A Esquerda ganhou as eleições e pode governar, mas o Cavaco não vai deixar

03-09-2020
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Estamos a viver tempos singulares. Dias que correm e que nos surpreendem a cada momento. Mas, há uns tempos, ainda antes das eleições, a propósito das sondagens escrevi:

“Ora, comparando os resultados daquelas coisas a que alguns chamam sondagens, podemos verificar que nunca a direita teve um resultado tão mau como agora. Ou, dito de outro modo, a direita para ganhar eleições, só em 1985 conseguiu ficar abaixo dos 40%. E, os números hoje em cima da mesa mostram que a Esquerda vale 51%, valor suficiente para ganhar as eleições.”

Os resultados mostram que a coligação teve 36,83%, isto é, 37%. Os votos, à esquerda totalizam 50.87%, isto é 51%. Os números são claros: a coligação não tem maioria parlamentar. E, esse, é o único facto absolutamente rigoroso neste momento. Ou seja, da eleição resulta um parlamento onde a coligação (partido) mais votada não tem capacidade de suportar um governo. Mas, apesar da ausência de enquadramento constitucional, a verdade é que o povo votou mais num tipo para ser primeiro-ministro e votou menos noutro.

E, se calhar por isso a direita, em pânico, diz que se trata de um assalto ao poder. Até o representante da direita que dirige a UGT se presta ao papel da direita. Não surpreende – é para isso que serve a UGT e, na educação, todos o sentimos na pele há muitos anos.

Mas, a direita tem uma solução muito fácil: tente governar. Ou, agora que ganharam, querem obrigar o PS a aprovar, quando o António Costa foi tão claro durante a campanha?

Aliás, vossas excelências, à direita, até disseram que isso foi um dos motivos da derrota do PS, a quem acusaram de ser radical. Podem vir os mercados, as quedas da bolsa ou os martelos comentadores fazer toda a pressão que o Vosso pânico vos exige. Isso de pouco servirá porque o factor decisivo é a Presidência da República. Cavaco vai nomear Passos Coelho para ser primeiro – ministro. O programa de Governo não necessita de aprovação parlamentar. E o problema é atirado para o orçamento.

Quando esse dia chegar teremos uma de duas coisas:

António Costa conseguiu um acordo que compromete o Bloco e o PC na governação. Não creio que um governo PS com apoio parlamentar seja suficiente porque, historicamente, o PC tem quebrado acordos atrás de acordos em várias autarquias deste país. Isto é, a acontecer um entendimento, isso terá que significar participação no governo.

O PS, perante a ausência de acordo à esquerda ou perante um rotundo não de Cavaco a essa ideia (esta é a minha aposta), terá que se abster e dizer ao povo – daqui a meio ano, quando for possível derrubar estes aldrabões, é isso que faremos. Eles têm meio ano para mostrar que vão, finalmente, fazer o que dizem e não o seu contrário. Se isso não acontecer, no primeiro dia em que a Constituição o permitir apresentaremos uma proposta no Parlamento para derrubar o governo.

Dito isto, creio que o caminho de Costa é curto, mas não há outro – conseguir a todo o custo que um governo de Esquerda seja formado ou, então, mostrar ao país que Cavaco, Passos e Portas são parte do problema. Quanto à direita, se acham que não é este o caminho, apresentem soluções que permitam o apoio de mais deputados, aqueles que o povo não vos deu. Deverão ter muitos na UGT, não?

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Estamos a viver tempos singulares. Dias que correm e que nos surpreendem a cada momento. Mas, há uns tempos, ainda antes das eleições, a propósito das sondagens escrevi:

“Ora, comparando os resultados daquelas coisas a que alguns chamam sondagens, podemos verificar que nunca a direita teve um resultado tão mau como agora. Ou, dito de outro modo, a direita para ganhar eleições, só em 1985 conseguiu ficar abaixo dos 40%. E, os números hoje em cima da mesa mostram que a Esquerda vale 51%, valor suficiente para ganhar as eleições.”

Os resultados mostram que a coligação teve 36,83%, isto é, 37%. Os votos, à esquerda totalizam 50.87%, isto é 51%. Os números são claros: a coligação não tem maioria parlamentar. E, esse, é o único facto absolutamente rigoroso neste momento. Ou seja, da eleição resulta um parlamento onde a coligação (partido) mais votada não tem capacidade de suportar um governo. Mas, apesar da ausência de enquadramento constitucional, a verdade é que o povo votou mais num tipo para ser primeiro-ministro e votou menos noutro.

E, se calhar por isso a direita, em pânico, diz que se trata de um assalto ao poder. Até o representante da direita que dirige a UGT se presta ao papel da direita. Não surpreende – é para isso que serve a UGT e, na educação, todos o sentimos na pele há muitos anos.

Mas, a direita tem uma solução muito fácil: tente governar. Ou, agora que ganharam, querem obrigar o PS a aprovar, quando o António Costa foi tão claro durante a campanha?

Aliás, vossas excelências, à direita, até disseram que isso foi um dos motivos da derrota do PS, a quem acusaram de ser radical. Podem vir os mercados, as quedas da bolsa ou os martelos comentadores fazer toda a pressão que o Vosso pânico vos exige. Isso de pouco servirá porque o factor decisivo é a Presidência da República. Cavaco vai nomear Passos Coelho para ser primeiro – ministro. O programa de Governo não necessita de aprovação parlamentar. E o problema é atirado para o orçamento.

Quando esse dia chegar teremos uma de duas coisas:

António Costa conseguiu um acordo que compromete o Bloco e o PC na governação. Não creio que um governo PS com apoio parlamentar seja suficiente porque, historicamente, o PC tem quebrado acordos atrás de acordos em várias autarquias deste país. Isto é, a acontecer um entendimento, isso terá que significar participação no governo.

O PS, perante a ausência de acordo à esquerda ou perante um rotundo não de Cavaco a essa ideia (esta é a minha aposta), terá que se abster e dizer ao povo – daqui a meio ano, quando for possível derrubar estes aldrabões, é isso que faremos. Eles têm meio ano para mostrar que vão, finalmente, fazer o que dizem e não o seu contrário. Se isso não acontecer, no primeiro dia em que a Constituição o permitir apresentaremos uma proposta no Parlamento para derrubar o governo.

Dito isto, creio que o caminho de Costa é curto, mas não há outro – conseguir a todo o custo que um governo de Esquerda seja formado ou, então, mostrar ao país que Cavaco, Passos e Portas são parte do problema. Quanto à direita, se acham que não é este o caminho, apresentem soluções que permitam o apoio de mais deputados, aqueles que o povo não vos deu. Deverão ter muitos na UGT, não?

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