueses são quase sempre nem brancos-nem pretos. Por vezes é óbvia a razão: em sistemas onde a classificação "racial" e étnica serve de ventríloquo das divisões de classe, os imigrantes tugas ou os descendentes de tugas surgem in between: na Trinidad, por exemplo, não eram nem como a elite branca, terratenente, nem como os trabalhadores braçais negros e indianos: eram os potogee donos de tabernas ranhosas nas bordas das plantações. Por vezes, a religião ajuda a classificar etnicamente: nem protestantes (coisa boa), nem animistas (coisa má), os católicos têm qualquer coisa de superticioso e pagão (santos, milagres, gravidezes virgens, and so on). Fenómenos semelhantes ocorriam nas colónias britânicas em África. E algo de semelhante acontece ainda nos EUA, onde este rapazio iria direitinho para categorias ambíguas como a de "hispânico".

Estas classificações anglo-americanas e coloniais são tão tontas e miseráveis como as obsessões do rapazio (em rigor, são tão tontas e miseráveis como essa maldição que foi a invenção da categoria "raça"). Desloque-se o rapazio do seu pequeno mundo de comboios suburbanos e transtejo (perdoem-me o elitismo sulista e liberal) e talvez se lhes caiam os óculos escuros. Eu acho que o rapazio deveria ser compulsivamente imigrado - to have a taste of their own medicine... Assim uma espécie de Programa Erasmus obrigatório num liceu do Mississipi (colega de carteira tipo Sissy Spacek vira-se para o representante do rapazio tuga e pergunta: You're black, right? Maybe hispanic? Latino?Mediterranean? I like blacks and hispanics and the likes: you guys are sooo sexy, and musical and, like, natural).

mva |

República Portuguesa.

Dias de luto nacional: Irmã Lúcia - 3, Álvaro Cunhal - 1. Resta-nos a consolação de a primeira ter falecido durante o consulado de Lopes e o segundo durante o governo de Sócrates.

PS. A propósito do sr. Lopes: ontem não aguentei mais do que cinco minutos num lançamento de um livro, quando Lopes chegou com dois mastodônticos seguranças. Contraste: todos os dias a minha mãe toma café na mesma pastelaria de bairro que Jorge Sampaio. Sem seguranças.

mva |

René Bertholo.

(1976)

mva |

Dois homens.

Estes dois homens marcaram a minha adolescência. O primeiro, Eugénio, forneceu a poesia para os primeiros amores. O segundo, Álvaro, forneceu a inspiração para as primeiras revoltas. Que uma e outra coisa - o amor e a revolta - possam ter seguido cursos diferentes das respectivas inspirações (com desvio maior na revolta do que no amor...), pouco importa. Como no andar de bicicleta, aquele primeiro empurrão do pai ou da mãe é o que mais conta.

mva |

Por arrastão.

Depois do arrastão de Carcavelos virá, por arrasto, o arrastão do pânico racista? É bem provável. Já se sente isso num artigo de opinião miserável, publicado hoje no Público, e assinado apenas (na edição online) por um "investigador de ciências políticas" (até tremo em pensar qual será a origem institucional...).

É óbvio que crime é crime. É óbvio que crime implica investigação e punição. Se é óbvio, porque sente tanta gente necessidade de fazer disso o centro da discussão quando comenta eventos que envolveram negros/ pretos/ africanos? É também óbvio que ninguém com dois dedos de testa desculpa o quer que seja com piedade sociológica ("são as condições sociais que criam o crime", etc.); o que não impede (pelo contrário, ela é precisa) a compreensão de contextos e causas. O que já demasiada gente parece esquecer ou querer esquecer é que existe um problema social específico chamado racismo - tanto a montante das condições sociais quanto a juzante dos arrastões e da sua percepção mediática.

Que tal alguém dizer o óbvio, o simples e o necessário: que perseguir os criminosos, resolver os problemas sociais e atacar o racismo são coisas distintas e igualmente necessárias?

mva |

"Vingança" pós-colonial...

«Nacionalidade portuguesa é produto popular no Reino Unido.

A nacionalidade portuguesa tornou-se um produto popular no mercado negro do Reino Unido. Ao consulado geral de Portugal em Londres chegam, "todas as semanas, uma média de 50 documentos para averiguação", avalia o cônsul João Bernardo Weibstein. Remetidos "por polícias e instituições bancárias", revelam-se "quase todos falsos". Protagonistas? "Sobretudo, brasileiros e angolanos."No início do milénio, a grande dor de cabeça era a usurpação de identidade feita a partir da Índia (Goa, Damão e Diu). O antigo secretário de Estado das Comunidades José Cesário chegou a ver "cartazes de cinco metros por três" em Goa a publicitar os dotes do passaporte português» (Público)

mva |

Dia nacional do fim-de-semana prolongado.

A maior parte dos países tem dias nacionais que comemoram a independência, uma revolta ou revolução, a proclamação duma constituição, e coisas do género. Em Portugal comemora-se Camões e as Comunidades Portuguesas. Isto é: a língua e a diáspora. A primeira na pessoa do autor do poema épico sobre os "Descobrimentos"; a segunda através da ideia de Descendência espalhada pelo mundo (já foi mais explícito: "dia da raça"). Sou só eu que penso que enquanto não se largar o imaginário de base colonial este país nunca mudará de atitude? (isto é: nunca deixará de ser como uma família de nome pomposo mas desesperadamente arruinada - fenómeno, aliás, bem comum entre nós?)

mva |

Pelo direito ao casamento entre católicos, já!

«Estoy completamente a favor del permitir el matrimonio entre católicos.

Me parece una injusticia y un error tratar de impedírselo. El catolicismo no es una enfermedad. Los católicos, pese a que a muchos no les gusten o les parezcan extraños, son personas normales y deben poseer los mismos derechos que los demás, como si fueran, por ejemplo, informáticos u homosexuales. Soy consciente de que muchos comportamientos y rasgos de carácter de las personas católicas, como su actitud casi enfermiza hacia el sexo, pueden parecernos extraños a los demás. Sé que incluso, a veces, podrían esgrimirse argumentos de salubridad pública, como su peligroso y deliberado rechazo a los preservativos. Sé también que muchas de sus costumbres, como la exhibición pública de imágenes de torturados, pueden incomodar a algunos. Pero esto, además de ser más una imagen mediática que una realidad, no es razón para impedirles el ejercicio del matrimonio. Algunos podrían argumentar que un matrimonio entre católicos no es un matrimonio real, porque para ellos es un ritual y un precepto religioso ante su dios, en lugar de una unión entre dos personas.

También, dado que los hijos fuera del matrimonio están gravemente condenados por la iglesia, algunos podrían considerar que permitir que los católicos se casen incrementará el número de matrimonios por "el qué dirán" o por la simple búsqueda de sexo (prohibido por su religión fuera del matrimonio), incrementando con ello la violencia en el hogar y las familias desestructuradas. Pero hay que recordar que esto no es algo que ocurra sólo en las familias católicas y que, dado que no podemos meternos en la cabeza de los demás, no debemos juzgar sus motivaciones. Por otro lado, el decir que eso no es matrimonio y que debería ser llamado de otra forma, no es más que una forma un tanto ruin de desviar el debate a cuestiones semánticas que no vienen al caso: aunque sea entre católicos, un matrimonio es un matrimonio, y una familia es una familia. Y con esta alusión a la familia paso a otro tema candente del que mi opinión, espero, no resulte demasiado radical: También estoy a favor de permitir que los católicos adopten hijos. Algunos se escandalizarán ante una afirmación de este tipo. Es probable que alguno responda con exclamaciones del tipo de "¿Católicos adoptando hijos? ¡Esos niños podrían hacerse católicos!". Veo ese tipo de críticas y respondo: Si bien es cierto que los hijos de católicos tienen mucha mayor probabilidad de convertirse a su vez en católicos (al contrario que, por ejemplo, ocurre en la informática o la homosexualidad), ya he argumentado antes que los católicos son personas como los demás.

Pese a las opiniones de algunos y a los indicios, no hay pruebas evidentes de que unos padres católicos estén peor preparados para educar a un hijo, ni de que el ambiente religiosamente sesgado de un hogar católico sea una influencia negativa para el niño. Además, los tribunales de adopción juzgan cada caso individualmente, y es precisamente su labor determinar la idoneidad de los padres. En definitiva, y pese a las opiniones de algunos sectores, creo que debería permitírseles también a los católicos tanto el matrimonio como la adopción. Exactamente igual que a los informáticos y a los homosexuales...»

PS: Não sei quem é o autor ou a autora deste texto delicioso. Chegou por mail sem referência.

mva |

Finalmente.

«O vereador comunista da Câmara de Lisboa António Abreu vê com bons olhos que os tradicionais casamentos de Sto. António integrem num futuro próximo casais homossexuais.Questionado sobre se gostaria de ver casamentos entre pessoas do mesmo sexo naquele evento, António Abreu sublinhou que "é nesse sentido que se deve ir". "A iniciativa deve ir no sentido de contemplar a maior diversidade de relações entre as pessoas", disse o vereador à agência Lusa. Para que tal seja possível, a legislação em vigor tem de mudar. "É uma questão dos dias de hoje que os órgãos deliberativos têm de encarar e resolver", afirmou o autarca, que integrou o executivo municipal liderado pelo socialista João Soares, responsável pelo retomar da tradição dos casamentos de Sto. António, em 1997. Para o vereador comunista, uma solução legal que permita casamentos entre pessoas do mesmo sexo deve ser discutida "no mais curto espaço de tempo, à semelhança do que se tem vindo a passar noutros países" (...)» (no Público).

Finalmente um destacado líder partidário diz isto. Há que não esquecer que a gestão de João Soares (e Abreu fazia parte da coligação) foi a mais gay friendly até hoje. Seguiu-se o desprezo de Santana Lopes e Carmona Rodrigues pela população LGBT (que outro nome dar ao exílio do Arraial para Monsanto? Ou à intenção de não deixar a Marcha realizar-se na Av. da Liberdade? Ou ao desapoio activo ao Festival de Cinema?). A ver vamos se as declarações de Abreu são partilhadas não só pelo seu partido como pelas candidaturas (PS, PC e Bloco) à Câmara de Lisboa. E devemos exigir a estas candidaturas a promessa de nos devolver a situação pré-PSD como plataforma mínima.

mva |

Solidariedade com a APF e a educação sexual.

