a situação literária em 1968

01-09-2020
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Ainda nos séculos se pergunta uma respiração.

O poema é a consciência irreversível que gira

cruelmente na tarde.

Consumimos tabaco na penumbra. Aqui estou

rindo convulsivamente o tom pestilento da

opressão, meditando uma bebida e nunca

a imaginar a terra.

No calor incidem as moscas que lembram

lentamente um destino, pétalas que destilam

a necessidade de publicar.

Quentes mãos que temi em dias de olhares.

Compreendendo assim os ares, os espaços…

Põe poema a tua metafísica azulada

nas fendas dos lábios de aldeia.

A literatura do sul é o sono profundo das memórias.

Tudo ali nos entontece confusamente.

As erínias zumbem com o vento nas narinas.

O mar gera as crianças estagnadas. É talvez

Tudo uma intensa visão. O ócio do cansaço…

Ainda nas casas as paredes se idolam.

Os poetas param à beira dos poços, passam

Um dedo pela cal, pensam

em publicar. Vão para as searas,

abraçam friamente as avós, conversam

debaixo do crepitar das uvas, preferem

dizer que as braseiras não existem.

É-lhes a noite propícia às surtidas, à visita.

E ao convencimento da cultura, à virgem idade dos

livros.

Isto leva-nos à contemplação dos demónios, aos

obscuros encandeamentos. Assim as lâmpadas

condenam por todo o sempre a palavra que

foi escrita.

rui diniz

ossuário

(ou: a vida
de james whistler)

& etc

1977

Ainda nos séculos se pergunta uma respiração.

O poema é a consciência irreversível que gira

cruelmente na tarde.

Consumimos tabaco na penumbra. Aqui estou

rindo convulsivamente o tom pestilento da

opressão, meditando uma bebida e nunca

a imaginar a terra.

No calor incidem as moscas que lembram

lentamente um destino, pétalas que destilam

a necessidade de publicar.

Quentes mãos que temi em dias de olhares.

Compreendendo assim os ares, os espaços…

Põe poema a tua metafísica azulada

nas fendas dos lábios de aldeia.

A literatura do sul é o sono profundo das memórias.

Tudo ali nos entontece confusamente.

As erínias zumbem com o vento nas narinas.

O mar gera as crianças estagnadas. É talvez

Tudo uma intensa visão. O ócio do cansaço…

Ainda nas casas as paredes se idolam.

Os poetas param à beira dos poços, passam

Um dedo pela cal, pensam

em publicar. Vão para as searas,

abraçam friamente as avós, conversam

debaixo do crepitar das uvas, preferem

dizer que as braseiras não existem.

É-lhes a noite propícia às surtidas, à visita.

E ao convencimento da cultura, à virgem idade dos

livros.

Isto leva-nos à contemplação dos demónios, aos

obscuros encandeamentos. Assim as lâmpadas

condenam por todo o sempre a palavra que

foi escrita.

rui diniz

ossuário

(ou: a vida
de james whistler)

& etc

1977

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