poesia: antónio maria lisboa

02-09-2020
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Eu estimo
sobre tudo os teus olhos incolores

as tuas mãos
inúteis, a tua boca verde

Eu falo
somente dos relógios caídos, dos autocarros

Eu falo
somente dos pés vermelhos

Eu falo...
eu falo... eu falo...

No vigésimo
século as nuvens são árvores

e os
pássaros mais pequenos grandes paquidermes

Sim, é
verdade, os cabelos loiros

Então,
meia-noite!

Senhora, se
me dá licença, este dia acabou

por este dia

simplesmente

A criança é
porca, é inútil

Muito
obrigado.

antónio maria lisboa

edoi lelia doura,

antologia das vozes comunicantes da poesia
portuguesa

organizada
por h. helder

assírio
& alvim

1985

Eu estimo
sobre tudo os teus olhos incolores

as tuas mãos
inúteis, a tua boca verde

Eu falo
somente dos relógios caídos, dos autocarros

Eu falo
somente dos pés vermelhos

Eu falo...
eu falo... eu falo...

No vigésimo
século as nuvens são árvores

e os
pássaros mais pequenos grandes paquidermes

Sim, é
verdade, os cabelos loiros

Então,
meia-noite!

Senhora, se
me dá licença, este dia acabou

por este dia

simplesmente

A criança é
porca, é inútil

Muito
obrigado.

antónio maria lisboa

edoi lelia doura,

antologia das vozes comunicantes da poesia
portuguesa

organizada
por h. helder

assírio
& alvim

1985

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