Está online uma petição de apoio à APF, à educação sexual e contra a campanha difamatória lançada pelo Expresso e pelos fundamentalistas anti-escolha e homofóbicos (my words, of course...). Pode ser assinada aqui.

PS: o sistema de petição não é o melhor... avisa do risco de disponibilizar o mail. APF: que tal mudar para o Petition Online?

mva |

Como já se esperava...III

Depois (ou antes, tanto faz) da construção sociológica (é "social" que se diz, querido...) que é o Papa Católico ter dito isto:

«Matrimonio y familia no son una construcción sociológica casual, fruto de situaciones particulares históricas y económicas. Por el contrario, la cuestión de la justa relación entre el hombre y la mujer hunde sus raíces en la esencia más profunda del ser humano y sólo puede encontrar su respuesta a partir de ésta», aclaró. La Biblia, explicó, presenta al hombre como «creado a imagen de Dios, y Dios mismo es amor». «Por este motivo - aclaró -, la vocación al amor es lo que hace del hombre auténtica imagen de Dios: se hace semejante a Dios en la medida en que se convierte en alguien que ama». La expresión del amor a través de la sexualidad, aclaró, se explica con «el lazo indisoluble entre espíritu y cuerpo: el hombre es, de hecho, alma que se expresa en el cuerpo y cuerpo que es vivificado por un espíritu inmortal». «También el cuerpo del hombre y de la mujer tiene, por tanto, por así decir, un carácter teológico, no es simplemente cuerpo, y lo que es biológico en el hombre no es sólo biológico, sino expresión y cumplimiento de nuestra humanidad», indicó. (aqui)...

...foi a vez de o arcebispo católico de Santiago de Cuba dizer que «La familia parte del matrimonio entre un macho y una hembra, del cual nace posteriormente la vida» e que «la familia cristiana cubana debe prepararse para cuando los medios de difusión del mundo desarrollado entren en la Isla, y aconsejó a los feligreses educar a sus hijos sobre estos temas antes de que otros les distorsionen lo que llamó el sentido real de la familia.» (aqui)

Não lhes bastava o Fidel...

mva |

Como já se esperava... II

«A denúncia de que o Governo pagava mensalidades a deputados para votarem as suas propostas gerou um escândalo, o "mensalão", e a mais grave crise da Administração de Lula da Silva.» (...) «o Palácio do Planalto pagava uma "mesada" de trinta mil reais - cerca de 9900 euros -- a cada deputado que votasse a favor das propostas governamentais.» (no Público)

Porque só nascem Mandelas de 100 em 100 anos?

mva |

Como já se esperava...

«Bárbara e Dinis são as vedetas do vídeo intimista que Carrilho escolheu para a apresentação oficial. Bárbara, com Dinis ao lado, informa que "o Manel tem sempre muito tempo para o nosso pequeno Dinis" e que "o nosso filho tem sempre Lisboa a seus pés". O pai, prossegue Bárbara, passeia muito pela cidade com o filho às costas: "É muito difícil passear em Lisboa com carrinhos de bebé."» (Público) Melhor ainda: «A Bárbara Guimarães, "enquanto mãe", preocupa-a a segurança na cidade. "Nunca se sabe que dia se pode ter a seguir a sair de casa." Uma questão para ser resolvida pelo presidente da Câmara de Lisboa "que nós gostaríamos que fosse o papá, não é Dinis?".»

...vamos ter "Primeira-dama municipal" e "Infante autárquico"?

mva |

God spam it!

Recebido hoje. Ou de como, parafraseando Laury Anderson, [God] is a virus from outer space. Ou, ainda: a Banca Vaticana, seguindo o exemplo do berlusco ministro italiano, prepara-se para abandonar o Euro e começou uma campanha de evangelização, perdão, de angariação de fundos? (Dio, comme sono cattivo oggi):

Subject: Urgente!!!!

>

> Caso vc receba um e-mail com o titulo: "Os últimos desejos do Papa

> João Paulo II" e com o subtítulo "Deixe seu depoimento" não abra, pois

> é uma página com vírus para roubar senhas bancárias. Repasse, se puder.

>

mva |

Não foi um equívoco...

...porque vale mesmo a pena ver. Na Karnart.

mva |

Apresentação.

Esta é uma nova rubrica deste blog. Com ela pretendo dialogar em público com o partido a que pertenço. O Bloco construiu-se como um movimento, isto é, uma dinâmica de várias pessoas e sensibilidades preocupadas com a renovação da esquerda para os tempos modernos. Mas é claro que se transforma cada vez mais em partido - isto é, em organização. Não só isso é natural - pelo quadro político do país e devido ao crescimento e crescente responsabilidade do BE - como não vejo nisso um grande problema. Mas acontece que esse processo leva necessariamente ao que se poderia chamar diferimento da comunicação. Isto é: o debate de ideias fica cada vez mais moldado pela representação democrática: congressos onde se votam linhas de orientação e se elegem órgãos dirigentes até ao congresso seguinte. Tudo isto significa que diminuem o tempo e as condições práticas para o debate constante. Embora aceite o contrato democrático de seguir as orientações definidas em congresso e as decisões tomadas por órgãos dirigentes (e pertenço a um, embora não de prática política quotidiana), acho que o Bloco deve ser diferente - mais aberto à sociedade e ao debate. E acho que um partido político não é o mesmo que uma empresa, uma instituição do Estado, ou uma seita: é uma associação livre de cidadãos. Por isso apoiarei e criticarei, aqui, as posições do Bloco, consoante os casos. E faço-o em público porque ter um blog é em si mesmo assumir uma responsabilidade de comunicação das ideias. E espero que outras pessoas do Bloco apareçam também, enquanto tal, na caixa de comentários.

Autobiografia política provisória.

Para que se perceba de onde venho e ao que ando. No ano a seguir ao 25 de Abril, estava eu no liceu e imerso na "revolução" como toda a gente, aderi à juventude estudantil do PCP. Mas em 1977-78 abandonei a UEC, discordando não só com os métodos de organização como com a constante lavagem ideológica do estalinismo e do socialismo "real". Desde então e até aos início dos anos 90 não pertenci a nenhuma organização política: só ao movimento LGBT e a algumas associações de cidadãos - além de manter uma coluna semanal no Público durante alguns anos. Aderi então, nos inícios dos nineties, à Política XXI, um movimento que agrupava gente da Plataforma de Esquerda (Miguel Portas e outros saídos do PCP), do MDP/CDE, e activistas estudantis que tinham protagonizado lutas universitárias naquela época. A Política XXI, com a sua cultura de associação cidadã, de pensamento crítico e recusa de programas ideológicos dogmáticos, participaria da fundação do Bloco de Esquerda em 1999. Este é o meu "caldo de cultura". No meu blog e nesta rubrica quero reavivar o que (para mim, é claro) ele tem de melhor.

mva |

De homens e moscas.

A propósito desta parvoíce (obrigado, Boss), fui ver o que diziam no 365gay.com. Encontro esta passagem extraordinária: «LGBT civil rights leaders said that the new research, part of a growing body of evidence that suggests sexuality is determined before birth, debunks theories that homosexuality can be altered by faith or aversion therapy.?Science is closing the door on right-wing distortions.," said the Human Rights Campaign president Joe Solmonese.» Muitos activistas americanos estão a refugiar-se no determinismo biológico como forma de contrariar os apelos à "conversão" à heterossexualidade. Trata-se de um gigantesco erro. Em vez de reclamarem a pura e simples LIBERDADE de se ser como se é e o DIREITO a sê-lo, refugiam-se na prisão do determinismo. Continuem assim e vão ver as belas surpresas que as "descobertas científicas" vos trarão - e o "belíssimo" uso que dela farão políticos e legisladores...

Em 1976, o antropólogo Marshall Sahlins publicou The Use and Abuse of Biology. O livro continua útil nos dias de hoje - ou mais ainda, agora que até os que deveriam defender as liberdades optam por usar as chaves do carcereiro.

mva |

«Oposição em bloco critica ministro das Finanças por acumulação de reforma e ordenado» (no Público)

Confesso que não percebo muito bem. O Ministro das Finanças tem uma reforma do Banco de Portugal que obteve antes das novas leis promulgadas pelo seu governo. Não há nada de ilícito nisso. A única coisa que a oposição poderia exigir seria a atitude de prescindir da reforma do BP ou do ordenado de ministro, como exemplo (Sócrates já ficará fora das reformas dos cargos políticos e não teve por isso receio de propor as medidas restritivas). Confesso que não é deste tipo de política que gosto - e chateia-me ver o meu partido a não distinguir estas coisas.

mva |

'Tadinhas das famílias...

«Foros homosexuales en Internet incitan a la violencia ante manifestación del 18-J»

mva |

Gente remota e estranha*.

«No estamos legislando, Señorías, para gentes remotas y extrañas. Estamos ampliando las oportunidades de felicidad para nuestros vecinos, para nuestros compañeros de trabajo, para nuestros amigos y para nuestros familiares, y a la vez estamos construyendo un país más decente, porque una sociedad decente es aquella que no humilla a sus miembros.» Texto completo do discurso de Zapatero aqui; A nova lei aqui; já agora, A iniciativa Random Reindeer aqui)

* somos nós, aqui.

mva |

Tele-Aljubarrota.

Pequeníssimas reportagens nos noticiários portugueses sobre o dia de hoje em Espanha. Num caso, nem correspondente havia; noutro, era entrevistado um padre, mas ninguém do lado do governo; noutro ainda, Zerolo fala como se fosse mais um na rua - a TV não explica quem ele é, talvez porque não imagine que seja possível haver um político assumidamente gay (e o nível é tão baixo que até nas legendas surge a palavra "dEscriminação"...). Absolutamente ninguém em Portugal é convidado a comentar: o assunto não existe entre nós, por decreto televisivo, normalmente mascarado de entendimento supremo daquilo que move as pessoas - talvez por isso Adelino Ferreira Torres, um cacique de um remoto esconço rurícola da Europa, tem mais tempo de antena. Talvez sejam estas as "prioridades nacionais".

