poesia: joaquim manuel magalhães

03-09-2020
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Meu amigo, amigo que depois foste de nós dois,

abençoado de rosto e corpo, guardasses-me tu

na convulsão de tábuas de um abraço,

nessa prisão que na altura não entendi.

Seria agora um galardão, uma honra tão alta

na memória, não apenas uma noite,

dessas curvadas pela despedida. Desse-me Deus

de novo, meu amigo, o torreão, a desordem, os teus
passos,

esses laços que podia ser eu a desatar. Nada

em toda a extensão e duração do mundo

desejava mais do que dizer-te: foste

quem naufragou em maior temor e amor

a minha, a nossa – é difícil dizer – vida.

joaquim manuel magalhães

os poços

uma luz com um toldo vermelho

editorial presença

1990

  

Meu amigo, amigo que depois foste de nós dois,

abençoado de rosto e corpo, guardasses-me tu

na convulsão de tábuas de um abraço,

nessa prisão que na altura não entendi.

Seria agora um galardão, uma honra tão alta

na memória, não apenas uma noite,

dessas curvadas pela despedida. Desse-me Deus

de novo, meu amigo, o torreão, a desordem, os teus
passos,

esses laços que podia ser eu a desatar. Nada

em toda a extensão e duração do mundo

desejava mais do que dizer-te: foste

quem naufragou em maior temor e amor

a minha, a nossa – é difícil dizer – vida.

joaquim manuel magalhães

os poços

uma luz com um toldo vermelho

editorial presença

1990

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