poesia: eugénio de andrade

02-09-2020
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ângelo de sousa

Há dias, há noites em que as
águas se movem lentas na minha memória. Movem-se? Daqui as vejo imóveis, com
esse peso do verão sobre o corpo. Ninguém dirá que respiram, que não estão
mortas, talvez corrompidas, pelo menos sufocadas pelas últimas poeiras, as mais
cruéis. Contemplo-as, tão caladas na sua clausura ─ estremecidas águas! E tão
expectantes, não à superfície, nas entranhas, ns suas raízes mais fundas, onde
uma espécie de murmúrio se articula, modula na sombra, umas sílabas prenhes de
silêncio se desprendem, rebentam à tona, ténues bolhas de ar, menos que
suspiros ainda.

Como esquecê-las?

eugénio de andrade

limiar dos pássaros

limiar

1976

ângelo de sousa

Há dias, há noites em que as
águas se movem lentas na minha memória. Movem-se? Daqui as vejo imóveis, com
esse peso do verão sobre o corpo. Ninguém dirá que respiram, que não estão
mortas, talvez corrompidas, pelo menos sufocadas pelas últimas poeiras, as mais
cruéis. Contemplo-as, tão caladas na sua clausura ─ estremecidas águas! E tão
expectantes, não à superfície, nas entranhas, ns suas raízes mais fundas, onde
uma espécie de murmúrio se articula, modula na sombra, umas sílabas prenhes de
silêncio se desprendem, rebentam à tona, ténues bolhas de ar, menos que
suspiros ainda.

Como esquecê-las?

eugénio de andrade

limiar dos pássaros

limiar

1976

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