Mas como interpretar este misto de incompetência profissional, desprezo, alheamento do mundo e pura e simples ignorância? De duas maneiras. A pessimista é que se trata de um efeito de hegemonia ("isso de gays não existe entre nós", "este país não é a Espanha", etc.) e/ou de uma estratégia propositada (a quem pertencem e a quem devem as TVs? Hello!...). A optimista é que o assunto dos casamentos gay e lésbicos não perturbe tanto assim e as redacções estejam a partir do princípio que, em breve e sem grande "estrilho", também por cá seremos civilização.

A ser verdade, então nesta legislatura ainda - ouviu, senhor engenheiro?

mva |

O fim do Antigo Regime.

«LVD - 30/06/2005 - 10.28 horasActualizada: 30/06/2005 11.30 horas Madrid. (Agencias).- El Pleno del Congreso de los Diputados aprobó hoy de forma definitiva la ley que regula el matrimonio entre personas del mismo sexo y que abre la adopción a estas parejas, por 187 votos a favor, 147 en contra (PP y Unió) y cuatro abstenciones (CiU).»

Foi agora, às 10h30 de Lisboa. Como no Canadá ainda falta uma tramitação, como na Holanda não permitem as adopções internacionais e como na Bélgica não permitem de todo a adopção, a Espanha torna-se no primeiro país com real igualdade legal entre heterossexuais e homossexuais.

¡Igualdad y libertad! Igualtat i llibertat! Berdintasun eta askatasun! Igualdade e liberdade! Enhorabuena, felicitats, zorionak, noraboa! Parabéns, man@s!

mva |

Do cheiro a bispo.

Dizem os bispos:

«... a Conferência Episcopal defende o direito de os pais intervirem na definição dos programas e na selecção dos professores que leccionem a disciplina, insurgindo-se contra as metodologias pedagógicas "que excitam a imaginação e exploram sensações de forma manipulatória". (DN, e seguintes)

Digo eu:

Hummm... Excitação da imaginação e exploração de sensações? Fátima? Milagres? Possessões? Exorcismos? Cilícios?

Dizem os bispos:

«..."os pais têm o direito e o dever de educar os filhos, inclusive no referente à sexualidade (...) O exercício desse direito-dever é anterior à intervenção de outras instituições, designadamente a escola." É a esta que "compete decidir as orientações educativas que deseja para os seus filhos, decorrentes dos seus valores, crenças e quadro cultural", sublinha-se.

Digo eu:

Portanto... a família sobrepõe-se à comunidade e ao Estado na escola, mesmo que obrigue uma filha a usar burka?

Dizem os bispos:

«..."tão-pouco se poderão considerar como padrão comportamentos evidenciados por minorias, tal como o que respeita às relações sexuais praticadas por adolescentes", acrescenta-se.»

Digo eu:

Ficamos a saber que os vinte e três adolescentes que praticam sexo merecem engravidar ou apanhar o VIH, porque tiveram culpa por não aderirem à imensa maioria que fez votos de abstinência.

Dizem os bispos:

«..."deturpa o sentido da sexualidade, isolando-a da dimensão do amor e dos valores, e abre caminho à vivência da liberdade sem responsabilidade (...) e à aceitação, por igual... manifestações da sexualidade, desde o auto-erotismo, à homossexualidade e às relações corporais sem dimensão espiritual porque o amor e o compromisso estão ausentes".»

Digo eu:

Hummm... o auto-erotismo e a homossexualidade dos sacerdotes da única confissão religiosa que proíbe o sexo ao seu clero são bons porque têm uma dimensão... espiritual?

mva |

Que país é o deles?

Um amigo queixava-se hoje do programa "Prós e Contras" (acho que se chama assim ainda) na RTP. Eu não vi, mas ele tirou-me as palavras da boca, pois parecia estar a fazer a síntese de tudo o que está errado com o espaço público mediático chênu. Um bando de homens - é sempre um bando de homens; maioritariamente economistas (os novos advogados); com imperceptíveis diferenças entre direita e esquerda; e falando um newspeak supostamente realista e incontornável (com uma autoridade que roça o autoritarismo, pelo menos intelectual): ele é "o País" (e o interesse do dito); ele é "a sociedade" (e a generalização da dita); ele é o "desenvolvimento" (e a não adjectivação do dito)... Acontece que estes termos são abstracções ideológicas. O intuito é usar termos que pareçam neutros e consensuais para ocultar escolhas que são marcadamente políticas. O governo (todos os governos até hoje) faz o mesmo. Não é no "interesse do País" que Sócrates toma as medidas que toma? Não é por "a sociedade não estar preparada" que se atrasa sempre a descriminalização do aborto, a legalização dos imigrantes e a mudança da lei da nacionalidade, ou se pretende esquecer a inconstitucionalidade do código civil no respeitante ao casamento?

mva |

Stone the wall.

Random Precision e Renas e Veados vão levar avante mais uma forma de pressão para a igualdade no casamento: «(...) o projecto entre o «Random Precision» e o «Renas e Veados» consiste precisamente no acompanhamento - jurídico e pessoal - de alguns casais homossexuais que conjuntamente se irão apresentar perante um Conservador do Registo Civil, solicitando a abertura de um processo de casamento (...)» (ver aqui e aqui).

As Panteras Rosa vão hoje tomar a temperatura à homofobia, com casais demonstrando o seu afecto em público, na presença oculta (!) de jornalistas.

Quinta-feira, dia 30, o Congreso de los Diputados (seguir os links "Actualidad" e "Agenda") aprovará por fim a alteração do Código Civil espanhol.

No sábado, dia 2, o Mado (o Dia do Orgulho LGBT de Madrid) será com certeza uma gigantesca manifestação de celebração da democracia.

mva |

Gaio.

Este é o garrulus glandarius, mais conhecido como gaio (pt), ou jay (inglês), ou geai (francês), ou ghiandaia (italiano), ou.... "Gaio", além de referir o bicharoco, tem origem na palavra latina gaius ou na fancesa e provençal gai - e quer dizer alegre, jovial. Já a gaia-ciência era a arte de poetar entre os provençais da Idade Média; e gaiato quer dizer ladino, alegre, esperto.

mva |

Agora é que foi mesmo.

Acabou o fragassauro. (fonte: Vieiros)

mva |

Esquerda-caviar (ou campari) e...

Aqui estão todas as sugestões submetidas. De cariz alimentar: direita-carapau; direita-bagaço; direita-pâté d' atum; direita-hóstia de camarão; direita-pasta de sardinha; direita-tomatada; direita-patanisca; direita-bacalhau; direita-sardinha; direita-trombeiro; direita-ovos de choco; direita-torresmo; direita-rissol-de-carne; direita-bolo-de-bacalhau; direita-champinhons; direita caldo verde; direita-cachucho; direita-chaputa; direita-sopas de cavalo cansado; direita-carrascão; direita-jaquinzinhos; direita tremoço; direita-bagre-ensaboado; direita-tubarão-cabeça-chata; direita-dourado; direita-baiacu; direita-polvo; direita-camarão; direita-caranguejo; direita-sande-de-córatos; direita carapau-de-corrida; direita-torta; direita-palmeta; direita-coiratos. Também houve quem saísse da mesa...: direita-chulé; direita-abananada; direita-pró lixo; direita-pró céu; direita-papista; direita-volver. E quem distinguisse direitas: direita-torresmo, direita-trauliteira, direita-hóstia e, como proposto equivalente, direita-coca.

mva |

Mudança.

Os TQC mudaram de template. Foi uma rendição. Aos tempos que correm e aos problemas que surgiam. No meio da mudança, lá se foram os comentários - que por aqui não vigora uma grande knowledge destas coisas... Mas prometo recuperar os a votação sobre a "direita-torresmo",num post. Se alguém me ensinar a recolocar os comentários da Haloscan, agradeço. De resto, isto ainda estará em construção ao longo desta semana - nomeadamente em ensaios de cores e pequenos pormenores.

mva |

O que é que tem o Barnabé?

Sei que não é de bom tom comentar os outros blogs enquanto blogs, mas não posso deixar de saudar a decisão do Daniel. O Barnabé estava ilegível desde há uns meses. (boca: nem a transformação dos blogs em livros, nem os alargamentos excessivos no número de autores me parecem positivos nos universos virtuais. Desvirtua.... Mas isto sou eu, lobo solitário). Espero que o Daniel comece uma coisa nova e entusiasmante - e já agora, please, o Rui Tavares também.

mva |

Balanço.

A Marcha LGBT não terá dado ainda o grande salto quantitativo, ao contrário de outros países, embora tenha parecido mais concorrida a quem lá esteve. No entanto, creio não errar se disser que deu um grande salto qualitativo. Refiro-me ao mais importante: a mediatização (enquanto sinónimo de importância social e política, não, é claro, enquanto mero tabloidismo). Tal deveu-se à escolha justa e acertada do tema do casamento como reivindicação central. Este tema tem várias características férteis: é uma reivindicação positiva, em que um grupo excluído exige o acesso ao "centro"; é uma reivindicação entendível, pois o grosso da sociedade sabe o que é o casamento; é uma reivindicação incontornável, pois obriga todos os sectores sociais e políticos a tomarem posição sobre ela, a confrontarem-se com a homofobia, mesmo que subtil, e a serem coerentes com a defesa do princípio da igualdade. É uma reivindicação simultaneamente progressista e aberta a tod@s, na linha dos direitos civis. Por fim, é uma reivindicação estratégica, à boleia da evolução espanhola e do que começa a acontecer um pouco por toda a Europa.

O movimento LGBT está de parabéns pela sua crescente capacidade política e pela superação dos medos e receios sobre essa vaguíssima entidade chamada "sociedade portuguesa" (e a sua famigerada "mentalidade"). Nas ruas da capital exigiram-se direitos, igualdade e dignidade.

Por fim, nunca será demais chamar a atenção para o seguinte: em Portugal, as associações LGBT fazem o seu trabalho com meia-dúzia de voluntários, tod@s pessoas com as suas vidas profissionais e familiares; o trabalho não é remunerado e não dá benesses; as entidades públicas, ao contrário do que acontece noutros países, não dão qualquer apoio financeiro sustentado ao funcionamento e acção das associações. Quaisquer 100 euros para pagar um qualquer panfleto são tirados a ferros, a maioria das vezes dos recursos da próprias pessoas. Por tudo isto, acho que o movimento LGBT deveria engajar-se na exigência de respostas claras por parte das candidaturas autárquicas. No caso de Lisboa, é simplesmente básico que o Arraial Pride volte a ocupar um espaço central da cidade, um local onde desemboque a marcha; e que o associativismo seja dignificado com o apoio público, no que será um investimento "civilizadamente normal" na criação de cidades mais igualitárias e diversas. E esperemos pelo crescimento de uma campanha pelo direito ao casamento, envolvendo cada vez mais os sectores não-LGBT da sociedade.

Beijos e abraços de parabéns e agradecimento a todo o voluntariado LGBT!

mva |

Marcha.

Este ano a publicidade mediática foi melhor e mais séria. Este ano a Marcha conta com o apadrinhamento de pessoas "de fora" (salvo seja), que a dignificam (mais) e popularizam. Este ano vão-se captando sinais de que mais gente quer aparecer, deixando de lado ideias feitas ora sobre o lado "manifestação", ora sobre o lado "exibição" (curiosamente contraditórias entre si...). Este ano houve Viseu, e houve Espanha e mudou o governo. Este ano mais gente perderá o medo e mais gente L, G, B, T e H aparecerá para mostrar que a sociedade deve ser diversa, inclusiva e baseada na igualdade de direitos. Estarei a delirar de optimismo ou vocês vão ajudar a confirmá-lo?

PS: Algo de estranho se passa com este blog. E a culpa não é do template. A Blogspot mudou o dashboard e cheira-me que a culpa reside aí. Ai, a globalização e a dependência do exterior...

mva |

O duplo problema.

A moda da diabolização do Estado e da função pública - professores incluídos - é uma estratégia torpe da direita. E um caso típico de aplicar ao nosso contexto grelhas de análise produzidas noutros locais e para outras realidades. Este é o primeiro problema. Mas o segundo é também terrível: o facto de o nosso Estado e a nossa função pública terem mesmo defeitos graves. Não vamos a lado nenhum simplesmente desmontando o argumento da diabolização ou escamoteando os defeitos do Estado e da função pública. A esquerda precisa de dizer: o nosso Estado e a nossa função pública estão em grande medida mal; precisam de profundas reformas; e essas reformas não devem ser uma carta branca para o neo-liberalismo.

mva |

Palavras necessárias.

A propósito dum post anterior, acho que teria piada inventar uma expressão simétrica de "esquerda caviar". Já não há paciência para esta expressão achincalhante que pretende denunciar uma suposta contradição entre ser de esquerda e gostar de uma vida boa. É altura de denunciar a direita dos privilégios que usa um discurso popular e populista para nos convencer que defende o povo e que está mais próxima dele do que os "elitistas" da esquerda intelectual. Tinha proposto direita-torresmo, mas alguém chamou a atenção para a necessidade de simetria com o "caviar" e propôs o delicioso direita-carapau. Em rigor, para haver simetria teria que ser direita ovas de pesacada, ou algo assim. Mas talvez não seja preciso simetria exacta. Aceitam-se propostas para este concurso sem prémio. Direita sardinha?

mva |

A gente depois vê isso.

Não percebo o "argumento" recorrente do tipo "não é uma prioridade, com tantos problemas por resolver no país...", usado para adiar a igualdade de direitos. É que, no caso do casamento, basta alterar o Código Civil. Qualquer comissão parlamentar faz isso às três pancadas, com o texto à frente e o lápis na mão. Quanto ao debate, claro que será feroz. Mas em que é que isso prejudica a economia ou aumenta o défice ou o desemprego? A velha teoria das prioridades - partilhada à esquerda e à direita, profundamente masculinista no seu privilegiar de certos assuntos de "homem" e no desprezar de "coisas de mulheres e maricas" - passou para o "povo".

mva |

Carta aberta.

Dantes havia a instituição da "carta aberta": uma pessoa, geralmente um intelectual engajado ou alguém na política, escrevia a outra pessoa do mesmo tipo ou a uma instituição, contestando alguma coisa e tornando essa contestação pública através de um jornal. Isso era nos tempos em que o espaço público era coutada de meia-dúzia e dependia dos jornais. Hoje isso está (mais) democratizado (é claro que é preciso saber escrever, usar um computador e aceder à Internet, mas já é mais democrático): basta usar um blog - sem passar pelo crivo das redacções dos jornais.Os partidos - sobretudo os de esquerda - ainda não perceberam isso. Ou não lêem os blogs ou olham-nos de cima. Sobretudo em Portugal, por causa da bizarra característica de o fenómeno blogueiro ter começado na direita-caviar (perdão, na direita-torresmo, para fazer simetria). Insistem em jornais internos que de pouco servem; insistem em louvar a democracia interna mas protelando a participação para eventos de quando em quando. Isto vai afastá-los cada vez mais do contacto com @s livres-pensadore/as e com as identidades complexas e fragmentadas da maioria das pessoas, começando pelos mais jovens. Essa complexidade e essa fragmentação impedem as pessoas de aderir a partidos políticos, porque estes se apresentam como burocracias e como projectos em que é preciso comprar o pacote todo.Nada tenho contra os partidos e detesto o populismo para-fascista do discurso anti-partidos. Eles não só são necessários, como são fundamentais para a democracia. Mas se continuam a repetir velhos hábitos, desligar-se-ão do demos em "democracia" e tornar-se-ão em "pessoas colectivas" ou "corporações". E @s livres-pensadore/as sairão deles sem qualquer hesitação.É claro que - reconheço - no quadro institucional actual, os partidos, se querem ser eficazes, têm que se organizar como pessoas colectivas ou corporações. Mas @s livres-pensadore/as é que não têm que engolir isso como uma fatalidade - desde que continuem a sua acção política e cívica noutros fora, através de outros media e deixando-se permear pela complexidade e a fragmentação.

mva |

Cidade capital cosmopolita.

As cidades são os lugares por excelência do encontro e confronto de diversidades e desigualdades múltiplas. As cidades são os lugares para onde acorrem refugiados políticos, imigrantes em busca de trabalho e/ou liberdade, mulheres que se independentizam, gays e lésbicas que procuram comunidades de libertação e apoio, jovens em busca de autonomia, pobres em busca de melhor vida. As cidades são também os lugares por excelência do encontro e confronto entre diferentes visões do mundo, da sociedade, da pessoa. Por isso as vanguardas artísticas, os experimentalismos e as dissidências ocorrem no seio do burburinho urbano. Estas duas dimensões são as dimensões do cosmopolitismo - uma concepção que recobre a expressão "multiculturalismo" mas que lhe retira a carga essencialista, de separação entre grupos culturais que coexistem hierarquizados, e que acentua mais a produção de híbridos e de novidade, preocupando-se com a criação de igualdade de oportunidades. "Cosmopolitismo" deve também ser sinónimo de liberdade - de muitas liberdades pessoais e muitas liberdades colectivas de identificação, associação, expressão. A capital de um país deve ser o lugar por excelência da promoção de valores cosmopolitas de diversidade e do combate contra as desigualdades. As duas "culturas" - a cultura com c pequeno no seu sentido antropológico e a cultura com c grande, no seu sentido artístico (e só faço esta distinção por razões de facilidade no discurso) - devem ser duas prioridades numa visão de cidade capital cosmopolita. Tal só se consegue com apoios concretos. Ambos constituem investimentos sociais, no sentido em que os gastos de hoje colherão frutos no futuro em termos de menos conflito social e maior dinâmica cultural (algo que pode reflectir-se, por exemplo, no turismo, na imagem que uma cidade projecta para fora). Em Lisboa não existe verdadeiro apoio ao associativismo (há-o, mas pouco, para as colectividades de cultura e recreio; é inexistente para associações representativas de minorias sociais étnicas, de género ou sexuais). Mesmo conseguido esse apoio - que deve ser financeiro e material - é preciso que a CML apoie também a visibilidade e dignificação das expressões minoritárias. É, por exemplo, inconcebível o exílio a que foi votado o Arraial Pride LGBT para o Parque do Calhau (!), retirando-o do centro da polis, ou a desatenção a um evento de qualidade como o Festival de Cinema Gay e Lésbico de Lisboa. O mesmo poderia ser dito de empreendimentos relacionados com a imigração ou com as mulheres (onde estão as esquadras de polícia para mulheres, por exemplo?). No plano da cultura com c grande, idem: aos poderes públicos não compete apenas apoiar "o que há" (repertório, tradições, etc), numa perspectiva parecida com a da direita em relação ao patrimonialismo, mas sim apoiar as vanguardas e as experiências, pois são elas que depois vão dar frutos na criação de uma cidade mais dinâmica e moderna. O estado calamitoso de Lisboa em todos os planos leva a que se tenha uma tendência "conservacionista" e estimula nostalgias de classe média em relação a supostos tempos de "bairros", "proximidades", "tranquilidades" e outras fantasias bucólicas. Mas não podemos cair nessa armadilha - o caminho é para a frente, não para trás. Sobretudo nestas áreas das "duas" culturas.

Tudo isto faz ainda mais sentido no quadro não só da integração europeia como, sobretudo, da integração ibérica: qual a mais valia de Lisboa? Creio que é aquela que António Pinto Ribeiro já definiu: plataforma de cruzamento (humano, simbólico, artístico, etc) entre a Europa, a África e a América - sobretudo Latina). Lisboa deve ser um porto: de abrigo, de misturas e de liberdades.

Que fazer nas autárquicas?

Na candidatura de Carrilho, tudo isto se resume à retórica a que nos habituou. Não é com os pequenos protagonismos típicos do PS que Lisboa se safa (e desde o episódio do vídeo e da criança é mesmo "pequeno" protagonismo). Na candidatura de Ruben vislumbra-se o aparelho do PC a reunir tropas para a sua obsessão de medir forças com o Bloco. Quanto a este, apressou-se a servir de apoio partidário à candidatura de Sá Fernandes. Pessoalmente, já manifestei ao Bloco que me desvinculo desta candidatura. Por uma questão de princípio: não aceito, a não ser para a Presidência da República - cargo unipessoal - candidaturas pessoalizadas e na base dos protagonismos cívicos. E por questões de conteúdo: o programa-base com que se apresentou é colado do património do PPM/Ribeiro Telles/MPT, uma espécie de nostalgia patrimonialista de uma cidade tranquila, de bairros e hortas, que ou nunca existiu ou só existiu para alguns à custa da exclusão periférica de muitos.

A esquerda portou-se mal em Lisboa. Não há paciência para o jogo da simples contagem de espingardas partidárias, ou de falsas alternativas pessoalizadas - sobretudo quando já houve uma candidatura, a do Bloco nas últimas eleições, que se preocupou mesmo em construir um excelente programa com valores de promoção da igualdade, de estímulo à liberdade e com visão "metropolitana" (é a área metropolitana que deve ser pensada, não o concelho - e é por este concelho não fazer sentido que os partidos tornam a lógica eleitoral numa lógica nacional). Posto isto, não apoio nenhuma candidatura, mesmo que vá votar para impedir o jogo sujo de Carmona Rodrigues (Nogueira Pinto protagoniza apenas uma candidatura misericordiosa...), cuja estratégia é fingir que só ele não é como Santana Lopes (quando ele é Santana Lopes, como o é a actual Câmara que se propõe ser reconduzida).

mva |

Mientras tanto, en el poniente...

«Portugal.

Los homosexuales portugueses pedirán el derecho al matrimonio en el desfile del Día del Orgullo Gay en Lisboa

LISBOA, 22 Jun. (De la corresponsal de EUROPA PRESS, Patricia Ferro)

La legalización del matrimonio civil entre personas del mismo sexo será la reivindicación de los homosexuales portugueses en el desfile del día del Orgullo Gay, Lésbico, Bisexual y Transexual, que el sábado se celebrará en una céntrica avenida de Lisboa, anunció hoy la organización. El sexto desfile del orgullo gay que se celebra en Portugal tendrá como padrinos a los escritores Inés Pedrosa y Rui Zink, que asistieron a la presentación del acto y ambos destacaron que el matrimonio entre dos personas del mismo sexo es "un derecho a la normalidad", ya que la situación en Portugal no se corresponde con la Constitución que prohíbe la discriminación con base en la orientación sexual. (...)» (aqui)

mva |

Agora que já fizeram birra, vamos às coisas sérias.

«Pleno Senado veta el proyecto ley matrimonio entre homosexuales.

El pleno del Senado vetó hoy con 131 votos -mayoría absoluta- el proyecto de ley que permite el matrimonio entre personas del mismo sexo, un rechazo que apoyaron todos los senadores del PP, cuatro de CiU y el parlamentario del Partido Aragonés, José María Mur. El texto se remite ahora al Congreso, donde es previsible que la mayoría absoluta de los diputados apoye el próximo jueves 30 de junio el proyecto para levantar el veto, con lo que la ley se aprobaría definitivamente ese día. (...)» (aqui)

No dia 2 de Julho, o Pride de Madrid vai ser histórico - 3 dias depois da esperada aprovação final dos casamentos.

mva |

O Evangelho segundo São Gaio.

Desculpem, mas esta semana é one-track mind...

A conferência de imprensa de hoje, no Centro Comunitário Gay e Lésbico de Lisboa, deu frutos: uma das melhores coberturas jornalísticas de sempre do anúncio da Marcha LGBT:Agência Lusa; SIC; SIC-Mulher; RTP. Haverá mais quantidade amanhã, mas para já a qualidade é boa.

Entretanto: a ideia R 'n' V sobre convocatórias SMS é excelente. Alguém quer sugerir uma frase fresca e mobilizadora, para LGBTs, gay friendlies e concerned citizens? Podem colocar nos comentários...

mva |

Madrinhos (ou padrinhas)

Este ano a Marcha LGBT conta com a presença de madrinhos vindos do "exterior": Inês Pedrosa e Rui Zink. Que tal como argumento para mais pessoas gay friendly ("amigaynhos"?) aparecerem? Lembrem-se: «Uma sociedade pode ser julgada pela forma como trata as suas minorias» (Ghandi)

mva |

Pergunta inocente.

Se já não há referendo à Constituição Europeia, porque não aproveitar para fazer o referendo ao aborto?

mva |

É aquela semana do ano...

«Manifesto 2005

Cumprir a Constituição: Homofobia Não!

«Os paneleiros hádem morrer todos». A frase é de um dos elementos de uma milícia organizada que em Viseu decidiu perseguir, ameaçar e atacar homens gay. Esta foi uma expressão mais violenta e visível de uma homofobia doentia que é afinal bem mais generalizada do que os erros gramaticais dariam a entender: no campo, na cidade, na escola, na família, no trabalho, nos jornais, na televisão, no café, no dia-a-dia, a homofobia está no meio de nós. À homofobia que nos remete para a vergonha do armário respondemos hoje, mais uma vez, e sempre, com o orgulho de a recusarmos. Somos lésbicas, somos gays, somos bissexuais, somos transgénero, somos cidadãs e cidadãos da República Portuguesa e a nossa Constituição já diz não à discriminação. Portugal é, neste momento, o único país da Europa cuja Constituição proíbe explicitamente a discriminação com base na orientação sexual - é tempo de "Cumprir a Constituição" e de dizer "Homofobia não!"

Depois de uma campanha eleitoral marcada por tentativas de exploração da homofobia, exigimos do novo Governo e da nova maioria medidas concretas de combate ao preconceito homófobo e o fim da discriminação na lei. Precisamos de novas medidas legislativas e da responsabilização do Estado na promoção da educação anti-homofobia - para além da aplicação efectiva de leis já existentes. Precisamos que o Estado dialogue com o movimento LGBT (Lésbico, Gay, Bissexual e Transgénero) na identificação das discriminações sistemáticas praticadas pelos próprios organismos públicos, desde o impedimento da doação de sangue por homens homossexuais às barreiras no acesso às Forças Armadas. No entanto, no mesmo ano em que o Tribunal Constitucional declarou a inconstitucionalidade do artigo 175º do Código Penal (uma reivindicação histórica do movimento LGBT), apresentamos outra reivindicação clara no sentido do cumprimento do princípio constitucional que garante a igualdade de direitos e deveres: tal como em Espanha, queremos a revisão do Código Civil para que passe a permitir o igual acesso de casais de gays ou de lésbicas ao casamento civil.

Enquanto que casais de pessoas de sexos diferentes têm actualmente acesso ao casamento civil e à união de facto, para os casais de gays ou de lésbicas existe apenas a união de facto. Isso significa que há muitos direitos associados ao casamento civil aos quais gays e lésbicas não têm acesso: do registo às heranças, passando pelos regimes de propriedade até aos inúmeros aspectos da vida quotidiana em que o estado civil é relevante. Estas limitações afectam as relações e as vidas de muitos gays e lésbicas e contradizem o texto da Constituição - que é a nossa Lei Fundamental. Não queremos um país em que haja cidadãs e cidadãos de segunda por causa do amor. Queremos, pelo contrário, uma equiparação legal das relações hetero- e homossexuais. Não aceitamos menos do que a dignidade e o respeito que as nossas relações merecem e recusamos todos os atributos negativos com que a homofobia tenta menorizá-las. Exigimos, pelo contrário, ser igualmente valorizad@s pela sociedade que integramos e sobretudo pelo Estado para o qual tod@s contribuímos.

O fim da exclusão dos casais de gays ou de lésbicas no acesso ao casamento civil promoverá simultaneamente a liberdade e a igualdade. Qualquer objecção a esta medida terá por isso uma única fonte: a homofobia. Enquanto o casamento civil não for alargado aos casais de pessoas do mesmo sexo, é o Estado que endossa e glorifica na lei essa mesma homofobia e é o próprio Estado que classifica as nossas relações de indignas e é o próprio Estado que, sem erros gramaticais, nos insulta. É afinal o Estado que continua a chamar-nos "fufas" e "paneleiros". Com a razão, o coração e a Constituição do nosso lado, e com o apoio de todas as pessoas que se preocupam com os valores da democracia e com os direitos civis, dizemos por isso ao poder político e também às pessoas homófobas deste mundo: recusamos o insulto e a despromoção; temos o direito a viver e temos o direito a amar. E não, não havemos de casar tod@s, mas havemos tod@s de poder fazê-lo.O igual acesso ao casamento civil é a nossa reivindicação clara, a nossa exigência democrática, o nosso grito pela liberdade e pela igualdade.»

É aquela semana do ano... Fast forward na Marcha e play no Arraial!

mva |

Quer dizer, já estava...

Afinal, a situação está tremida na Galiza. Tudo depende da emigração. AAAARGH!

mva |

Xá está!

O Fragossauro já não é absoluto. A Península está quase toda libertada.

mva |

Força, Galiza!

Imaginem que não tinha havido 1640 em Portugal. Imaginem que, séculos mais tarde, na ditadura franquista, um tuga rurícola e beato - sei lá, o Salazar, ou um boçal demagogo, tipo Jardim - ia para Madrid e tornava-se ministro do ditador. Imaginem, depois, que na transição para a democracia a criatura safava-se, regressava à terriña/terrinha e era eleito presidente da Xunta/Junta autonómica. Imaginem - não é difícil, pois não? - que o coiso (OK, demos-lhe um nome: Fragazar? Xardim?) se tornava num cacique, apropriando-se da administração através das "normais" redes de patrocinato e tráfico de influências. E durava, durava, durava, mesmo quando a pele de coelho já cheirasse a ranço e as baterias babassem ácido.

Hoxe/hoje teríamos a oportunidade de votá-lo fora.

mva |

Entre la música i jo.

Em Barcelona redescobri a rádio. Tinha perdido completamente o hábito. A "culpada" da redescoberta foi a RAC105. Agora, graças à internet, posso ouvir horas de música excelente (para mim, claro) Ainda por cima é a única situação mediática em que fico contente quando, de meia em meia hora, há uma interrupção para publicidade e notícias - é que fico conectado com a minha nova língua, o catalão.

mva |

E agora ide para vossas casas destilar vossos ódios.

A inteligência (no sentido estrito, é claro) política da ICAR, da Opus Dei e das suas sucursais "familistas" em Espanha fez com que ontem não surgissem slogans e cartazes explicitamente homofóbicos nas ruas de Madrid. Mas a referida inteligência é feita duma mistura de matreirice e hipocrisia: no contexto actual (de alteração do Código Civil espanhol), defender os modelos "tradicionais" de casamento e família é um apelo à exclusão e à desigualdade perante a lei. Até porque, por baixo desta aparente "civilidade" dos manifestantes, há reivindicações explícitas no sentido de impedir as alterações do Código Civil.

Em blogs, jornais e conversas várias percebe-se a fraqueza da cultura democrática entre nós. Gente que acha que os manifestantes de ontem em Madrid estavam simplesmente a demonstrar a sua "opinião". Não estavam. Estavam a exigir que um segmento da população tenha menos direitos que outro. Mais grave ainda é quando alguém se deixa convencer pelos "argumentos" (again: "inteligência política em sentido estrito") de um grunho televisionado que reivindica o direito a demonstrar "orgulho em ser branco". Nem vale a pena desmontar o absurdo desta frase: basta lembrar que os racistas que se manifestaram ontem em Lisboa querem explicitamente limitar os direitos de outras pessoas - ao trabalho, à residência, ao respeito, à nacionalidade, à cidadania.

A luz optimista ao fim do túnel é que o governo espanhol não vai retroceder na alteração do Código Civil; e em Portugal Sampaio foi à Cova da Moura demonstrar simbolicamente onde se situa a República face ao racismo.

mva |

A força da gravidade.

Figura de negra sustentando uma coluna num café do Porto; (des)calçada portuguesa em Lisboa.

Em Espanha o governo comenta assim a manifestação contra a nova lei do casamento:

«...el Ejecutivo de (...) Zapatero resolvió lanzarse al contraataque y criticar en especial la presencia de los obispos en la marcha de hoy. La vicepresidenta primera del Gobierno, María Teresa Fernández de la Vega, aseguró que "serán los ciudadanos los que deban juzgar que una parte de la jerarquía eclesiástica haya elegido una cuestión como ésta para salir a la calle a manifestarse". De la Vega recordó en todo momento que la reforma impulsada por los socialistas, y apoyada por el resto de partidos de izquierda, no supone en ningún momento un "recorte de libertades". "Lo único que hemos hecho - aseguró - es dar derechos a quienes hoy no los tenían".» (La Vanguardia)

Em Portugal, O Governo-Civil de Lisboa sobre a manifestação "contra a criminalidade":

«O porta-voz do Governo Civil, Geraldo Ayala, disse que "foram analisadas as condições em que foi apresentado o aviso subscrito por três cidadãos sobre a manifestação" e que este está "de acordo com as disposições legais existentes".» (no Público)

À resposta política, de um governo, contrapõe-se a resposta burocrática, dum governo-civil. Curiosamente, até nem acho isto problemático. Agir preventivamente contra a manifestação racista (que se apresentou matreiramente ao G-C como iniciativa de 3 pessoas contra "a criminalidade") seria promovê-la ainda mais do que o estão a fazer os jornais... O que se exige é que as autoridades ajam se houver um só slogan racista dito hoje no Martim Moniz. E que, a partir daí, investiguem a fundo as redes que estão por detrás da organização da coisa. A beleza da democracia está na possibilidade de os anti-gays sairem à rua, ou na extrema abertura do direito de manifestação em Portugal. Mas a beleza só será perfeita se a resposta for, política e legalmente, dirigida aos conteúdos expressos pelos manifestantes. Em ambos os casos é preciso dizer, vezes sem conta, que esta gente, em Madrid ou em Lisboa, está a reinvindicar menos direitos aos seus concidadãos. E no caso português, se se apelar ao ódio, nunca mais esta gente deverá poder manifestar-se, devendo as redes dos organizadores ser investigadas e perseguidas até às últimas consequências.

mva |

Frost.

«Está quente. Está feio. É feio e está quente. É quente e está feio. No horizonte (Cova da Moura? Aldeia da Roupa Branca?) vêem-se nuvens castanhas. O ar pesa. Cheira a lixo. Há pedintes na rua em cruzamentos com sinal fechado. Uma pessoa por cada dois carros - no sinal fechado. Amanhã a fachalada manifesta-se e em Bruxelas não se entendem - e fico no sinal fechado, entalado. Lisboa agoniza, pestilenta, feia como a morte e a velhice dos trapos. Carmona finge que não é Santana; Carrilho publicita a sua capacidade reprodutora; Sá Fernandes fala de hortas; do Ruben nada sei. Está quente e feio e castanho e pesado e sujo e fechado e agonizante e pestilento e feio e morto e velho e hortícola e ignorante na cidade onde vivo. 800 anos de fingimento à beira da exaustão. A exaustão dos rios que por aqui desaguam, negligentes e cansados, o aluvião. Sociedade de aluvião: lama e sarro e sedimento - e não, não me venham com a do estrangeirado que tem por tiques acender cigarro e dizer mal do país. É o país que diz mal de nós - ainda não perceberam? É o país que diz mal de nós, ainda não federam?

Na esperança de dias melhores,

mva |

O entalanço...

Lê-se algures que o rapazio facho quer fazer uma manifestação "anti-criminalidade" (i.e., anti-imigração) no Martim Moniz. Digita-se "Martim Moniz" no Google para descobrir algo sobre a pessoa que deu o nome à praça. Encontra-se isto: «O nome de Martim Moniz está ligado à conquista de Lisboa aos Mouros e figura na memória da cidade através de uma praça com o seu nome. A lenda conta que D. Afonso Henriques tinha posto cerco à cidade, ajudado pelos muitos cruzados que por aqui passaram a caminho da Terra Santa. O cerco durou ainda algum tempo, durante o qual se travavam pequenas investidas por parte dos cristãos. Numa dessas tentativas de assalto a uma das portas da cidade, Martim Moniz enfrentou os mouros que saíam para repelir os cristãos e conseguiu manter a porta aberta mesmo a custo da sua própria vida. O seu corpo ficou atravessado entre os dois batentes e permitiu que os cristãos liderados por D. Afonso Henriques entrassem na cidade. Ferido gravemente, Martim Moniz entrou com os seus companheiros e fez ainda algumas vítimas entre os seus inimigos, antes de cair morto.» Como faço por esquecer conhecimentos inúteis, este pedaço de "informação" já tinha desaparecido da minha cabeça. A História contada às crianças e lembrada ao povo é o supra-sumo da palermice. O rapazio de amanhã deve estar com fantasias de mouros e cristãos. Talvez se entalem. Antes que nos entalem a tod@s.

mva |

Blog em Bloco: Casamentos.

Está disponível no jornal Esquerda (online e pdf) um artigo do Sérgio Vitorino sobre homofobia e questões de política LGBT. Acho que o artigo tem contradições que gostaria de apontar ao Sérgio e ao Bloco. O artigo oscila entre um apelo à luta pelo direito ao casamento como parte fundamental da reivindicação de igualdade, por um lado; e uma suspeita em relação aos supostos efeitos de transformar o casamento numa prioridade, por outro. Sente-se que isto é colocado em termos de uma oposição entre "integracionistas" e "outros". Acontece que esta oposição me parece pouco produtiva nos dias de hoje. Ela é mais própria de há umas décadas atrás. Hoje, certas reivindicações aparentemente integracionistas - como o direito ao casamento - podem resultar radicais; assim como certas reivindicações "radicais" podem ser contraproducentes, quando não esvaziadas de conteúdo. Esta é uma das diferenças entre modernidade e pós-modernidade, gostemos ou não.

Isto leva-me à questão da homofobia como sistema social que deve ser combatido - algo que o Sérgio privilegia. Do ponto de vista teórico, é verdade: combater a homofobia sistémica equivale ao combate ao patriarcado, por exemplo ou, ainda (e para alguns...), ao capitalismo. Só que a escala, a ordem de grandeza e a abrangência desse sistema homofóbico é tal, que é impossível torná-lo em alvo privilegiado das tácticas de luta - a não ser quando se combatem casos concretos de homofobia explícita, como aconteceu com a manifestação de Viseu, tema do artigo do Sérgio.

Tão-pouco concordo que a reivindicação do casamento possa conduzir ao esvaziamento da agenda LGBT uma vez conquistado esse direito. O Sérgio baseia o seu argumento no do que ele apelida de "movimento LGBT espanhol". Ora, esse receio, em Espanha, é veiculado apenas por um sector minoritário, mais radical, e com uma suspeita intelectual e teórica em relação ao casamento em si (homo ou hetero). Não me revejo aí. Sei que o Sérgio se revê mais aí. Tão-pouco é verdade - porque é redutor - dizer que a reivindicação do casamento em Espanha é alimentada pela influência do "euro rosa" (i.e., da mercantilização da "identidade" gay). É-o também, mas não só. E já é altura de se perceber que, hoje, o mercado pode tanto ser "local" de alienação como "local" de emancipação.

Em rigor - isto é, para o bem das causas LGBT - era óptimo que a reivindicação do casamento não se restringisse à área partidária do Bloco. Que o PS e o PC (e, quem sabe, o PSD...) também subscrevessem essa elementar igualização de direitos. Mas lá porque esses sectores estão reféns de ignorâncias, preconceitos, provincianismos e pressões, não deve o Bloco ter receio de ficar solitário nessa luta (nem deve o movimento LGBT achar que, por isso, a luta está "manchada" pelo Bloco). Defendo também que o Bloco não deve suspeitar da importância do casamento. Seria o mesmo que dizer que a segurança social não interessa porque é um paliativo para a desigualdade social... Que essa suspeita se baseie no argumento das "mentalidades" ou da "impreparação" da sociedade para o casamento LGBT, é inaceitável. Se até o Estado tem a obrigação de andar um pouco à frente da sociedade no que diz respeito à defesa de direitos (e em Portugal quantas vezes não anda atrás...), o que não dizer dos partidos de esquerda... O grau de "preparação" duma sociedade ou o grau de "mudança das mentalidades" não são mensuráveis, ao contrário do que dizem alguns gurus da sociologia...

Creio sinceramente que as oscilações no artigo do Sérgio - sobretudo entre o texto principal e a caixa sobre casamento - correspondem às oscilações da esquerda radical sobre o assunto. São oscilações boas para uma debate teórico numa escola de quadros partidários; são más para a acção política que transforme as vidas das pessoas reais aqui e agora.

PS: Sérgio, em querendo tens todo o espaço de resposta que quiseres neste blog

mva |

Correcção.

João Paulo II - 3

"Irmã" Lúcia - 1

Álvaro Cunhal - 1

Vasco Gonçalves - 0

Eugénio de Andrade - 0

ICAR, 4 / República, 1

mva |

O rapazio.

Talvez o rapazio que as TVs filmam de costas e de óculos escuros (onde já

vimos isto? Sim, mas por razões simétricas...) - esse rapazio que agora quer fazer uma manifestação contra o binómio imigração-criminalidade (e os binómios são mesmo a forma mais simples de pensar...) - talvez esse rapazio, dizia, precisasse de aprender umas coisas que a escola não ensina. Desde logo esta: nas minhas deambulações pelo fascinante fenómeno das "classificações raciais", estou sempre a encontrar portugueses na prateleira dos "pretos". Sobretudo nesse universo que ainda marca a consciência colectiva mundial, o universo que vai da hegemonia britânica do XIX à hegemonia americana do nosso século. Nesse universo, os portugueses são quase sempre nem brancos-nem pretos. Por vezes é óbvia a razão: em sistemas onde a classificação "racial" e étnica serve de ventríloquo das divisões de classe, os imigrantes tugas ou os descendentes de tugas surgem in between: na Trinidad, por exemplo, não eram nem como a elite branca, terratenente, nem como os trabalhadores braçais negros e indianos: eram os potogee donos de tabernas ranhosas nas bordas das plantações. Por vezes, a religião ajuda a classificar etnicamente: nem protestantes (coisa boa), nem animistas (coisa má), os católicos têm qualquer coisa de superticioso e pagão (santos, milagres, gravidezes virgens, and so on). Fenómenos semelhantes ocorriam nas colónias britânicas em África. E algo de semelhante acontece ainda nos EUA, onde este rapazio iria direitinho para categorias ambíguas como a de "hispânico".

Estas classificações anglo-americanas e coloniais são tão tontas e miseráveis como as obsessões do rapazio (em rigor, são tão tontas e miseráveis como essa maldição que foi a invenção da categoria "raça"). Desloque-se o rapazio do seu pequeno mundo de comboios suburbanos e transtejo (perdoem-me o elitismo sulista e liberal) e talvez se lhes caiam os óculos escuros. Eu acho que o rapazio deveria ser compulsivamente imigrado - to have a taste of their own medicine... Assim uma espécie de Programa Erasmus obrigatório num liceu do Mississipi (colega de carteira tipo Sissy Spacek vira-se para o representante do rapazio tuga e pergunta: You're black, right? Maybe hispanic? Latino?Mediterranean? I like blacks and hispanics and the likes: you guys are sooo sexy, and musical and, like, natural).

mva |

República Portuguesa.

Dias de luto nacional: Irmã Lúcia - 3, Álvaro Cunhal - 1. Resta-nos a consolação de a primeira ter falecido durante o consulado de Lopes e o segundo durante o governo de Sócrates.

PS. A propósito do sr. Lopes: ontem não aguentei mais do que cinco minutos num lançamento de um livro, quando Lopes chegou com dois mastodônticos seguranças. Contraste: todos os dias a minha mãe toma café na mesma pastelaria de bairro que Jorge Sampaio. Sem seguranças.

mva |

René Bertholo.

(1976)

mva |

Dois homens.

Estes dois homens marcaram a minha adolescência. O primeiro, Eugénio, forneceu a poesia para os primeiros amores. O segundo, Álvaro, forneceu a inspiração para as primeiras revoltas. Que uma e outra coisa - o amor e a revolta - possam ter seguido cursos diferentes das respectivas inspirações (com desvio maior na revolta do que no amor...), pouco importa. Como no andar de bicicleta, aquele primeiro empurrão do pai ou da mãe é o que mais conta.

mva |

Por arrastão.

Depois do arrastão de Carcavelos virá, por arrasto, o arrastão do pânico racista? É bem provável. Já se sente isso num artigo de opinião miserável, publicado hoje no Público, e assinado apenas (na edição online) por um "investigador de ciências políticas" (até tremo em pensar qual será a origem institucional...).

É óbvio que crime é crime. É óbvio que crime implica investigação e punição. Se é óbvio, porque sente tanta gente necessidade de fazer disso o centro da discussão quando comenta eventos que envolveram negros/ pretos/ africanos? É também óbvio que ninguém com dois dedos de testa desculpa o quer que seja com piedade sociológica ("são as condições sociais que criam o crime", etc.); o que não impede (pelo contrário, ela é precisa) a compreensão de contextos e causas. O que já demasiada gente parece esquecer ou querer esquecer é que existe um problema social específico chamado racismo - tanto a montante das condições sociais quanto a juzante dos arrastões e da sua percepção mediática.

Que tal alguém dizer o óbvio, o simples e o necessário: que perseguir os criminosos, resolver os problemas sociais e atacar o racismo são coisas distintas e igualmente necessárias?

mva |

"Vingança" pós-colonial...

«Nacionalidade portuguesa é produto popular no Reino Unido.

A nacionalidade portuguesa tornou-se um produto popular no mercado negro do Reino Unido. Ao consulado geral de Portugal em Londres chegam, "todas as semanas, uma média de 50 documentos para averiguação", avalia o cônsul João Bernardo Weibstein. Remetidos "por polícias e instituições bancárias", revelam-se "quase todos falsos". Protagonistas? "Sobretudo, brasileiros e angolanos."No início do milénio, a grande dor de cabeça era a usurpação de identidade feita a partir da Índia (Goa, Damão e Diu). O antigo secretário de Estado das Comunidades José Cesário chegou a ver "cartazes de cinco metros por três" em Goa a publicitar os dotes do passaporte português» (Público)

mva |

Dia nacional do fim-de-semana prolongado.

A maior parte dos países tem dias nacionais que comemoram a independência, uma revolta ou revolução, a proclamação duma constituição, e coisas do género. Em Portugal comemora-se Camões e as Comunidades Portuguesas. Isto é: a língua e a diáspora. A primeira na pessoa do autor do poema épico sobre os "Descobrimentos"; a segunda através da ideia de Descendência espalhada pelo mundo (já foi mais explícito: "dia da raça"). Sou só eu que penso que enquanto não se largar o imaginário de base colonial este país nunca mudará de atitude? (isto é: nunca deixará de ser como uma família de nome pomposo mas desesperadamente arruinada - fenómeno, aliás, bem comum entre nós?)

mva |

Pelo direito ao casamento entre católicos, já!

«Estoy completamente a favor del permitir el matrimonio entre católicos.

Me parece una injusticia y un error tratar de impedírselo. El catolicismo no es una enfermedad. Los católicos, pese a que a muchos no les gusten o les parezcan extraños, son personas normales y deben poseer los mismos derechos que los demás, como si fueran, por ejemplo, informáticos u homosexuales. Soy consciente de que muchos comportamientos y rasgos de carácter de las personas católicas, como su actitud casi enfermiza hacia el sexo, pueden parecernos extraños a los demás. Sé que incluso, a veces, podrían esgrimirse argumentos de salubridad pública, como su peligroso y deliberado rechazo a los preservativos. Sé también que muchas de sus costumbres, como la exhibición pública de imágenes de torturados, pueden incomodar a algunos. Pero esto, además de ser más una imagen mediática que una realidad, no es razón para impedirles el ejercicio del matrimonio. Algunos podrían argumentar que un matrimonio entre católicos no es un matrimonio real, porque para ellos es un ritual y un precepto religioso ante su dios, en lugar de una unión entre dos personas.

También, dado que los hijos fuera del matrimonio están gravemente condenados por la iglesia, algunos podrían considerar que permitir que los católicos se casen incrementará el número de matrimonios por "el qué dirán" o por la simple búsqueda de sexo (prohibido por su religión fuera del matrimonio), incrementando con ello la violencia en el hogar y las familias desestructuradas. Pero hay que recordar que esto no es algo que ocurra sólo en las familias católicas y que, dado que no podemos meternos en la cabeza de los demás, no debemos juzgar sus motivaciones. Por otro lado, el decir que eso no es matrimonio y que debería ser llamado de otra forma, no es más que una forma un tanto ruin de desviar el debate a cuestiones semánticas que no vienen al caso: aunque sea entre católicos, un matrimonio es un matrimonio, y una familia es una familia. Y con esta alusión a la familia paso a otro tema candente del que mi opinión, espero, no resulte demasiado radical: También estoy a favor de permitir que los católicos adopten hijos. Algunos se escandalizarán ante una afirmación de este tipo. Es probable que alguno responda con exclamaciones del tipo de "¿Católicos adoptando hijos? ¡Esos niños podrían hacerse católicos!". Veo ese tipo de críticas y respondo: Si bien es cierto que los hijos de católicos tienen mucha mayor probabilidad de convertirse a su vez en católicos (al contrario que, por ejemplo, ocurre en la informática o la homosexualidad), ya he argumentado antes que los católicos son personas como los demás.

Pese a las opiniones de algunos y a los indicios, no hay pruebas evidentes de que unos padres católicos estén peor preparados para educar a un hijo, ni de que el ambiente religiosamente sesgado de un hogar católico sea una influencia negativa para el niño. Además, los tribunales de adopción juzgan cada caso individualmente, y es precisamente su labor determinar la idoneidad de los padres. En definitiva, y pese a las opiniones de algunos sectores, creo que debería permitírseles también a los católicos tanto el matrimonio como la adopción. Exactamente igual que a los informáticos y a los homosexuales...»

PS: Não sei quem é o autor ou a autora deste texto delicioso. Chegou por mail sem referência.

mva |

Finalmente.

«O vereador comunista da Câmara de Lisboa António Abreu vê com bons olhos que os tradicionais casamentos de Sto. António integrem num futuro próximo casais homossexuais.Questionado sobre se gostaria de ver casamentos entre pessoas do mesmo sexo naquele evento, António Abreu sublinhou que "é nesse sentido que se deve ir". "A iniciativa deve ir no sentido de contemplar a maior diversidade de relações entre as pessoas", disse o vereador à agência Lusa. Para que tal seja possível, a legislação em vigor tem de mudar. "É uma questão dos dias de hoje que os órgãos deliberativos têm de encarar e resolver", afirmou o autarca, que integrou o executivo municipal liderado pelo socialista João Soares, responsável pelo retomar da tradição dos casamentos de Sto. António, em 1997. Para o vereador comunista, uma solução legal que permita casamentos entre pessoas do mesmo sexo deve ser discutida "no mais curto espaço de tempo, à semelhança do que se tem vindo a passar noutros países" (...)» (no Público).

Finalmente um destacado líder partidário diz isto. Há que não esquecer que a gestão de João Soares (e Abreu fazia parte da coligação) foi a mais gay friendly até hoje. Seguiu-se o desprezo de Santana Lopes e Carmona Rodrigues pela população LGBT (que outro nome dar ao exílio do Arraial para Monsanto? Ou à intenção de não deixar a Marcha realizar-se na Av. da Liberdade? Ou ao desapoio activo ao Festival de Cinema?). A ver vamos se as declarações de Abreu são partilhadas não só pelo seu partido como pelas candidaturas (PS, PC e Bloco) à Câmara de Lisboa. E devemos exigir a estas candidaturas a promessa de nos devolver a situação pré-PSD como plataforma mínima.

mva |

Solidariedade com a APF e a educação sexual.

Está online uma petição de apoio à APF, à educação sexual e contra a campanha difamatória lançada pelo Expresso e pelos fundamentalistas anti-escolha e homofóbicos (my words, of course...). Pode ser assinada aqui.

PS: o sistema de petição não é o melhor... avisa do risco de disponibilizar o mail. APF: que tal mudar para o Petition Online?

mva |

Como já se esperava...III

Depois (ou antes, tanto faz) da construção sociológica (é "social" que se diz, querido...) que é o Papa Católico ter dito isto:

«Matrimonio y familia no son una construcción sociológica casual, fruto de situaciones particulares históricas y económicas. Por el contrario, la cuestión de la justa relación entre el hombre y la mujer hunde sus raíces en la esencia más profunda del ser humano y sólo puede encontrar su respuesta a partir de ésta», aclaró. La Biblia, explicó, presenta al hombre como «creado a imagen de Dios, y Dios mismo es amor». «Por este motivo - aclaró -, la vocación al amor es lo que hace del hombre auténtica imagen de Dios: se hace semejante a Dios en la medida en que se convierte en alguien que ama». La expresión del amor a través de la sexualidad, aclaró, se explica con «el lazo indisoluble entre espíritu y cuerpo: el hombre es, de hecho, alma que se expresa en el cuerpo y cuerpo que es vivificado por un espíritu inmortal». «También el cuerpo del hombre y de la mujer tiene, por tanto, por así decir, un carácter teológico, no es simplemente cuerpo, y lo que es biológico en el hombre no es sólo biológico, sino expresión y cumplimiento de nuestra humanidad», indicó. (aqui)...

...foi a vez de o arcebispo católico de Santiago de Cuba dizer que «La familia parte del matrimonio entre un macho y una hembra, del cual nace posteriormente la vida» e que «la familia cristiana cubana debe prepararse para cuando los medios de difusión del mundo desarrollado entren en la Isla, y aconsejó a los feligreses educar a sus hijos sobre estos temas antes de que otros les distorsionen lo que llamó el sentido real de la familia.» (aqui)

Não lhes bastava o Fidel...

mva |

Como já se esperava... II

«A denúncia de que o Governo pagava mensalidades a deputados para votarem as suas propostas gerou um escândalo, o "mensalão", e a mais grave crise da Administração de Lula da Silva.» (...) «o Palácio do Planalto pagava uma "mesada" de trinta mil reais - cerca de 9900 euros -- a cada deputado que votasse a favor das propostas governamentais.» (no Público)

Porque só nascem Mandelas de 100 em 100 anos?

mva |

Como já se esperava...

«Bárbara e Dinis são as vedetas do vídeo intimista que Carrilho escolheu para a apresentação oficial. Bárbara, com Dinis ao lado, informa que "o Manel tem sempre muito tempo para o nosso pequeno Dinis" e que "o nosso filho tem sempre Lisboa a seus pés". O pai, prossegue Bárbara, passeia muito pela cidade com o filho às costas: "É muito difícil passear em Lisboa com carrinhos de bebé."» (Público) Melhor ainda: «A Bárbara Guimarães, "enquanto mãe", preocupa-a a segurança na cidade. "Nunca se sabe que dia se pode ter a seguir a sair de casa." Uma questão para ser resolvida pelo presidente da Câmara de Lisboa "que nós gostaríamos que fosse o papá, não é Dinis?".»

...vamos ter "Primeira-dama municipal" e "Infante autárquico"?

mva |

God spam it!

Recebido hoje. Ou de como, parafraseando Laury Anderson, [God] is a virus from outer space. Ou, ainda: a Banca Vaticana, seguindo o exemplo do berlusco ministro italiano, prepara-se para abandonar o Euro e começou uma campanha de evangelização, perdão, de angariação de fundos? (Dio, comme sono cattivo oggi):

Subject: Urgente!!!!

>

> Caso vc receba um e-mail com o titulo: "Os últimos desejos do Papa

> João Paulo II" e com o subtítulo "Deixe seu depoimento" não abra, pois

> é uma página com vírus para roubar senhas bancárias. Repasse, se puder.

>

mva |

Não foi um equívoco...

...porque vale mesmo a pena ver. Na Karnart.

mva |

Apresentação.

Esta é uma nova rubrica deste blog. Com ela pretendo dialogar em público com o partido a que pertenço. O Bloco construiu-se como um movimento, isto é, uma dinâmica de várias pessoas e sensibilidades preocupadas com a renovação da esquerda para os tempos modernos. Mas é claro que se transforma cada vez mais em partido - isto é, em organização. Não só isso é natural - pelo quadro político do país e devido ao crescimento e crescente responsabilidade do BE - como não vejo nisso um grande problema. Mas acontece que esse processo leva necessariamente ao que se poderia chamar diferimento da comunicação. Isto é: o debate de ideias fica cada vez mais moldado pela representação democrática: congressos onde se votam linhas de orientação e se elegem órgãos dirigentes até ao congresso seguinte. Tudo isto significa que diminuem o tempo e as condições práticas para o debate constante. Embora aceite o contrato democrático de seguir as orientações definidas em congresso e as decisões tomadas por órgãos dirigentes (e pertenço a um, embora não de prática política quotidiana), acho que o Bloco deve ser diferente - mais aberto à sociedade e ao debate. E acho que um partido político não é o mesmo que uma empresa, uma instituição do Estado, ou uma seita: é uma associação livre de cidadãos. Por isso apoiarei e criticarei, aqui, as posições do Bloco, consoante os casos. E faço-o em público porque ter um blog é em si mesmo assumir uma responsabilidade de comunicação das ideias. E espero que outras pessoas do Bloco apareçam também, enquanto tal, na caixa de comentários.

Autobiografia política provisória.

Para que se perceba de onde venho e ao que ando. No ano a seguir ao 25 de Abril, estava eu no liceu e imerso na "revolução" como toda a gente, aderi à juventude estudantil do PCP. Mas em 1977-78 abandonei a UEC, discordando não só com os métodos de organização como com a constante lavagem ideológica do estalinismo e do socialismo "real". Desde então e até aos início dos anos 90 não pertenci a nenhuma organização política: só ao movimento LGBT e a algumas associações de cidadãos - além de manter uma coluna semanal no Público durante alguns anos. Aderi então, nos inícios dos nineties, à Política XXI, um movimento que agrupava gente da Plataforma de Esquerda (Miguel Portas e outros saídos do PCP), do MDP/CDE, e activistas estudantis que tinham protagonizado lutas universitárias naquela época. A Política XXI, com a sua cultura de associação cidadã, de pensamento crítico e recusa de programas ideológicos dogmáticos, participaria da fundação do Bloco de Esquerda em 1999. Este é o meu "caldo de cultura". No meu blog e nesta rubrica quero reavivar o que (para mim, é claro) ele tem de melhor.

mva |

De homens e moscas.

A propósito desta parvoíce (obrigado, Boss), fui ver o que diziam no 365gay.com. Encontro esta passagem extraordinária: «LGBT civil rights leaders said that the new research, part of a growing body of evidence that suggests sexuality is determined before birth, debunks theories that homosexuality can be altered by faith or aversion therapy.?Science is closing the door on right-wing distortions.," said the Human Rights Campaign president Joe Solmonese.» Muitos activistas americanos estão a refugiar-se no determinismo biológico como forma de contrariar os apelos à "conversão" à heterossexualidade. Trata-se de um gigantesco erro. Em vez de reclamarem a pura e simples LIBERDADE de se ser como se é e o DIREITO a sê-lo, refugiam-se na prisão do determinismo. Continuem assim e vão ver as belas surpresas que as "descobertas científicas" vos trarão - e o "belíssimo" uso que dela farão políticos e legisladores...

Em 1976, o antropólogo Marshall Sahlins publicou The Use and Abuse of Biology. O livro continua útil nos dias de hoje - ou mais ainda, agora que até os que deveriam defender as liberdades optam por usar as chaves do carcereiro.

mva |

«Oposição em bloco critica ministro das Finanças por acumulação de reforma e ordenado» (no Público)

Confesso que não percebo muito bem. O Ministro das Finanças tem uma reforma do Banco de Portugal que obteve antes das novas leis promulgadas pelo seu governo. Não há nada de ilícito nisso. A única coisa que a oposição poderia exigir seria a atitude de prescindir da reforma do BP ou do ordenado de ministro, como exemplo (Sócrates já ficará fora das reformas dos cargos políticos e não teve por isso receio de propor as medidas restritivas). Confesso que não é deste tipo de política que gosto - e chateia-me ver o meu partido a não distinguir estas coisas.

mva |

'Tadinhas das famílias...

«Foros homosexuales en Internet incitan a la violencia ante manifestación del 18-J»

mva |

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